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O objetivo da pesquisa foi concluído de forma bastante satisfatória e, pode demonstrar, respondendo à questão de pesquisa que a abordagem de Living Lab é adequada para o desenvolvimento de inovações em logística urbana. Sua aplicação no contexto brasileiro encontra desafios adicionais aos relatados em outros países, mas ainda assim, apresenta benefícios autênticos e, a maturidade obtida com seu uso recorrente e planejado suplantará grande parte desses aspectos.

A avaliação sobre a adequação da metodologia pode ser suportada pela resposta positiva da mesma ao lidar com os elementos críticos dos problemas da logística urbana, apresentados em 2.3.1. Já nesta primeira aplicação, podemos destacar que foram tratados apropriadamente pela metodologia:

 Participação de diferentes atores, com objetivos diferentes e conflitantes:

Este aspecto mostrou-se amplamente contemplado na aplicação. Ao longo das três etapas realizadas no projeto a participação de stakeholders de todos os grupos, estimulada pelos diversos métodos de envolvimento utilizados, favoreceu a exposição do ponto de vista de cada parte, de seus interesses e gerou até mesmo oportunidades de defesa ou justificativa de ações tomadas. Como exemplo, na fase de Levantamento de Necessidades puderam ser apresentados aspectos relacionados tanto ao benefício da comunidade como um todo (como poluição e educação no trânsito), quanto aqueles que afetam o custo das empresas, o que poderia ser entendido à princípio como um problema particular, mas que na argumentação do grupo mostrou-se claramente um custo de todos. Muitas reclamações sobre ações e obras realizadas pelo poder público na região central, puderam ser esclarecidas por esse como parte de um plano mais amplo.

A dinâmica de Cocriação, apesar da resistência inicial, trouxe para o mesmo ambiente de discussão, empresas concorrentes num mercado onde o grau de competição é bastante acirrado, além dos outros diversos stakeholders; todos pensando de forma cooperativa nas melhores soluções para os problemas. Essa oportunidade proporcionada a cada participante pela metodologia: poder expor sua perspectiva sobre a situação e ser ouvido pelas outras partes foi reconhecida e valorizada pelos mesmos de forma bastante explícita, em vários momentos ao longo do projeto.

 Necessidade de inovações frente ao novo metabolismo urbano, presença do mundo virtual, reespacialização das atividades e restrições da estrutura e do tráfego:

Conforme apresentado no subitem 2.3.2.4 inovações que suplantem as restrições à logística urbana no ambiente urbano atual demandam envolvimento de diversas partes, como empresas de pequeno e grande porte, universidades e governos, trazendo diferentes tipos de conhecimento úteis à elaboração das soluções e tornando-as mais robustas. Na aplicação deste projeto a participação de representantes de todos os grupos de stakeholders e o apoio de pesquisadores experientes na fase de Levantamento de Necessidades e Cocriação pode tanto fomentar discussões sobre boas práticas de conhecimento dos participantes, quanto produzir ideias inovadoras e adequadas à realidade em questão. Os métodos utilizados se mostraram bastante acertados e contribuíram com a geração de amplo leque de ideias dentro dos grupos formados na dinâmica de Cocriação e posterior análise crítica pelos demais participantes, fortalecendo os conceitos. A etapa de Exploração dos protótipos também se mostrou bastante contributiva no propósito de gerar ideias criativas. Com protótipos que refletiam de forma fidedigna as soluções, os participantes conseguiram vislumbrar nova aplicações para as mesmas e diferentes formas de operacionaliza-las anteriormente não contempladas.

Com relação aos desafios encontrados na aplicação da metodologia, podemos dividi-los em alguns grupos:

 Relacionados à definição inicial do problema: escolha do tema de forma unilateral pelos pesquisadores, sem participação do grupo que seria envolvido nesta aplicação e falta de um patrocinador no desenvolvimento do projeto.

 Relacionados aos métodos utilizados ou ausência de métodos: método de definição inicial do problema (unilateral, baseado em resultados de grupos focais realizados com outro gurpo) foi inadequado, como dito; seleção de usuários através de pesquisa de campo não foi eficaz; técnica de Investigação Apreciativa durante o levantamento de necessidades mostrou-se impraticável; método de avaliação/priorização de soluções para o protótipo (QFD), mostrou-se complicado na aplicação e seu preenchimento por parte do grupo, levou a certo viés na priorização; ausência de método de detalhamento das soluções priorizadas, junto ao grupo.

 Relacionados à cultura local: usuários pouco engajados em questões de interesse comunitário; baixo histórico de colaboração entre empresas e universidades; histórico baixo ou nulo de colaboração entre poder público e sociedade em geral, na tomada de decisões.

 Relacionados a aspectos gerais: tempo muito extenso da aplicação, tendo ocorrido muitas substituições de envolvidos nos grupos de stakeholders, ao longo do projeto; desconhecimento da abordagem de living lab e baixa maturidade do L2i, sem resultados

históricos a serem demonstrados.

Estes desafios, inclusive os relacionados ao ambiente brasileiro, não comprometeram o resultado positivo da aplicação da abordagem, mas podem ser suplantados gradativamente. Para isso recomenda-se a aplicação da abordagem de living lab de forma continuada e apoiada pela metodologia de pesquisa-ação, possibilitando seu aprimoramento. Neste aspecto a Cartilha produzida no âmbito deste trabalho e trazida no Anexo I vem contribuir para a disseminação da abordagem e sua aplicação. Além da continuidade da prática, a construção e fortalecimento de comunidades associadas ao living lab por meio da aproximação de comunidades de usuários já existentes, como associações, fóruns e cooperativas e o uso de plataforma própria de conectividade com as comunidades e outros stakeholders (como empresas interessadas na temática tratada no living lab, órgão públicos, universidades) favorece o envolvimento dos usuários e stakeholders e levantamento de prioridades para possíveis patrocinadores.

Outros aspectos recomendados para o fortalecimento do Living Lab são: definição de modelo de negócio que proporcione sustentabilidade financeira para manutenção de equipe dedicada, plataforma de conectividade e ferramentas de apoio; envolvimento gradativo dos usuários e participação remota em algumas fases, de forma a não comprometer o andamento do projeto, e; aplicações simplificadas ou fracionadas em subprojetos permitindo ciclos de curta duração entre o início e fim do projeto.

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