• Nenhum resultado encontrado

4 CONTROLE DE QUALIDADE E PRODUÇÃO DO CONCRETO

4.4 Métodos de análise de resultados

4.4.3 Considerações sobre os métodos

As cartas de controle podem ser consideradas como ferramentas adequadas para verificação da estabilidade do processo e identificação de variações ao longo deste. A variação isolada do valor médio ou do desvio-padrão da produção é de simples identificação e, quando analisa- das em paralelo aos resultados de campo, permitem determinar a possí- vel causa da variação. Todavia, a ocorrência de variação combinada do valor médio e desvio-padrão tornam a interpretação mais complexa e impossibilitam a identificação de uma ação definida a ser tomada.

A análise de valores médios é de grande valia para acelerar a i- dentificação de variações ao longo do processo. Contudo, Day (1999) e

Lobo (2006) alertam que o agrupamento de dados pode mascarar varia- ções individuais e prejudicar a interpretação dos dados. Desse modo, recomenda-se a análise conjunta da carta de valores individuais e valo- res médios de modo a identificar se os resultados foram ou não masca- rados quando agrupados.

Quanto ao método de soma acumulada, este apresenta elevadas vantagens frente às cartas de controle, pois permite identificação mais rápida e precisa das variações no processo. Soma-se à este, a maior sen- sibilidade para observação de pequenas variações.

No que tange aos resultados considerados na plotagem do gráfico de soma acumulada, destaca-se que as variações individuais de grande amplitude devem ser consideradas como valores espúrios e eliminadas da análise, uma vez que a inclusão destes pode perturbar o regime esta- tístico dos resultados. Recomenda-se ainda cuidados quanto a escala empregada, pois o uso de escalas desproporcionais podem prejudicar a interpretação de resultados. Chung (1993) recomenda que os pontos de- vem ser afastados um dos outros uma distância correspondente à 5,0 MPa da escala vertical.

Apesar de apresentadas apenas as análises de resistência à com- pressão e desvio-padrão de produção é importante observar que, inde- pendente do método empregado, o acompanhamento de outras variáveis durante o processo de produção, por exemplo, temperatura, tempo de transporte, teor de ar incorporado e abatimento, são de grande auxílio para realização de análise cruzada de variáveis facilitando assim a iden- tificação das causas de variações [DAY, 1999].

Na Tabela 11 são apresentados resultados de resistência à com- pressão de corpos-de-prova de uma determinada central de concreto que permite comparar os dois métodos apresentados. Tais resultados foram extraídos do ACI214R-02, porém optou-se pela análise destes segundo os critérios da NBR7212:1984 e NBR6118:2003. Os gráficos de contro- le são também apresentados na Tabela 11. Destaca-se que, para a reali- zação dos cálculos, considerou que a média 35,8 MPa e o desvio-padrão 3,52 MPa.

Como pode ser observado, apesar da existência de uma tendência de redução no valor de resistência, indicada visualmente na carta de so- ma acumulada, essa não é observada na carta de valores individuais. Quanto à carta da média móvel, essa é responsável pela redução do ruí- do dos resultados individuais e permitiria concluir que existe uma de- terminada tendência de redução. Contudo, tal redução é seguida por um trecho de aumento de resistência o que vem a dificultar a interpretação e eventual tomada de decisões quanto a intervenções no processo.

Considerando o gráfico de soma acumulada e que a mudança de valor médio ocorreu no teste número 10, pode-se estimar uma variação total de 2,1 MPa na resistência do concreto32

Tabela 11 – Resultados de resistência à compressão do concreto de uma deter- minada central [ACI214R-02].

. Assim sendo, o presente exemplo indica o potencial da carta de soma acumulada frente as cartas de controle na identificação de pequenas variações em menor intervalo de tempo.

Resultados

Gráficos de Controle segundo diferentes métodos Resultado do ensaio (MPa) Resíduo (MPa) Soma Acumulada (MPa) Média Móvel (MPa) 37,0 1,2 1,2 --- Ca rt a d e V a lo res I n- di v idua is 34,7 -1,1 0,1 --- 32,8 -3,0 -2,9 34,8 37,8 2,0 -0,9 35,1 35,2 -0,6 -1,5 35,3 36,5 0,7 -0,8 36,5 39,6 3,8 3,0 37,1 Ca rt a d e M éd ia M ó ve l 37,6 1,8 4,8 37,9 33,6 -2,2 2,6 36,9 33,6 -2,2 0,4 34,9 35,1 -0,7 -0,3 34,1 31,8 -4,0 -4,3 33,5 36,4 0,6 -3,7 34,4 Ca rt a d e S o m a Acu m u- la da 32,5 -3,3 -7,0 33,6 31,0 -4,8 -11,8 33,3 31,7 -4,1 -15,9 31,7 37,0 1,2 -14,7 33,2 34,5 -1,3 -16,0 34,4 32,9 -2,9 -18,9 34,8

32 Valor da soma acumulada para o teste n°19 divido por 9 (n°19 - n°10), ou seja, -18,9 / 9 =

Segundo Chung (1993), a menor sensibilidade das cartas de con- trole na identificação de variações no processo deve-se ao fato destas utilizarem limites de controle ao invés da visualização das tendências dos dados conforme ocorre no método de soma acumulada. Todavia, esta afirmativa só pode ser considerada verdadeira caso o controle do processo de produção pelo método de soma acumulada seja dada visu- almente e não por uso de máscaras.

Por fim, destaca-se que, desde que o controle de produção do concreto seja garantido, o uso das cartas de controle e soma acumulada mostra-se adequados para análise da variabilidade do processo. Contu- do, observa-se que, em determinados casos, as cartas de controle são de difícil interpretação33

É importante citar que métodos computacionais vêm sendo em- pregados não apenas na avaliação dos resultados do concreto, mas tam- bém em todas as etapas envolvidas no processo de produção. Dentre uma série de métodos, destaca-se o sistema Conad desenvolvido por Ken Day. Atualmente, este sistema tem por base a análise de resultados segundo o método de soma acumulada com multivariáveis. Detalhes podem ser verificados em DAY, (1999).

, especialmente quando avaliadas por operadores com pouca experiência técnica sobre o concreto e processo de produção deste, e apresentam pouca sensibilidade às variações.

Conforme citado no início deste capítulo, os métodos de controle apresentados têm por objetivo a avaliação da variabilidade do processo com consequente identificação de variações que, uma vez identificadas, necessitam ser corrigidas. Atualmente, sabe-se que cada central apresen- ta formas distintas de investigação das causas de variabilidade e corre- ção de dosagem. Assim sendo, observa-se a necessidade de uma meto- dologia, baseada em critérios técnicos, que permita não apenas indicar quais são os pontos de maior variabilidade, mas também diagnosticar a atual situação da central de concreto no que diz respeito ao controle de qualidade de sua produção, bem como os procedimentos de modifica- ções de traços em função dos diagnósticos obtidos.

O desenvolvimento de uma proposta direcionada a solução para os problemas citados anteriormente pode ser desenvolvida com base no princípio dos chamados sistemas especialistas, cuja definição é apresen- tada no item que segue.

33 Recomendações sobre a interpretação dos gráficos de controle podem ser verificadas em