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4.1 Introdução

A exemplo dos demais setores da Faixa Seridó, a região de Japi comporta o amplo registro de uma estruturação tectônica vinculada à atuação do Ciclo Brasiliano (ver ítem 2.4, Cap. II). Na área, a maior expressão da deformação dúctil associada a essa orogênese corresponde a uma zona de cisalhamento, caracterizada em escalas diversas, de trend NW-SE - a ZCJ, cujo funcionamento inclui um componente transcorrente sinistral. O efeito dessa deformação é visualizado em toda a extensão da área, em graus variáveis de intensidade. Nos locais de menor strain, especialmente a leste do plúton, estruturas relacionadas a eventos mais antigos (D2 + D1) estão bem preservadas, numa situação contrária aos setores de alto strain brasiliano (D3), onde a individualização dessas estruturas antigas é dificultada em função da visível paralelização com as estruturas mais jovens.

No decorrer deste capítulo será abordada a evolução do quadro estrutural da área, estabelecida a partir da identificação e análise dos elementos estruturais que caracterizam os diferentes eventos deformacionais. Atenção particular será dada às estruturas dúcteis mais jovens, seguramente atribuídas ao Ciclo Brasiliano, analisando sua geometria, cinemática, e o seu controle sobre o alojamento do corpo granitóide de Japi, alvo principal desta dissertação. Neste estudo serão incluídos: (i) análise macroscópica, com base no mapeamento de campo apoiado pelo exame de produtos de sensoriamento remoto, identificando os principais fotolineamentos e seus padrões geométricos; (ii) análise geométrica e cinemática do fabric mesoscópico, com vistas à definição da natureza do(s) regime(s) de deformação vigente(s), e (iii) análise do petrofabric de eixos cristalográficos em alguns litotipos plutônicos e encaixantes, visando definir a cinemática da deformação principal e, ainda, obter informações adicionais sobre as condições térmicas atuantes durante o alojamento e resfriamento do plúton.

Antes de iniciar as discussões, faz-se necessário introduzir a nomenclatura empregada para os elementos de trama adiante referidos. São eles: S0, para referenciar acamamento em

metassedimentos; S, bandamentos e xistosidades; C, designa a foliação milonítica associada aos cisalhamentos; C’, corresponde a estruturas tipo shear bands; Lxe Lb para as lineações de

estiramento e/ou mineral e lineações de interseção ou eixo de dobramentos, respectivamente; SJ

0, SJ3 e LJ3 para descrever, respectivamente, acamamento, foliação e lineação magmáticos.

A simbologia D será adotado para caracterização das fases de deformação. A inclusão de um subscrito numérico (1, 2 e 3) a esses símbolos se refere aos sucessivos eventos deformacionais responsáveis pela geração desses elementos. Essa nomenclatura segue a proposta de Jardim de Sá (1994) para os elementos de petrotrama observados na FSe.

4.2 As Fases de Deformação Pré-Brasilianas e Estruturas Mesoscópicas Associadas

A cronologia dos eventos deformacionais reconhecidos na FSe ainda constitui motivo de debates na literatura da região, especialmente centrados em proposições que consideram modelos de evolução crustal distintos, envolvendo uma história orogênica monocíclica ou policíclica.

A idade do evento Brasiliano, bem como das estruturas associadas, dominantemente de caráter transcorrente, é bem estabelecida na Província Borborema. Todavia, opiniões contrastantes são sugeridas quanto ao entendimento das estruturas mais antigas, tangenciais. Caby (1989) e Caby et al. (1991; também Archanjo 1992) posicionam os dois conjuntos de estruturas dentro de um único evento cinemático, brasiliano, os quais corresponderiam a regiões de pisos e rampas de empurrões, ou ainda, a estruturas em flor e, desta forma, condicionando um caráter monocíclico à evolução geodinâmica da FSe. Argumentos de cunho geocronológico a favor dessa hipótese têm sido recentemente arguidos por Van Schmus et al. (1995, 1996), para quem idades mais jovens, ca. 0,7 ou de até 1,4 Ga (dados Sm- Nd e U-Pb em zircões), obtidos nas supracrustais do Grupo Seridó, indicam a deposição dessa unidade durante o Meso- a Neoproterozóico.

Por outro lado, um outro grupo de pesquisa sugere que as estruturas tangenciais D2 teriam sido geradas durante uma orogênese colisional no Paleoproterozóico (Jardim de Sá 1994; Jardim de Sá et al. 1995). Tal suposição é admitida a partir de relações intrusivas de um plúton “G2” nas supracrustais do Grupo Seridó, cuja datação U-Pb em zircão forneceu idade 1,99+0,01 Ga. A interpretação deste resultado conduz à atribuição das estruturas tangenciais da FSe a um evento termotectônico anterior ao Ciclo Brasiliano.

Na presente abordagem, serão consideradas as interpretações que preconizam uma evolução policíclica para a região, como proposto por Jardim de Sá e colaboradores.

A admissão do Complexo Caicó como substrato das supracrustais do Grupo Seridó e, por conseguinte, encaixante dos plútons brasilianos no MSJC, baseia-se na existência de um

fabric antigo cujo diagnóstico repousa em critérios de campo (já discutidos brevemente no

ítem 2.2), de referência clássica na literatura. O primeiro critério relaciona-se à presença de metaconglomerados na base da Formação Jucurutu, marcando uma superfície de não conformidade entre o Grupo Seridó e os gnaisses do Complexo Caicó. O segundo refere-se a diques básicos anfibolitizados, truncando o bandamento dos gnaisses, mas dobrados ou

boudinados pela deformação D2, tangencial, que afeta amplamente a unidade de

embasamento e as supracrustais Seridó.

Esse tipo de relação não foi identificado dentro dos limites da área. Todavia, a ocorrência de diques pré-D2 em sítios vizinhos (regiões de São José do Campestre e Barra de Santa Rosa), encaixados em gnaisses petrograficamente semelhantes àqueles aflorantes na área, permitem estender a caracterização do complexo gnáissico-migmatítico como uma unidade antiga, pré-brasiliana. Em geral, o bandamento metamórfico S1 encontra-se

retrabalhado e paralelizado às estruturas D2, gerando uma superfície composta (S1+S2). Isoladamente, S1 corresponde a um bandamento gnáissico milimétrico a centimétrico, de alto grau, marcado pela alternância de bandas máficas (predominantemente anfibólio+biotita+plagioclásio) e bandas de composição quartzo-feldspática, superfície esta marcadora das dobras isoclinais e originalmente recumbentes da fase D2.

A fase D2é responsável por imprimir um segundo fabric penetrativo na área em questão. Nos ortognaisses caracteriza-se por um bandamento metamórfico de alto grau, definido pela reorientação de hornblenda (+biotita) e minerais félsicos recristalizados (K- feldspato+plagioclásio+quartzo) (foto 4.1). Nos augen gnaisses essa foliação é desenvolvida com paragêneses similares, exibindo um caráter anastomosado, defletida em torno de porfiroclastos de K-feldspatos. Associada à superfície S2 desenvolve-se uma forte lineação de estiramento (Lx2) evidenciada principalmente pela orientação de barras de quartzo ou quartzo+feldspato e dos augen feldspáticos.

As dobras D2 são identificadas em meso-escala, desenhadas na superfície S0 dos micaxistos, em veios pegmatóides dispostos no bandamento S1, e na própria superfície S1 (foto 4.2), usualmente definindo um perfil isoclinal a apertado.

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Foto 4.1 - Aspecto de campo do bandamento S1+S2