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Quanto ao modo de constituição, distinguem-se o usufruto legal, oriundo de disposição de lei, o usufruto estabelecido por ato jurídico mortis causa (testamento), ou inter vivos (unilateral ou bilateral, gratuito ou oneroso), ou enfim por usucapião.

Pode ocorrer nos casos de convenção ou de ato jurídico unilateral que o proprietário transmita a propriedade, reservando-se o usufruto, ou que transmita o usufruto, reservando-se a nua propriedade, ou, enfim, até que transmita a titulares distintos, no mesmo ato, a nua propriedade e o usufruto de determinado bem.

Tratando-se de direito real, não basta a convenção ou o ato jurídico unilateral para criá-lo, sendo necessário que haja tradição, se o objeto for móvel, ou que conste no Registro de Imóveis, tratando-se de imóvel.

O usufruto legal está sujeito a certas normas especiais que discrepam da regulamentação do usufruto adquirido por ato jurídico ou por usucapião. O caso típico de usufruto legal é o dos pais sobre os bens dos filhos menores. Esse usufruto tem objetivo especial a preservação dos bens e interesses econômicos da prole, e não o desfrute dos benefícios da propriedade pelos pais, daí porque o legislador de um lado torna mais rigoroso o regime, mas de outro viu-se na contingência de permitir judicialmente, ouvido o Ministério Público, a alienação de bens ou sua oneração no interesse dos menores em caso de “rigorosa necessidade”, como por exemplo, pontua Madaleno (2020 p. 930), em caso de cirurgia. De qualquer forma, segundo o mesmo autor, são excluídos do usufruto familiar os bens adquiridos por filho fora do casamento, antes do reconhecimento; os valores auferidos por filho maior de dezesseis anos no exercício de atividade profissional e os bens adquiridos

com os rendimentos decorrentes; os bens deixados aos filhos com condição de não serem administrados ou usufruídos pelos pais; bens que couberem na herança com quando forem estes excluídos da herança (2020 p. 930).

Outro caso, era o chamado usufruto vidual, cabível ao cônjuge supérstite no caso do § 1º do art. 1.016 do Código Civil anterior, consistente direito que se dava ao cônjuge viúvo, se o regime de bens não era o da comunhão universal, enquanto durasse a viuvez, ao usufruto da quarta parte dos bens do cônjuge falecido, se houvesse filhos, ou à metade, se não os houvesse. Esse regime não foi reproduzido no atual diploma civil.

Nessa modalidade de usufruto legal, também havia uma outra modalidade autorizada pela lei denominado usufruto de empresa ou estabelecimento, que nascia de um decreto judicial e processo de execução. Antigamente, o juiz da execução poderia conceder ao credor exequente o usufruto de uma empresa ou estabelecimento empresarial, quando percebesse que essa situação seria menos gravosa ao devedor executado e mais eficiente ao recebimento do crédito. Esse direito foi extinto com a entrada em vigor no Código de Processo Civil de 2015, que não mais o previa.

Na verdade, há atualmente, outras três modalidades de usufruto legal, a do usufruto do cônjuge administrador sob os bens particulares do outro, se comuns os rendimentos (artigo 1.652, I, do CC); aquele em que se converte o direito do fiduciário por imposição da lei, nos casos em que, ao tempo da morte do testador, o fideicomissário já hovuer nascido (art. 1.952, par. único, do CC); e, o usufruto em favor dos índios sobre as terras em que ocupam (art. 231, § 2.º da Constituição da República) .

No tocante ao usufruto por usucapião do mesmo modo que a propriedade, podendo o usucapião ser ordinário ou extraordinário, seja de imóvel ou móvel, conforme prazos legais aplicáveis.

Pontes de Miranda (2015, p. 114), isoladamente, entendia “ser impossível no direito brasileiro a constituição de usufruto por meio de usucapião, por ausência de previsão legal”, criticando julgados que o admitiam. A questão foi superada com o art. 1.391 do Código Civil estabelecendo-o expressamente19.

A doutrina questiona a pouca utilidade prática desse fato, indagando-se que, nessa situação seria melhor ao usacapiendo pedir a propriedade do bem . Faz sentido, mas nem sempre . Com efeito, a título de exemplo, podemos imaginar a situação de uma mãe que seja titular de usufruto não celebrado por contrato, que lhe fora cedido por um dos filhos . Esse filho, nu-proprietário do bem, após mais de década vem a falecer. Vê-se a mãe instada a regularizar a situação diante da inesperada oposição de um dos netos, herdeiros do falecido, à permanência dela no bem. Como defesa, ela poderia, num quadro imaginado pelos comentadores do instituto, pela soma do tempo , requerer o usucapião da propriedade, mas se o fizer, os efeitos sucessórios, no caso de seu passamento futuro, levará o bem aos demais irmãos do seu filho falecido, diminuindo a parte que verdadeiramente caberia aos netos descendentes do filho pré-falecido. Todavia, se ela pleitear apenas o usucapião do usufruto, com sua morte, a propriedade integral do bem irá apenas para os netos descendentes do pré-falecido que instituíra o usufruto sem ter observado na época maiores formalidades.

