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Os Instrumentos Internacionais e seus Termos Perante a Organização das Nações

1.3 DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E A INTEGRAÇÃO

1.3.1 Os Instrumentos Internacionais e seus Termos Perante a Organização das Nações

Há anos a proteção ambiental relacionada ou não aos Direitos Humanos é vislumbrada em nível internacional por meio de tratados internacionais celebrados por organizações internacionais, prioritariamente pela ONU. Neste sentido, a prática dos Estados desenvolve uma gama de termos para se referir aos instrumentos internacionais, inclusive na seara ambiental, ainda que as Convenções de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 e a de 198631 não façam distinção entre os

tratados. De fato, o significado desses termos comumente utilizados é variável, podendo inclusive modificar de Estado para Estado.

Apesar dessa variedade de termos utilizados, todos esses instrumentos possuem características comuns e são aplicadas as mesmas regras do Direito Internacional igualmente para todos, regras essas, que são resultado da prática dos Estados, considerada como costume internacional. Ressalta-se, que os tratados de

31A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais

43 Direitos Humanos são normas de ius cogens e possuem efeito erga omnes de interesse de toda a comunidade internacional. Nesse entendimento, frize-se que todos os tratados em prol da proteção ambiental, que afirmem o direito ao meio ambiente sadio, de maneira explícita ou não, possuem o mesmo status legal dos tratados de Direitos Humanos.

Por seu turno, apesar de não concordarmos, faz-se necessário lembrar o entendimento, do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos ao falar dos instrumentos internacionais:

[...] O status legal desses instrumentos vária: declarações, princípios, diretrizes, regras padrão e recomendações não têm efeito jurídico vinculante, mas tais instrumentos têm uma inegável força moral e fornecem orientação prática aos Estados em suas condutas; convênios, estatutos, protocolos e convenções são juridicamente vinculantes para aqueles

Estados que ratificaram ou aderiram a eles (ONU, 2012c, tradução nossa32).

Já o artigo 102 da Carta da ONU cita apenas dois desses termos ao aduzir que “Todo tratado e todo acordo internacional, concluídos por qualquer Membro das Nações Unidas depois da entrada em vigor da presente Carta, deverão, dentro do mais breve prazo possível, ser registrados e publicados pelo Secretariado”. Curiosamente, a ONU ao referir-se aos termos utilizados na sua Coleção de Tratados explica que esses dois termos do artigo 102 cobrem a mais ampla gama de instrumentos e continua explanando sobre o fato da Assembleia Geral da ONU não ter definido especificamente esses termos, bem como não ter esclarecido sua mútua relação (2012b).

Dando continuidade ao entendimento indefinido da ONU, o artigo 1º do regulamento da Assembleia Geral da ONU a fim de cumprir o artigo 102 da Carta da ONU prediz, que a obrigação de registro aplica-se a qualquer tratado ou acordo internacional “qualquer que seja a sua forma e nome”.

Na prática, o termo utilizado nesses documentos internacionais não é casual. O nome de tais documentos sugere, por exemplo, objetivo e limitações acordado entre as partes. Assim, faz-se importante trazer o que a ONU, como principal organismo internacional, gestor desses documentos, entende em relação a alguns

32The legal status of these instruments varies: declarations, principles, guidelines, standard rules and

recommendations have no binding legal effect, but such instruments have an undeniable moral force and provide practical guidance to States in their conduct; covenants, statutes, protocols and conventions are legally-binding for those States that ratify or accede to them (original).

44 termos para compreendermos se no dia-a-dia da comunidade internacional há obrigatoriedade ou não provinda desses instrumentos internacionais sobre proteção ambiental.

Primeiramente, para ONU o termo tratado é utilizado em sentido genérico ou em sentido específico. Tratado como um termo genérico é regularmente utilizado como um termo que abarca todos os instrumentos vinculantes no Direito Internacional, celebrado entre sujeitos internacionais, independentemente da sua designação formal. Tanto a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969 quanto a de 1986 confirmam essa utilização genérica do termo tratado. Ademais, tratado deve observar alguns critérios, primeiro precisa ser um instrumento vinculativo, o que significa criar direitos e deveres legais para as partes contratantes. Em segundo lugar, o instrumento deve ser celebrado por Estados ou organizações internacionais, com poderes para tal. Em terceiro lugar, é regulado pelo Direito Internacional e concluído por escrito (2012b).

Nesse momento, vale lembrar as palavras de Flávia Piovesan ao falar dos tratados como expressão de consenso:

Apenas pela via do consenso podem os tratados criar obrigações legais, uma vez que Estados Soberanos, ao aceitá-los, comprometem-se a respeitá-los. A exigência de consenso é prevista pelo art.52 da Convenção de Viena, quando dispõe que o tratado será nulo se sua conclusão for obtida mediante ameaça ou uso da força, em violação aos princípios de Direitos Internacional consagrados pela Carta da ONU (PIOVESAN, 2013a, p. 102).

