“A intencionalidade do/a educador/a, que caracteriza a sua intervenção profissional, exige-lhe que reflita sobre as conceções e valores subjacentes às finalidades da sua prática: papel profissional, imagem de criança, o que valoriza no que as crianças sabem e fazem e no modo como aprendem. Esta intencionalidade permite-lhe atribuir sentido à sua ação, ter um propósito, saber o porquê do que faz e o que pretende alcançar.”
(Silva, Marques, Mata & Rosa, 2016, p.13)
Partindo da premissa supracitada, apresentada nas OCEPE (2016), importa neste capítulo final do relatório da PPS, apresentar aqueles que considero serem os traços caraterísticos da minha prática profissional, dadas todas as aprendizagens realizadas no decorrer de todo este percurso enquanto estudante, principalmente no que é relativo às aprendizagens realizadas nos dois estágios do Mestrado em Educação Pré-Escolar, tanto em contexto de creche como em contexto de JI. Neste sentido, neste capítulo apresentam-se aqueles que considero terem sido os aspetos em que identifico
a minha identidade profissional.
Desde o nascimento que a criança necessita de atenção, de carinho e afeto para que, harmoniosamente, possa crescer e desenvolver-se, num processo de socialização. Em ambos os estágios realizados foi possível uma consciencialização direta de que é na creche e no jardim de infância que a criança passa grande parte do seu dia nos primeiros anos da sua vida, anos esses primordiais no seu crescimento e desenvolvimento, pelo que é fundamental reconhecer a importância do papel do educador na vida da criança.
Assim, considero fundamental começar por referir a importância de uma ação pedagógica carregada de intencionalidade e enquanto responsabilidade. De forma a concretizar esta ideia, privilegiei uma prática adaptada a cada criança, a cada grupo, de forma a favorecer aprendizagens, a proporcionar desafios e a criar contextos significativos e estimulantes.
Neste sentido, apresento aquelas que considero terem sido as principais linhas orientadoras que defendi durante a PPS e que, considero, virem a ser as mesmas que conduzirão a minha futura prática profissional, sendo eles: equidade/inclusão;; trabalho cooperativo;; afetividade.
“O acesso à educação é também um direito de todas as crianças, especificando-se que essa educação tem como base uma igualdade de oportunidades (Convenção dos Direitos da Criança, 1989, art.º 28 e 29).” (Silva, Marques, Mata & Rosa, 2016, p.9)
Ciente de que a educação é um direito da criança, bem como a igualdade de oportunidades, apresento como primeiro aspeto presente na minha ação pedagógica, uma prática que fosse ao encontro de valores como equidade e inclusão.
Assim, e de acordo com o guia da UNESCO (2017), refiro que “inclusion and equity are overarching principles that should guide all educational policies, plans and practices, rather than being the focus of a separate policy. These principles recognize that education is a human right and is the foundation for more equitable, inclusive and cohesive communities (Vitello and Mithaug, 1998)” (p.18). Esta equidade e inclusão está presente em práticas que possibilitem uma educação de qualidade que transmita conhecimentos, que valorizem a diversidade e as diferenças com respeito pela dignidade humana, consistindo-se num contexto de transmissão e partilha das realidades de cada um como um contributo fulcral para uma sociedade mais justa (UNESCO, 2017).
Considero que a minha prática foi caraterizada pela valorização de cada criança enquanto indivíduo. Cada criança é diferente, possui diferentes formas de pensar e de agir e essa diferença, constitui-se como uma riqueza de aprendizagens para todos. Neste sentido, valorizando essas diferenças, importa na ação do educador, possibilitar uma igual oportunidade de acessos ao mesmo, ainda que para isso, o caminho que cada um tenha de fazer seja distinto. Desta forma, alterando o que for necessário, o que importa é dar resposta à diversidade de crianças, compreendendo e respeitando as suas caraterísticas individuais e visando o objetivo de promover o seu crescimento, a sua satisfação pessoal e a sua inserção social (Correia, 2008). Seguidamente, apresento um excerto de uma reflexão semanal realizada durante o estágio de JI, que ilustra a minha constante reflexão sobre esta prática valorizadora de cada criança.
“Todos os grupos se caraterizam por uma heterogeneidade interna derivada de muitos fatores – género, idade, percurso institucional, entre outros (Ferreira, 2004). Pelo que, neste estágio, o desafio tem sido conhecer e compreender de que forma esta diversidade das crianças deste grupo é uma questão tão significativa na planificação de atividades, no que é referente às
propostas e à organização do grupo ou grupos, de forma a respeitar e atender às necessidades de cada um. Considerando esta heterogeneidade, cabe ao educador procurar conhecer as caraterísticas gerais da faixa etária, mas, acima de tudo, conhecer cada criança na sua individualidade para conseguir adequar as suas praticas e assim organizar o processo de aprendizagem (Cardona, 1992, p.132).”
(excerto da reflexão semanal nº6, 6 a 10 de novembro de 2017)
O segundo aspeto que considero ter sido caraterístico da minha ação pedagógica está relacionado com o trabalho cooperativo entre equipa de sala, como modelo para as crianças.
Roldão (2007) apresenta-nos a ideia de que o trabalho colaborativo “estrutura- se essencialmente como um processo de trabalho articulado e pensado em conjunto, que permite alcançar melhor os resultados visados, com base no enriquecimento trazido pela interacção dinâmica de vários saberes específicos e de vários processos cognitivos em colaboração” (p.27). Neste sentido, durante os tempos de prática, privilegiei um efetivo trabalho colaborativo nas regulares conversas em equipa, no diálogo e na reflexão em conjunto (Lima & Fialho, 2015), algo que pretendo continuar a privilegiar no meu futuro profissional.
