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DO CONDE EM BARCARENA (PA)

No documento Série Estudos do Numa (páginas 52-55)

Kellen Cimara R. de LIMA André Luis Assunção de FARIAS INTRODUÇÃO

O surgimento dos portos no Brasil se deu em meio à relação desenvolvida entre Matriz versus Colônia, quando da necessidade de as embarcações portuguesas adentrarem o solo colonizado. Cabe ressaltar que o comércio com a Colônia era exclusividade da Matriz, e dessa forma, não era permitida a comercialização e a circulação de outras nações nesses portos2.

Desta feita, após a vinda da Coroa Portuguesa para o Brasil, em 1808, por intermédio de D. João VI engajou-se a denominada abertura dos portos às nações amigas, permitindo-se, a partir de então, a navegação de navios e embarcações estrangeiras no litoral brasileiro expandindo-se o mercado e aumentando o número de embarcações. Passando, portanto, o Brasil a fazer parte desse sistema econômico-liberal internacional, realizando a comercialização de madeira, ouro e outras riquezas nacionais existentes no país3.

Hodiernamente, a extrema carência por recursos para investimento, a necessidade de equipagem e a modernização dos portos levou o governo a editar, no ano de 1993, a Lei nº. 8.630, denominada “Lei dos Portos”, a qual proporcionou diversas

2 Secretária Especial de Portos (SEP)- HISTÓRICO Disponível em:

http://www.portosdobrasil.gov.br/sobre-1/institucional/base-juridica-da-estrutura-organizacional/historico acesso em 05 de fevereiro de 2017.

3 Para uma análise da história portuária no Brasil ver: Raimundo F.Kappel – Novo desafio para sociedade. Disponível em:

http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/conf_simp/textos/raimundokappe l.htm acesso em 05 de fevereiro de 2017.

inovações, principalmente em relação a criação de portos, terminais privados e arrendados, dentre outras medidas que foram de suma importância para a prática portuária. Assim, nos dias atuais, é sabido que por intermédio de rios e mares é que se dá a nossa principal via mercantil, e que, segundo a Secretaria Especial de Portos (SEP)4, cerca de 90% de todo o volume do comércio exterior brasileiro é transportado por via marítima e carece dos portos brasileiros.

Neste passo, recentemente, foi sancionada a Nova Lei dos Portos, a Lei nº 12.815/2013, que após 20 (vinte) anos do último marco regulatório (Lei nº 8.630/93), buscou modernizar a realidade portuária brasileira, possibilitando novos investimentos neste setor, inclusive em âmbito internacional, e consequentemente, oportunizou a melhoria da logística nacional, no entanto, se configurou sendo ainda escassa quanto ao tema meio ambiente e preservação do mesmo frente aos impactos de implementação de portos.

Dentre as tantas mudanças no setor portuário a preocupação com o meio ambiente vem se destacando. E assim, nos dias atuais, a questão ambiental no setor das atividades portuárias tem ganhado força e necessidade de novas e atualizadas exigências legislativas, pois ao passo em que a sociedade fica mais escassa de recursos ambientais, nas mesmas proporções os Portos e empreendimentos portuários vêm ganhando força e se disseminando, principalmente na região amazônica.

Diante disto, não é possível analisar um empreendimento portuário privilegiando os mecanismos de sua instalação ou expansão, e negligenciando a preocupação de ordem ambiental, posto que um empreendimento portuário - com toda sua magnitude e estrutura - gera mazelas e perdas ambientais que devem ser pormenorizadas e amenizadas. Se destacando como exemplo disto, a água de lastro que passou a ser responsável pelo desequilíbrio ecológico, ocasionando a transferência de

4 Secretaria Especial de Portos (SEP). Disponível em:

http://www.portosdobrasil.gov.br/

organismos aquáticos nocivos e agentes patogênicos, como o famoso exemplo do mexilhão dourado (Limnoperna fortunei), molusco de água doce oriundo do sudeste asiático, o qual tem provocado expressivas alterações no ecossistema aquático.

Nesse ensejo, ressalta-se a região amazônica, a qual passou a ser de grande interesse para empreendimentos portuários, por ter grande parte de suas áreas compreendidas por rios, algo que facilita o acesso e favorece as instalações e projetos nesta região, entretanto, o que falta ser mais debatido é a articulação entre planejamento e controle ambiental que contemple as transformações territoriais advindas das implantações e atividades portuárias desenvolvidas na supracitada região.

Neste intróito, o presente estudo se faz de grande relevância para a região por esta ser detentora da maior biodiversidade ambiental do país, a qual necessita de um estudo prévio de impactos ambientais por parte dos projetos portuários que aqui se instalam ou pretendem se instalar- cobrando destes - todos os requisitos necessários, bem como as licenças e a responsabilidade ambiental por meio das leis vigentes e futuras que visem propor sanções eficazes para os danos causados ao meio ambiente.

Em meio a esse cenário, o meio ambiente passou a ser considerado um direito fundamental, enquanto que a preservação e a melhorias ambientais tornaram-se deveres dos Estados e da sociedade. Neste sentido, a Carta Magna de 1988, veio legislar sobre o assunto, dispondo em seu artigo 225 as normas fundamentais de proteção constitucional ao meio ambiente de modo a garantir constitucionalmente o direito de todos ao meio ambiente, bem como de protegê-lo, aplicando em legislação complementar sanções em face de atos que venham a ocasionar danos ou riscos ao mesmo.

De tal modo, a preocupação com a manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado nasceu no sentido de assegurar o direito de meio ambiente não somente as gerações vigentes, mas também para as gerações futuras. Nascendo assim, a terminologia desenvolvimento sustentável e sustentabilidade,

sendo conceitos distintos, mas com um mesmo fim: oportunizar um crescimento de forma consciente.

Dessa forma, o presente artigo visa demonstrar os impactos ambientais oriundos da atividade de um porto, bem como entender quais os principais desafios ambientais e como portos brasileiros podem ser tornar menos poluentes e mais sustentáveis, de modo que sua expansão se dê juntamente com a questão do equilíbrio ambiental, pois à medida que se moderniza uma zona portuária, deve-se adaptar essa região aos padrões instituídos por uma legislação que parta de uma esfera internacional, a fim de se promover concomitantemente a atividade portuária e o desenvolvimento social levando em consideração que o entorno dos portos, bem como a própria área de atuação portuária apresenta notáveis transformações territoriais e não abarcarem políticas de planejamento e controle ambiental.

Neste sentido, o presente artigo está disposto em três partes, excetuando a introdução e as considerações finais. Na primeira parte apresentar-se-á o marco teórico, bem como se ressaltará o primeiro marco legislativo; em um segundo momento buscar-se-á analisar a sustentabilidade dos portos, bem como sua estrutura organizacional e sistemática e, por último, investigar-se-á os impactos ambientais provenientes do acidente com o navio Haidar, no porto de Vila do Conde, em Barcarena/Pará.

A SUSTENTABILIDADE DO SISTEMA PORTUÁRIO

No documento Série Estudos do Numa (páginas 52-55)