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1 FÍSICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA – FOCO NA NANOCIÊNCIA E NA

1.4 REVISÃO DA LITERATURA

1.4.7 Considerações

As classificações dos artigos em seis categorias permitiram-me analisar características comuns e as contribuições dos trabalhos para o ensino das disciplinas de cunho científico.

Os trabalhos que conceituaram a nanotecnologia, categorizados como Apresentação de conceitos e definições relacionados ao conjunto N&N, apresentaram a nanotecnologia de forma interativa e desvinculada de uma linguagem altamente rebuscada e sobrecarregada de termos técnicos. Um deles focalizou as principais aplicações da nanotecnologia, bem como os riscos provenientes destas aplicações.

A categoria Proposta para abordagem de tópicos de N&N em situações de ensino englobou artigos que recomendam a introdução do conjunto N&N no ensino fundamental e médio sobre diferentes estratégias; o que é recomendável quando se pretende trabalhar com conteúdos inovadores e os objetivos são focados numa formação ampla do estudante.

Os trabalhos categorizados como Revisão sobre o conjunto N&N permitiram-me verificar como a temática envolvendo a nanotecnologia estava sendo abordada por autores de diferentes áreas e quais os recursos disponíveis para seu ensino e aprendizagem. Nesse sentido,

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os trabalhos de revisão funcionaram como organizadores dos trabalhos publicados e como indicadores de recursos didáticos existentes sobre o conjunto N&N.

Na categoria Implementação de conteúdos de N&N em espaços não formais de ensino foram alocados os trabalhos que enfocaram a importância de ensinar e aprender pela pesquisa em museus.

A categoria Implementação de conteúdos de N&N em espaços formais de ensino foi a que englobou o maior número de publicações, trazendo relatos de experiências e resultados de pesquisas sobre a abordagem do conjunto N&N em sala de aula de nível básico. Foi a categoria que abrangeu trabalhos que exploraram representações dos estudantes sobre a nanotecnologia e seus avanços, permitindo-me entrar em contato com a visão do estudante sobre a temática que este trabalho envolve.

A última categoria, Implementação de conteúdos de N&N na formação de professores, englobou trabalhos cujos pesquisadores abordaram tópicos de nanociência e nanotecnologia em cursos de formação de professores, seja inicial ou continuada. Trata-se de uma categoria em que os autores dos trabalhos notaram a relevância do tema e sugeriram, ao focalizá-lo no ensino superior, sua abordagem no ensino básico.

Após a leitura dos trabalhos e categorização dos mesmos, notei a ausência da exploração da temática em sala de aula de maneira controversa. Notei, também, a falta de exploração do funcionamento de textos de divulgação científica sobre nanotecnologia nas aulas de física, bem como da análise de produção de significados por estudantes ao lerem os referidos textos. Percepções estas que me ajudaram na elaboração da questão de estudo e a delinear o projeto de pesquisa desta dissertação.

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2 A LEITURA DE TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E AS CONTROVÉRSIAS NO ENSINO

Convicto da necessidade de formação ampla dos estudantes, entendo a importância de trabalhar, em sala de aula, conhecimentos relevantes para o exercício da cidadania. Nesse sentido, a escola exerce um papel social importante, pois se trata de um espaço, dentre outras possibilidades, onde a alienação pode ser superada. Almeida (2010) comenta a esse respeito:

Por considerar que a escola é uma instituição com potencial para se trabalhar na superação da alienação, acredito na relevância de investigar elementos que possam contribuir para facilitar essa superação. Certamente ela não ocorrerá pelo simples fato dos indivíduos irem à escola todos os dias e lá permanecerem algumas horas. Consequentemente, é de fundamental interesse a análise das possibilidades desta instituição na efetivação de potenciais culturais e promotores da cidadania. (ALMEIDA, 2010, p. 12).

No caso particular deste trabalho, com ênfase na produção de sentidos sobre os avanços tecnológicos contemporâneos, enfoco a acessibilidade a conhecimentos referentes ao conjunto N&N a partir de textos de divulgação científica como potencial cultural e promotor da cidadania, considerando ser possível a discussão de questões sociais da ciência e da tecnologia a partir desses textos.

Assim, desenvolvi este trabalho considerando que a física pode ser abordada nos processos de ensino e aprendizagem através da linguagem considerada comum, mesmo sendo construída utilizando-se a linguagem matemática. Dessa forma, considerando as linguagens matemática e comum como duas linguagens diferentes, acredito que, no ensino da física, principalmente no nível básico, a linguagem comum deve exercer função preponderante, não devendo a linguagem matemática ser desprezada neste processo.

