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Como foi visto, o avanço do domínio francês sobre as ca- pitanias do norte colonial português no fim do século XVI co- meçou a inquietar a Coroa Portuguesa, neste momento também Espanhola através da União Ibérica. O que era um extrativismo irregular, sem fixação de colonos, passou a ter um caráter mais permanente, havendo relatos de construções francesas no litoral norte-rio-grandense.1 Para evitar que os franceses adquirissem direitos às terras efetivamente ocupadas, a Coroa Ibérica come- çou a retomada da posse de suas terras, através da força. Após conseguir reconquistar a região da Paraíba, construindo um forte e criando um núcleo povoador, o novo passo deveria ser em direção à Capitania do Rio Grande e em 1596 e 1597, o Rei Fe- lipe II assinou duas Cartas Régias que determinaram a conquista e colonização dessas terras.

Cumprindo a primeira parte das determinações régias, parti- ram para o Rio Grande o Capitão-Mor de Pernambuco, Manuel

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Mascarenhas Homem e o da Paraíba, Feliciano Coelho, chegando à barra do Rio Grande (atual Rio Potengi) em fins de 1597. Aí cons- truiram uma paliçada que protegeria as tropas portuguesas e os ín- dios Tobajara da Paraíba, que os acompanhavam, dos ataques dos índios Potiguara aliados aos franceses e, já em seis de janeiro de 1598, deram início a construção do Forte dos Reis Magos.2

O período imediato foi conflituoso, as lutas contra os fran- ceses e indígenas Potiguara continuaram porque os primeiros pretendiam manter seus privilégios na região e os últimos não queriam a presença dos portugueses que sabiam ser diferentes dos franceses que não os escravizavam. Houve mortes e prisões e, finalmente, os franceses foram expulsos, indo procurar abrigo nas regiões do Ceará e Maranhão.

Desamparados pelos franceses, os Potiguara não consegui- ram resistir à força portuguesa, e depois de junho de 1598, ini- ciou-se o processo de aproximação entre portugueses e indíge- nas com a intermediação do mameluco Jerônimo de Albuquer- que, que havia comandado uma das companhias vindas da Para- íba, e, principalmente, dos padres da Companhia de Jesus, isto é, através da ação das armas e da cruz. Para os Potiguara, como já não havia mais os franceses para apoiá-los na continuidade da guerra, o melhor seria “meterem-se na igreja” para, pelo menos,

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não serem cativados, destino legal dos “insubmissos” à Coroa Portuguesa e resistentes à religião católica. Assim, o principal Potiguaçu (Camarão Grande) firmou a “paz” com os portugue- ses no Forte. Por ordem do Governador Geral do Brasil, D. Francisco de Souza, pela importância da nova conquista e da pacificação dos Potiguar para os planos de expansão colonial, a mesma foi solenemente ratificada, em 11 de junho de 1599 na cidade de Filipéia de N. Sra. das Neves (hoje João Pessoa), comparecendo os chefes indígenas Potiguara Pau-Seco, Zoroba- bé e Mar Grande entre outros, e os Tabajara da Paraíba, Braço de Peixe (Piragibe), Braço Preto e Pedra Verde, além dos repre- sentantes da Coroa portuguesa, os Capitães-mores de Pernam- buco e da Paraíba, Manuel Mascarenhas Homem e Feliciano Coelho, os Oficiais da Câmara da Paraíba, o Ouvidor-mor Braz de Almeida, o futuro Capitão-mor de Pernambuco Alexandre Moura, e Frei Bernardino das Neves e Padre Francisco Pinto, como intérpretes e mediadores.3

Com a paz sacramentada, já se podia cumprir a segunda parte das ordens régias que era a de fundar uma povoação, a fim de afastar de vez a possibilidade de novas investidas francesas e dar início ao processo de povoamento da Capitania. Desta for- ma, ao fim do século XVI, havia se instalado um núcleo povoa-

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dor português na capitania do Rio Grande, a partir do qual se desenvolveria a continuidade da ocupação portuguesa na região norte-nordeste e, consequentemente, o estabelecimento de novas relações entre os Potiguara e portugueses intermediadas pelos missionários jesuítas.

