• Nenhum resultado encontrado

DAS REIVINDICAÇÕES E LUTAS DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS

1.1 A CONSTRUÇÃO DA HEGEMONIA

Tratamos nesse subitem, do conceito de hegemonia gramsciana na perspectiva de um tipo de dominação ideológica de uma classe social sobre outra, particularmente da burguesia sobre o proletariado, pontuaremos as suas concepções e suas influências na política e cultura.

É muito frequente a associação da ideologia gramsciana com as pautas de educação do MST, por esse motivo, para Jesus (1989), educação e hegemonia no pensamento Gramsciano, exige uma demanda educativa como justificadora e legitimadora de uma nova hegemonia, mas, essa educação baseada nas transformações a nível de consciência do homem e cultura social,

Portanto, a hegemonia do proletariado não pode ser hoje buscada com base nos conhecimentos específicos que Gramsci havia formulado com as análises e experiências de classe de sua época, mas só renovando os esforços de conhecimento necessários para compreender a realidade de hoje. Tais esforços, porém, não seriam sequer possíveis, ou seriam inadequados e insuficientes, se fossem deixados de lado as conquistas permanentes teóricas gramscianas (COUTINHO, 2011, p. 146).

Etimologicamente, a palavra “hegemonia deriva do verbo grego nyeuovew e quer dizer: guiar, conduzir, mandar, governar, ser chefe” (JESUS,1989, p. 31). Já na filosofia gramsciana, o conceito de hegemonia foi utilizado como a ferramenta teórica para entender e explicar a nova configuração que o Estado Moderno assumiu a partir, das últimas décadas do século XIX. Estudando, no cárcere, a estruturação típica das sociedades de capitalismo avançado, Gramsci (1966) explicou a nova face do Estado Moderno, esse composto pela Sociedade Política e pela Sociedade Civil.

Para Coutinho (2011), as conquistas sociais, como a redução da jornada de trabalho, o sufrágio universal masculino, sistema de previdência pública, ampliação do acesso às escolas públicas para os filhos dos trabalhadores, repercutiram na configuração e caracterização do Estado Moderno.

Segundo Coutinho (2011), as relações capitalistas de produção podem ser mantidas sob condições democráticas e, consequentemente, a exploração pode ser mantida com o consentimento dos explorados. Coutinho (2011), partindo dessa ideia, desenvolve o conceito de hegemonia, que surge basicamente enquanto capacidade de compreender

os problemas reais do homem, e ainda de não limitar-se a uma expectativa passiva das consequências decorrentes da cultura e das leis gerais que governam o capitalismo. A hegemonia mostra-se como a direção intelectual e moral, isso porque envolve concepções do mundo dos grupos dominantes6, que por sua vez, as apresentam (as concepções) como se fossem opiniões, interesses e conceitos que representam os interesses de todos os grupos sociais, inclusive a classe subalterna7.

As concepções (visões parciais), dessa elite, geram comportamentos que reproduzem a manutenção das condições sociais requeridas por essa burguesia. Importante destacar que as citadas concepções de mundo dominantes, num Estado que governa com base na hegemonia, não constituem algo que está fora do horizonte intelectual e moral dos indivíduos. As concepções de mundo burguês, passam a fazer parte do próprio modo de pensar dos diferentes grupos sociais, sendo constitutiva, não apenas do mundo intelectual, mas também de seu modo de agir e de sua moral. Elas estão inseridas (nos grupos sociais) como valores e normas de conduta. Por isso,

Com a superação da alienação, abre-se a possibilidade de que os homens construam autonomamente a sua própria história e controlem coletivamente as suas relações sociais, o que para Marx significa o fim da ‘pré-história (GRAMSCI, 1991, p. 149).

Assim, para que os grupos sociais subalternos possam se emancipar e construir a sua hegemonia, Gramsci (1991) afirma que eles devem romper com as concepções de mundo que assimilaram dos grupos dominantes e que dão sustentação à sua direção, seja no plano intelectual ou moral. O movimento de ruptura envolve um autoconhecimento, “[...] conhecer-te a ti mesmo como produto do processo histórico até hoje desenvolvido [...]” (GRAMSCI, 1999, p.94). Um conhece-te a ti mesmo coletivo, um movimento de elevação intelectual e moral das massas populares que possa culminar numa reforma intelectual e moral (atrelada a superação de uma visão de mundo acrítica e fragmentada), na construção de uma nova hegemonia.

Destarte, pode-se dizer que hegemonia é isso: determinar os traços, as características, as peculiaridades específicas de uma determinada condição histórica, ou seja, de um determinado processo histórico. É tornar-se o protagonista, de um processo progressivo,

6 Classe dominante está relacionada com a burguesia, ou seja, a elite detentora de riqueza e poder. 7 Classe subalterna está relacionada diretamente com a classe trabalhadora (proletariado), ou seja, com os operários.

de reivindicações que são de outros estratos sociais, unificando-os através de parâmetros ideológicos e mantendo-os unidos.

A hegemonia, portanto, não é apenas política, mas é também um fato cultural, moral, enfim, de concepção de mundo. A hegemonia é a capacidade que uma classe ou grupo tem de unificar e de manter unido, através da ideologia (e da realidade material), um bloco social que não é homogêneo, mas sim marcado por profundas contradições de classe. Cria-se então uma vontade coletiva que tem como finalidade a consecução de um projeto econômico-político-social que envolve a constituição/reprodução de uma determinada ordem social (MELLO,1996).

Assim, associando essa hegemonia gramsciana ao objeto de nossa pesquisa, concluímos que na realidade do direito à educação no MST, a hegemonia, ou seja, a capacidade de manutenção de proposta, educacional, encontra-se presente nos discursos de todos com os quais fizemos contato, do menos escolarizado, mas que entende a política de educação do MST, aos graduados e pós-graduados, que possuem maior envolvimento e conhecimento político/cultural. Entendemos que a hegemonia política, cultural e moral é a marca do MST, considerando a bandeira do direito à educação no viés desse ensaio acadêmico.

Continuando na lida dos principais conceitos gramscianos, seguiremos analisando onde essa hegemonia acontece, de forma que consigamos consolidar os termos conceituais com a relação coerção, ou seja, com a direção política do Estado, e, do consenso, representado pela possibilidade de participação dos trabalhadores.