• Nenhum resultado encontrado

A metodologia de pesquisa utilizada no presente trabalho é a Pesquisa-Ação, onde todos os aspectos do processo de inovação são analisados através de participação ativa do próprio pesquisador no processo.

Thiollent (2011, p. 20) define Pesquisa-Ação como “um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo”.

As metodologias tradicionais de pesquisa, de caráter positivista, são marcadas por três princípios fundamentais: reducionismo, repetibilidade e refutação. Nelas o pesquisador propõe uma hipótese sobre uma área de interesse delimitada e realiza experimentos controlados e repetíveis buscando refutar ou confirmar sua hipótese. Estes experimentos repetíveis incorporam o conhecimento e uma sequência de experimentos por meio do teste de destruição de hipóteses permite o progresso do conhecimento científico (CHECKLAND E HOLWELL, 1998).

Essa abordagem positivista é incontestável em pesquisas cujo objeto é de cunho natural e científico, mas torna-se limitada em pesquisas de fenômeno social onde o objeto não é homogêneo ao longo do tempo, não permitindo replicabilidade dos experimentos. Kurt Lewin, na década de 1940, ao pesquisar grupos humanos e suas dinâmicas sob o ponto de vista de mudanças sociais, percebeu as limitações e a artificialidade em estudar eventos sociais complexos em laboratório, tratando elementos comportamentais individuais de forma isolada e foi neste contexto que a Pesquisa-Ação surgiu (CHECKLAND E HOLWELL, 1998). O Quadro 4

CIÊNCIA POSITIVISTA PESQUISA-AÇÃO Objetivo da pesquisa Conhecimento universal

Construção de teoria e teste

Conhecimento na ação Construção de teoria e teste na ação Tipo de conhecimento adquirido Universal Lei abrangente Particular Situacional

Práxis (ação ordenada para certo fim)

Natureza da validação dos dados

Livre de contexto Lógica, medição

Consistência de predição e controle

Inserida num contexto Experimental

Papel do pesquisador Observador Ator

Agente de mudança

Relação do pesquisador com o cenário

Destacadamente neutra Imerso

Quadro 4 - Comparação entre ciência Positivista e Pesquisa-Ação. Fonte: Adaptado de COUGHLAN E COGHLAN, 2002.

A escolha da Pesquisa Ação como metodologia de pesquisa no presente projeto, que tem como objetivo avaliar a abordagem de cocriação living lab num contexto de logística urbana, repleto de relações sociais, justifica-se por diferentes motivos, enfatizados por Coughlan e Coghlan (2002):

1. É a metodologia mais apropriada quando as questões de pesquisa estão relacionadas a descrever o desdobramento das ações ao longo do tempo em um dado grupo, comunidade ou organização.

2. Usa uma abordagem científica para estudar a resolução de questões sociais e organizacionais junto com aqueles que experimentam diretamente estas questões.

3. Na pesquisa-ação os membros do sistema não são objetos de estudo como nas abordagens tradicionais de pesquisa, mas participantes ativos no processo de pesquisa.

4. A pesquisa acontece simultaneamente à ação. O objetivo é tornar a ação mais efetiva enquanto simultaneamente se constrói o conhecimento científico.

As etapas de uma Pesquisa-Ação, segundo Checkland e Holwell (1998) e Ståhlbröst (2008) podem ser observadas na Fig. 8 a seguir.

Figura 8 - Pesquisa-ação. Fonte: Adaptado de STÅHLBRÖST, 2008.

Nesta abordagem o pesquisador, tem Temas de pesquisa como entradas a serem avaliadas seguindo determinadas instruções ou diretrizes, relativas ao modo de encarar os problemas que serão identificados na situação investigada e relativas ao modo de ação. Conforme Thiollent (2011) essas diretrizes possuem caráter bem menos rígido que as hipóteses dos métodos positivistas, mas desempenham função semelhante, pois conforme o resultado da pesquisa, podem sair fortalecidas ou serem refutadas. Essa fase inicial, também definida como Planejamento por outros autores, como Mello et al. (2012) é o momento de mapear a literatura, identificar lacunas, delinear ideias e planejar a ação da próxima fase. É onde se faz a base teórica do estudo.

Tendo finalizado o planejamento da pesquisa inicia-se a fase de Ação, que tem como primeiro passo a delimitação do campo de observação empírica que será estudado na prática, ou definição do problema no mundo real. A seguir, o pesquisador participa de Avaliações e Ações no Problema, de forma ativa no dia a dia da situação e não como um mero observador. Mello et al. (2012) subdividem esta fase em três: Coleta de Dados, Análise de Dados e Implementação de Ações e, segundo eles, nestas fases ocorre a interferência no objeto de estudo de forma cooperativa com os participantes. As ações dessa fase, que interferem e modificam o problema, contribuem para a base do conhecimento, refinando e estendendo a teoria pesquisada, sendo fundamentais na caracterização da Pesquisa-Ação.

Uma vez que as ações no processo de pesquisa são completadas, o pesquisador e os outros participantes refletem sobre os resultados e as modificações feitas no problema

Reflexão sobre o envolvimento, (com base nas

entradas) Entradas (conjunto de ideias e metodologia/ diretrizes) Ações na situação, o processo de avaliação participa Pesquisador Temas de Pesquisa novos resultados leva a possibilita Situação Problema no mundo real, o Living Lab

comparando-os com a base teórica do tema de pesquisa e avaliando as diretrizes (ou metodologia) definidas para o estudo, registrando o aprendizado e resultados (CHECKLAND E

HOLWELL, 1998; MELLO et al., 2012). Como o processo é cíclico, esse aprendizado pode gerar novos temas de pesquisa ou aperfeiçoamento para um novo ciclo.

No presente trabalho, o Tema de Pesquisa foi definido através de revisão da literatura sobre o tema Living Lab e sua relação com os problemas típicos da logística urbana. Nesta fase inicial, definiu-se ainda por meio de estudo de Living Labs existentes a metodologia que seria aplicada na fase de Ação.

A delimitação do problema a ser estudado no contexto real se deu com a aplicação da primeira etapa da metodologia de Living Lab, que tem exatamente essa finalidade de definição do escopo e objetivos. Na fase de Avaliação e Ação do Problema, as fases seguintes da metodologia foram aplicadas com observação participante do pesquisador. Essa característica mostrou-se muito adequada neste estudo pois a aplicação da metodologia de living lab em questão é uma aplicação piloto, onde ajustes de ferramentas e adequação às bases teóricas foram necessários todo o tempo, a fim de consolidar seu uso e ajustá-la para aplicações posteriores.

Na última etapa da Pesquisa-Ação neste trabalho foram feitas as Reflexões sobre todos os aspectos observados e vivenciados pelo pesquisador e outros participantes, trazendo como resultado a avaliação dos benefícios, pontos de atenção e ajustes necessários para aplicação da abordagem de living lab em situações futuras.

Documentos relacionados