Além disso, tratado como um termo específico, fora das definições das Convenções de Viena, não possui regras sólidas no seu emprego. Nesse entendimento, provindo da ONU, tratado reserva-se para questões com alguma gravidade, exigindo acordos mais solenes. Suas assinaturas são usualmente seladas e necessitam de ratificação. Ademais, o uso do termo tratado para instrumentos internacionais vem diminuindo nas ultimas décadas (2012b).

Quanto ao termo acordo, este pode ter um sentido genérico ou específico. Acordo como um termo genérico é previsto na Convenção de Viena de 1969 sobre o Direito dos Tratados que fala de acordo internacional em seu sentido mais amplo. Por um lado, a Convenção de Viena de 1969 define tratado como acordo internacional debaixo de determinadas características. Por outro lado, emprega o termo acordo internacional para instrumentos, que não se enquadram na definição

45 de tratado. Já o artigo 3, III, refere-se a "acordos internacionais não celebrados em forma escrita". Nesse ponto, cabe salientar, que embora os acordos verbais possam ser raros, eles podem ter a mesma obrigatoriedade que os tratados, dependendo do intento das partes. O acordo internacional em seu sentido genérico, consequentemente, abraça uma maior variedade de instrumentos internacionais (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2012b).

O acordo num sentido específico, consoante a ONU, é considerado menos formal e abrange temas mais específicos que os tratados. Existe uma tendência em se aplicar o termo acordo para tratados bilaterais e multilaterais. Comumente empregado para instrumentos de caráter técnico ou administrativo, assinados por representantes do governo e não sujeitos a ratificação. Atualmente, a maioria dos instrumentos internacionais é nomeada com o termo acordo (2012b).

O termo carta em regra é utilizado para instrumentos formais e solenes, como por exemplo, um tratado constitutivo de uma organização internacional. Esse termo remonta à Carta Magna de 1215.

Outro termo bastante comum é convenção, por sua vez pode ter tanto um sentido genérico como específico. Convenção como um termo genérico possui previsão no artigo 38.2 do Estatuto da CIJ ao ditar as "convenções internacionais, gerais ou especiais" como fonte de Direito Internacional. O termo genérico convenção é sinônimo do termo genérico tratado.

O termo convenção usado como termo específico necessita da participação da comunidade internacional como um todo ou de um grande número de Estados. Em regra, os instrumentos negociados debaixo dos auspícios das organizações internacionais são intitulados como convenções (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2012b).

A declaração é empregada em diversos instrumentos internacionais e geralmente indica que as partes não possuem o escopo de instituir obrigações vinculantes, mas apenas declarar certas aspirações, de acordo com os enunciados da ONU. De outro lado, são tratados em sentido genérico com obrigatoriedade internacional. Algumas declarações não são originalmente obrigatórias, todavia as suas disposições podem refletir no direito consuetudinário internacional e transformarem-se em vinculantes. As declarações com caráter vinculante são: a) declaração como um tratado, no sentido próprio; (b) declaração interpretativa que, é um instrumento anexo a um tratado com o objetivo de interpretar ou explicar as

46 disposições deste último; (c) declaração como um acordo informal que diz respeito a uma questão de menor importância e (d) série de declarações unilaterais que constituem acordos vinculativos (2012b).

O termo protocolo é empregado para acordos menos formais e pode ser utilizado para garantir alguns tipos de instrumentos já instituídos. Protocolo de assinatura é subsidiário a um instrumento internacional ou a um tratado elaborado pelas mesmas partes e versa sobre questões acessórias, como a interpretação de cláusulas específicas do tratado, cláusulas essas, não inseridas no tratado ou mesmo pode regular questões técnicas. A ratificação do tratado vai normalmente

ipso facto envolver a ratificação desse protocolo de assinatura (ORGANIZAÇÃO

DAS NAÇÕES UNIDAS, 2012b).

No que tange ao protocolo opcional a um tratado, este é um instrumento que estabelece direitos e obrigações adicionais e é geralmente adotado no mesmo dia, contudo possui caráter independente sendo sujeito a ratificação em apartado. Já o protocolo baseado em um tratado quadro é um instrumento com obrigações específicas que institui objetivos gerais de um quadro ou convenção anterior. Esses protocolos são implementados de maneira mais simplificada e célere. São bastante corriqueiros no campo do Direito Internacional Ambiental (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2012b).

Quanto ao protocolo de alteração, trata-se de um instrumento com disposições que modificam um ou vários tratados já postos. Finalmente, o protocolo como um tratado suplementar é um instrumento que contém disposições complementares a um tratado.

1.3.2 A Proteção Ambiental por meio de Instrumentos Internacionais

A proteção Ambiental por meio de instrumentos internacionais vem desenvolvendo-se cada vez mais, transformando a tarefa de sistematização dos mesmos num trabalho árduo em virtude do seu grande número em diversos temas ambientais desde os mais específicos, que são a maioria, até os mais gerais, como por exemplo, os temas envolvendo a relação entre proteção ambiental e Direitos Humanos.

Logo, não possuímos a pretensão de exaurir o elenco existente de instrumentos internacionais na seara da proteção ambiental, apenas citar alguns dos mais expressivos a fim de asseverar que o direito ao meio ambiente sadio é