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CONSTRUÇÃO DO TERRITÓRIO NA AMAZÔNIA PARAENSE

No documento Série Estudos do Numa (páginas 24-30)

Atualmente na Amazônia paraense o uso do território configura-se como uma arena onde instituições estatais, do mercado e da sociedade civil se desafiam na gestão e na governança desses territórios buscando alcançar o compartilhamento por meios de ações e práticas de intervenção com objetivos de desenvolvimento. Nesse contexto é que os autores apresentam no conteúdo deste livro, a partir do conhecimento das práticas sobre o uso do território no estado do Pará, análises e compreensões que expressam vivências.

Destaca-se que o estado do Pará possui uma posição geográfica com características diferenciadas dos demais estados da Região, posiciona-se como um escudo de proteção de grande parte do ecossistema amazônico. Deve-se considerar que em seu território estão localizadas as principais vias de acesso a Região.

Pela via aquática, por meio dos rios que formam o estuário do Rio Amazonas, os primeiros caminhos que levaram às expedições de conhecimento e de exploração dos recursos naturais da região.

Pela via terrestre, por meio das rodovias nacionais, outros caminhos que também levaram os colonizadores a conhecer e explorar recursos das terras firmes e longe da várzea do Amazonas e de outros grandes rios como o Tocantins, o Tapajós, o Jari e o Trombetas, todos afluentes do Amazonas no Pará. As rodovias também fazem a conexão desta região com as demais regiões brasileiras, bem como parte da fronteira Norte do Brasil está localizado neste Estado.

Registra-se que esses acessos se deram historicamente por atividades humanas em busca da ocupação do espaço e pelo uso dos recursos naturais abundantes na Região, esse processo de ocupação se deu com a utilização da mão de obra escrava, tanto de indígenas como dos africanos. Ações que marcaram tanto física como socialmente na formação do território, assim essas alterações

que hoje são identificadas como impactos ambientais configuraram a sociobiodiversidade regional no Pará.

Na região registra-se como atividades e maior impacto as implantações de projetos de infraestrutura como construções das rodovias e as implantações de empreendimentos para geração de energia ou extração de minérios, essas atividades trouxeram a reboque outras, como os projetos agropecuários com a pecuária e a agricultura, que mudaram a paisagem da floresta densa em regiões de pastagem ou agrícolas.

Ressalta-se que sob os auspícios de programas de governo os projetos e programas de desenvolvimento regional terminaram por substituir a floresta nativa em partes do território, nas margens das rodovias, construíram um novo ambiente, constituem-se hoje a denominada zona de consolidação das atividades produtivas conforme a determinação da Lei do Macrozoneamento do Estado do Pará. Esses processos de construção de territorialidades culminam por demandar novas formas de gestão pública para o espaço.

Transformações essas que mudaram também a própria configuração das cidades que já existiam, assim como a criação de novos núcleos urbanos. Dentre esses grandes empreendimentos que impactaram o estado do Pará destacam-se: a construção da Hidrelétrica de Tucuruí, construção da Rodovia Transamazônica, da Rodovia Belém-Brasília, e da Rodovia Santarém-Cuiabá, conhecidas também como vias de integração nacional.

A Política de Integração Nacional (PIN) entendida como um conjunto de ações do Governo Federal brasileiro a partir da década de 1970, com o objetivo de conectar as distantes regiões do país como, por exemplo, a Amazônia com os centros desenvolvidos do País, foi instituída pelo Decreto-Lei Nº 1.106, de 16 de junho de 1970, dentre seus objetivos estava o deslocamento da fronteira econômica e notadamente a agrícola para as margens do Rio Amazonas. Este plano continha três projetos prioritários, dois deles tiveram ações diretamente no estado do Pará: a construção das Rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém; e o Plano de Colonização associado a estas rodovias. Observa-se que os efeitos

dessa política de integração foram marcados pelas transformações socioambientais ocorridas no Pará, ao lado de Rondônia, que foram os estados mais impactados nos últimos 50 anos na Amazônia.

O Macrozoneamento da Amazônia Legal, aprovado em 2010, documento que tem por fim construir estratégias de transição para a sustentabilidade da região. Foram identificados os territórios-rede, territórios-fronteira e territórios-zona, todos com incidência nos limites territoriais do estado do Pará, necessário o conhecimento dessa proposta de gestão territorial, pois culmina na formação de novas territorialidades. Distinguem-se na Amazônia Legal as categorias de territórios:

territórios-rede, correspondentes às áreas de povoamento consolidado, caracterizado por predominância de redes, espacialmente descontínuo, com extrema mobilidade, com fluxos e/ou conexões suscetíveis de sobreposições; os territórios-zona, com predominância de ecossistemas ainda preservados, com limites tendendo a ser demarcados e os grupos encontram-se significativamente enraizados; e, os territórios-fronteira, que se constitui de franjas de penetração com diferentes estágios de ocupação da terra, na direção dos ecossistemas circundantes e nos limites dos territórios-rede (BRASIL, MMA, Macro-ZEE da Amazônia Legal, 2010, p. 42), destaques inseridos.