Tenho notado, no entanto, que para alguns professores de física, licenciandos e mesmo alguns estudantes do ensino médio, o processo que ocorre na construção dessa ciência é o mesmo que deve ocorrer no seu ensino e na sua aprendizagem: a linguagem matemática passando à frente. Almeida (2004, p. 96) afirma: “no caso da física, [...] na sua construção é fundamental a linguagem formal, a linguagem matemática, mas não é dispensável a linguagem comum. Já para se pensar o ensino dessa disciplina, sem dúvida é a linguagem comum que deve tomar a dianteira [...]”.

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Além disso, entendo que o hábito da leitura permite que posicionamentos embasados sejam tomados. Posicionamentos que podem estar associados a questões de política científica, aos avanços tecnológicos e às implicações da ciência e das novas tecnologias na sociedade. Almeida (2004) nota que, após a leitura de um trecho escrito por um cientista, estudantes do ensino médio proferiram discursos que:

[...] mostram estudantes que se posicionam enquanto leitores, estudantes que, aparentemente, não desviaram sua atenção, como ocorre frequentemente em aulas de física, nas quais o uso quase exclusivo de linguagem formal dificulta qualquer posicionamento de quem não compreende essa linguagem. (ALMEIDA, 2004, p. 107).

A leitura no ensino de ciências aliada à introdução e ao funcionamento da divulgação científica em situações de ensino de disciplinas de cunho científico têm sido estudados por pesquisadores da área há vários anos. Numa breve passagem por alguma base de dados ou numa pesquisa em sítios eletrônicos de periódicos da área de ensino de ciências é possível buscar por várias publicações que abordam a questão da leitura e da leitura de textos de divulgação científica no espaço escolar.

Silva (2010) enfatiza os objetivos pretendidos a partir das pesquisas que envolviam a leitura no ensino de ciências:

Vários dos trabalhos sobre leitura e uso de textos no ensino de ciências,

incluindo os de “divulgação científica” produzidos a partir de 1990 tinham

explícita ou implicitamente a sugestão de que seria favorável para o ensino, para a relação que a escola estabelece entre os sujeitos e as ciências, que se multiplicassem as formas, tipos, gêneros e fontes textuais trabalhados pela escola no âmbito do ensino das ciências para além do livro didático. Essa multiplicação propiciaria que um maior número de alunos se aproximasse das ciências, pois iria ao encontro das suas diferentes histórias de leitura, seus diferentes gostos, diferentes interesses, diferentes relações com a linguagem escrita; possibilitaria ainda trazer para a escola elementos outros das ciências menos frequentes nos conteúdos e linguagens dos livros didáticos, como valores associados à produção científica e tecnológica, assim como temas da produção científica mais atual. (SILVA, 2010, p. 26).

Se o objetivo proposto de compreender o funcionamento de textos de divulgação científica num espaço formal de ensino e aprendizagem for complementado, tendo como foco o aluno e as produções de significados sobre o tema escolhido, poderá possibilitar também a verificação das limitações de tais textos no ensino de ciências, particularmente no de física.

Adoto a divulgação científica como sendo um gênero discursivo diferente daquele como o cientista publica os resultados de suas pesquisas a seus pares. Em relação à física e áreas

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correlatas, entendo a divulgação científica como um gênero discursivo que se constitui numa produção textual que quase não se serve da linguagem matemática.

Silva (2010) faz algumas considerações sobre o funcionamento discursivo da divulgação científica, salientando que, além de diferenças textuais, os diversos discursos relacionados às ciências também marcam divergências de valores quanto àquilo que é dito:

[...] “a divulgação científica”, em seu funcionamento discursivo,

produz/reproduz/desloca imagens sobre ela mesma (como a de restabelecer ao público por meio da comunicação, o saber do qual foi privado, em sua aparência amável) e sobre dois outros discursos que também remetem às ciências: o escolar (o da pedagogia institucional, o que seria o do saber em sua forma

verdadeira) e o “científico propriamente dito” (homogêneo, absoluto,

monológico). Discursos esses associados a tipos mais ou menos específicos e

distinguíveis (não sem problemas) de textos, como a própria “divulgação científica”, o livro ou manual didático e o artigo científico ou paper. Porém,

mais que marcar diferenças textuais, marcam diferenças de instituições, de lugares de dizer e de valores e legitimidades sobre o que é dito. Além de dizerem, produzem valores sobre o discurso que veiculam, valores que fazem parte dos processos de leitura, ou seja, das interpretações produzidas sobre eles e, portanto, de suas condições de produção da leitura, já que esses valores irão influenciar a interpretação do que será lido. (SILVA, 2010, p. 31).

Dadas as considerações sobre a leitura no ensino de ciências e sobre o modo como estou adotando a divulgação científica neste estudo, passo a dar ênfase a alguns trabalhos que tiveram a divulgação científica como mote principal.