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1 FÍSICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA – FOCO NA NANOCIÊNCIA E NA

1.4 REVISÃO DA LITERATURA

1.4.6 Implementação de conteúdos de N&N na formação de professores

Cima (2007) apresenta resultados de uma discussão fomentada com professores de física de diversas regiões do país sobre dificuldades encontradas para tratar assuntos relacionados à ciência e tecnologia contemporâneas. Elegeu-se um tópico sobre nanociência, a partir do qual foi elaborada uma proposta didática, posteriormente analisada e redimensionada a partir das colaborações do grupo de professores envolvidos. As discussões foram registradas em um ambiente virtual, de onde emergiram os principais elementos analisados e que permitiram detectar fragilidades nos conhecimentos dos professores sobre FMC. A superação dos obstáculos sugeriu maior aproximação entre a pesquisa acadêmica em ensino de física e aqueles que atuam nas salas de aula, passando também pela melhoria do processo de formação inicial.

Pereira (2009) e Pereira et al. (2009) apresentam trabalhos que focalizaram estudos sobre nanotecnologia integrados à citologia. Para isso, foram analisadas possíveis contribuições de uma Unidade de Aprendizagem sobre nanotecnologia e citologia à formação inicial de professores de biologia. Foi feito um estudo de caso, com abordagem qualitativa e descritiva, tendo como sujeitos os alunos de uma turma de um curso de graduação em Ciências Biológicas -

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Licenciatura. Os instrumentos para obtenção de informações foram, basicamente, uma questão inicial para verificar as concepções prévias dos alunos, um diário de campo e um questionário final com depoimentos sobre o trabalho vivenciado. As informações obtidas foram analisadas segundo a metodologia de Análise Textual Discursiva, resultando em três grandes categorias.

A partir dos depoimentos, os autores relatam que os licenciandos consideraram a nanotecnologia uma ferramenta para o desenvolvimento de novos materiais e reconheceram-na como uma técnica para manipular a matéria na escala de átomos e moléculas, porém não mencionaram distinções entre nanotecnologia e nanociência. Também foram apontadas dúvidas em relação a outras áreas da biologia em que a nanotecnologia poderia estar envolvida. Além disso, os autores notam que quanto maior o envolvimento do professor com o assunto a ser abordado em sala de aula, mais motivado e criativo ele se encontra ao planejar uma atividade.

O objetivo de Marques Filho (2011) consistiu em identificar e analisar as crenças de futuros professores de física sobre a inserção de tópicos de FMC no currículo do EM. Adotando uma metodologia qualitativa com quatro sujeitos oriundos de um grupo de 11 alunos do curso de Licenciatura em Ciências Exatas (habilitação: Física), foram oferecidos minicursos de dois temas de FMC aos licenciandos: física de partículas e nanociência; sendo que os futuros professores adaptaram e organizaram tais conceitos e atividades em um módulo de ensino com quatro horas para o EM. O autor considera importante fornecer aos formadores de futuros professores uma perspectiva em relação às crenças deste público sobre a inserção de FMC no EM.

Bassotto (2011) apresenta uma Unidade de Aprendizagem sobre nanotecnologia e analisa como ela contribuiu para que licenciandos em química pudessem incluir o tema no EM. A pesquisa teve uma abordagem qualitativa e descritiva, a partir de uma pesquisa-ação. Os instrumentos de coleta de dados consistiram, dentre outros, num questionário inicial e em entrevistas com os sujeitos de pesquisa e com os professores. A análise e interpretação dos dados foram efetuadas por meio da Análise Textual Discursiva e indicou que os licenciandos apresentavam pouco conhecimento sobre o tema.

Lima e Almeida (2012) notam que as chamadas nanociências e nanotecnologias têm desempenhado um papel bastante relevante na sociedade contemporânea e apontam que muitos países, destacadamente os mais industrializados, vêm destinando grandes investimentos para o fomento de pesquisas nestes campos. As autoras ainda mencionam que as investigações em

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nanociência e nanotecnologia têm se desenvolvido, também, pela competitividade gerada entre grupos de pesquisa que, na sua maioria, associam os resultados a benefícios públicos:

As enormes vantagens prometidas para aqueles que possuírem o conhecimento e a capacidade de explorar as nanotecnologias vêm motivando diferentes grupos, de setores públicos e privados, promovendo grande competitividade e, consequentemente, favorecendo o crescente desenvolvimento dessas pesquisas, as quais são, com maior frequência, associadas a grandes benefícios públicos [...] (LIMA; ALMEIDA, 2012, p. 4401-2).

Elas afirmam também que parte da população mundial não acompanha o avanço das ciências e das tecnologias, cabendo a poucos o desfrute desses avanços:

[...] estudos mostram que, ao longo da história, o desenvolvimento das ciências e das tecnologias vem sendo utilizado por poucos grupos privilegiados economicamente e que, em lugar de minimizar problemas sociais, como a pobreza e a fome, vêm aumentando a desigualdade na distribuição de renda no mundo. (LIMA; ALMEIDA, 2012, p. 4401-2).

Com enfoque para o ensino superior, formação de professores e especial destaque para os conteúdos relacionados à FMC, as autoras apontam o uso, quase exclusivo, da linguagem matemática utilizada para a resolução de exercícios e problemas nas disciplinas de cunho específico nos cursos de licenciatura em física. Consideram a necessidade do desenvolvimento de um trabalho que promova o entendimento de que a ciência é um produto humano e que incentive uma participação intensa e vigilante sobre o uso das aplicações da ciência e da tecnologia pelo cidadão comum, um trabalho que seja direcionado para a sociedade.

Partindo de todas essas considerações, após analisarem os resultados do desenvolvimento, em três etapas, de uma disciplina ministrada no segundo semestre letivo de 2009 na Unicamp com 15 licenciandos em física, as autoras apresentam uma unidade de ensino composta por 16 textos envolvendo conteúdos de nanociência e nanotecnologia.

A primeira das etapas consistiu na aplicação aos alunos, logo no primeiro dia de aula, de um questionário incluindo perguntas sobre experiências marcantes vivenciadas por eles como estudantes na universidade, disciplinas já cursadas e uma questão referente aos conhecimentos sobre nanotecnologia. O questionário teve o objetivo de obter conhecimento sobre a formação daqueles alunos, as representações que traziam para a disciplina e alguns de seus interesses como futuros professores. A partir das respostas, as pesquisadoras concluem que as disciplinas de FMC, da forma como eram ministradas, haviam contribuído pouco para a formação daqueles licenciandos enquanto professores do EM.

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Na segunda etapa, grupos de alunos estudaram em casa e elaboraram sínteses de textos sobre nanociência e nanotecnologia propostos pelas autoras. Esse estudo foi seguido de apresentações em forma de seminários na sala de aula. Já na terceira e última etapa, ocorrida no último dia de aula, os licenciandos responderam outro questionário.

Depois de apresentado o desenvolvimento da disciplina, as autoras oferecem uma síntese das principais características de cada um dos 16 textos indicados para a unidade de ensino, cujos enfoques diversificaram, visando a uma formação ampla do futuro professor. Nesse sentido, pretendem contribuir para o fortalecimento de conhecimentos que consideraram essenciais para a formação docente, de modo que o trabalho dos futuros professores permita formar cidadãos com condições de refletir, compreender e assumir posicionamentos favoráveis ou contrários aos novos avanços tecnológicos.