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Considerações sobre o Alojamento do Plúton de Jap

DISCUSSÕES SOBRE OS MECANISMOS DE ALOJAMENTO DO PLÚTON DE JAP

7.3 Considerações sobre o Alojamento do Plúton de Jap

A disposição adjacente a uma zona de cisalhamento de extensão litosférica, sugerida pela presença de volumoso magmatismo de origem mantélica ou híbrida, aponta para o forte controle exercido por essa estrutura na ascensão e alojamento do plúton de Japi. Seu caráter sintectônico à deformação brasiliana é evidenciado quando consideramos (i) a geometria tipicamente en cornue do plúton, (ii) a continuidade de orientação entre o fabric tectônico na encaixante e aquele de estado sólido registrado no plúton, (iii) a colocação de sheets mesoscópicos do granito alcalino ao longo da ZCJ, inclusive guardando mesma cinemática, (iv) alojamento ao longo de superfícies C’ e outros sítios de transtração. No que diz respeito a seu posicionamento posterior à deformação D2, impressa no embasamento, podem ser citados seus contatos intrusivos nesta unidade, truncando este fabric, como também a presença de xenólitos de gnaisses previamente foliados por aquele evento, inclusos no magma alcalino.

A aplicação do modelo matemático proposto por Emerman & Marrett (1990) foi feita para o plúton de Japi, aqui considerado apenas o maciço principal, constituído pela suíte alcalina. Considerando as geometrias individualizadas do plúton foram calculados valores de O para os sheets que definem o corpo mais a norte do rio Japi, e para o stock a sul. O valor de R (raio) estimado para os sheets (seguindo o procedimento proposto por Fowler 1994) é da ordem de 102 metros, admitindo uma profundidade equivalente à sua extensão horizontal. Por medição direta, obteve-se um valor de R em torno de 1,2 x 103 metros para o stock. A distância

d pode ser inferida a partir da estimativa da profundidade de intrusão (h), por sua vez obtida

com auxílio do geobarômetro Al-hornblenda de Schmidt (1992). Os parâmetros utilizados no modelamento são apresentados na tabela abaixo.

Similarmente ao plúton de Davys Creek (Fowler 1994), o plúton de Japi apresenta duas geometrias contrastantes de corpos intrusivos. A variável O estimada para os sheets é da ordem de 10-4 a 10-5, em concordância aos valores normalmente obtidos para corpos alojados sob forma de diques (Emerman & Marrett 1990; Fowler 1994). Contrariamente, o modelamento do

Amostra Al-tot P(Gpa) d(m) MH-322 1,837 0,57336 20118,05 MH-322 1,843 0,57617 20216,59 MH-322 1,718 0,51686 18135,55 MH-322 1,97 0,63677 22342,72 6d(m) =80812,91 d media = 20203,23 _____________________________

Tabela 7.1 -Valores utilizados no cálculo de d, a partir de estimativas de pressão pelo geobarômetro Altotal-hornblenda. P: presssão (em Gpa).

stock a sul mostrou valores de O duas ou três ordens de grandeza maiores, em torno de 10-2, corroborando portanto uma transição no estilo de alojamento da suíte alcalina, entre dois modelos distintos.

Embora a geometria macroscópica subcircular do plúton de Japi seja reminescente da forma clássica de um diápiro, os dados de campo, corroborados pelo equacionamento numérico obtido a partir do modelo de Emerman & Marrett (1990), indicam que o alojamento do plúton alcalino de Japi pode ter evoluído em dois estilos distintos. A individualização de

sheets formando boa parte do maciço principal evidencia uma ascensão condizente com os

modelos de transporte e alojamento por diques. Essa proposição é também subsidiada pelos inúmeros septos de gnaisses e metassedimentos individualizados no interior do plúton, guardando a mesma orientação da rocha granítica. A geometria concêntrica desenvolvida por esses sheets pode estar relacionada à terminação transpressional da ZCJ, a norte do plúton, particularizada pela presença de critérios cinemáticos de dupla assimetria e confirmada por padrões ortorrômbicos dos eixos-c de quartzo. Essa terminação teria funcionado como uma “barreira” tectônica para o fluxo ascendente, favorecendo a coalescência dos sheets e gerando a geometria elipsoidal cartografada. Contrariamente, o

stock individualizado na porção sul do maciço principal, com valores de O próximos a 1, é

interpretado como reflexo de uma mudança no estilo de alojamento do plúton, para um padrão que mais se aproxima de diápiros (Emerman & Marrett 1990). Essa mudança pode estar relacionada a uma redução local no stress deviatórico; considerando que o parâmetro O é bastante sensível à variação no 'V, isto levaria a estimativas de O do stock para valores ainda mais próximos de 1 (ver eq. 7.3). As evidências de campo mostram claramente um menor desenvolvimento de planos de anisotropia no stock a sul, em relação à porção norte do corpo alcalino. A diminuição de 'V pode estar relacionada ao arrefecimento da deformação cisalhante associada ao desenvolvimento da ZCJ ou, alternativamente, à disposição espacial do stock em uma região de sombra (transtração), mais protegida da deformação, no cruzamento entre a ZCJ e os cisalhamentos E-W dextrais secundários. A abertura de espaço necessária ao alojamento do plúton alcalino parece ter sido controlada pela disposição em planta dessas estruturas, associada à lineação de estiramento Lx3, de caimento dominantemente para NE e à geometria em pisos e rampas da ZCJ, visualizada a partir do modelamento geofísico-gravimétrico de profundidade, favorecendo a criação de um sítio extensional localizado no quadrante NE da ZCJ. A comprovação de mínimos gravimétricos deslocados para E/NE do corpo alcalino aflorante, somente ajustados com a inserção de outros corpos graníticos em profundidade, está em acordo com a geometria sugerida para a ZCJ. Sendo assim, a migração do magma através da crosta pode ter sido promovida por um modelo de magma pumping, como proposto na literatura (D’Lemos et al. 1992).

Este cenário de alojamento é condizente com afinamento litosférico localizado e consequente elevação do gradiente geotérmico, conduzindo à geração de calor necessário

à formação do magma alcalino. Alternativamente, o underplating e/ou intraplating de magmas derivados do manto, exemplificado pelo plutonismo básico-intermediário associado, pode ser pensado como um mecanismo pelo qual uma pertubação térmica pode ter favorecido a fusão litosférica.

Considerando o controle estrutural de campo, em adição às análises de petrofabric de eixos-c de quartzo obtidas para este corpo, o alojamento do magma alcalino parece ter iniciado durante o pico máximo de deformação-metamorfismo vigentes durante o evento Brasiliano, dados os padrões de máximos concentrados próximos ao eixo X nos diagramas, indicativos de ativação de planos basais <c> durante um estágio de alta temperatura.