“considero que este permanente trabalho em equipa se torna mais facilitado também devido ao facto de as relações estabelecidas entre todos os elementos serem muito positivas e propícias à criação destas boas práticas pedagógicas reflexivas e debatidas. Considero, também, que estas boas relações propiciam um ambiente educativo de sala harmonioso e saudável que desempenha um importante papel na promoção dessas relações entre as crianças e entre as crianças e os adultos, constituindo-se assim em modelos de relação social positivos para as crianças.”
(excerto da reflexão semanal nº8, 27 a 30 de novembro de 2017)
Assim sendo, “este trabalho [em equipa] é indispensável para desenvolver uma ação articulada, que se integra na dinâmica global do grupo e no trabalho que se está a realizar” (Silva, Marques, Mata & Rosa, 2016, p. 29).
“Toda a aprendizagem, mesmo a dos limites e da organização, começa com o carinho, a partir do qual as crianças aprendem a confiar, a sentir calor
humano, intimidade, empatia e afeição pelas pessoas que a rodeiam” (Brazelton & Greenspan, 2009, p.188)
Por fim, o último aspeto que considero ter sido condutor da minha prática tanto em creche como em JI, é a valorização de uma relação afetiva com as crianças, de uma prática pedagógica caraterizada pela afetividade.
Para tal, ao longo do tempo em que estive com os dois grupos que acompanhei, esta foi uma prática recorrente em que, considero que a vinculação estabelecida entre mim e as crianças foi evidente e fundamental enquanto relação emocional profunda e duradoura, ou seja, enquanto ligação afetiva com dependência das duas partes, sendo esta prolongada temporalmente (Bowlby, 1969), promovendo, assim, a confiança condicionante ao comportamento, motivação e aprendizagens das crianças.
Aliada a esta prática afetiva, considero que promovi uma prática de educuidar (Dias, 2012), ou seja, que alia e não separa o “educar” do “cuidar”. Para que se assegure na prática pedagógica que o cuidar e o educar sejam, de facto, considerados como indissociáveis, torna-se evidente a importância da reflexão profunda sobre a prática e o trabalho cooperativo entre profissionais e entre profissionais e as famílias, de modo a que “a educação e os cuidados aconteçam de forma integrada, de modo a responder às necessidades de cada criança, promovendo dessa forma um desenvolvimento o mais harmonioso possível” (Padilha & Moretti, 2015, p. 9).
Após a apresentação daquelas que considero terem sido as linhas orientadoras da minha prática pedagógica, apresento agora as aprendizagens feitas relativas à avaliação em Pré-Escolar.
A avaliação constitui-se, formalmente, como um aspeto essencial enquanto regulador da ação pedagógica de um educador (Silva, Marques, Mata & Rosa, 2016). Segundo Mendes (2005), a avaliação não é um “processo de distinção entre bons e maus” (p.5), mas sim um processo de comunicação facilitador da construção de conhecimentos.
Neste sentido, a utilização de um portfólio, enquanto técnica e instrumento para avaliar uma criança individualmente, consiste numa “resposta educacional ao desafio de aperfeiçoamento de procedimentos de avaliação alternativa” (Parente, 2004, p.53). No âmbito e no decorrer dos estágios, em cada um deles, foi solicitada a criação de um portfólio de uma criança5 enquanto “coleção de itens que revela, conforme o tempo
5 cf. Anexo I
passa, os diferentes aspectos de crescimento e do desenvolvimento de cada criança” (Shores & Grace citados por Gaspar, 2010, p.86). A construção dos portfólios foi uma tarefa complexa, mas que, se constituiu como um processo de aprendizagem, enquanto futura educadora e que me permitiu praticar a capacidade de observação e seleção da informação pertinente, encarando sempre a avaliação de processos e não de resultados (Gaspar & Silva, 2010).
Também a construção de um portfólio individual, tanto de creche como de JI, tiveram um contributo importante na minha construção profissional, nomeadamente na aquisição de hábitos de observação e registo, bem como de reflexão constante e uma autoavaliação para a prática. Estes instrumentos, permitiram-me, ainda, um enorme aprofundamento teórico, no decorrer do estágio, sobre diversas temáticas que foram surgindo da prática, tais como: a autonomia das crianças;; a importância do espaço exterior;; a relação escolha-família;; a importância do trabalho de equipa;; aspetos caraterísticos do modelo curricular High/Scope, como o tempo de planear/fazer/rever ou o quadro das mensagens;; a importância do brincar;; entre outros.
Em suma, considero que ambos os estágios tiveram, um enorme contributo na construção da minha profissionalidade, considerando que esta consiste no conjunto de atributos que permitem distinguir uma profissão de outros tipos de atividades, igualmente relevantes e valiosas (Roldão, 2005), já que encaro a profissionalidade enquanto identidade profissional, que se vai construindo ao longo do tempo e com a prática e experiências vividas. Assim sendo, considero que na construção da minha profissionalidade me revejo enquanto futura educadora de infância observadora e reflexiva, valorizadora de todo o contexto socioeducativo, bem como de todos os agentes educativos e, acima de tudo, com intencionalidade pedagógica na plenitude da ação educativa.