• Nenhum resultado encontrado

2. SOBRE A NATUREZA DA CIÊNCIA E O ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS

3.4 CONSTITUIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

Conforme já explicitado, o objetivo inicial foi extrair dos textos dados que pudessem oferecer uma caracterização geral da pesquisa produzida na temática, com ênfase: no quantitativo de estudos produzidos no período, origem institucional e geográfica dos trabalhos, sujeitos envolvidos, séries/anos, conteúdo do currículo, focos temáticos prioritários e os pesquisadores em EC imbuídos da educação científica na infância. Esses dados foram obtidos e, posteriormente organizados em uma ferramenta do programa Microsoft Office Excel® 2007 (Anexo I), que permite trabalhar com um número significativo de textos e dados, expressos em

Seleção dos trabalhos por expressões

significativas

328 trabalhos sobre EC nos anos iniciais ENPEC (1997-2017) História da Ciência 21 trabalhos Filosofia da Ciência 12 trabalhos Natureza da Ciência 39 trabalhos Positivista 23 trabalhos Empirista 9 trabalhos Epistemológica 59 trabalhos Leitura e seleção individual de cada texto

Concepção de Ciência 21 trabalhos Epistemologia 53 trabalhos Total 237 trabalhos 19 trabalhos

84 tabelas e gráficos. É oportuno enfatizar que, em alguns casos, trabalhos foram classificados em mais de um descritor. Esta decisão gerou, em algumas tabelas, quantitativos que extrapolam o volume de textos que integram o corpus da pesquisa.

No que consiste à segunda etapa da pesquisa, de identificação e análise dos elementos epistemológicos e educacionais que fundamentam os 19 trabalhos selecionados e partindo do pressuposto apresentado no Capítulo 2, de que as concepções epistemológicas e educacionais são indissociáveis e que estas, são em grande medida influenciadas aquelas, foram elaboradas seis pré-categorias, três de natureza epistemológica e três de natureza educacional, de modo a aglutinar em torno destas, os 19 textos que foram enumerados como T1, T2, T3... T19, conforme (Anexo II). As pré-categorias elaboradas são:

1. Visão empirista sobre a ciência: aglutina trabalhos que concebem a atividade

científica, notadamente a observação e experimentação, como fazeres neutros e a- teóricos, independentes das visões e cocepcções dos pesquisadores. O conhecimento é produzido fundamentalmente a partir da experiência sensível, amparado no método indutivo, tomado como infalível, preciso e produtor de verdades inquestionáveis. Exibe uma compreensão acumulativa e linear da produção científica.

2. Visão pós-empirista sobre ciência: aglutina trabalhos amparados em uma

compreensão de ciência como atividade humana, não neutra, situada geo-histórica- social-política e economicamente, influenciando e recebendo influências destes contextos. Realizada coletivamente, portadora de intersubjetividades, sujeita a erros e reconstruções sucessivas, portanto, produtora de verdades históricas, em permanente processo de elaboração e reelaboração. Acolhe a pluralidade de métodos, conforme a especificidade das áreas do conhecimento e seus particulares objetos de investigação;

3. Visão de ciência em transição: aglutina trabalhos que apresentam, simultaneamente,

elementos de uma e outra concepção de ciência, isto é, empirista e pós-empirista;

4. Ensino de Ciências tradicional: reúne trabalhos que desconsideram os conhecimentos

prévios dos estudantes e os concebem como sujeitos a-críticos e passivos no processo de ensino aprendizagem. Compreendem a aprendizagem como transmissão-recepção dos conteúdos, portanto, um EC realizado prioritariamente através de aulas expositivas e disciplinas isoladas. A avaliação é do tipo verificação da aprendizagem. A não aprendizagem sinaliza o não esforço do estudante e, consequentemente, sua exclusão do processo educacional. A relação professor-aluno é vertical, o professor é o detentor

85 do conhecimento. Uma educação meritocrática, de ênfase técnica, voltada para atender as demandas do mercado de trabalho;

