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2.4 DECISÃO DE MANIPULAR RESULTADOS PARA MAXIMIZAÇÃO DE

2.4.1 Definições e padrões

A manipulação contábil tem sido nomeada, por estudiosos estrangeiros, como: earning management, income smoothing, big bath accounting, creative accounting e windows dressing accounts manipulation (Stolowy & Breton, 2004). Os estudos nacionais, de forma mais expressiva utilizam os termos gerenciamento de resultados e/ou gerenciamento de resultados contábeis (Martinez, 2001), manipulação de informações contábeis (Paulo, 2007), gerenciamento das informações contábeis (Cardoso, 2005) e alisamento contábil ou suavização de resultados (Castro, 2008).

Ao definir o gerenciamento de resultados, Healy e Wahlen (1999) afirmam que esse procedimento ocorre quando os gestores decidem estruturar operações para alterar os relatórios financeiros com o intuito de enganar partes interessadas quanto à situação econômica e o desempenho da empresa, e influenciar os resultados contratuais que dependem dos números contábeis reportados.

Watts e Zimmerman (1990) e Fields, Liz e Vicent (2001) consideram que ocorre o gerenciamento de resultados quando o gestor exercita a discrionaridade sobre os números contábeis, com ou sem restrição. Os critérios adotados refletem na maximização do valor da

empresa ou em uma postura oportunística. Para Scott (2012, p. 423), “(...) é uma escolha por um gerente de políticas contábeis, ou ações reais, efetuando ganhos de modo a alcançar algum objetivo específico dos ganhos relatados”.

Segundo a definição proposta por Stolowy e Breton (2004), a manipulação contábil significa o uso do poder discricionário da administração para fazer escolhas contábeis ou projetar operações, de forma a afetar as possibilidades de transferência de riqueza entre a empresa e a sociedade (custos políticos), provedores de fundos (custo de capital) e gestores (planos de compensação). Os autores acrescentam que nas duas primeiras situações a manipulação é benéfica para a empresa, e corresponde a uma transferência saudável, enquanto na terceira situação os gestores agem contra a empresa, como mostra a Figura 10.

Empresa

Minimização da política de custos

- Custos de regulação (ambiental, competição, etc) - Tributação Minimização do custo de capital - Emissão de novas ações - Contratos de dívida Manipulação contábil

Sociedade Provedores de fundos Gestores

Maximização da compensação dos gerentes

- Plano de bônus - Opções por ações Gerentes manipulam em favor da empresa Gerentes manipulam

contra a empresa

Figura 10 - Principles of account manipulation..

Adaptado de “Accounts manipulation: a literature review and proposed conceptual framework” por Stolowy e Breton, 2004. Review of Accounting and Finance, p. 7.

Apesar de as definições convergirem quanto ao uso das informações contábeis, muitas vezes divergem quanto à metodologia por meio da qual são gerenciadas. Duas perspectivas podem ser observadas: a informacional e a oportunística. A informacional centra-se na escolha de políticas contábeis, especialmente na mudança de critérios contábeis possibilitada pela flexibilidade das normas e padrões contábeis. Nessa perspectiva, é difícil perceber se tais

mudanças representam manipulação ou apenas uma escolha contábil discricional (Mohanram, 2003).

A oportunística tem o propósito de utilizar a informação contábil para enganar os principais interessados no tocante aos resultados operacionais. As informações são distorcidas de forma voluntária e intencional, ocasionando a fraude de resultados (Beneish, 2001). As manipulações que estão fora da lei e dos padrões constituem fraude; entretanto, as atividades que estão cobertas pelos padrões são compreendidas como gerenciamento de resultados (income smooting, big bath accounting) (Stolowy & Breton, 2004).

A perspectiva do gestor oportunista foi eleita para a elaboração dessa tese. Entretanto, os padrões de gerenciamento de resultados são evidenciados devido à dificuldade de estabelecer o limite entre a manipulação que está dentro ou fora dos padrões, como sinaliza Scott (2012, p. 424): “[...] o contador pisa em uma linha tênue entre o gerenciamento de resultados e de má gestão de ganhos”.