2.1 - Forte dos Reis Magos e Natal: bases para a conquista colonial

A preocupação portuguesa com a presença de agentes de outras nações européias nas suas terras coloniais no Brasil não parou com a conquista do Rio Grande, pois somente o total do- mínio da região garantiria a posse definitiva da colônia, visto que as capitanias do Maranhão e do Amazonas e Grão-Pará e- ram tão vulneráveis aos ataques estrangeiros por mar quanto as capitanias do leste e, de fato, sofreram as suas próprias invasões de holandeses e ingleses em 1596 e, posteriormente, de franceses em 1612.4 A continuidade da conquista, agora em direção ao norte, passou então a contar com a presença de soldados portugueses se- guros no Forte dos Reis Magos como um posto avançado, que ga- rantiria um contingente militar disponível e melhor posicionado,

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assim como o repouso e o fornecimento de água e mantimentos para as expedições saídas da Paraíba e Pernambuco.

Neste sentido, o Forte dos Reis Magos, que foi provido de seus soldados inicialmente por Mascarenhas Homem, logo teria o seu contingente militar garantido, em vista da necessidade de preservação e continuidade da conquista. No relatório das recei- tas e despesas do Brasil do Governador Geral Diogo de Mene- zes, a capitania do Rio Grande tinha apenas despesas em 1610, sendo ela toda relativa à manutenção dos soldados no forte, o que evidencia a importância estratégica que a capitania assumia para a coroa a despeito da sua falta de receitas.5

A ligação das colônias portuguesas do litoral leste com a Amazônia, área genuinamente espanhola pelos tratados anterio- res à União Ibérica, era importante à Coroa de Felipe II não so- mente para garantir a sua supremacia aí na disputa com as outras nações européias, mas também pela possibilidade de explorar efetivamente essa região, além de fomentar o intercâmbio entre as diferentes natureza e economia daí e do litoral. Neste momen- to, é necessário lembrar, que as possessões ibéricas do Oriente, antigas fornecedoras das famosas especiarias que garantiram imenso comércio a Portugal, estavam já perdidas, e a Amazônia poderia ser

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uma sua substituta com a exploração das especiarias da floresta a- mazônica, as “drogas do sertão” já conhecidas pelos espanhóis.

O próprio Governador Geral do Brasil, Diogo de Menezes, em carta ao Rei, datada de primeiro de março de 1612, deu su- porte a essa idéia ao destacar as qualidades climáticas da capita- nia do Maranhão, diferentes dos areais das do Ceará e do Rio Grande, chamando atenção para a possibilidade de se cultiva- rem, nas suas “matas verdadeiras e várzeas muito férteis”, a cana de açúcar, o algodão e outros gêneros.6

John Monteiro, num estudo sobre a escravidão indígena no Maranhão, por outro lado, adicionou a essa exploração dos re- cursos naturais da região norte, a possibilidade concomitante de se dispor de uma imensa população nativa, que poderia ser utili- zada tanto na própria região, como para o tráfico de escravos índios para Pernambuco a “...atividade mais vantajosa da regi- ão...”7 desde antes da invasão dos holandeses naquela Capitania. Desta forma, Monteiro, demonstrou que a expansão para o Mara- nhão seria parte de uma marcha ibérica em direção ao norte, que tinha objetivos geo-políticos, mas também econômicos, visto que garantia, entre outras coisas, a continuidade do fornecimento de presas indígenas sempre necessárias à economia açucareira, devido

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ao crescente declínio demográfico entre os nativos do nordeste, ocasionado pelas escravidão, guerras, fugas e doenças.8

Além disso, desde 1535, nas primeiras tentativas de ocu- pação da região do litoral norte - capitanias do Maranhão, Grão- Pará e Amazonas, verificou-se a dificuldade de alcançá-la por mar. A existência de uma corrente marítima rápida e ventos no sentido leste-oeste, borrascas tropicais súbitas, orla arenosa e dunas baixas que não servem como referências de terra para navegação, mar de pouca profundidade e baixios de rochas fo- ram empecilhos que os navegantes logo relataram, anunciando a necessidade de um caminho por terra, visto que se a ida para o Oeste era perigosa por causa da corrente, o retorno seria quase impossível.9 A dificuldade era tanta que o jesuíta Pero Rodri- gues, escreveu em 1618: “O ir de Pernambuco para lá [Mara- nhão] é fácil, mas o tornar é dificultoso, e tanto que é melhor ir a Portugal.”10 Os diversos naufrágios nas costas maranhenses, devido às dificuldades da navegação costeira na direção oes- te/leste, foi, inclusive, um dos motivos para o estabelecimento de um Estado separado do Brasil - o Estado do Maranhão e Grão-Pará - em 1621, o qual deveria se reportar diretamente a Lisboa e não mais a Salvador.

