3. INVESTIGAÇÃO EM JARDIM DE INFÂNCIA 27
3.3. Quadro metodológico e roteiro ético 32
A presente investigação insere-se numa perspetiva de metodologia de estudo de caso que é definido por Yin (1994) como “um inquérito empírico que investiga um fenómeno contemporâneo dentro do seu conceito de vida real, especialmente quando as fronteiras entre o fenómeno e contextos não são claramente evidentes” (p.24), pelo que procurei realizar uma pesquisa mais concreta, mais contextualizada e mais voltada para a interpretação do leitor (Stake citado por André, 2013).
No que concerne à natureza da investigação, posso referir que a opção foi de natureza qualitativa, por considerar que assim se possibilita e se promove “a recolha da voz das crianças, isto é, a expressão da sua ação e da respetiva monitorização reflexiva” (Sarmento, citado por Tomás, 2011, p. 140). Não obstante, e considerando os objetivos delineados, na fase de análise, combinaram-se dados qualitativos e quantitativos.
O grupo-alvo da investigação consiste em 15 das 16 crianças que totalizam o grupo acompanhado, uma vez que uma das crianças nunca participava nos momentos de “Planear/Fazer/Rever”, dado o horário em que costumava frequentar a escola.
Os dados foram recolhidos durante um período de nove semanas (de 30 de outubro de 2017 a 18 de janeiro de 2018), nos momentos de planear/fazer/rever, apenas durante o período da manhã, pelo que não foram, assim, analisados os tempos de escolha livre no exterior ou da parte da tarde. É de destacar, ainda neste âmbito, que embora, intencionalmente dirigido à investigação, tenham sido recolhidos dados durante um período de 9 semanas, na fase de análise da informação, considerando-se também os registos realizados desde o início da PPS, uma vez que, ao constatar a abundância e riqueza de informação contida nesses registos, considerei que estes seriam uma mais- valia e confeririam uma maior solidez ao estudo.
Neste processo investigativo, recorri, maioritariamente, à técnica de observação participante, “realizada em contacto direto, frequente e prolongado” (Correia, 2009, p.31) e possibilitando a minha participação ativa no mesmo. Todavia, recorri, também à consulta documental, nomeadamente do Projeto Curricular de Sala e das fichas de informação de cada criança, como forma de reunir dados necessários e pertinentes à presente investigação, nomeadamente no que é relativo ao reconhecimento mais pormenorizado do contexto.
Os instrumentos de recolha de dados utilizados foram variados, sendo o primeiro a referir o de registos realizados no decorrer de toda a PPS (cf. Anexo F). Nestes, estão presentes vários registos que tiveram como base a intenção de aceder ao pensamento e à motivação da criança na escolha de cada área, de cada brincadeira. Para tal, foram construídas tabelas que contemplam notas de campo sobre as situações vividas e observadas e registos escritos dos diálogos tidos com as crianças desde o início da PPS até ao final da mesma, de forma a ir ao encontro da intenção supracitada de “recolher a voz das crianças” (Sarmento, citado por Tomás, 2011, p. 140). Desta forma, possibilitou- se uma posterior análise e reflexão sobre esses momentos, de forma a que as informações não fossem perdidas ou esquecidas. Estes registos foram realizados sempre que possível durante o período de “planear/fazer/rever”, sendo de destacar que, na sua maioria, incidiu sobre o tempo de planear.
Em paralelo à realização destes registos, foram construídas, ainda, tabelas de registo de frequência das áreas por parte das crianças. Estas tabelas foram criadas de forma a que se registasse a frequência com que cada área era frequentada, de forma a possibilitar a articulação da informação obtida através destes dados com os dados obtidos através dos registos realizados. Assim sendo, a cada dia, estes dias foram
inscritos numa tabela semanal, sendo posteriormente realizado um gráfico relativo à frequência com que cada área era escolhida semanalmente.
Por fim, foram realizados, também, testes sociométricos, sendo estes relativos à análise das relações entre pares (Northway & Weld, 1976). Uma vez que os dados recolhidos foram sendo analisados e refletidos ao longo da realização desta investigação, a verificação da influência das relações sociais na escolha das crianças foi um aspeto de destaque desde o início. Pelo que, a realização destes testes surgiu como forma de possibilitar uma análise do cruzamento dos dados obtidos através dos registos de observação e de diálogo com as crianças, com os dados obtidos na realização destes testes que “avaliam” as relações sociais entre as crianças no que é relativo aos momentos de brincadeira.
Assim, realço que para a análise dos dados recolhidos, de acordo com os instrumentos utilizados, se pretende uma triangulação dos dados relativos aos registos de frequência em cada área, com os registos de observação sobre os momentos de planear, de fazer e de rever, incluindo registo sobre o que é dito pelas crianças e, ainda, com a análise dos testes sociométricos relativos às relações sociais entre pares.
Para terminar, importa destacar que o cuidado na realização de uma investigação é algo fundamental, que deve respeitar todos os implicados na mesma. Desta forma, apresento um roteiro ético de orientação para a minha prática e para a investigação, baseado na Carta de Princípios para a Ética Profissional (APEI, 2012) e nos dez “princípios éticos e deontológicos no trabalho de investigação com crianças” (Tomás, 2011). Enunciam-se, assim, seguidamente os princípios que delinearam o roteiro ético da investigação, no âmbito da PPS.
Em primeiro lugar e por considerar este um princípio transversal a todos os outros, o primeiro princípio considerado foi respeitar cada criança, as famílias e os colegas de profissão (APEI, 2012). Nesta investigação, privilegiei o respeito por todos, evidenciando-se esse respeito na explicitação do modo como pretendo que os restantes princípios enunciados sejam postos em prática. No entanto, destaco as intenções de explicitação dos objetivos de trabalho a cada um dos grupos implicados na realização deste trabalho: à equipa de sala, através de conversas informais;; às crianças, na própria prática educativa caraterizada pela tomada de uma atitude para com as mesmas que evidencie também os objetivos do trabalho;; por fim, às famílias, para além da explicitação formal (por escrito) dos objetivos do trabalho, também o pedido do seu consentimento para a realização da presente investigação. Importa, apenas, destacar
que, por recomendação da coordenação pedagógica, a explicitação às famílias não foi possível de realizar, nem formal nem informalmente.
O segundo princípio é referente ao respeito pela privacidade e confidencialidade (Tomás, 2011). Neste sentido, pretendi garantir o sigilo profissional, respeitando a privacidade de cada criança e de cada família (APEI, 2012). A confidencialidade dos dados é assegurada através da utilização de nomes fictícios e da não identificação de nenhuma criança em registos fotográficos, já que, tal como Parente (2012) afirma, “é importante assegurar que o sistema de registo das observações e escuta da criança selecionado respeite a ética e assegure a confidencialidade das crianças e das famílias” (p.16).
Em último lugar, foram aliados dois princípios: uso e relato de conclusões (Tomás, 2011) e na equipa de trabalho, contribuir para o debate, a inovação e a procura de práticas de qualidade (APEI, 2012). Neste sentido, pretendi que os diálogos e debates com a equipa educativa da sala fossem frequentes ao longo de todo o processo de investigação, principalmente relativamente ao modo de organização de determinados momentos ou atividades e materiais.