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Esta investigação buscou compreender as possibilidades de contribuição das ações estabelecidas entre o Coordenador Pedagógico e o professor iniciante/ingressante na carreira docente na SEDF no contexto do trabalho docente. Questionando inicialmente a atuação do coordenador pedagógico frente as suas atribuições legais e as possíveis contribuições para com o docente iniciante/ingressante identificou-se a necessidade de um grande enriquecimento teórico do pesquisador para analisar além da aparência e do mundo imediato. O trabalho como fundamento ontológico do ser humano e da constituição do que é ser professor nos direcionou ao método materialista histórico dialético para buscar melhor entendimento da realidade posta em meio a totalidade e suas contradições.

Observou-se que era necessário um aprofundamento no contexto histórico da constituição da função do coordenador pedagógico, das mediações de sua existência e atuação, assim como os pressupostos teóricos que são basilares para compreender o aspecto das condições objetivas/subjetivas do professor iniciante na carreira. Constatou-se a partir de sucessivas aproximações em meio ao estado do conhecimento e os dados coletados, que nas possibilidades de atuação do coordenador pedagógico para com os professores iniciantes/ingressantes, quatro categorias se tomam como caminhos de extrema relevância para entender esse movimento dialético: o exercício da função do coordenador pedagógico; as necessidades e demandas relacionadas ao cotidiano escolar; a recepção do professor iniciante e as relações na inserção à docência. Com uma análise direcionada pelos pressupostos da proposta de Núcleo de Significação, analisamos as falas de cada respondente nos quais constituímos núcleos de análise e categorias que compõem a realidade.

A categoria do exercício da função do coordenador pedagógico é, para os próprios e para os professores iniciantes/ingressantes, encarada como atitudes práticas relacionadas em sua maioria a um andamento padronizado das ações didáticas-pedagógicas, mediadas pelo cotidiano escolar e sem nenhuma especificidade de atuação para com os professores iniciantes/ingressantes na carreira. Essa falta de especificidade se dá por diversas mediações: rotina mediada pelo cotidiano, contradições entre função e valorização, constituição identitária frágil e historicamente recente permeada pela imediaticidade dos desafios entre a disponibilidade de atuação e afinidade com os pares.

Uma outra categoria que permeia toda a nossa pesquisa é o cotidiano em suas necessidades e demandas. O cotidiano está relacionado àquilo que é vivido socialmente por

indivíduos sociais, com suas individualidades e diferenças. A nossa existência como seres humanos implica categoricamente uma existência em meio ao cotidiano. Assim como não há como desligar a existência da cotidianidade, o inverso tão pouco é possível (estado de suspensão do cotidiano).

Os protagonistas de nosso estudo destacaram as mediações do cotidiano em meio a constituição de seu trabalho docente, tanto na atuação dos professores quanto dos coordenadores pedagógicos, trazendo consigo características de intensificação e precarização do trabalho causado pelo excesso de demandas exclusivas de um viés corriqueiro e inconstante da rotina do cotidiano, atrapalhando tanto o processo inter-relacional quanto o pedagógico entre ambos. Escolas que estão em Regiões Administrativas periféricas também possuem a determinação do meio socioeconômico para diferencia-las ainda mais quanto as outras escolas. As condições materiais de trabalho pertinentes a esse fator trazem consigo vínculos contraditórios entre o prescrito na legislação, a atuação dos coordenadores pedagógicos e a realidade no qual ele está inserido. Os coordenadores atuantes em escolas centrada em Ceilândia e Samambaia destacam piores condições de atuação efetiva de acordo com suas atribuições do que os outros os coordenadores.

As relações desses fatores com a atuação dos coordenadores pedagógicos constituem um conjunto de situações objetivas/subjetivas que levam aos coordenadores a não acompanhar de uma forma específica os professores iniciantes, tendo no geral uma atuação conservadora frente as demandas (suspensão do cotidiano), buscando caminhos que se encaixem na construção mediata do cotidiano, sendo caracterizado como “suporte pedagógico” e não mais como um dos atores centrais do espaço-tempo da coordenação pedagógica. Essa caracterização é o mais próximo que o mesmo chega de atividades pedagógicas, tendo a própria ideia de “apoio” como mais frequente, pois abrange áreas das demandas do cotidiano que não são exclusivamente pedagógicas. Para ambos, professores e coordenadores, o cotidiano e as mediações construídas no seu fazer, se constituem objetos “naturalizados” do trabalho pedagógico dentro da escola, ficando claro como isso encaminha a atuação do coordenador a outras áreas que não a sua área de atuação, tampouco a um planejamento coletivo. O planejamento coletivo se constitui, de acordo com as falas dos entrevistados, em sua maioria com os pares, sendo a experiência dos professores antigos na rede um fator de relevância no processo de inserção e de constituição do trabalho docente dos professores iniciantes/ingressantes.

