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4. DADOS E INFERÊNCIAS SOBRE A PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIAS NOS

4.2 A CIÊNCIA E O ENSINO DE CIÊNCIAS PRECONIZADOS PELOS TRABALHOS

4.2.1 Principais características da amostra

4.2.2.10 Uma breve síntese

Em um panorama geral buscamos identificar, a partir de uma amostra de 19 trabalhos sobre o EC nos anos iniciais, suas filiações epistemológicas e educacionais. A busca orientou- se por seis pré-categorias previamente definidas: visão empirista sobre a ciência, visão pós- empirista sobre a ciência, visão de ciência em transição, Ensino de Ciências tradicional, Ensino de Ciência crítico e Ensino de Ciências em transição. Os elementos epistemológicos e educacionais foram buscados de forma articulada, especialmente por compartilharmos da compreensão de que concepções epistemológicas e educacionais são indissociáveis.

Os 19 estudos foram aglutinados por Focos temáticos, tendo em vista melhor explicitar seu conteúdo, via problemática de pesquisa, identificando compartilhamentos e singularidades entre os textos. T rab al h os Objeto Evidencias epistemológicas Evidências Educação em Ciências Referenciais Filosofia e História da Ciência Referenciais Educação em Ciências T 15 Entender como as questões sócio- científicas vem sendo abordadas nas pesquisas no EC na interface com o Letramento Científico. -Desconstrução da representação salvacionista, da neutralidade e do progresso cumulativo do conhecimento científico e da ciência.

-Articular na prática o objetivo de formação para cidadania; -Ensino mais significativo para os alunos;

-Apropriar de conhecimentos científicos e desenvolver capacidades e habilidades para lidar com as situações sociais, culturais, políticas e econômicas que envolvem a ciência.

---- -LORENZETTI; DELIZOICOV (2001); -SASSERON (2011); SANTOS; -MORTIMER (2001); CARVALHO; -MARTINS (2009)

119 Observamos que, sem exceção, os estudos tecem críticas à epistemologia empirista- positivista que vigorou desde o Século XVII. Dentre as principais críticas refere-se a compreensão do conhecimento científico dissociado dos contextos históricos, tendo com supremacia um método amparado na observação e experimentação, o conhecimento científico é considerado como algo estático, pronto e acabado perpassando um estereótipo da ciência e de quem a produz, que não condiz com tal atividade. Essas compreensões da Natureza Científica contribuem para a construção de uma imagem distorcida do processo da construção do conhecimento científico que acaba tendo um efeito multiplicador, inclusive por alguns professores dos diferentes segmentos educacionais que possuem uma visão restritas, equivocada e incompleta sobre a ciência.

Aprimorando esta análise, buscamos os referenciais teóricos utilizados pelos estudos e observamos que apenas 7 trabalhos (36,8%) dialogam diretamente com fontes da Filosofia da ciência. Nestes estudos identificamos obras de quatro filósofos citadas: Gaston Bachelard comparece em cinco trabalhos, Alan Chalmers em três, Thomaz Kuhn e Edgar Morin em um trabalho cada. Ou seja, identificamos uma aproximação inicial destes estudos com os referenciais filosóficos.

Observamos que os estudos utilizam com maior frequência referenciais da área da Educação em Ciências que dialogam com obras clássicas da Filosofia da ciência. Da amostra, 12 textos (63,2%) citam 46 autores, entre os quais receberam destaque: Michael Matthews, citado por seis estudos. Os autores mais citados, em no mínimo em três trabalhos foram: Décio Auler e Demétrio Delizoicov, Antonio Cachapuz, Charbel Niño El-Hani, Leonir Lorenzetti e Demétrio Delizoicov, Norman G. Lederman e Wildson Luiz Pereira dos Santos.

De modo geral, os referenciais teóricos educacionais compartilhados entre os trabalhos tecem críticas a um EC que, desconsidera os conhecimentos prévios dos estudantes e os concebem como sujeitos a-críticos e passivos no processo de ensino aprendizagem. Uma educação meritocrática, de ênfase técnica, voltada para atender as demandas do mercado de trabalho.

