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Esta cap´ıtulo teve por objetivo estender o modelo de equil´ıbrio geral com mercados incompletos, produ¸c˜ao e default para permitir que agentes sejam empres´arios, partindo de modelagens te´oricas anteriores de Magill e Quinzii (1996) e de Dubey, Geanakoplos e Shubik (2005). Pretendeu-se tamb´em avaliar o relacionamento entre taxas de juros e de default em um contexto empresarial, seguindo sugest˜oes anteriores de Rocha (1999) e Divino, Lima e Orrillo (2009) e utilizando a t´ecnica econom´etrica de an´alise de sobrevivˆencia, incluindo controles relacionados com desemprego e experiˆencia empresarial, no per´ıodo de dezembro de 2004 a dezembro de 2008. Pretendeu-se ainda avaliar a sensibilidade de evidˆencias emp´ıricas em rela¸c˜ao ao crit´erio para classifica¸c˜ao de porte de empresas estabelecido pela Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas. O principal resultado deste cap´ıtulo demonstra, sob determinadas condi¸c˜oes e hip´oteses, a existˆencia de equil´ıbrio empresarial, forma reduzida com default. Este resultado se mostrou condi¸c˜ao necess´aria para deriva¸c˜oes te´oricas da condi¸c˜ao de escolha de default pelo empres´ario e do modelo emp´ırico que fundamentaram o teste econom´etrico proposto neste cap´ıtulo.

Observa-se que as evidˆencias emp´ıricas indicam um relacionamento direto e inverso entre taxas de juros de ativos com e sem risco, respectivamente, e taxas de default, o que permite corroborar relacionamentos derivados em uma vers˜ao especial do modelo te´orico e resultados anteriores da literatura. Tais evidˆencias tamb´em sugerem que taxas de desemprego impactam positivamente taxas de default e revelam que efeitos de experiˆencia empresarial podem impactar aquelas taxas de forma amb´ıgua e n˜ao-linear, no referido per´ıodo.

Nota-se que sinais e magnitude de coeficientes estimados se mostraram sens´ıveis em rela¸c˜ao a trˆes alternativas distintas de regress˜ao com dados de sobrevivˆencia, sendo o melhor modelo selecionado a partir de crit´erios relacionados com especifica¸c˜ao e desempenho funcional. Al´em disso, os resultados emp´ıricos constantes do melhor modelo n˜ao se mostraram sens´ıveis ao mencionado crit´erio, no per´ıodo proposto para an´alise.

Observa-se ainda que covari´aveis utilizadas nesta an´alise emp´ırica se mostraram limitadas para eliminar efeitos de inadimplˆencia em empr´estimos comerciais pactuados entre um banco e MPEs individuais no Brasil. No entanto, tal limita¸c˜ao pode ser interpretada como uma possibilidade de estudos futuros, por exemplo, relacionados com determinantes de colateral em segmentos de mercados de cr´edito, tal como sugerido em Jim´enez, Salas e Saurina (2006), o que tamb´em motiva a avalia¸c˜ao proposta no pr´oximo cap´ıtulo.

Cap´ıtulo 3

Determinantes de Colateral em uma

Economia Empresarial

3.1

Introdu¸c˜ao

Em modelos econˆomicos que consideram a possibilidade de ocorrˆencia de default, colateral geralmente ´e admitido como um dos mecanismos importantes para minimiza¸c˜ao de efeitos de n˜ao cumprimento de promessas financeiras intertemporais em contratos de cr´edito. Com efeito, investigar quais os fatores que impactam requerimentos de colateral em empr´estimos banc´arios para o caso de uma economia empresarial brasileira ´e o objeto de estudo deste cap´ıtulo.

De imediato, pondera-se que um conhecimento e an´alise dos mencionados fatores podem fornecer insumos relevantes para modelagem de novos mecanismos que visem, por exemplo, melhoria em modelos de relacionamento banco-empresas, concess˜ao de cr´edito adequado a micro e pequenos empres´arios e minimiza¸c˜ao de riscos sistˆemicos.

Dentre os diversos e distintos fatores que podem afetar aquela escolha do agente de n˜ao honrar compromissos financeiros, comumente s˜ao referenciados aspectos relacionados com caracter´ısticas pessoais e econˆomico-financeiras do mutu´ario, condi¸c˜oes econˆomicas e de mercados financeiros e, possibilidade de existˆencia de informa¸c˜ao assim´etrica em contratos de cr´edito, na qual se destacam os problemas de sele¸c˜ao adversa e de moral hazard1.

