• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 – A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL EM IES

1.3 A HISTÓRIA DA AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NAS IES NO BRASIL

1.3.3 A construção da agenda – anos

13 A Declaração de Bolonha (19 de junho de 1999) reconhece a importância da educação para o desenvolvimento

sustentável de sociedades tolerantes e democráticas. Esse processo é uma metapolítica pública, de um meta- estado, iniciada em 1999, de construção de um espaço de educação superior na Europa, até o ano 2010, cujo objetivo essencial é o ganho de competitividade do Sistema Europeu de Ensino Superior frente a países e blocos econômicos.

Apenas no início da década de 1980, com o crescimento das matrículas ocorrido no período anterior, surgiu uma preocupação no sentido de desenvolver um sistema de avaliação para a graduação; o Conselho Federal de Educação chegou a organizar um seminário a esse respeito. (PAUL, RIBEIRO, PILATTI, 1992, p.142).

Belloni et al. (2010, p. 88) relatam que, no início da década de 80, em uma conjuntura de crítica às instituições públicas as quais representavam uma condução política autoritária e decadente, e, por outro lado, de resistência daqueles que lutavam para o processo de redemocratização, surgem as discussões sobre a “avaliação” das instituições públicas, principalmente das universidades, como forma de possibilitar o resgate e a credibilidade dessas instâncias de poder. Ou seja, a avaliação surge, de um lado, decorrente de um caráter estrutural e estrategicamente utilizado pelos setores interessados na redemocratização do país – pois as universidades, enquanto instituições públicas deviam ser avaliadas como forma de prestação de contas à sociedade acerca dos recursos públicos utilizados; por outro, decorrente do próprio momento, a avaliação surge como uma resposta às críticas feitas à universidade pública na tentativa de se reverter o quadro nitidamente favorável à sua privatização.

Nesse contexto, o debate sobre avaliação institucional foi ampliado. A discussão do que e do como avaliar as universidades brasileiras é tão importante quanto o destino que se vai dar aos resultados desse processo. Tal preocupação, considerando as normais tensões entre Estado e universidade, não deixaram de ser levadas em conta pela Associação Nacional de Docentes -- ANDES, ao propor, mediante estudos específicos, a Avaliação Institucional, já em 1982.

A mesma preocupação com a avaliação motivou o Ministério de Educação a instituir o Programa de Avaliação da Reforma Universitária -- PARU em 1983, que se estendeu até 1986. Leite, Tutikian e Holz (2000. p. 32) consideram que esse programa não teve uma maior expressão política, todavia Almeida Júnior (2004, p. 83) afirma que ele pode ser considerado a primeira experiência sistematizada de avaliação das IES.

Como consequência do PARU, conforme Leite, Tutikian e Holz (2000. p. 32), o Ministério criou, ainda em 1986, um Grupo Executivo para a Reformulação do Ensino Superior -- GERES, o qual gerou um relatório com propostas como ranquear e distinguir as instituições quanto às funções realizadas. Esse posicionamento do projeto GERES desencadeia um amplo debate nacional sobre avaliação. (LEITE, TUTIKIAN e HOLZ, 2000, p. 32). Almeida Júnior (2004) descreve que, no mesmo período em que o GERES apresenta seu Programa de Reformulação do Ensino Superior, a Associação Nacional de Docentes -- ANDES e o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras -- CRUB enviaram ao MEC

projetos substitutivos. O que trouxe a público as divergências entre esses segmentos, demarcando a existência de "[...] três posições: a do Governo, a dos Reitores e a dos Docentes." (ALMEIDA JÚNIOR, 2004, p. 88).

As propostas do GERES, mesmo não sendo executadas de imediato, foram importantes e promoveram marcas na história da avaliação das IES, pois, em diálogo com interesses de classes dominantes, passam a ser aplicadas gradativamente, como explica Almeida Júnior (2004, p. 86). Na análise desse pesquisador, o relatório do GERES antecipa aspectos efetivados por meio do Exame Nacional de Cursos, implementado a partir de 1995, o conhecido "Provão". Almeida Júnior (2004) aponta, também, a convergência entre o debate sobre os recursos utilizados pelas IES públicas e as políticas restritivas desenvolvidas pelo Estado, a partir dos anos de 1980. E analisa que a qualidade sugerida para todas as IES, de qualquer natureza, direciona-se, na verdade, para a questão da expansão desordenada da educação superior que se estabelece a partir dos anos de 1980. Explicita a articulação entre avaliação, qualidade e acesso:

[...] ao mesmo tempo em que as políticas governamentais formulam ações para a "abertura" do sistema (diversificação e diferenciação), criam mecanismos de controle para o seu crescimento. Na educação superior brasileira, esses mecanismos de controle são comumente chamados de "avaliação de qualidade", quando na realidade se assemelham mais com o tipo de "controle de mercado" aos moldes de uma visão empresarial. (ALMEIDA JÚNIOR, 2004, p. 88).

No final da década de 80, o Ministério de Educação promove um debate amplo da avaliação, com apoio do British Council, através do seminário Institucional Evaluation in

Higher Education, realizado em Brasília (LEITE, TUTIKIAN e HOLZ, 2000. p. 32),

refletindo o momento internacional, como a avaliação se insere na concepção do Estado Avaliativo (tentativa do projeto GERES) e objetiva a análise das instituições como um todo. Neste momento, algumas universidades brasileiras, de forma isolada, iniciam o processo de implantação da avaliação. (USP, UnB, UNICAMP, por exemplo). (LEITE, 1997, p. 129).

Sobre os anos 80, Ristoff (2011, p. 37) comenta que, embora o movimento docente representado pela ANDES levantasse a questão da avaliação institucional nas universidades brasileiras desde 1982, embora nessa década tenha havido muita discussão sobre o tema e até reuniões internacionais patrocinadas pelo MEC, pouco resultado se viu, em termos práticos, para as pessoas envolvidas com os afazeres diários da vida acadêmica.

Depois, ainda no final dessa década, em 1988, em meio a frequentes críticas, na mídia impressa e eletrônica, às universidades e ao sistema de ensino superior, especialmente o público, entre as matérias que causa mais impacto, figurou a lista dos professores

improdutivos (LEITE, TUTIKIAN e HOLZ, 2000. p. 32) do Goldemberg. Sobre esse fato, descreve (RISTOFF, 2011, p. 37):

[...] e a confusão foi completa, pois a avaliação passou a ser associada à execração pública e tornou-se por algum tempo um tabu, um assunto politicamente, pelo menos, proibido. Talvez os tempos não estivessem maduros para o projeto; talvez uma sensibilidade mais aguçada de nossas autoridades pudesse ter apressado as coisas. [...]