• Nenhum resultado encontrado

Considerações sobre aplicação de Living Labs aos problemas da Logística Urbana

2.3 LOGÍSTICA URBANA

2.3.2 Considerações sobre aplicação de Living Labs aos problemas da Logística Urbana

os cidadãos a querer cada vez mais contribuir em soluções para o futuro das suas cidades, através do uso de dados abertos e outras modalidades participativas. Grandes cidades do mundo, como Barcelona (Espanha), Amsterdã (Holanda), Montreal (Canadá) e Lyon (França) tem reconhecido a importância de inovar em conjunto com a sociedade para garantir a criação de valor holístico e alinhado com as necessidades e desejos das partes interessadas em todo o território. Sendo assim, um número crescente de agentes de projetos urbanos, tanto do setor público quanto privado, estão começando a adaptar suas práticas em conformidade a esse cenário e definindo novas abordagens para a partilha de conhecimentos e criatividade coletiva, tentando assim maximizar a "aceitação social" dos projetos urbanos (LEHMANN,FRANGIONI E

como o LL representa uma forma relevante de se criar projetos "socialmente aceitáveis", e mais do que isso, projetos eficazmente voltados aos stakeholders.

Pode-se ainda apontar como fato favorável para um potencial sucesso dos living labs em soluções para problemas da logística urbana a ampla gama de possibilidades de aplicação da abordagem, explorada no item 2.1.3. Mas há outros aspectos que devem ser considerados para corroborar esta hipótese, em resposta aos elementos críticos das soluções propostas para este contexto, citados no item 2.3.1. Estes aspectos, apresentados ao longo de toda a Revisão Bibliográfica, contrapostos aos elementos críticos são apresentados de forma resumida no Quadro 3 e uma explanação detalhada desta relação é apresentada nos subitens a seguir.

ELEMENTOS CRÍTICOS DA LOGÍSTICA URBANA

ASPECTOS DO LIVING LAB

Diferentes atores (embarcadores, receptores, PSL, autoridades locais, cidadãos) com objetivos diferentes e conflitantes

Característica de transpor lacunas entre as partes e definir estratégias de ganha- ganha

Problemas complexos, com relações não lineares e com defasagem temporal

Participação de todas as partes aumenta chance de validade no longo prazo e permite exploração do problema de forma sistêmica

Soluções internacionais, que não se adaptam à realidade brasileira

Validação de protótipos e teste em ambiente real contribuem para a adequação ou rejeição de soluções pré- existentes

Novo metabolismo urbano versus restrições da estrutura e do tráfego

Agrega diferentes tipos de conhecimento favorecendo soluções criativas e viáveis.

Quadro 3 – Elementos críticos da Logística Urbana contrapostos a aspectos favoráveis do Living Lab. Fonte: próprio autor.

2.3.2.1. Diferentes atores, com objetivos diferentes e conflitantes

Como já foi destacado, um dos componentes-chave dos living labs é a participação ativa dos usuários e outros stakeholders no processo de desenvolvimento da inovação. Esta característica permite aos diferentes atores da logística urbana expor seus pontos de vista, objetivos e anseios frente ao problema e confrontá-los diretamente com os dos outros atores. Por sua vez, a Governança (outro componente-chave) deve lidar com os conflitos preenchendo as lacunas de comunicação e de entendimento entre os diferentes atores e fazendo com que o grupo chegue não à solução ideal para as partes, mas a melhor para o todo numa estratégia de

ganha-ganha. Questões de patente, que podem surgir especialmente nas relações entre pessoas jurídicas desenvolvendo inovações compartilhadas, também devem ser solucionadas pela Governança.

Certamente isso não é tarefa fácil, como já apontado entre as dificuldades trazidas no item 2.1.4, principalmente porque requer a participação efetiva de todos os principais stakeholders do problema para que os objetivos considerados na solução sejam abrangentes e sem viés de um grupo ou outro. E isso nem sempre é possível, seja devido à resistência das partes em discutir com empresas concorrentes, seja por dificuldades de programar a participação de grupo tão heterogêneo ou, até mesmo por desinteresse devido à falta de conhecimento sobre a metodologia.

Mas entende-se que, mesmo não ocorrendo da maneira ideal, o ganho das soluções obtidas no âmbito do living lab seria superior ao de soluções encontradas e implementadas de forma unilateral porque teria necessariamente participação e adesão, se não de todos, mas da maioria dos grupos de atores, a qual poderia influenciar os outros grupos.