Os textos são unanimes em preconizarem um EC que promova aprendizagens significativas numa perspectiva interdisciplinar que privilegie a interação entre os pares e com o professor. Que contribua na formação de sujeitos críticos e ativos no processo de ensino aprendizagem, com vista a formação para a cidadania.

120 Quanto aos resultados das pesquisas anunciadas pelos estudos que compuseram a amostra e que analisaram, a partir de diferentes perspectivas e com recortes específicos a natureza da ciência presente na educação científica promovida nos anos iniciais, observamos que em sua grande maioria anunciam uma compreensão de ciência ainda muito restrita, limitada ou equivocada, estando essas próximas do senso comum. Esta realidade ainda presente na educação científica escolar, coloca importantes desafios aos pesquisadores, professores universitário e da educação básica e demanda o desenvolvimento de propostas educacionais que potencializem a alfabetização científica e tecnológica, rompendo com uma compreensão restrita e limitada da ciência. Como bem aponta Slongo; Souza e Bossa (2014), esperasse da educação científica escolar muito mais que a socialização de conceitos, fórmulas ou regras, mas sim, de uma educação problematizadora que ofereça elementos para compreensão e transformação social.

Portanto, embora as pesquisas sobre o EC nos anos iniciais tragam fortemente a marca de uma epistemologia pós-empirista e de uma educação científica crítica, voltada à formação cidadã, esses mesmos estudos identificam em seus particulares recortes da realidade educacional, que ainda está fortemente arraigada uma educação científica para a infância pautada em pressupostos epistemológicos e educacionais acríticos e pouco atuais.

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5. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que fica desse estudo, que se propôs explicitar e analisar algumas características gerais e teórico-metodológicas da produção científica sobre o EC nos anos iniciais, socializada nas últimas duas décadas no ENPEC? A incursão realizada permitiu inferir que a cada edição do evento, este vem se constituindo um espaço de suma importância para consolidação da produção científica na área de Ciências Naturais (Química, Física e Biologia), incluindo a pesquisa sobre o EC nos anos iniciais do ensino fundamental.

O evento vem se tornando um espaço de referência na área para socialização e discussão da pesquisa em Educação em Ciências. Bienalmente o evento vem mostrando a ascensão da área, fenômeno este que está relacionado com a expansão dos programas de pós-graduação sobretudo na área de Ciências da Naturais. Todavia, nos permitiu dizer ainda, a partir dos dados gerados, que há uma escassa produção científica sobre o EC nos anos iniciais em dados comparativos com os demais níveis de ensino, o que representa (328=5,41%) de um corpus de 6.055 trabalhos apresentados nas Atas do ENPEC na modalidade de “Comunicações orais” no período de (1997-2017). Este dado está diretamente relacionado à chegada tardia da educação científica na infância, conforme foi possível argumentar no Capítulo 01.

Embora, haja essa discrepância em relação à pesquisa sobre o EC nos anos iniciais, é possível verificar uma comunidade de pesquisadores em pleno processo de constituição, cujas temáticas de interesse ainda mostram-se pulverizadas.

A partir de um corpus de 328 trabalhos sobre o EC nos anos iniciais socializados no período de (1997-2017), foi realizada uma análise panorâmica buscando identificar os seguintes dados: o quantitativo de estudos produzidos no período, sua origem institucional e geográfica, os sujeitos envolvidos, séries/anos priorizados, conteúdo do currículo escolar, focos temáticos prioritários e pesquisadores envolvidos com a pesquisa nesse segmento escolar.

Com base nos dados gerados foi possível concluir uma concentração de trabalhos oriundos nas regiões Sudeste (51,4%) e Sul (20,0%) do país, com destaque para as instituições de ensino superior a USP (17,6%), UNESP (15,5%) e a Unicamp (9,4%).

Sobre a formação dos pesquisadores com maior volume de trabalho se destaca a área de Ciências Naturais (Física) e Ciências Humanas (Psicologia e Pedagogia). Os sujeitos da pesquisa priorizados foram os estudantes dos anos iniciais (49,6%) e professores (28,8%).