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Assim, logo que o Rio Grande foi tomado, o caminho ter- restre que ligaria as capitanias do litoral leste às do litoral norte foi tentado pela costa, sendo alguns de seus viajantes iniciais os Padres da Companhia de Jesus, como os Padres Francisco Pinto e Luís Figueira que em 1607 entraram pelo Ceará até a Serra da Ibiapaba onde foram atacados, resultando na morte do primeiro. O mesmo caminho foi usado, entre 1603 e 1605 para as primei- ras tentativas terrestres de ocupação do Maranhão intentadas por Pero Coelho de Souza e, posteriormente, em 1614, pelas tropas de Jerônimo de Albuquerque que enfrentaram e venceram os franceses estabelecidos em São Luís do Maranhão, efetivando a conquista. O Forte dos Reis Magos foi também ponto de apoio às expedições de Diogo do Campos Moreno, Sargento-mor do Brasil, que fora incumbido pelo Governo Geral de verificar as potencialidades da nova região portuguesa.11

Juntamente com o Forte, a cidade fundada na nova con- quista - Natal, cumpriria seu papel de apoio à expansão colonial portuguesa, ampliando a área ocupada pelos portugueses e em- purrando a linha de fronteira econômica mais para o norte. Uma fronteira que deveria contar com a efetiva presença de colonos, pois apenas com eles o desenvolvimento da capitania aconteceria. Assim, ainda sob o comando de Mascarenhas Homem no Forte,

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procedeu-se o início da distribuição de terras para assentamento de colonos com a primeira doação de sesmaria datada de 9 de janeiro de 1600 a favor do Capitão-mor do Rio Grande João Rodrigues Colaço, nas terras que margeiam o Rio Potengi.12

A distribuição de terras rurais foi iniciada com as sesmari- as concedidas por João Rodrigues Colaço, entre 1600 e 1603, que alcançaram o Rio Curimataú ao Sul e, aproxidamente, 18 km além do Forte para o norte; em direção ao interior, corriam margeando os Rios Potengi e Jundiaí.13

As informações destas sesmarias, contidas no Traslado do Auto de Repartição das Terras do Rio Grande, são uma das pouquíssimas fontes históricas restantes sobre o Rio Grande e sua organização inicial. Originaram-se de um processo de reavalia- ção da distribuição das sesmarias, em 1614, ordenado pelo Rei em razão de “notícias” sobre as imensas áreas que tinham sido distri- buídas aos padres da Companhia de Jesus e aos filhos do Capitão- mor Jerônimo de Albuquerque Maranhão, áreas essas que, no en- tender real, não estariam sendo bem utilizadas, como demonstra parte da sua provisão de vinte e oito de agosto de 1612:

“Eu El rey faço saber aos que este alvará vi- rem que eu sou ynformado que na capitania do Rio

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grande do estado do Brazil se repartirão terras a di- verças pessoas com obriguação de as cultivarem e beneficiarem, conforme as condições e obrigações que lhe forão postas com que não tem comprido e em que meu serviço e fazenda reais recebem perda, e tendo ysso consideração e ha boa ynformação que tenho da bondade e capacidade das ditas terras pa- ra nellas se fazerem engenhos e outras fabricas e bemfeitorais, ey por bem ... fação repartição das terras da dita capitania...”14

Na realidade, a Companhia de Jesus recebeu, entre 1600 e 1607, cinco datas de terras na capitania, sendo uma “...hus chãos do çítio desta çidade donde tem hua cazinha de taipa e telha...”15 e as outras datas muito bem localizadas nas várzeas dos rios Potengi e Jundiaí, e nas margens da Lagoa de Guajiru (atual Estremoz). Apenas esta última sozinha:

“... podera comprehender esta data quatorze leguoas de terra pouco mais ou menos... Muitas des- tas datas dos padres he terra ynutil, e de nhenhum proveito e muita serve para pastos e mantimentos ...

