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3 PROPRIEDADES DO CONCRETO

3.2 Propriedades do concreto no estado fresco

3.2.6 Temperatura do concreto

, o concreto não possa ser utilizado. Neste caso, devem ser considerados fatores co- mo a temperatura ambiente, a composição da mistura, o uso de aditivo, entre outros fatores associados à variação do tempo iníco e fim de pega.

A variação de temperatura do concreto afeta significativamente suas propriedades reológicas e, em determinados casos, suas proprieda- des no estado endurecido. O controle desta, destaca Aïtcin (2000), é de extrema importância.

A redução de temperatura é responsável pela redução da cinética das reações de hidratação. Esta tem como efeito a redução da taxa de

17 A NBR 7212:1984 recomenda que o limite de tempo de transporte do concreto da central à

obra é de uma hora e trinta minutos, sendo o intervalo máximo de tempo da central até a des- carga total do concreto não superior à duas horas e trinta minutos;

hidratação do cimento o que pode resultar em retardo no tempo início de pega e redução da resistência inicial do concreto. Tal redução é conside- rada prejudicial, pois a grande maioria das operações de construção, por exemplo, retirada de fôrmas e protensão, entre outras, são diretamente associadas à resistência inicial do concreto [AÏTCIN, 2000; MEHTA & MONTEIRO, 2008].

Por outro lado, o aumento de temperatura é responsável pela ace- leração das reações de hidratação. Kosmatka (2003) e Mehta & Montei- ro (2008) indicam que os principais efeitos do aumento de temperatura estão associados o aumento da demanda de água para uma mesma traba- lhabilidade, dificuldade de retenção de ar incorporado para concretos com aditivos e aumento da tendência de retração plástica do concreto. Além destes, Soroka, (2004) destaca a aceleração do tempo de início de pega do concreto, aumento da taxa de perda de abatimento e aumento do pico de temperatura do concreto.

O processo de hidratação do cimento é uma reação do tipo exo- térmica. Sendo o concreto no estado fresco considerado um mau condu- tor de calor, observa-se o aumento da temperatura interna deste, pois a taxa de liberação de calor é sempre inferior a taxa de evolução. Assim sendo, quanto maior a temperatura inicial do concreto maior será o pico de temperatura observado durante o enrijecimento do concreto [SORO- KA, 2004].

Na Figura 28a é apresentada a evolução de resistência de um mesmo concreto segundo diferentes temperaturas e, na Figura 28b, o efeito da temperatura de lançamento do concreto na evolução de tempe- ratura ao longo de seu enrijecimento e endurecimento. Maiores detalhes sobre o efeito da temperatura na resistência do concreto serão discutidos no item 3.3.1.

O ACI 306R (2002) define clima frio quando a temperatura am- biente média é inferior à 5 °C em um intervalo de mais de três dias se- guidos, ou ainda, quando a temperatura ambiente permanece abaixo de 10 °C por mais da metade de um intervalo de 24 horas. Já para clima quente, o ACI 305R (2007) indica que este corresponde a quaisquer combinações de condições climáticas associadas a elevada temperatura ambiente, elevada temperatura do concreto, baixa umidade relativa e alta taxa de radiação solar que tendam a prejudicar a qualidade do con- creto no estado fresco e endurecido.

(a) (b)

Figura 28 – Efeito da temperatura nas reações de hidratação do concreto: (a) evolução de resistência [KOSMATKA, 2003]; (b) evolução de temperatura

durante o enrijecimento e endurecimento [SOROKA, 2004].

Em ambos os casos, destaca-se a necessidade de cuidados especi- ais durante a etapa de produção do CDC. Todavia, em se tratando das condições climáticas experimentadas ao longo do ano no Brasil, o pre- sente trabalho se aterá a apresentar apenas as recomendações propostas para os serviços de concretagem realizados em clima quente.

Destaca-se que as normas brasileiras não apresentam recomenda- ções quanto à concretagem em clima quente. A única informação apre- sentada é que a temperatura do concreto entregue na obra deve estar entre 10 °C e 32°C e que serviços de concretagem fora destes limites requerem cuidados especiais [NBR7212:1984]. Tais cuidados incluem o resfriamento do concreto e seus materiais, redução do tempo das etapas de lançamento, transporte e adensamento; utilização de métodos, tais como uso de lonas e spray de água, para reduzir a taxa de evaporação de água do concreto, entre outros [KOSMATKA, 2003; MEHTA & MON- TEIRO, 2008; SOROKA, 2004; AÏTCIN, 2000; ACI 305.1-06]:

Em se tratando do CDC, Negheimish (2008) apresenta um estudo de impacto do clima quente nas propriedades do concreto dosado em central durante o processo de transporte. O autor indica que, indepen- dente da temperatura do concreto na central e no canteiro de obras, sem- pre se observa aumento de temperatura do concreto durante o transporte devido à efeitos de hidratação e/ou radiação solar (Figura 29a), sendo que esta tendência aumenta quanto maior for a diferença de temperatura ambiente e do concreto (Figura 29b). Cabe destacar que os resultados relatados por Negheimish (2008) foram obtidos de concretos produzidos durante o verão (28 °C a 38 °C) e a primavera (24 °C a 27°C).

(a) (b)

Figura 29 - Impacto do clima quente nas propriedades do concreto dosado em central durante o processo de transporte: (a) Temperatura do concreto na central e em obra; (b) variação da temperatura do concreto durante a etapa de transporte

[NEGHEIMISH, 2008].

Por fim, uma vez que a temperatura e umidade que o concreto es- tará submetido em campo são diferentes daquelas experimentadas no laboratório (local onde os ensaios de dosagem do CDC são comumente realizados), nota-se que o controle da temperatura do CDC em obra é importante, pois, como observado ao longo deste item, as propriedades do concreto são afetadas por este fator.

Desse modo, acredita-se que a coleta de informações a respeito da temperatura do concreto, em combinação com os resultados de traba- lhabilidade, teor de ar incorporado, entre outros, possa ser utilizada co- mo ferramenta complementar para análise das causas de variabilidade nas propriedades do CDC.