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A morada de casa constituída por «casa» e sobrado (Anexo Tipo 3) Esta terceira tipologia é portanto a duplicação vertical da primeira, mas no

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A MORADA DE CASA DE COMPARTIMENTO ÚNICO

4.1.3. A morada de casa constituída por «casa» e sobrado (Anexo Tipo 3) Esta terceira tipologia é portanto a duplicação vertical da primeira, mas no

conjunto identificado que a constitui a questão que sobressai é o reduzido número de casos existentes, apenas nove. Em finais do século XVIII não era, aparentemente, frequente a existência da casa térrea única e sobrado.

Voltando à questão da terminologia usada na descrição destas casas, o mais frequente é o «sobrado», mas surge, não raras vezes, o termo «alto»290 quando o número de compartimentos é igual ao do piso térreo, isto é, “…com altos à proporção…”. É raro, mas aconteceu em três dos registos, o tabelião iniciar a descrição do edifício pelo piso superior. E aqui a situação inverte-se, ou seja, são nestes casos os “…baixos à

proporção”291 do número de compartimentos do piso superior.

Como vimos na tipologia anterior a questão da plurifuncionalidade do espaço interior depende da dimensão desse mesmo espaço. Ou seja, tem tanto de relativo à área do lote como à área do edifício em si. Isto é, quando o lote não permite ampliação horizontal esta pode fazer-se no sentido vertical dando origem ao sobrado. E nestas situações pode ocorrer o piso térreo ter uma função comercial/económica, um armazém

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O tabelião assenta que confronta pelo poente com “…um armazém do foreiro anexo ao presente foral e só separado por parede interior. ADF – AHCMF – Serie D/A.2 – Tombos dos foros e bens do concelho,

dos prédios urbanos e rústicos, 1794-1822. Lv. n.º 1 (1794/1796), fólios 276 v.º - 278 v.º. 290

No total de todas as moradas de casas com dois pisos, e não apenas nesta tipologia, contabilizaram-se quase centena e meia de sobrados ou altos.

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“Uma morada nobre composta por doze casas altas, varanda e quintal com baixos à proporção.”ADF – AHCMF – Serie D/A.2 – Tombos dos foros e bens do concelho, dos prédios urbanos e rústicos, 1794- 1822. Lv. n.º 1 (1794/1796), fólios 276 v.º - 278 v.º.

ou loja como o edifício que Joaquim Ramalho Ortigão tinha na rua da Praça Velha292. Ou como em outro edifício, sensivelmente próximo293, “…em todo o perímetro tem

parte de um armazém e por cima um sobrado com uma açoteia…”294 que confrontam

com as respectivas casas do foreiro, a norte.

Para além da questão da individualização funcional do espaço, o alteamento do edifício pode resultar apenas por simples falta de espaço por onde ampliar horizontalmente. Veja-se o caso das casas da foreira Jacinta Rosa França, na rua do rosário. Anexas às suas casas (que não estavam incluídas no foral) tinha uma “…casa

que serve de cozinha para a qual se descem dois degraus e por cima dela onde era uma varanda e hoje é um sobrado para o qual se sobe por uma escada que está no quintal…”295.

Nos casos em que existiu espaço por onde expandir temos duas situações curiosas. Registaram-se duas ampliações semelhantes que consistiram na absorção dos arcos nos gavetos da praça pública (antiga praça da Rainha e actual praça D. Francisco Gomes) com a rua dos Morraceiros (actual rua da Marinha) e com a própria praça, respectivamente. Ambos os arcos, agora transformados em parte da habitação, confrontavam com casas dos respectivos foreiros as quais por sua vez eram confrontantes entre si. No canto sul do quarteirão o meirinho da correição, José Lopes França tinha “…uma casa construída num terreno que hera um arco, composta por

casa (…) com uma janela pequena e uma porta para a praça e junto a porta da escada,

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Este foral, em particular, diz respeito à ampliação de uma loja ou armazém “…onde em tempo houve

uma escada…” mas que confronta a sul e poente com o restante armazém e casas. ADF – AHCMF –

Serie D/A.2 – Tombos dos foros e bens do concelho, dos prédios urbanos e rústicos, 1794-1822. Lv. n.º 1 (1794/1796), fólios 346 v.º - 348.

