• Nenhum resultado encontrado

De acordo com a CADH, os Estados-partes possuem os compromissos de reconhecer os direitos nela protegidos, adotar disposições de direito interno imprescindíveis para execução dos direitos nela garantidos e de proibir discriminação no exercício dos mesmos, como bem anunciam os artigos 1º e 2:

Artigo 1º-Obrigação de respeitar os direitos

1. Os Estados-partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita a sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião,

83Visando el enriquecimiento del catalogo de derechos protegidos por el Convenio, la técnica de la

“protection par ricochet” permite ampliar el campo de aplicación del Convenio a situaciones no expresamente previstas y de contornar la incompatibilidad ratione materiae de una demanda con el instrumento convencional. La “protection par ricochet” viene colmar las lagunas del texto haciendo

emerger derechos que se puede cualificar de “derivados”, no garantizados por el Convenio

99 opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social.

2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano. Artigo 2 - Dever de adotar disposições de direito interno

Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no artigo 1º ainda não estiver garantido por disposições legislativas ou de outra natureza, os Estados-partes comprometem-se a adotar, de acordo com as suas normas constitucionais e com as disposições desta Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para tornar efetivos tais direitas e liberdades.

Desde os primórdios dos trabalhos da Corte IDH, existe o entendimento de que o artigo 1.1 da CADH preceitua um duplo dever de tutela para os Estados no que diz respeito aos Direitos Humanos assegurados na CADH: por um lado o de respeitar os direitos e liberdade e por outro lado o de garantir seu livre e pleno exercício. O segundo dever, comumente chamado de obrigação de garantir, exige dentre outras coisas, que o Estado faça justiça internamente. Logo, existe a obrigação de reconhecer os direitos e liberdades albergados na CADH, seja provindo da incorporação ou da aplicação direta desses direitos no ordenamento jurídico interno (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2007a, voto do juiz Sergio García Ramirez).

Nesse diapasão, os deveres dos Estados previstos na CADH são normas de caráter geral, que permeiam todos os direitos civis e políticos da Convenção. Estes últimos possuem sua própria natureza ontológica, protegem bens jurídicos suscetíveis de serem violados pelo Estado por fatos específicos que também levam a violação do artigo 1.1 e se for o caso à violação do artigo 2 (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2007a, voto do juiz Manuel Ventura Robles).

No entanto, vale mencionar, que alguns estudiosos e doutrinadores, como, por exemplo García Ramirez e Christian Courtis defendem que as obrigações gerais previstas nos artigos 1° e 2 da CADH englobam todos os Direitos Humanos, incluindo os DESC, sem exceção ou distinção (apud Vera, 2011, p. 19).

Para mais, a Corte IDH declara em regra a violação do artigo 1.1 da CADH conjuntamente com outras violações e interpreta a violação dessas obrigações de respeito e garantia aliada aos direitos aludidos na Parte I da CADH. Por exemplo, o Tribunal em questão ao declarar violação dos artigos 8 e 25 relaciona-os com o artigo 1.1, sem a necessidade de declarar violação de direito material (CORTE

100 INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2007a, voto do juiz Sergio García Ramirez).

No entanto, em alguns momentos, como no Caso Escué Zapata vs. Colômbia84, a Corte IDH decidiu que a Colômbia violou o artigo 8 das garantias judiciais e o artigo 25 da proteção judicial da CADH, sem relacionar com o artigo 1.1 Alguns juízes desse Tribunal criticam esse ponto de vista, pois os direitos civis e políticos ditados no CADH não são normas de aplicação e sempre devem ser declarados violados em conjunto com o artigo 1.1(CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2007a, voto do juiz Manuel Ventura Robles).

Quanto ao compromisso da não discriminação, o artigo 1.1 da CADH tem o escopo de fazer respeitar e garantir o pleno e livre exercício dos direitos e liberdades ali reconhecidos, sem discriminação alguma. Ou seja, qualquer que seja a origem ou a forma que assuma, todo tratamento considerado discriminatório a respeito do exercício de qualquer dos direitos garantidos pela CADH é por si só incompatível com a mesma (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2010a, parágrafo 268).

