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As hipóteses de pesquisa são construídas com base em achados científicos de pesquisadores que se dispuseram a estudar a temática Dark Triad, ou um dos três traços que o compõe, na esfera empresarial. Parte-se da premissa de que, a correlação moderada e positiva dos três traços de personalidade, revela características sobrepostas e indivíduos dotados de personalidades com tendência à frieza emocional, à autopromoção e a um caráter socialmente

maléfico (Paulhus & Williams, 2002). Apesar de pouca evidenciação, há na literatura uma discussão sobre o lado positivo e o lado negativo dos traços de personalidade dessa tríade sombria.

W. K. Campbell et al. (2011) afirmam que o lado positivo do Narcisismo é facilmente detectável, e se manifesta nas interações iniciais; entretanto, o lado sombrio geralmente só aparece tempos depois, sendo comum se identificar características do Narcisismo nos executivos que ocupam altos cargos gerenciais. Esses gestores são elogiados pela paixão, visão e inovação; no entanto, são condenados pela falta de empatia e pela sensibilidade a críticas. Detêm a capacidade de manipular os outros, são impulsivos, assumem riscos em decisões de investimentos, especialmente pelo excesso de confiança. Possuem talento para o estabelecimento de relações rápidas e superficiais.

Por essa mesma ótica de descrição, Chatterjee e Hambrick (2007) argumentam que os CEOs narcisistas tomam decisões estratégicas ousadas, que supostamente atraem a atenção para o seu talento como gestores, contribuindo, consequentemente, para o sucesso da empresa. Todavia, Hobson e Resutek (2008) abordam o lado negativo desse atributo, ao apontar evidências de que os indivíduos narcisistas, com o objetivo de apoiar o seu ego e autoestima, são capazes de inflar o reporte de seu desempenho quando há implicações positivas de status social. Nesse contexto, a manipulação de resultados cria uma imagem do desempenho financeiro que alimenta no indivíduo narcisista a necessidade de admiração, louvor e senso de importância.

Na mesma concepção de Hobson e Resuteck (2008), Olsen et al. (2013) destacam a correlação positiva entre o Narcisismo e comportamentos antiéticos de manipulação de relatórios contábeis, sobretudo pelo fato de que as metas de desempenho baseadas em contabilidade ajudam a definir o bônus de recompensa do CEO.

Ao analisar o comportamento de psicopatas corporativos bem-sucedidos, Gudmundsson e Southey (2012) identificaram atributos como altos níveis de assertividade e baixos traços de afabilidade, tais como simplicidade, altruísmo, complacência e modéstia. Esses profissionais buscam excitação nas atividades, refletindo positivamente em alta competência nas organizações, ordem, esforço e autodisciplina.

Por outro lado, quando exercem altos cargos executivos, esses psicopatas corporativos buscam lacunas na lei para evitar ou reduzir impostos. Sempre que possível, manipulam os preços das ações em benefício próprio, sem se preocupar com investidores, fundos de pensão e empregados. Os psicopatas corporativos envolvem as corporações em práticas ilegais de contabilidade independentemente das implicações que podem vir a causar no longo prazo. A

falta de consciência ou sentido orientador da moralidade na empresa pode ser uma receita para o desastre financeiro, ambiental e social (Boddy, 2006).

Ao concentrar estudos sobre os traços marcantes de Maquiavelismo, D. N. Jones e Paulhus (2011a) evidenciaram a estratégia, a tática e o estilo racional de tomar decisão, por considerar todos os custos e benefícios para a resolução dos problemas. Em contrapartida, as pessoas maquiavélicas são manipuladoras e estrategistas, com senso ético pragmático e uma propensão para usar táticas visando alcançar os seus objetivos, para obtenção de ganhos pessoais (D. N. Jones & Paulhus, 2009).