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não se ha feito na dita terra bemfeitoras alguas mais que dous curraes de vaccas e alguas eguoas e qua- tro escravos da guiné.”16

No parecer do rei, tanta quantidade de terra utilizada para apenas dois currais de gado era de grande dano a sua fazenda e aos moradores da capitania.17

Por sua vez, as terras que foram doadas por Jerônimo de Albuquerque a seus filhos Antônio e Mathias, eram de “...cinco mil braças de terra em quadra na varze de cunhaú comessando a medir donde entra a ribeira de piquis em curumataú...”18, onde foi construído um engenho de água, o Engenho Cunhaú, o que foi considerado pelo rei “...mui exorbitante em cantidade de terras ... e demais se não terem nellas feito bemfeitorias...”19

Na realidade estas foram as únicas sesmarias distribuídas no Rio Grande nesse período que alcançaram tamanhos tão exa- gerados. No entanto, como ficou dito no relatório do Ouvidor Geral Manoel Pinto da Rocha, baseado nas informações dadas pelo “mestre de engenho” Jerônimo Matheus que verificou a qualidade e potencialidade das terras da capitania, as terras da- das aos padres da Companhia de Jesus poderiam ser capazes de

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produzir cana, mas não o suficiente para se construir um enge- nho. Quanto às terras dos filhos de Jerônimo de Albuquerque, concluiu que se fossem todas boas seriam capazes de abastecer até quatro engenhos, o que não acontecia, pois parte delas era seca e outra alagada, podendo suportar talvez apenas mais um “trapiche”.20

Esta “diligência” demonstra a preocupação real quanto ao melhor aproveitamento possível das novas terras conquistadas e, para o rei, elas não estavam contribuindo com o que poderiam para a colônia, principalmente porque não estavam produzindo cana-de-açúcar. Como o próprio rei deixou claro, ele foi infor- mado que as novas terras eram de “bondade e capacidade... pa- ra nellas se fazerem engenhos”. Provavelmente, as informações sobre o Rio Grande que chegaram ao rei foram semelhantes às que um autor desconhecido deu em uma descrição da capitania em 1607, a “Relação das Cousas do Rio Grande, do sítio e dis- posição da terra”:

“... é a capitania melhor que a da Paraíba. Porque as várzeas todas servem para ingénios, os campos todos para criação de gado e neste particu- lar por comum parecer de todos é a melhor terra do

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Brasil, porque não tem passo de terra que não apro- veite para isso, com excelentes água; não faltam tampouco muitos matos para fazer rocerias, tem os ares muito sãos, e, com estar tão perto da linha, não é muito quente.”21

Para este informante otimista, a capitania seria capaz de ter até trinta engenhos em suas várzeas, o que demonstraria re- almente ser muito melhor que a da Paraíba, já que esta em 1601 tinha em funcionamento quatorze engenhos.22 Não fica claro a intenção de uma descrição tão favorável, talvez a de agradar a metrópole, talvez a de atrair colonos, no entanto, o que transpa- rece é a esperança que a nova colônia se desenvolvesse bem para o sucesso de toda colonização.

Outros cronistas, no entanto, foram mais atentos quanto à realidade e às potencialidades do Rio Grande, que acabaram sendo confirmadas mais tarde. O Sargento-mor do Brasil, Diogo de Campos Moreno, por exemplo, em sua descrição da capitania de 1609, dizia ser ela de “...pouco proveito para canas de açú- car...”, tendo apenas um engenho funcionando; por outro lado, “...se dão mui proveitosamente todas as sortes de gados...”, além de se criarem bem cabras, porcos, criações miúdas de gali-