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Nesta pesquisa os termos sele¸c˜ao adversa e moral hazard s˜ao utilizados no sentido de que o devedor possui mais informa¸c˜ao sobre sua qualidade de cr´edito que o credor e o banco n˜ao pode observar se o empres´ario ir´a exercer o esfor¸co contratual prometido com o intuito de evitar perdas financeiras, antes e ap´os a assinatura do contrato de cr´edito, respectivamente. Para um entendimento formal de conceitos utilizados para estes termos e em distintos contextos veja Mas-Colell, Whinston e Green (1995) e Salani´e (2005).

Observa-se que tais fatores tˆem sido largamente investigados te´orica e empiricamente e em muitos contextos. Por exemplo, em uma abordagem de riscos financeiros, evidˆencias emp´ıricas recentes revelam que determinantes de colateral podem ser distintos entre diferentes mercados de cr´edito e horizontes temporais, o que motiva esta an´alise para o segmento empresarial.

Neste contexto, este cap´ıtulo tem por objetivo avaliar empiricamente determinantes de colateral em uma economia empresarial, no horizonte de tempo de curto prazo, partindo de sugest˜oes anteriores de Jim´enez, Salas e Saurina (2006). Para tanto, as estimativas utilizam t´ecnicas econom´etricas de dados de painel, logit e GMM, e uma ´unica base de dados dispon´ıvel para teste referente a uma carteira comercial de um banco especialista na concess˜ao de empr´estimos comerciais a micro e pequenas firmas individuais formais no Brasil, no per´ıodo de dezembro de 2004 a dezembro de 2008.

Inser¸c˜ao na Literatura e Contribui¸c˜ao

Do ponto de vista da teoria econˆomica que considera sobre a existˆencia de informa¸c˜ao assim´etrica no relacionamento de empr´estimos entre credores e devedores ´e observado o desenvolvimento de uma extensa literatura, te´orica e emp´ırica, focando diversos temas, dentre eles modelagem de mecanismos de filtro ou de sinaliza¸c˜ao que evidenciem ou minimizem efeitos de problemas advindos daquela assimetria de informa¸c˜ao em mercados financeiros 2.

Dentre aqueles mecanismos s˜ao referenciados, por exemplo, utiliza¸c˜ao de capital pr´oprio como um sinalizador de qualidade de cr´edito em projetos de investimentos empresariais, de acordo com trabalho seminal de Leland e Pyle (1977), efeitos de assimetria de informa¸c˜ao podem afetar processos de avalia¸c˜ao de empresas e de tomada de decis˜ao e escolha de oportunidades de investimentos pela firma em um contexto corporativo, conforme estudo de Myers e Majluf (1984), colateral pode ser utilizado como mecanismo de incentivos e auto-sele¸c˜ao em mercados de cr´edito com sele¸c˜ao adversa, segundo an´alise pioneira de Bester (1985) 3,

mercados competitivos podem afetar margens comerciais de bancos, conforme Besanko e Thakor

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Uma survey dos principais conceitos e desenvolvimentos nos ´ultimos 25 anos na literatura de screening e signaling pode ser obtida em Riley (2001), o qual referencia que diversas aplica¸c˜oes e em v´arios contextos foram feitas a partir dos trabalhos seminais de Vickrey (1961) e de Mirrless (1971), que focam no desenho de esquemas de incentivos por um monopolista informado imperfeitamente, e de Akerlof (1970) e de Spence (1973), que analisam esquemas de incentivos que ir˜ao sobreviver a for¸cas competitivas do mercado.

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Chan e Kanatas (1985) tamb´em investigam o uso do colateral como um mecanismo de filtro ou sinaliza¸c˜ao em mercados de cr´edito com sele¸c˜ao adversa e moral hazard. Besanko e Thakor (1987a,1987b), al´em de considerar sobre aquelas quest˜oes, modelam instrumentos de pol´ıtica de cr´edito adotados por bancos, tais como valor do empr´estimo, taxa de juros e colateral. Mais recentemente, Freixas e Rochet (1997) desenvolvem uma abordagem sobre a utiliza¸c˜ao de menu de contratos para sele¸c˜ao entre mutu´arios heterogˆeneos.

(1987b), qualidade de cr´edito e tempo de relacionamento banc´ario podem minimizar efeitos de problemas provenientes de assimetria de informa¸c˜ao, segue de estudos anteriores de Berger e Udell (1990, 1995), existˆencia de uma rela¸c˜ao direta entre risco de devedores e requerimentos de colateral, de acordo com Boot, Thakor e Udell (1991), em determinados contextos duration pode contribuir para constru¸c˜ao de confian¸ca e compartilhamento de risco, segundo Boot e Thakor (1994)4, se firmas dependem de cr´edito banc´ario mercados competitivos podem contribuir para

redu¸c˜ao do tempo de relacionamento, veja Petersen e Rajan (1994, 1995), ou n˜ao, se bancos decidem investir em fideliza¸c˜ao de clientes, de acordo com Boot e Thakor (2000)5.

