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Considerações sobre o currículo para formação de professores

3.1 Formação de professores: desafios e possibilidades

3.1.2 Considerações sobre o currículo para formação de professores

Currículo é o conjunto de estratégias para se atingir as metas maiores da educação. (D’AMBRÓSIO, 1999, p. 16)

O currículo é um instrumento que traz os possíveis caminhos para a prática docente, abrange o conjunto de estratégias e de processos vivenciados na prática pedagógica que visam promover experiências educativas, caracterizando-se como o articulador das relações entre professor e estudante, teoria e prática.

Infelizmente, “temos nos deparado com formas lineares de organização curricular nos cursos de formação de professores em nosso país” (VEIGA et al., 2001, p. 11). Currículos que são elaborados como uma lista de disciplinas organizadas hierarquicamente, e não como um processo de construção social. A ênfase na departamentalização influencia diretamente na

elaboração do currículo, “fragmentando-o e criando ou reforçando hierarquias no saber, dificultando, no processo de formação docente, a compreensão das interfaces entre o senso comum e o saber científico.” (VEIGA et al., 2001, p. 18)

Um currículo linear, hierarquizado, compartimentado, pouco contribui para a transformação das salas de aula e da formação docente, pois a vida não é orientada por um manual, ela é dinâmica e imprevisível.

Em uma sociedade complexa como a atual, dificilmente se pode reportar a um currículo para a formação de professores como constructo social perene, como algo passível de universalização. Um currículo dessa natureza estará sempre sujeito às relações espaçotemporais da sociedade, das instituições e dos indivíduos que o configuram. (BORGES, 2012, p. 49)

O currículo reflete uma concepção de educação, dessa forma, antes de tudo é necessária uma mudança de concepção de seus elaboradores, para que o currículo não se torne um mantenedor de antigas práticas. Ao abrir-se ao diálogo, o currículo estará aberto às

possibilidades de construção de práticas criadoras e significativas, à recriação de “conteúdos curriculares, métodos de ensino, materiais didáticos e avaliação de forma que sejam ajustados às características dos alunos.” (VEIGA e VIANA, 2012, p. 30)

Necessitamos de um currículo que vislumbre a mudança ao preparar o professor

para refletir criticamente sobre a educação e sobre a sua própria prática docente, para que possa intervir nos contextos dos quais participa. Nesse sentido, como espaços de reflexão, o currículo carece ser “visto menos como um plano a cumprir e mais como um processo que se constrói na interação entre o atuar e o refletir” (FRANCO, 2002, p. 100).

“Um currículo pensado e estruturado com base em referenciais aglutinadores que dão sentido à organização gradativa dos seus respectivos conteúdos preserva a indispensável articulação entre teoria e prática, elementos imprescindíveis ao currículo para a formação de professores.” (BORGES, 2012, p. 48)

A proposta de um currículo para a formação de professores necessita “buscar pontos articuladores comuns, bases de um processo contínuo de reflexão/avaliação, contrapondo-se à ideia de um modelo, e mais ainda de modelo único, que jamais poderá contemplar a complexidade” (FRANCO, 2002, p. 100) apresentada pelo campo da educação. Pensar um currículo implica

considerar o currículo numa perspectiva dialética, qual seja, um configurador de práticas sociais e culturais, ao mesmo tempo que funcione como um articulador e inovador dessas práticas, ou seja, um currículo que deve ser encarado como um projeto cultural, bem como converter-se em cultura real (FRANCO, 2002, p. 99).

Torna-se imprescindível a inclusão de temas culturais e sociais, emergencialmente aqueles relacionados à profusão de tecnologias em nosso cotidiano, no sistema curricular voltado para a formação dos professores, uma demanda que nem sempre é contemplada nos cursos de formação docente. “Esse corpo de conhecimentos não pode ficar circunscrito à esfera do currículo oculto ou em atividades optativas que raramente alcançam um espaço de materialidade na operacionalização curricular das licenciaturas.” (BORGES, 2012, p. 57)

Essa dimensão cultural na formação docente, por ser fluida e estar relacionada a todos os campos curriculares, não se caracteriza como uma disciplina específica, no entanto, está permeada entre todos os conhecimentos e práticas presentes no projeto curricular. A construção de propostas curriculares diferenciadas, portanto, perpassa a elaboração de um

currículo integrado, que pode ser compreendido como

resultado de um trabalho cooperativo e colaborativo entre os professores, um trabalho orientado pelo enfraquecimento das fronteiras que determinam as diferentes disciplinas e suas relações recíprocas. A integração, entendida como uma postura epistemológica e metodológica que vai além da mera

justaposição de conteúdos, torna-se elemento indispensável à organização de currículos que tenham esse propósito formativo. (BORGES, 2012, p. 48, grifo do autor)

O currículo para a formação de professores, desse modo, requer estar pautado na relação de reciprocidade e não em uma coleção de conteúdos a serem ensinados e aprendidos, que visam o controle e a alienação. Os currículos integrados favorecem uma relação aberta entre os conhecimentos e, assim, a adoção de práticas docentes coletivas e a realização de um trabalho interdisciplinar, possibilitando o fim da hierarquização e da linearidade no sistema curricular. Para a elaboração de um currículo nesses termos, é imprescindível uma postura crítica de seus atores e autores perante a educação e a sociedade.

O currículo integrado para a formação de professores que almejamos para um contexto educativo novo, demandado por uma nova escola, em uma perspectiva solidária, é, sobretudo, orientado por novos conhecimentos que só terão sentido e legitimidade social à medida que respondem às questões sociais prementes. (BORGES, 2012, p. 40)

Ao ser construído a partir de um debate amplo, com todas as instâncias da educação, de forma dinâmica e por diferentes sujeitos que o vivenciam, o currículo integrado considera as diferentes vozes sociais, principalmente aquelas marginalizadas da cultura escolar. Um currículo aberto incita a participação de todos em seu processo de construção, possibilitando a proposição de diferentes percursos pedagógicos a serem tomados de acordo com as demandas de cada contexto.

Para que um currículo seja elaborado por meio de um trabalho coletivo, requer-se “que todos os atores implicados tenham participado plenamente em todas as etapas do processo curricular, tanto no nível prescrito quanto na execução e avaliação das propostas educativas a que estão sujeitos.” (BORGES, 2012, p. 43)

O currículo visto como espaço dialógico, no qual se interconectam diferentes interesses, objetivos, ideias, conhecimentos, metodologias, que propõe caminhos alternativos para a formação de professores, favorece o enriquecimento da prática docente ao compartilhar os objetivos gerais e as práticas pedagógicas coletivas que o orientam.