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nhas, perus e patos; e também pescarias de mar. Segundo ele, pro- duzia, ainda, muitas roças de legumes, frutas e hortaliças, além de arroz, mandioca e milho. Deixou claro que os colonos eram pobres mas que “... havendo quem trabalhe e quem com curiosidade apli- que e ajude os pobres moradores, a terra dará com que se cubram e com que possam tratar com outros.”23 Moreno deu também uma indicação do contingente populacional da capitania em 1611, que teria “... pobremente acomodados até 25 moradores brancos, fora da obrigação da Fortaleza, e destes tem pelas roças e redes e fazen- das principiadas da Capitania até 80 moradores;”24

De fato, esta situação descrita por Moreno pode ser verificada nas informações que foram recolhidas no Traslado do Auto de Re- partição das Terras do Rio Grande: das 186 datas distribuídas entre 1600 e 1614, 38 eram urbanas, e destas apenas 13 eram habitadas em 1614; as outras 136 datas eram rurais, das quais apenas 58 ti- nham atividades econômicas: 7 produziam cana de açúcar; 30 ti- nham roças de alimento; em 21 criava-se gado vacum e/ou cavalar e 18 tinham redes de pescaria de mar. Essas atividades, nem sempre eram excludentes dentro de uma mesma data.

Ocorria, ainda, que nas várias datas recebidas por um só sesmeiro eram praticadas atividades diversas que acabavam por complementarem-se. Percebe-se que a complementação das ati-

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vidades com a criação do gado, a roça de alimentos e a pescaria deveria ser necessário à sobrevivência na capitania, pois dos 99 favorecidos com a doação de terras no Rio Grande, os 10 que receberam quatro ou mais datas e os 6 que receberam três, con- seguiram manter suas terras produtivas até 1614, sendo que a maioria dos 47 que receberam apenas uma data haviam abando- nado a sua terra.

A pouca produtividade econômica da capitania fica evi- denciada em haver apenas um engenho localizado na ribeira do Cunhaú, no litoral sul, apesar dos colonos ressaltarem a possibi- dade e necessidade de se construir pelo menos um “trapiche” na área próxima às várzeas dos rios Potengi e Jundiaí, onde tam- bém se produzia cana de açúcar. Provavelmente esse trapiche foi construído nas terras do Vigário Gaspar Gonçalves da Rocha no rio Potengi 25, e pode ser o Engenho Potengi referenciado pelos holandeses como de pouca produção em 1630 e de “fogo morto” na invasão em 1633.26

O bastante curioso quanto à distribuição destas datas é a quantidade das terras devolutas, muitas das quais já haviam sido cultivadas, mas foram abandonadas: 78 datas estavam devolutas em 1614 por motivos diversos, desde “fraqueza da terra” e falta de água a “problemas com os índios”. Na maioria das datas onde se

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relatou o tempo de abandono, este se deu por volta dos anos de 1605 a 1608. Coincidentemente ou não, o Padre Vieira fez referên- cias a distúrbios entre os índios do Rio Grande nesse período:

“Pelos anos de 1605, sendo já pacificadas as guerras que em Pernambuco foram muito porfiadas da parte dos naturais, pelas violências de certo ca- pitão português, se tornaram a pôr em armas todos os índios avassalados que havia desde o Rio Grande até o Ceará, onde ainda não tínhamos a fortaleza que hoje defende aquele sítio.”27

Possivelmente, esses distúrbios citados tenham sido cau- sados por João Soromenho, chefe de uma expedição enviada pelo Governador Diogo Botelho em socorro aos homens de Pero Coelho de Souza, que haviam permanecido em 1604 no Ceará na tentativa de formar novo núcleo povoador ao redor de um fortim de taipa. No entanto:

“...João Soromenho, achou de melhor alvitre divertir os homens na caça aos índios, alguns já domésticos, que levaria a vender, do que cumprir a

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missão de que se vira incumbido: por esse motivo seria preso e seus índios mandados em liberdade às sua terras com mantimentos e ferramentas.”28 De fato, Soromenho foi preso e respondeu aos Corregedo- res da Corte, contudo, em carta régia de sete de junho de 1607, o Governador Geral Diogo Botelho foi comunicado do “... livramen- to com as culpas que tinham ido do Brasil contra ele.”29 Prova- velmente, após seu “livramento”, Soromenho voltou ao Rio Gran- de onde habitava, em 1614, na casa que tinha num dos dois portos

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