Estudos mais recentes acrescentam que, determinantes de colateral podem ser distintos entre diferentes mercados de cr´edito e entre diferentes horizontes de tempo, de acordo com resultados anteriores de Jim´enez, Salas e Saurina (2006), efeitos conjunto de garantias f´ısicas e pessoais impactam determinantes de colateral no relacionamento credor-devedor, veja Voordeckers e Steijvers (2006) e Ono e Uesugi (2009), inova¸c˜oes tecnol´ogicas e proximidade no relacionamento credor-devedor impactam taxas de juros e requerimentos de colaterais no processo de concess˜ao de cr´edito, segundo Inderest e Mueller (2007) que apresentam uma teoria de colateral ”lender-based”, a qual ´e testada por Jim´enez, Salas e Saurina (2009), os quais tamb´em consideram para efeitos de distˆancia organizacional no processo de concess˜ao de cr´edito para o caso da teoria ”borrower-based”e observam que esta ´ultima admite a existˆencia de informa¸c˜ao assim´etrica no relacionamento de empr´estimos credor-devedor 6. Ainda, Steijvers

e Voordeckers (2009) fazem uma survey de resultados relacionados com teoria de colateral, assimetria de informa¸c˜ao e racionamento de cr´edito e, apresentam sugest˜oes para pesquisas futuras, dentre elas utiliza¸c˜ao de t´ecnicas econom´etricas adequadas em estimativas emp´ıricas7.

Logo, seguindo recentes sugest˜oes da literatura sob referˆencia, pretende-se contribuir empiricamente apresentando uma avalia¸c˜ao de determinantes de colateral para o caso de um segmento espec´ıfico do mercado de cr´edito, qual seja, uma economia empresarial brasileira. Pretende-se tamb´em sugerir o uso de t´ecnicas econom´etricas relacionadas com dados de painel e m´etodo generalizado de momentos, GMM, em um teste de hip´otese de requerimentos de valor

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Boot (2000) e Berger e Udell (2002) consideram tamb´em sobre um efeito inverso entre uso de colateral e duration. Ainda, a dire¸c˜ao desta rela¸c˜ao pode ser positiva conforme Greenbaum, Kanatas e Venezia (1989) e Farinha e Santos (2002). Para um entendimento do relacionamento credor-devedor veja Freixas e Rochet (1997).

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Uma survey sobre requerimentos de colateral em mercados de cr´editos e resultados emp´ıricos relacionados com este ramo da literatura econˆomica pode ser obtida em Coco (2000). Para resultados mais recentes veja tamb´em Hern´andez-Canovas e Mart´ınez-Solano (2006).

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Sobre efeitos de garantias e dura¸c˜ao em taxas de juros de empr´estimos veja Ozawa e Nakane (2009).

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Esta pesquisa n˜ao tem a pretens˜ao de abordar o extenso debate existente na literatura econˆomica com respeito ao tema racionamento de cr´edito. Para um entendimento desta quest˜ao sob condi¸c˜oes de informa¸c˜ao imperfeita veja o estudo seminal de Stiglitz e Weiss (1981).

de colateral em empr´estimos banc´arios. Al´em disso, pretende-se utilizar controles relacionados com efeitos de desemprego regional e experiˆencia empresarial sobre o uso de colateral em empr´estimos banc´arios.

As evidˆencias emp´ıricas indicam que determinantes colateral em empr´estimos comerciais podem ser distintos entre diferentes mercados de cr´editos e entre devedores com diferentes n´ıveis de experiˆencia, corroborando resultados anteriores de Jim´enez, Salas e Saurina (2006). Tais evidˆencias tamb´em sugerem que efeitos de desemprego regional e de experiˆencia empresarial podem impactar de forma amb´ıgua a probabilidade de uso de colateral em opera¸c˜oes de cr´edito ofertadas a micro e pequenos empres´arios formais no Brasil, no mencionado per´ıodo.

Al´em desta introdu¸c˜ao este cap´ıtulo cont´em outras quatro se¸c˜oes. Na pr´oxima se¸c˜ao s˜ao apresentados modelos econom´etricos, hip´oteses e vari´aveis que ser˜ao utilizadas para procedimento de um teste emp´ırico de determinantes de colateral em uma economia empresarial brasileira. Um resumo de conceitos utilizados em estimativas com dados de painel, logit e GMM, ´e apresentado na terceira se¸c˜ao. A quarta se¸c˜ao apresenta os resultados emp´ıricos. As considera¸c˜oes finais desta an´alise emp´ırica s˜ao apresentadas na ´ultima se¸c˜ao.

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