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Não conseguimos precisar o lugar exacto deste edifício mas era na confluência da rua com o largo:

“…na rua da praça velha ou largo da cadeia…”. ADF – AHCMF – Serie D/A.2 – Tombos dos foros e bens do concelho, dos prédios urbanos e rústicos, 1794-1822. Lv. n.º 1 (1794/1796), fólios 344 - 346v.º. 294

ADF – AHCMF – Serie D/A.2 – Tombos dos foros e bens do concelho, dos prédios urbanos e

rústicos, 1794-1822. Lv. n.º 1 (1794/1796), fólios 344 - 346v.º. 295

ADF – AHCMF – Serie D/A.2 – Tombos dos foros e bens do concelho, dos prédios urbanos e

um sobrado com uma janela de sacada e (…) uma escada através da qual se chegava ao dito sobrado e outras casas dos foreiros…”296. No canto norte do quarteirão o vendedeiro, Matias da Silva, tinha “…uma casa construída num terreno, que hera um

arco (…). Composta por uma casa com um sobrado e uma açoteia e uma escada para a

praça. Tem duas portas sendo que uma delas dá para a rua dos Morraceiros…”297 do

que se depreende a outra porta dá para a praça pública. Ambas tinham cinco varas de frente que corresponderiam às dimensões de cada arco. Seria demasiado ousado pensar que toda a fachada deste quarteirão, que deitava para a praça principal da cidade, fosse uma pequena arcaria de vinte e cinco varas? Infelizmente nada podemos acrescentar que corrobore ou deite por terra esta despretensiosa sugestão, mas sendo um dos foreiro em questão vendedeiro de profissão e estando uma zona de mercado ali tão próximo (sensivelmente mais a norte).

O edifício que hoje existe no canto sul deste quarteirão é obra setecentista e o do canto norte é oitocentista com alterações do século XX298. No primeiro caso, o único dos dois sobre o qual podemos tecer algumas observações por questões cronológicas, é aparentemente um edifício construído de raiz e de uma só vez. Mas as informações recolhidas neste tombo sugerem uma ampliação, o que nos faz acreditar que o edifício que hoje vemos é resultado dessa obra unificadora da imagem exterior do mesmo. Francisco Lameira refere que as obras de recuperação e adaptação do edifício, determinaram a substituição da cobertura à semelhança da que existia299. Em 1931 a cobertura em telhado de quatro águas não abrangia a totalidade da área do edifício,

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ADF – AHCMF – Serie D/A.2 – Tombos dos foros e bens do concelho, dos prédios urbanos e

rústicos, 1794-1822. Lv. n.º 1 (1794/1796), fólios 359v.º a 361v.º. 297

ADF – AHCMF – Serie D/A.2 – Tombos dos foros e bens do concelho, dos prédios urbanos e

rústicos, 1794-1822. Lv. n.º 1 (1794/1796), fólios 361v.º - 364. 298

Francisco Lameira – Faro, Edificações Notáveis. Faro : Câmara Municipal de Faro, 1997, n.º 52 e n.º 73, respectivamente.

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Praça D. Francisco Gomes

Rua da Ma

rinha

correspondendo aproximadamente aos seis metros, sendo que a ampliação estava entre as quatro e as cinco varas de profundidade (IMAGENS 103, 104 e 105).

IMAGENS 103, 104 e 105. Localização das duas casas construídas onde antes existiam arcos, que davam para praça pública (sobre planta actual e planta de 1931da cidade300) e

respectiva foto aérea.

Para além dos casos citados existiam ainda duas casas com os respectivos sobrados, ambas incluídas no mesmo aforamento, sitas na rua do Pé da Cruz. Conhecesse a localização exacta mas optámos por não representá-las aqui porque neste local existe hoje um edifício com vários andares. Já a planta de 1931 de que nos temos auxiliado ao longo deste capítulo, apesar de representar o prédio conforme o descrito em 1795 está estragada devido a dobra do papel o que impede a visualização das diversas moradas.

4.1.4. A morada de casa constituída por várias «casas». (Anexos - Tipo 4, variantes)