5. Ensino de Ciências crítico: aglutina trabalhos que consideram os conhecimentos

prévios dos estudantes e os concebem como sujeitos ativos e críticos no processo de ensino aprendizagem. Concebem a aprendizagem a partir da elaboração e reelaboração conceitual e significativa, realizada a partir da interação com os pares e com o educador. As aulas amparam-se em metodologias dialógicas e interdisciplinares, a partir de diferentes estratégias e recursos didáticos. A relação professor-aluno é horizontal, o professor é o mediador ou orientador do processo. A avaliação é uma reflexão sobre o processo educativo, seus resultados e impacto, dadas as finalidades da educação científica escolar;

6. Ensino de Ciências em transição: aglutina trabalhos que apresentam,

simultaneamente, caraterísticas das duas categorias anteriores, do EC tradicional e crítico.

Por fim, cabe explicitar que a obtenção e análise de dados orientou-se pela metodologia de análise de conteúdo de Bardin (2008;1977), para a qual foram utilizados os textos na íntegra. Para o uso desta metodologia, a autora propõe a identificação, organização e análise dos dados em três etapas: “pré-análise”, “exploração do material” e “tratamento dos resultados, inferência e interpretação”.

A “pré-análise”, corresponde ao contato inicial com os materiais a serem analisados. Para Franco (2008) essa primeira etapa constitui-se em três fases na: “escolha dos documentos”, a “Formulação de Hipóteses” e “A referências aos índices” que subsidiam a interpretação. Ainda para a autora, essas fases que constituem a “pré-análise”, não seguem uma sequência obrigatória, isto é, uma etapa não está subordinada a outra, mas elas estão interligadas. Na primeira fase “escolha dos documentos”, é um momento importante que vai ao encontro da temática pesquisada, pois, é esse conjunto de documentos que serão submetidos a análise. Na segunda fase “Formulação de Hipóteses” é uma suposição ou ideia que o pesquisador elabora frente ao objeto pesquisado, sendo está confirmada ou não, ao final da pesquisa. Na terceira fase “a referências aos índices”, “[...] pode ser a menção explícita de um tema numa mensagem. Se parte do princípio, de que este tema possui tanto mais importância para o locutor, quanto mais frequentemente é repetido [...]” (BARDIN, 1977, p. 100).

86 Nesta fase, a presente pesquisa elegeu os textos a analisar, selecionando-os e aglutinando-os conforme recorte temático e temporal. Da leitura na íntegra destes, foram extraídos os dados priorizados pelas questões de pesquisa, tanto para uma visão panorâmica da produção na área, quanto para a análise específica realizada com o objetivo de explicitar elementos aspectos epistemológicos e educacionais que fundamentam essas pesquisas.

No que tange “a exploração do material”, Bardin (1977) argumenta que é a fase de organização e sistematização dos dados gerados sobre material analisado. Os dados são agrupados, isto é, organizados por categorias, dadas as semelhanças e diferenças identificadas entre os textos analisados. Esta fase orientou-se pelos descritores propostos por Megid Neto (1998) e Delizoicov, Slongo e Lorenzetti (2013), como também, por pré-categorias elaboradas a partir dos fundamentos teóricos eleitos para o estudo.

Quanto ao “o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação”, os dados obtidos são organizados de modo que, estes possam comunicar por si, as informações contidas por meio de tabelas, gráficos, figuras, diagramas, excertos, dentre outros. Para Bardin (1977, p. 101) a fim de, uma maior verificabilidade e “para um maior rigor, estes resultados são submetidos a provas estatísticas, assim como a testes de validação”. Nesta fase ocorre a sistematização dos dados de forma criteriosa, possibilitando ao pesquisador analisar e elaborar inferências sobre os resultados obtidos dos documentos analisados. No caso em tela, os dados gerados foram sistematizados em tabelas, gráficos ou em conjuntos de excertos que possibilitaram inferências e interpretações sobre as características das pesquisas que aborda o EC nos anos iniciais, socializadas no ENPEC no período de (1997-2017). Os dados e respectiva análise estão no próximo capítulo.

87

4. DADOS E INFERÊNCIAS SOBRE A PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIAS NOS