Dessa maneira, o descumprimento pelo Estado dos deveres de respeitar e garantir os Direitos Humanos gera responsabilidades internacionais conforme a Opinião Consultiva OC-18/0385 emitida pela Corte IDH sobre Condição Jurídica e

Direitos dos Migrantes Indocumentados, por isso existe um vínculo indissociável entre a obrigação de respeitar e garantir os Direitos Humanos e o princípio da igualdade e não discriminação. Em outras palavras, o marco das obrigações assumidas pelos Estados-partes em face do artigo 1º da CADH insere um elemento inerente à dignidade humana e à universalidade dos Direitos Humanos: o princípio segundo o qual ninguém pode ser discriminado no gozo e exercício de seus Direitos Humanos (FAÚNDEZ, 2004, p. 85).

Vale lembrar, que as medidas cautelares e as sentenças, sob a análise do presente trabalho, possuem como vítimas em regra membros de grupos que sofrem desproporcionalmente riscos, danos ambientais e consequentemente violações de Direitos Humanos, daí a importância do artigo 1º da CADH. Para mais, a discriminação é um dos elementos da injustiça ambiental.

84Caso Escué Zapata vs. Colômbia. Sentença de Mérito, Reparações e Custas prolatada em São

José no dia 04 de julho de 2007.

85Opinião Consultiva OC-18/03 exarada no dia 17 de setembro de 2003, solicitada pelos Estados

101 No que concerne ao artigo 2 da CADH, a juíza da Corte IDH Cecilia Medina entende que as obrigações do Estado que aderem à CADH são as de respeitar e garantir os Direitos Humanos consagrados nela. A obrigação de garantir não se esgota na existência de um ordenamento jurídico para esta obrigação, mas comporta a necessidade de uma conduta governamental que assegure a existência de uma eficaz garantia do livre e pleno exercício dos Direitos Humanos (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2005a, voto concorrente).

Ademais, a Corte IDH entende que os Estados-partes da CADH não podem admitir medidas legislativas ou de qualquer outra natureza que infrinjam os direitos e liberdades por ela reconhecidos, pois desrespeitam os direitos nela reconhecidos bem como o artigo 2, de caráter de norma geral (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 1999, parágrafo 182).

Consequentemente, os Estados possuem a obrigação geral de adequar seu direito interno às normas da CADH para garantir os direitos nela consagrados. Por conseguinte, as disposições de direito que almejem esse fim devem ser efetivas, princípio do effet utile, que denota que o Estado deve adotar todas as medidas

necessárias para que o estabelecido na CADH seja realmente cumprido (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2006, parágrafo 110).

Dessa maneira, o artigo 2 da CADH requer que os Estados não apenas tenham a obrigação positiva de adotar as medidas legislativas necessárias para garantir o exercício dos direitos nela consagrados, mas também devem evitar promulgar leis que impeçam o livre exercício desses direitos, assim como evitar eliminar ou modificar leis que protejam tais empecilhos (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2012, parágrafo 221).

Vale lembrar os ensinamentos da Corte IDH sobre o artigo 2 da CADH ao dizer, que no Direito Internacional, uma norma consuetudinária determina que um Estado ao celebrar um instrumento internacional, deve introduzir em seu direito interno as modificações necessárias para assegurar a execução das obrigações assumidas e que esta norma tenha sido qualificada pela jurisprudência como um princípio evidente (FAÚNDEZ, 2004, p. 76).

Nesse sentido, cabe aqui citar o dever dos Estados de cumprirem de boa-fé os Instrumentos Internacionais de Direitos Humanos por eles ratificados, caso contrário cometem o que André Ramos de Carvalho denomina de truque do ilusionista, o qual os Estados “assumem obrigações internacionais, as descumprem

102 com desfaçatez, mas alegam que as estão cumprindo, de acordo com sua própria

interpretação” (2012, p. 347) [grifo do autor].