2.3.2.2. Problemas complexos, com relações de causa e efeito não lineares e com defasagem temporal

Os problemas da logística urbana se enquadram numa categoria que vem sendo chamada de “wicked problems”, ou problemas complexos, onde a resposta a um aspecto geralmente revela outro, ainda mais complexo e as soluções completas, portanto, se mostram bastante difíceis por conta da interdependência. Para Eskelin et al. (2015) neste tipo de problema muitas vezes não há uma solução perfeita, mas muitas que podem “se encaixar” e abordagens como living labs são particularmente apropriadas, permitindo a exploração de situações onde soluções inovadoras estão ocultas sob uma complexa rede de stakeholders e de resultados possíveis.

No living lab, a discussão de soluções por todo o grupo de stakeholders com a utilização de métodos adequados de participação, permite a visualização de diferentes aspectos do problema uma vez que cada grupo tem informações particulares e importantes, muitas vezes desconhecidas do restante. O conhecimento do problema de forma mais sistêmica pode resultar na construção de um mapa de relações de causa e efeito, que não seria possível em outros métodos de desenvolvimento de soluções.

A participação ampla dos usuários, ou pelo menos de usuários-líderes (que possam influenciar outros), durante todas as etapas de desenvolvimento da solução, aumenta também as chances de validade no longo prazo e adequação temporal da mesma. Conforme explorado nos capítulos 2.1.1 e 2.1.2, o que tem sido observado nas soluções geradas nos living labs é que a participação dos usuários ao longo de todo o processo, resulta em soluções mais aplicáveis no dia a dia e portanto, válidas no longo prazo.

2.3.2.3. Soluções internacionais, que não funcionam bem sem adaptação à realidade brasileira Alguns elementos da abordagem de living lab são especialmente úteis para lidar com este aspecto crítico, e muito comum na logística urbana, que é a adoção de soluções enlatadas (muitas vezes internacionais) sem a correta adaptação à cultura e ambiente local, sejam essas de normatização, equipamentos e tecnologias de transporte, tecnologia de informação e comunicação, softwares, entre outros.

Num living lab, antes da implementação, as soluções passam por uma etapa importante de avaliação do protótipo feita por todos os stakeholders, onde os benefícios da solução, impactos não previstos e o atendimento às necessidades reais são julgados. Tendo sido aprovado nesta etapa, o protótipo (ou a própria solução) vai para a validação em ambiente real em escala piloto. Estas etapas da metodologia podem contribuir para a adequação da solução pré-existente ao ambiente e características locais ou até mesmo para sua rejeição, quando o grupo constatar que a adaptação não é possível.

2.3.2.4. Novo metabolismo urbano versus restrições da estrutura e do tráfego requerem inovações

A possibilidade de construção de soluções criativas, sólidas e eficazes para a comunidade é destacada nas aplicações de sucesso dos living labs, citadas no Capítulo 2. Isso porque inovações deste tipo demandam envolvimento dos cidadãos, de empresas de grande e pequeno porte habilitadas para desenvolver tecnologia, de universidades, institutos de pesquisa e do governo, todos trabalhando em conjunto e unindo forças de forma complementar rumo a objetivos comuns.

Nos casos de problema urbanos, especificamente, Lehmann, Frangioni e Dubé (2015) destacam que o LL concentra diferentes tipos de conhecimentos úteis neste projetos: conhecimento ativista (relacionado ao nível de proximidade e interações entre a coletividade de cidadãos e as instituições administrativas e políticas); conhecimento de uso (associado ao

refinado conhecimento local dos cidadãos sobre determinada área, com uso repetido dos produtos, infraestrutura e serviços daquela área), e; conhecimento profissional (derivado normalmente das capacidades técnicas de determinados stakeholders do LL, mas também pode emergir das interações entre as partes dentro do LL levando a um conhecimento profissional coletivo). Para os autores, a abordagem de LL não somente mobiliza o conhecimento e o saber implícito e explícito dos stakeholders, como também gera novos conhecimentos ao longo do processo.

Os aspectos discutidos acima justificam a hipótese inicial de que a abordagem de LL é apropriada à solução de problemas da logística urbana, mas vale lembrar que basicamente todas as referências de sucesso são internacionais. Cabe a esta pesquisa avaliar seu desempenho num contexto local e sem histórico de utilização da metodologia, podendo-se pressupor que os resultados obtidos podem não acontecer nos níveis idealmente expostos acima. Presume-se, entretanto, que quanto mais bem estruturada estiver a metodologia e quanto mais casos de sucesso o living lab apresentar, os receios e desconfianças entre as partes tendem a minimizar- se e serão maiores os benefícios obtidos através de soluções amplas e criativas.

3 METODOLOGIA

Documentos relacionados