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Capítulo 3: METODOLOGIA

3.2. Construção dos dados

Os dados analisados nesta pesquisa fazem parte do Banco de Dados do Núcleo de Pesquisa em Argumentação, NupArg, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva da UFPE, coordenado por Selma Leitão. Esses dados foram gentilmente cedidos por Sylvia Regina De Chiaro Rodrigues (2006) e por ela registrados em videogravações durante suas pesquisas realizadas no doutorado sobre argumentação e metacognição, ou seja, o desenvolvimento da auto-regulação do pensamento a partir de situações de argumentação em sala de aula.

Os participantes eram alunos, na faixa etária de onze anos, da quinta série (atual 6º ano do Ensino Fundamental II) de uma escola particular do Recife, em aulas de História. A investigação foi realizada a partir da videogravação das aulas relativas a uma das unidades do planejamento anual, a Pré-História. Esta unidade foi trabalhada em nove aulas de cinqüenta minutos, todas videogravadas e a escolha pela mesma deveu-se unicamente ao ajuste dos calendários da pesquisadora (Rodrigues, 2006) e da professora. Rodrigues esteve presente em sala de aula apenas como observadora, manejando a câmara de vídeo. Sua participação fora de sala de aula ocorreu de duas formas: 1) em entrevistas com a direção da escola, com a coordenação e com a

professora para negociações a respeito da realização da pesquisa (turma, horário, pedido de autorização dos pais e responsáveis etc.) e 2) na elaboração de um formato de atividade a ser manejada pela professora em uma das aulas da unidade, visando à emergência de uma situação de argumentação.

Em relação ao planejamento das aulas, apenas uma delas foi pré-estruturada por Rodrigues. Essa atividade foi construída depois de entrevista com a professora, sendo possível checar os conteúdos que a mesma iria abordar em cada uma das aulas. Assim, a atividade versou sobre o conteúdo a ser trabalhado na primeira aula, já que a professora concordou com a pesquisadora de que seria interessante iniciar o tema a partir das opiniões e questionamentos dos próprios alunos, antes que os mesmos tivessem um maior contato com o material didático.

O conteúdo inicial trabalhado na atividade proposta foi então “o surgimento do Mundo e do Homem na Terra” (Unidade Pré-História) e a atividade elaborada por Rodrigues caracterizava-se pela distribuição de duas cartelas (vide anexos), uma contendo em cada lado uma Teoria, a “Criacionista” (“Adão e Eva”) e a “Evolucionista” (“Teoria da Evolução”), e outra contendo a palavra “Em dúvida”. Os alunos, depois de solicitados a lerem um trecho da Bíblia e comentarem sobre as duas teorias presentes no livro didático eram então convidados a escolher uma das cartelas, posicionando-a em sua frente a cartela escolhida, bem como, justificando sua escolha. A atividade elaborada foi inicialmente composta de três partes: uma em que se pedia que os alunos, em um primeiro momento, justificassem as suas escolhas, inclusive aqueles que tinham optado pela cartela “em dúvida”; em um segundo momento os alunos teriam que convencer os colegas a aceitar sua posição, e por último, ao final da aula, deveriam chegar a um consenso. No entanto, a professora na realização da atividade, apenas pediu

que os alunos se posicionassem, justificando a escolha de suas cartelas (“Adão e Eva”; “Teoria da Evolução” ou “Em dúvida”).

De forma geral, o objetivo que se quis alcançar com essa atividade proposta, foi que a mesma facilitasse a emergência de uma situação de argumentação, dificultando que os alunos se limitassem a ir buscar as respostas no livro, como é comumente observado na realização de exercícios em sala de aula, facilitando assim a instauração de um ambiente propício para o desenvolvimento da argumentação. Apesar da professora não ter seguido todas as instruções propostas por Rodrigues (2006), restringindo-se a pedir aos alunos que apenas se posicionassem, a situação de argumentação emergiu sem dificuldades, na medida em que os alunos foram se posicionando, buscando apoio à própria posição ou discordando da posição dos colegas. As transcrições utilizadas neste trabalho foram às realizadas por Rodrigues (2006), nas quais os nomes foram alterados, mas as falas foram mantidas em sua integridade, sendo a elas apenas adicionadas algumas notações não-verbais (pontuação). Três das nove fitas da unidade em observação foram transcritas, duas relativas à realização da atividade citada – que perdurou por mais de uma aula, a primeira e a segunda dessa unidade (duas fitas, uma hora e meia de gravação) – e uma terceira, a oitava aula da unidade (quarenta e cinco minutos) relativa a uma aula elaborada e conduzida livremente pela professora. A oitava aula foi selecionada pelo fato da professora ter feito questão de, mais de uma vez nos momentos em que antecederam a aula, comentar com Rodrigues que não deixasse de registrar, pois ela iria realizar um “debate” com os alunos. Esse debate seria sobre um livro paradidático lido pelos alunos sobre o mesmo assunto da unidade (Pré-história).

O uso destes dados das três aulas transcritas por Rodrigues, no presente estudo, diz respeito às análises realizadas no capítulo 4, visando investigar o argumentar e o

explicar na sala de aula de história, indagando, conceitual e empiricamente, sobre especificidades e possíveis relações entre esses movimentos discursivos na constituição do conhecimento. Algumas decisões metodológicas foram necessárias, como a inclusão da transcrição integral das duas primeiras aulas no corpo do texto (capítulo 4), objetivando possibilitar a compreensão do leitor do contexto discursivo e das negociações realizadas no processo de construção do conhecimento. Os enunciados foram analisados segundo a unidade de análise desenvolvida para esta pesquisa e que será explicitada a seguir (seção 3.3), objetivando capturar processos de construção do conhecimento que ocorrem na argumentação e na explicação.

A oitava aula transcrita, “a aula debate”, mesmo tendo sido inicialmente definida pela professora como um “debate”, repetiu um padrão normalmente observado em sala de aula, cujo movimento é assinalado pela tríade: “professor pergunta- aluno responde - professor comenta”. Foram analisados fragmentos desta aula (capítulo 4), visto que a mesma se caracterizou pela ausência de situações de argumentação e poucos episódios de explicação. Esta aula integral está inserida nos anexos.

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