Dessa forma, apresentam-se quatro estratégias de gerenciamento, nomeadas e sumariadas por Scott (2012) como padrões de gerenciamento contábil:

1) Taking a bath – os gestores adotam esse procedimento durante períodos de estresse ou reestruturação organizacional. A empresa reporta uma grande perda, através da baixa de ativos (write-off asset) e provisão de custos de expectativa futura, por exemplo. O intuito é reduzir os resultados correntes, para apresentar melhores resultados futuros (Scott, 2012). Gerentes que são incapazes de relatar lucros reportam perdas. Entretanto, a adoção desse procedimento tem suas consequências. Se não houver uma prevenção, aos analistas, da iminência de reporte de uma perda, eles tendem a prever um lucro, e os erros de previsão ficam suscetíveis de ser negativos e extremos, segundo L. D. Brown (1998). O estudo de Elliott e Hanna (1996) define o take a bath como um item especial negativo, superior a um por cento do total de ativos da empresa. Esses autores demonstraram que as empresas que relatam baixas correntes tendem a relatar baixas adicionais no futuro. Ao relatar uma sequência de baixas de ativos, as empresas experimentam níveis decrescentes de contabilização de ganhos, de forma prolongada. Além de aumentar a probabilidade de déficit financeiro, também atestam o fato de que essas empresas estão deteriorando a posição econômica. Ademais, as mais longas sequências de write-off asset estão associadas a empresas de menor porte, que têm classificações mais baixas de títulos e probabilidades de déficit mais elevadas. Os autores salientam que há pelo menos três explicações para a adoção desse procedimento: 1) o relato de grandes baixas pode fornecer mais informações

antes do anúncio dos resultados, ocasionando um exame mais minucioso por parte dos investidores; 2) as baixas podem retratar fielmente uma resposta adequada da gestão às circunstâncias adversas, como, por exemplo, uma falha na tentativa de reestruturação; e 3) o alcance de objetivos estratégicos de gerenciamento de resultados. Isso pode gerar uma desconfiança por parte dos investidores, nos futuros lucros reportados, especialmente pelo conflito de interesses existente.

2) Income minimization – padrão semelhante à taking bath, porém menos extremo, o income minimization é adotado quando o gestor escolhe uma política para minimizar os lucros em período em que a empresa registra alta rentabilidade, através, por exemplo, de rápidas amortizações de bens de capital e de bens intangíveis.

3) Income maximization – é utilizado quando os gestores se envolvem na maximização do lucro líquido reportado, para refletir em proposta de bônus, especialmente quando as empresas estão prestes a violar obrigações contratuais de dívidas (debt covenants). Nesse particular, Healy (1985) estudou, com base na Teoria Positiva da Contabilidade, o gerenciamento do lucro líquido pelos gestores, de modo a maximizar seus bônus sob planos de compensação da própria empresa. Os resultados sugeriram a ocorrência de alta incidência de alterações voluntárias nos procedimentos contábeis durante o período delimitado no estudo. Adicionalmente, verificou-se que quando os limites inferior e superior do plano de bônus estão vinculados, os gerentes não alteram os procedimentos contábeis para diminuir o lucro líquido.

4) Income smoothing – é adotado quando os gestores avessos a risco preferem um fluxo de bônus menos variável, e suavizam os ganhos reportados ao longo do tempo, de modo a receber remuneração relativamente constante (Scott, 2012). A suavização/alisamento de resultados temporal também pode ocorrer quando o gestor tem a flexibidade de escolher entre dois períodos em que ele fará o reconhecimento de certas receitas. Isso reduz, em geral, a volatilidade do que foi projetado. Por exemplo, o reconhecimento de rendimentos pode ser alterado do segundo período para o primeiro (ou do primeiro para o segundo), sempre que os ganhos econômicos do primeiro período são inferiores (ou superiores) aos ganhos econômicos esperados. Nessa situação, ele poderá preferir a escolha do que é esperado, para resultar em um fluxo de renda mais suave, com diminuição de variabilidade e excessiva flutuação. Importa ressaltar que, em algumas situações, a suavização pode ser um procedimento oneroso. Por exemplo, se houver um reconhecimento precoce de renda para fins de demonstrações contábeis, isso exige também o reconhecimento precoce da obrigação

tributária, ocasionando um valor presente fiscal mais elevado. Entretanto, se os custos são baixos, o gestor tem um incentivo para suavizar a renda reportada pela empresa (Trueman & Titman, 1988). No estudo de Castro (2008), o alisamento contábil foi investigado como uma estratégia particular de gerenciamento de resultados, que implica a redução dos custos de capital e o uso do poder discricionário dos gestores na estimação de certos componentes de resultado, para reduzir a variabilidade dos preços das ações. Esse procedimento é adotado quando o resultado preliminarmente apurado for elevado, pela redução do resultado divulgado; e quando o resultado previamente apurado for baixo, pelo aumento do resultado divulgado.