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8 Meios de defesa do contribuinte

8.4 Constitucionalidade

Em relação ao recurso previsto neste regime, foram suscitadas dúvidas quanto à sua constitucionalidade, nomeadamente por apenas haver um único meio e momento em que o contribuinte se pode defender contra a fixação da matéria coletável. O TC apreciou as questões em causa considerando que as normas invocadas respeitam os princípios da Lei Fundamental, concretamente por haver um meio processual que cumpre o direito de defesa do contribuinte, sendo incoerente a existência de mais do que um para se discutir o mesmo fato, neste caso a fixação da material coletável. Concretamente, havia duplicação dos meios de defesa se fosse possível reagir contra o ato de fixação da matéria coletável e, posteriormente, reagindo contra o processo de liquidação, fosse possível novamente argumentar contra o mesmo fato. Se esta situação ocorresse haveria um excesso de garantias no sistema procedimental e processual que não é desejável, em que a defesa de um fato se apresenta duplicada. Assim sendo, “a plenitude da garantia

jurisdicional está suficientemente assegurada através da previsão de um único meio processual, desde que este se mostre adequado à tutela do direito ou interesse legalmente protegido que lhe subjaz” (TC, Acórdão n.º 554/2009 TC, 2009).

Neste sentido, a jurisprudência refere que “a decisão de avaliação constitui ato

destacável do procedimento administrativo, pelo que se forma caso decidido ou caso resolvido na falta de recurso judicial dessa decisão, a qual, assim, se consolida na ordem jurídica, não podendo ser posta em causa na impugnação judicial da liquidação respetiva”

72 recurso à disposição do contribuinte sendo, nos regimes em concreto, o momento de receção da informação do contribuinte por parte da AT.

Em relação ao prazo à disposição do contribuinte para este recorrer do processo de fixação da matéria coletável por métodos indiretos, o TC não se pronunciou de forma explícita, tendo apenas salientado que “a urgência de um meio processual não é

necessariamente desvantajosa para o contribuinte impugnante, pois embora lhe imponha prazos de atuação mais curtos, assegura-lhe, em contrapartida, maior celeridade na decisão” (TC, Acórdão n.º 554/2009 TC, 2009). Assim sendo, fica a jurisprudência

responsável pela interpretação da norma, nomeadamente ao nível de verificar se o prazo disponível é limitador da capacidade de resposta do contribuinte. Neste sentido, os dez dias ao dispor do contribuinte foi considerado coerente com o regime em causa, pelo que daqui não resultam limitações de resposta ao contribuinte, ficando os seus direitos igualmente salvaguardados.

Relativamente à aparente exclusão da prova testemunhal presente na parte final do n.º 3 do art. 146.º-B do CPPT, ressalvar a inconstitucionalidade da norma “por violação dos

artigos 20.º, n.º 1, em conjugação com o artigo 18.º, n.º 2, ambos da Constituição […] quando aplicável por força do disposto no n.º 8 do artigo 89.º-A da Lei Geral Tributária, na medida em que exclui em absoluto a produção de prova testemunhal, nos casos em que esta é, em geral, admissível.” (TC, Acórdão n.º 759/2013 TC, 2013). Neste sentido, este

regime apenas previa a apresentação de prova do tipo documental. Assim, o TC veio invocar a inconstitucionalidade da norma, podendo o contribuinte apresentar prova testemunhal ou de qualquer outra natureza.

Igualmente a última parte do art. 89.º-A n.º 10 da LGT, nomeadamente o fato do Ministério Público ser obrigatoriamente informado, pelo diretor de finanças da área de residência do contribuinte, sobre a decisão de avaliação da matéria coletável através de manifestações de fortuna ou outros acréscimos patrimoniais não justificados, quando se trate de um funcionário público ou equiparado, foi outra das situações discutidas em sede constitucional. A norma suscitada para apreciação contesta o cumprimento do princípio da igualdade de tratamento, presente no art. 13º da CRP, entre contribuintes comuns e aqueles que exerçam certo tipo de funções de serviço público. A resposta obtida salienta o fato de não haver desrespeito pelos princípios constitucionalmente consagrados, sendo que se considera que "os funcionários públicos ou titulares de cargos sob tutela pública

detêm, em face da Administração fiscal, em relação aos restantes sujeitos passivos, uma igual posição de direitos e deveres, quanto aos métodos de determinação da matéria coletável" (TC, Acórdão n.º 442/2007 TC, 2007). Neste sentido, a norma introduzida visa

73 qualquer diferenciação de tratamento entre contribuintes, à exceção da obrigação de comunicação da decisão de abertura deste tipo de processos, numa via de combate à corrupção no âmbito de funcionários públicos ou equiparados. A opção do legislador é assim justificada, uma vez que para além de prosseguir um fim legítimo, visa o interesse público ao procurar verificar se os rendimentos presumivelmente obtidos pelo contribuinte, na condição de funcionário público ou equiparado, podem resultar da prática de atos ilícitos através do cargo que exerce. Neste sentido, a averiguação "apenas dá

azo a que se deslinde se, por detrás dela, não haverá irregularidades de conduta no exercício das funções públicas em que o visado está investido" (TC, Acórdão n.º

442/2007 TC, 2007). A norma obsta a que contribuintes que exerçam funções públicas desenvolvam comportamentos evasivos, uma vez que podem, mais tarde, ser investigados no âmbito deste tipo de procedimentos.

Por fim, diferentes tratamentos podem ser legítimos quando sejam cumpridos certos critérios, como “a) se baseiem numa distinção objetiva de situações; b) não se

fundamentem em qualquer dos motivos indicados no n.º 2; c) tenham um fim legítimo segundo o ordenamento constitucional positivo; d) se revelem necessárias, adequadas e proporcionadas à satisfação do seu objetivo” (Moreira, Vital; Canotilho , José Joaquim

Gomes, 2007), pelo que se pode considerar que todos estes se encontram satisfeitos sendo constitucional o diferente tratamento, no que concerne à comunicação da decisão de avaliação por métodos indiretos, quando se trate de funcionários públicos ou titulares de cargos sob tutela pública, no âmbito dos regimes em estudo.