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DAS REIVINDICAÇÕES E LUTAS DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS

1.4 A IMPORTÂNCIA DO INTELECTUAL ORGÂNICO

Interpretamos que o intelectual orgânico gramsciano, aproxima-se da ideia de direito subjetivo à educação, presente na política social do MST, parece-nos que, com a necessidade do MST, de organizar uma educação orgânica, que fosse capaz de se relacionar diretamente com a realidade e a carência do homem que vive no e do campo. O resultado dessa educação, enquanto componente de uma ação do coletivo orgânico, é que passou a ser essencial que o MST avance as suas bases de ações contra- hegemônicas, ou seja, seus procedimentos de atividades antagônicas de classe, em relação a classe burguesa dominante, e, continue ampliando seus próprios intelectuais. A vista disso, esse pensador italiano, antes de traçar a relação direta entre os intelectuais e a escola disponibiliza, para nosso melhor entendimento que,

O enorme desenvolvimento alcançado pela atividade e pela organização escolar (em sentido lato) nas sociedades que surgiram do mundo medieval indica a importância assumida no mundo moderno pelas categorias e funções intelectuais: assim como se buscou aprofundar e ampliar a "intelectualidade" de cada indivíduo, buscou-se igualmente multiplicar as especializações e aperfeiçoá-las. É este o resultado das instituições escolares de graus diversos, inclusive dos organismos que visam a promover a chamada "alta cultura", em todos os campos da ciência e da técnica (GRAMSCI, 1991, p. 9, grifo do autor).

Com isso colocado, a escola era entendida como um aparelho privado de hegemonia. A compreensão gramsciana de escola estava direcionada para a construção de uma nova moral e de uma nova cultura da classe subalterna, de modo a assegurar maior hegemonia sobre as demais classes e, consequentemente, na perspectiva da conquista do Estado, nas palavras de Gramsci (1991, p. 9),“a escola é o instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis”, Os intelectuais ocupam uma posição estratégica nos escritos gramscianos, fazendo parte direta no processamento de seus estudos, em relação a formação da hegemonia e as suas análises sobre o conceito de Estado.

Para Gramsci (1991), os intelectuais, e sua função, encontram-se diretamente ligados às questões da vida social, totalmente relacionadas aos problemas da vida real, portanto,

peças formadoras da consciência crítica e de organização das lutas e ações políticas do povo.

Dois aspectos interessam a Gramsci, em suas reflexões acerca das questões ligadas aos intelectuais, um apontando para a ampliação da formação, e o outro aspecto direcionando para a ação dos intelectuais orgânicos das classes subalternas na construção de uma sociedade regulada pelos interesses e necessidades do trabalho, noutras palavras, a emancipação humana.

Relacionamos, os intelectuais orgânicos gramscianos, com o nosso objeto de estudo, qual seja, o direito à educação, e ainda, com os assentados do MST, porque diante de tantas urgências (dignidade, identidade, terra e apoio técnico financeiro, entre outros) esses atores, necessitavam também formar sua força intelectual particular, vejamos a afirmativa seguinte, diante desse pressuposto,

[...] Todo novo organismo histórico (tipo de sociedade) cria uma nova superestrutura, cujos representantes especializados e porta-vozes (os intelectuais) só podem ser concebidos também como “novos” intelectuais, surgidos da nova situação, e não como a continuação da intelectualidade precedente [...] (GRAMSCI,1999, p. 125).

O surgimento da nova situação (demanda) do MST e, com isso, o surgimento de novos intelectuais, motivou a luta pela efetivação do direito à educação, que tornou-se a bandeira desse proposto (direito à educação). E como sua viga mestre possui as histórias e as experiências concretas dos sujeitos membros do MST, como nos depoimentos de,

Maria: Fora do assentamento me tratavam assim como se fosse irresponsável, sabe? Por ter as crianças [nove filhos]. Aí... ah era muita coisa que falavam: Ah isso você não pode. Ah você não vai conseguir [...]. No acampamento não. Eles diziam: Você vem, você vai conseguir [...]. Aí que bom uma família grande aqui. É isso que a gente precisa. A gente quer bastante criança aqui [...]. Eu sentia o amor das pessoas, né? Lúcio: Hoje eu já não me sinto mais analfabeto, eu não me sinto analfabeto (ROSA; SILVA, 2016, acesso em 7 ago. 2018).

Relacionamos também o intelectual orgânico gramsciano, com o MST e seus intelectuais pois, estes labutam e enfrentam, rotineiramente, a oposição do setor econômico, que como burgueses declaram e conceituam a reforma agrária como uma proposta ultrapassada, improdutiva e extremamente custosa (NETO, 2003). E também, em contrapartida a esse enfrentamento, o MST, vai além de um movimento social, caracterizado, no que pensa Souza Martins (1997), que os movimentos sociais perduram enquanto persiste uma causa não resolvida, em forma de desigualdades sociais.

Associamos, o intelectual orgânico, com o nosso tema pesquisado, pois o MST se firma a nível nacional, empunhando, conscientemente, as reivindicações em prol da reforma agrária, do cooperativismo, e do direito à educação de fato e de direito, garantido e não somente proclamado e escrito, transformando-se, com isso, num Movimento social (MST), essencialmente, contra hegemônico.

Reforçando essa relação, para Caldart (2014), o momento histórico atual vem minimizando o espaço dos intelectuais tradicionais e tensiona a formação dos intelectuais orgânicos (gramsciano) das classes trabalhadoras, isso considerando a crise estrutural do modo de produção, que aquece a disputa pela hegemonia. Importante salientar, nesse contexto, que “há uma mediação material necessária que produz o vínculo e essa mediação não é “a classe”, em tese, mas as formas históricas pelas quais as classes se formam, se constituem, nas sociedades concretas (CALDART, 2014, p. 140).

Entende também Caldart (2014), que a formação do intelectual orgânico não pode abrir mão do vínculo com as organizações dos movimentos sociais e dos trabalhadores, em suas lutas por políticas sociais de igualdade, baseadas no compromisso ético-político, enquanto intelectual orgânico. Consolidando isso, leiamos que existe,

Porém, uma diferença fundamental entre a filosofia das práxis e as outras filosofias, as outras ideologias são criações inorgânicas porque são contraditórias, porque são voltadas par a conciliação de interesses opostos e contraditórios; ... a filosofia da práxis ao contrário, não tende a resolver pacificamente as contradições, existentes na história e na sociedade, ou melhor, ela é a própria teoria de tais contradições, não é um instrumento de governo de grupos dominantes para obter consentimento e exercer a hegemonia sobre as classes dominantes, é a expressão destas classes subalternas que querem educar a si mesmas na arte de governo e que têm interesses em conhecer todas as verdades, inclusive as desagradáveis, e em evitar os enganos (impossíveis) da classe superior e, ainda mais, de si mesmas (GRAMSCI, 1999, p. 388).

Essa é a diferença que nos permite a comparação entre a ideia gramsciana de intelectual orgânico e o objetivo dessa pesquisa, enquanto possibilidade de análise da efetivação do direito público à educação, numa perspectiva de Escola de assentamento do MST, como um centro formação de intelectuais orgânicos. E assim, adentraremos numa abordagem dos intelectuais em meio ao Partido (coletivo).