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Considerações sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a Cadeia Produtiva Calçadista

Implementação e Operacionalização da Logística Reversa

2.1.7 Considerações sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a Cadeia Produtiva Calçadista

Em termos de políticas de gestão de resíduos, pode-se considerar que o Brasil está 40 anos atrasado se comparado a países como Estados Unidos e Alemanha, que possuem regulamentações específicas desde os anos 1970. Se comparado a países latino-americanos, esse atraso não é tão percebido, uma vez que eles também estão migrando de um modelo de coleta e descarte em lixões para modelos que priorizam a disposição final ambientalmente adequada, bem como a prevenção da geração de resíduos.

Qualquer gerador de resíduo e/ou rejeito, seja ele produtor, distribuidor, consumidor, deverá arcar com os custos de redução, eliminação e destinação e disposição ambientalmente adequada desses resíduos e/ou rejeitos respectivamente. Dessa forma, cada elemento da cadeia produtiva de calçados enquadra-se como um virtual poluidor-pagador dos resíduos gerados ao longo da cadeia produtiva de calçados.

A estratégia que deverá nortear a Gestão Integrada de Resíduos Sólidos deve contemplar a seguinte hierarquia de prioridades: não geração, redução, reutilização, reciclagem, recuperação energética, tratamento e destinação ambientalmente correta dos rejeitos. Para os resíduos industriais, a Política Nacional de Resíduos Sólidos apresenta como meta, até 2015, a eliminação de 50% dos resíduos com destinação inadequada, de forma que, até 2019, estará com 100% de seus resíduos industriais com destinação ambientalmente adequada. No entanto, percebeu-se certo atraso no desenvolvimento dos planos estaduais e municipais dos estados e municípios analisados.

Tanto o Poder Público quanto o setor empresarial e a comunidade em geral serão responsáveis pela efetividade das ações voltadas para assegurar a Política Nacional de Resíduos Sólidos. A responsabilidade compartilhada possibilitará: o alinhamento dos processos de gestão empresarial e mercadológicos com os de gestão ambiental; o reaproveitamento de resíduos nas cadeias produtivas; a redução da geração de resíduos sólidos; o incentivo da utilização de insumos menos agressivos ao meio ambiente; o estímulo ao desenvolvimento e o consumo de produtos derivados de materiais reciclados e recicláveis.

A logística reversa ganhará importância cada vez mais estratégica nas cadeias produtivas. Nesse sentido, o maior desafio estará no custo associado à sua operacionalização, em virtude da grande extensão territorial e da complexidade logística do país; porém, o setor calçadista ainda estará desobrigado de implantá-la.

Com relação à destinação dos resíduos da indústria calçadista, a dúvida que permeia está relacionada ao estado de São Paulo, que, ao permitir aterros sanitários com codisposição de resíduos não perigosos, poderá ser questionado se tal ação será considerada como uma destinação final ambientalmente adequada, como previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Uma vez colocado em pauta esse assunto, torna-se oportuno aprofundar os estudos relacionados à gestão de resíduos e tratamento térmico como alternativa para redução de volume e recuperação de energia, os quais serão analisados a seguir.

2.2 GESTÃO DE RESÍDUOS E TRATAMENTO TÉRMICO

Antes de abordar o conceito de tratamento térmico, é conveniente lembrar que, conforme destaca a PNRS, a estratégia de gestão integrada de resíduos deve sempre priorizar: 1) a não geração; 2) a redução; 3) a reutilização; 4) a reciclagem; 5) o tratamento dos resíduos; 6) a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

Portanto, o tratamento dos resíduos deve ser realizado após se esgotarem as etapas anteriores. O tratamento térmico conforme resolução Conama nº 316/2002 é definido como “todo e qualquer processo cuja operação seja realizada acima da temperatura mínima de oitocentos graus Celsius” (CONAMA, 2002b).

As princpais tecnologias térmicas de tratamento de resíduos estão ilustradas na Figura 7 e são: gaseificação, incineração, pirólise e plasma. Outra forma que deve ser considerada é o

coprocessamento de resíduos, que é a “técnica de utilização de resíduos sólidos industriais a partir do processamento desses como substituto parcial de matéria-prima e/ou de combustível no sistema forno de produção de clínquer, na fabricação de cimento” (CONAMA, 1999).

Figura 7 – Principais tecnologias térmicas para tratamento de resíduos. Fonte: elaborado pelo autor.

O Quadro 18 apresenta uma breve síntese sobre as principais características dessas formas de tratamento térmico.

Descrição Características Vantagens Desvantagens

Gaseificação

Processo de utilização do calor em torno de 1.300ºC, pressão e vapor, para conversão de material rico em carbono em gás combustível, que será queimado e transformado em energia. Poucas plantas em operação no mundo.

Geração de gás

combustível para produção de energia; redução de volume de resíduos; possibilidade de descentralização do tratamento; redução da logística e da necessidade de espaços em aterros. Riscos em relação à poluição atmosférica; possibilidade de encaminhamento de resíduos passíveis de reciclagem; monitoramento e operação por pessoal especializado; alto custo.

Incineração

Resíduos são inseridos numa câmara e expostos a uma temperatura entre 400ºC e 1.000ºC. Possui relevância no tratamento de resíduos sólidos em países desenvolvidos e com grande densidade populacional. Possui unidades em funcionamento no Brasil.

Alta redução do volume dos resíduos; possibilidade de descentralização do tratamento e redução da logística; redução do espaço em aterros; geração de energia.

Risco de poluição atmosférica; geração de gases de efeito estufa; possibilidade de encaminhamento de resíduos passíveis de reciclagem;

monitoramento e operação por pessoal especializado.

Pirólise

Decomposição química do resíduo a altas temperaturas e ausência de oxigênio. Calor pode liberar compostos de carbono nas formas líquida, sólida e gasosa e podem ser utilizados como combustível. Japão, Alemanha e Finlândia, utilizam essa tecnologia.

Redução do volume dos resíduos; geração de gás combustível para produção de energia; Emitem-se menos gases poluentes se comparados à incineração; possibilidade de descentralização do tratamento e redução da logística; redução do espaço em aterros. Risco de poluição atmosférica; possibilidade de encaminhamento de resíduos passíveis de reciclagem; Mmonitoramento e operação por pessoal especializado; Alto custo dos equipamentos.

Principais Tecnologias Térmicas para