Além disso, esses indivíduos são mais suscetíveis a fraudar relatórios se tiverem oportunidade, sem atitudes que demonstrem tais atos, especialmente pela ausência de culpa diante do comportamento antiético (Murphy, 2012). O procedimento de gerenciar resultados financeiros de curto prazo é tido como uma prática de tomar decisões que é aceitável e ética por indivíduos maquiavélicos (Vladu, 2013).

Até aqui foram apresentados estudos que se preocuparam em evidenciar características positivas ou negativas dos traços de forma individualizada. Entretanto, Majors (2014) analisou o Dark Triad, pela interação dos três traços, e relacionou com a incerteza de estimativas contábeis no relato de gerentes para investidores. Os gestores ricos das características dos três traços reportam informações de forma menos precisa e menos agressiva, em relação àqueles que exteriorizam baixas características.

Assim, com base nas investigações apresentadas, formula-se, metodologicamente, a seguinte hipótese de pesquisa:

H1: Quanto mais altos forem os traços de personalidade do Dark Triad, maior será a propensão à decisão de manipular resultados.

A hipótese metodológica se desdobra em três hipóteses estatísticas, que serão testadas empiricamente, a partir de um delineamento quantitativo aplicado com vistas a testar as seguintes hipóteses:

H1: Há uma correlação significativa entre os três traços do Dark Triad H1a: Há uma correlação entre o Narcisismo e a Psicopatia

H1b: Há uma correlação entre o Narcisismo e o Maquiavelismo H1c: Há uma correlação entre a Psicopatia e o Maquiavelismo

H2: Há uma relação positiva entre os altos traços do Dark Triad e a decisão de manipular resultados

H2a: Há uma relação positiva entre os altos traços de Narcisismo e a decisão de manipular resultados

H2b: Há uma relação positiva entre os altos traços de Maquiavelismo e a decisão de manipular resultados

H2c: Há uma relação positiva entre os altos traços de Psicopatia e a decisão de manipular resultados

H3: Há uma relação positiva entre a interação dos traços que compõem o Dark Triad e a decisão de manipular resultados

O teste empírico dessas suposições pode explicar o fenômeno que vem sendo pesquisado e as relações entre as variáveis do estudo. Se forem aceitas ou rejeitadas, podem comprovar teorias antes enunciadas e suscitar teorias ainda não observadas.

A H1 é um guia que pretende evidenciar a adaptação do instrumento (SD3) nacionalmente, especialmente sobre a correlação entre os traços, para a análise de suas características individuais, comuns e sobrepostas.

A H2 pretende descrever e explicar comportamentos oportunísticos associados aos traços sombrios investigados e comprovados por alguns estudos anteriores que associaram os traços individualmente a esse comportamento. Aqui se pretende, em um contexto cultural diferente, analisar e comparar os resultados e, como contribuição adicional, apresentar evidências de atitudes maquiavelistas, narcisistas e psicopatas, em uma só amostra de pesquisa, a partir da aplicação de estratégias metodológicas que capturam o comportamento oportunístico, com enfoque diferente dos estudos anteriores na área contábil.

Espera-se, ainda, que sejam reveladas as diferenças entre os níveis e intensidades dos traços que possam comprovar ou refutar um comportamento moderado e positivo, da amostra analisada, pela crença de que o entendimento sobre os traços moderados constitui um possível diferencial na construção de teorias eficazes para explicação do comportamento humano, em linha com a concepção de Spain et al. (2014).

E a H3 pretende demonstrar que se os traços são correlacionados e suas caracterítica tendenciam a disposições oportunistas, a interação entre a tríade revelará uma associação significativa e positiva com a decisão de manipular resultados.

De forma ilustrativa, a Figura 2 mostra o desenho da pesquisa, evidenciando as variáveis independente e dependente, cujo procedimento operacional é demonstrado na seção metodológica.

Construto Independente: Dark Triad: Maquiavelismo, Narcisismo e Psicopatia

Construto Dependente: Decisão de manipular resultados

Figura 2 - Variáveis da pesquisa