Na categoria de recepção ao professor iniciante/ingressante¸ entendemos o espaço escolar como local onde o docente irá desenvolver o seu trabalho e, sendo assim, o mesmo

precisará encontrar subsídios desde a sua primeira entrada na escola para que isso ocorra. Corroborando com os estudos de Vargas (2016), a equipe gestora foi destacada como o principal personagem a receber os professores iniciantes, sendo que essa recepção é em sua maioria com ações isoladas, norteada por condições momentâneas (cotidiano) peculiares a cada unidade escolar, tornando o processo de inserção um puro diálogo informal de apresentações pouco técnicas e aligeiradas.

As necessidades do processo de recepção por parte do professor iniciante (integração com pares, informações específicas, formação continuada) são fatores que podem amenizar os desafios do início da carreira, entretanto a rotina da escola, além de permear a recepção do gestor, traz impeditivos para que o coordenador pedagógico tenha uma parcela nesse preponderante nesse processo. O mesmo não é destacado como protagonista que auxilie o docente iniciante tão pouco o curso que é ofertado pela EAPE, que não é nem citado pelos entrevistados. No núcleo de concepções e projeto de escola, a forma como se dá a posse, escolha de escola e de turmas, tem trazido mediações que estabelecem relações direta com o processo de inserção na carreira dos docentes, dificultando ou facilitando o mesmo.

A temática da inserção nos encaminha para uma última categoria encontrada que são as relações na inserção à docência. No mesmo movimento dado nas categorias anteriores, formamos núcleos que se mostram como mediações relevantes ao processo relacional entre coordenadores e professores no processo de inserção. As dificuldades relacionais e pedagógicas entre os dois protagonistas, que perpassam aspectos subjetivos da afetividade, como na pesquisa de Mollica (2014), mas que em nossa investigação também são influenciados pelo próprio processo de remanejamento entre Regionais de Lotação e de Remoção, que desfavorece o aprofundamento relacional entre os trabalhadores do ambiente escolar e pelo cotidiano que desconstrói as atribuições do coordenador pedagógico.

A desconstrução da função do coordenador pedagógico, pelo cotidiano e pelas políticas públicas que esvaziam sua atuação, levam a uma ausência do mesmo na inserção na carreira dos professores iniciantes, entretanto os professores consideram importante a influência da experiência dos CP na superação de suas dificuldades. Outro núcleo encontrado é quanto a experiência (ou falta dela) nos coordenadores e pares. A relação com ambos os personagens e a influência na inserção do professor iniciante, se dará principalmente pela experiência na carreira, sendo que a maior proximidade com os professores antigos da rede, e a ausência do coordenador, faça com que os primeiros sejam mais relevantes no processo do que o segundo.

Desse modo, chegamos ao entendimento que a atuação dos coordenadores pedagógicos está ainda diante de dificuldades como uma grande quantidade de tarefas que não fazem parte

de suas atribuições, falta de valorização através de remuneração e reconhecimento, uma constituição identitária fragmentada além de pouca ou nenhuma formação específica. Ainda que existam professores iniciantes nas escolas em que atuem, a relação entre esses protagonistas do processo educativo ainda está distante de ser consolidada ou ao menos existente do ponto de vista de uma atuação significativa para o desenvolvimento da inserção à docência. E, ainda que dispositivos legais prescrevam claramente o papel do coordenador pedagógico e a valorização quanto o trabalhador docente, é na prática das condições materiais, o cotidiano e nas relações com os pares que são encontradas as contradições reais da totalidade socioeconômica vigente e da ideologia imbuída nos discursos teóricos.

Tendo em vista esse conjunto de determinações que encontramos, reafirma-se a necessidade de políticas públicas de valorização da função do coordenador pedagógico, com gratificação específica e processo de eleição que priorize docentes capacitados, com possibilidade de umaa formação específica para a função possa ser posterior a entrada na função, sendo a mesma obrigatória e presencial. Também destacamos que uma construção identitária consolidada através de uma formação específica para a função, tanto inicial quanto continuada (proporcionada pela rede) é imprescindível para suspensões do cotidiano que encaminhem o trabalho pedagógico a um rompimento com as pseudoconcreticidades estabelecidas. E no viés dos professores iniciantes/ingressantes na carreira, a proposição de que a rede de ensino do Distrito Federal crie um processo de inserção de professores iniciante/ingressante constante, obrigatório e pautado no trabalho docente com uma perspectiva da práxis emancipadora (concebida como atividade ontocriativa), onde a possibilidade de um processo de mentoria por pares ou de um programa de acompanhamento efetivo por coordenadores pedagógicos pudesse ser realizado.