O usufruto extingue-se com a renúncia ou morte do usufrutuário (inciso I do artigo 1.401 do Código Civil). É causa de extinção também o termo de sua duração, se tiver sido fixado (inciso II), observando-se que se ele tiver sido constituído a favor de pessoa jurídica, pela sua extinção ou pelo decurso do prazo de trinta anos, limite máximo legal segundo a doutrina para pessoa jurídica (TARTUCE, 2019, p. 326; GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2109, p. 285, entre outros) (inciso III). . Tal medida visa a evitar a perpetuação de usufruto, que viria tirar certos bens de circulação.

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Art. 1.391. O usufruto de imóveis, quando não resulte de usucapião, constituir-se-á mediante registro no Cartório de Registro de Imóveis

A cessação do motivo que se origina (inciso IV), assim entendido “motivo” como o fundamento ou sua causa, no sentido amplo, isto é. a razão que lhe deu origem (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2109, p. 286).

A extinção do vínculo dá-se também pela destruição da coisa (inciso V) , observando-se, segundo Paulo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, loc. cit.) :

Operada a destruição da coisa, desaparece o objeto do usufruto, que acaba por extinguir-se. Imagine, a título de exemplo, um incêndio determinado por causas fortuitas, e que culminasse por reduzir a coisa usufruída a cinzas. Vale observar, entretanto, que o próprio Código cuida de estabelecer ressalvas: tendo havido o pagamento de indenização, correspondente ao ressarcimento pela perda ou danificação da coisa, a sub-rogação no ônus do usufruto, em lugar da coisa perdida. Nesse sentido, confiram-se os comentários aos arts. 1.407, segunda parte, e 1.409.

O diploma civil estabelece a consolidação, como causa de extinção do referido direito real, Nas palavras de Maria Helena Diniz (DINIZ, 2005, p. 213) :

Ocorre quando numa mesma pessoa concentram-se as qualidades de usufrutuário e nu-proprietário, adquirindo a propriedade sua plenitude. Dá-se, p. ex., quando o usufrutuário consegue a aquisição do domínio do bem, por ato inter vivos ou mortis causa . Extinguindo- se, então, o usufruto, que é direito real sobre coisa alheia, pois ninguém pode ter usufruto sobre bem próprio

Ademais, cessa-o se ocorrer decisão judicial reconhecendo a sua culpa e dando por extinto o usufruto, quando ele aliena, deteriora, ou deixa arruinar os bens, não dando os devidos reparos de conservação, no usufruto de títulos de crédito, não dá às importâncias recebidas a aplicação prevista no parágrafo único do art. 1.395 (inciso VII)

Extingue-se também o usufruto pelo não uso ou não fruição, quando o seu titular deixa de exercer o direito real (inciso VIII).

Como consequência da extinção do usufruto, desaparecem todos os direitos de terceiros originados de atos do usufrutuário, por exemplo, o arrendamento por ele feito a outrem, mesmo que tenha sido por prazo certo ainda não vencido, pois ninguém pode transmitir mais direitos do que tem, e a resolução do direito principal implica a extinção dos direitos derivados e decorrentes.

Havendo culpa do usufrutuário, que deixa o bem deteriorar-se ou arruinar-se, deve haver ação para que em sentença judicial se re- conheça a existência de infração, extinguindo em consequência o usufruto. No caso de renúncia, ela deve ser expressa, sendo necessário que conste no Registro de Imóveis para valer contra terceiros. No caso de destruição total do bem usufruído, é possível sub-rogar-se o usufrutuário no direito que o nu-proprietário tenha contra o segurador. Discute-se sobre a existência de sub-rogação do usufrutuário em relação à indenização paga pelo poder público, em caso de desapropriação ou pelo causador do dano, quando por culpa deste perecer o objeto usufruído.

Se o usufruto é por tempo determinado e o usufrutuário falece antes de decorrido o prazo estabelecido, a nosso ver, atendendo ao caráter personalíssimo do usufruto, alegam que o falecimento do beneficiário é sempre causa de extinção, qualquer que seja o prazo estabelecido na constituição do usufruto.

O usufruto constituído em favor de pessoa jurídica extingue-se com o desaparecimento ou dissolução da beneficiária, ou aos trinta anos da data em que se começou a exercer (inciso III do art. 1.410 do Código Civil).

Constituídos em favor de mais de uma pessoa, extinguir-se-á o quinhão de cada um dos beneficiários com o falecimento, consolidando-se na mesma proporção a propriedade plena do proprietário, salvo se por estipulação expressa o quinhão passar aos usufrutuários sobreviventes, tendo sido estabelecido por ocasião da constituição do usufruto o direito de acrescer entre os diversos usufrutuários.

A extinção do usufruto é feita a requerimento do interessado, devendo ser julgada pelo juízo do inventário do testador, ou do domicílio do doador, conforme tenha sua origem num ato mortis causa ou inter vivos (artigos 1.113 e seguintes do Código de Processo Civil).

Isto posto, passaremos ao próximo capítulo.

4 DAS COMPANHIAS E DAS SUAS AÇÕES