Cabe destacar que o Plano de Aceleração Econômica - PAC, com suas grandes obras de infraestrutura logística, energética, industrial e urbanística trouxeram maior complexidade à gestão ambiental e uso dos recursos. Os esforços de governança territorial, como os Planos de Desenvolvimento Regionais Sustentáveis, do governo do Pará, foram insuficientes e atualmente estão paralisados ou funcionando de forma precária (DIAS &

FARIAS, 2015; ROCHA et all, 2020)

Interessante observar que os territórios-fronteira mostram diferentes estágios de ocupação e apropriação da terra, de povoamento e de organização, pois a ocupação se dá pelo avanço por meio das redes fluviais e/ou para áreas próximas às estradas e,

por ainda não estarem plenamente conectadas, constituem-se em espaços onde é possível gerar inovações na formação de novas territorialidades.

Nessa proposta de ordenamento territorial para a Amazônia Legal também se inserem as Unidades Territoriais e Estratégias para o desenvolvimento que são dez Unidades Territoriais, identificadas e organizadas a partir do conhecimento da ocupação das assim chamadas áreas antropizadas. Nos territórios–redes, territórios- fronteiras e territórios-zonas. Conforme podem ser mostradas no Quadro 1 para um melhor entendimento dessas propostas.

Quadro 1. Unidades Territoriais e Estratégias para Amazônia Legal Territórios Unidades Territoriais e Estratégias

Territórios-rede (6) Fortalecimento do Corredor de Integração Amazônia-Caribe;

Fortalecimento das Capitais Costeiras, Regulação da Mineração e Apoio à diversificação de outras Atividades Produtivas;

Fortalecimento do Policentrismo no Entroncamento Pará-Tocantins-Maranhão;

Readequação dos Sistemas produtivos do Araguaia-Tocantins;

Regulação e Inovação para Implementar o Complexo Agroindustrial;

Ordenamento e Consolidação do Polo Logístico de Integração com o Pacífico.

Territórios-fronteira (2)

Diversificação da Fronteira Agroflorestal e Pecuária;

Contenção das Frentes de Expansão com Áreas protegidas e Usos alternativos.

Fonte: Informações e dados do Macro-ZEE da Amazônia Legal, 2010, p. 42.

No território paraense localizam-se seis dessas unidades, desde a mais interna aquelas que ainda estão pouco antropizadas,

até as mais exteriores aquelas que estão mais antropizadas, na região, conforme mostra o Quadro 2.

Quadro 2. Unidades Territoriais e Estratégias e seus ambientes no Pará Territórios Unidades Territoriais e

Estratégias Território no Pará Territórios

-rede Readequação dos Sistemas Produtivos do arquipélago do Marajó e eixo da calha do rio Amazonas,

Agroflorestal e Pecuária Eixo da Rodovia BR 163 desde a fronteira do Mato Grosso até o município de Novo Progresso.

Territórios

-zona Defesa do Coração Florestal com Base em Atividades Produtivas

Na região da Calha Norte, destaque para o município de Oriximiná, o maior dessa área.

Fonte: Informações e dados do Macro-ZEE da Amazônia Legal, 2010, p. 42.

Diante dessa diversidade de unidades territoriais localizadas no Pará, que conforma uma espacialização com seis unidades territoriais identificadas, que comparativamente aos demais estados

amazônicos como o Mato Grosso que conta com cinco, o Amazonas, Roraima, Amapá, Maranhão e Tocantins com duas, ou o Acre e Rondônia com três. Caracterização essa que corrobora ser o estado paraense é um espaço de fronteira, ou ainda uma zona ou faixa de proteção da Região.

Com destaque para Territórios-Rede, com a Unidade Territorial identificada como “Fortalecimento das Capitais Costeiras, Regulação da Mineração e Apoio a Diversificação de outras Cadeias Produtivas” que compreende no Pará a região do nordeste paraense, arquipélago do Marajó e eixo da calha do rio Amazonas, envolvendo tanto a margem direita quanto a esquerda, até o limite com o estado do Amazonas.

É nesse território que a dinâmica da ocupação tem sua história conectada com os ciclos de exploração econômica envolve toda a Zona Costeira, região mais populosa do estado e também onde se concentram densamente as UC de uso sustentável, as Reservas Extrativistas Marinhas e a dinâmica do uso do território natural e o construído como são os portos localizados no estuário do rio Amazonas. É também neste ambiente que se concentram as análises da maioria dos artigos desta coletânea.

Importante observar a gestão para o desenvolvimento do território na Amazônia paraense passa “por um lado, pela necessária ampliação da produção da informação geográfica e nesse sentido do conhecimento das potencialidades e vulnerabilidades existentes, os diversos usos dos recursos naturais assim como das dinâmicas do território. por outro, ampliação da densidade institucional e o fortalecimento da articulação de instituições e sociedade civil na área” (ROCHA; MORAES, 2018, p. 30).

Sem dúvida um território em um processo dinâmico de formação, onde está os acessos ao interior da Amazônia pelos rios e pelas estradas, o que demanda e impõe necessidades diversas na gestão ambiental que depende para seu desempenho de um ordenamento territorial adequado, considerando não somente as vocações naturais, mas principalmente as diversas formas e

processos de ocupação que vem ocorrendo ao longo dos últimos 50 anos neste estado.

No documento Série Estudos do Numa (páginas 24-30)