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5. PRINCIPAIS RESULTADOS

5.1 Implicações para o futuro professor (licenciando)

5.1.1 Construção da identidade docente

Pela análise, emergiram 79 unidades de sentido relacionadas às implicações do Pibid para a construção da identidade docente de bolsistas licenciandos.

Segundo as pesquisas analisadas sobre a construção da identidade profissional do professor, realizadas por diversos autores nas últimas décadas, estas apontam que profissionais com a identidade profissional docente bem constituída podem melhorar a qualidade do seu trabalho em sala de aula. São profissionais que buscam aprender constantemente e procuram qualificação profissional. Por conseguinte, adquirem competências que os auxiliam a solucionar os problemas encontrados em sua profissão. Pimenta (1996, p. 75), sobre identidade, refere que “[...] não é algo imutável. Nem externo, que possa ser adquirido. Mas é um processo de construção do sujeito historicamente situado”. A identidade profissional se constrói, segundo Pimenta (Ibid, p.76), “[...] a partir da significação social da profissão; da revisão constante dos significados sociais da profissão; da

revisão das tradições. Mas também da reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que permanecem significantes.”.

Nesse sentido, pode-se afirmar que uma formação docente que contemple a construção da identidade profissional, forma bons profissionais, pois têm competência para solucionar problemas provenientes das transições sociais e do sistema educacional. Segundo Marcelo (2009, p. 111): “A identidade profissional contribui para a percepção de autoeficácia, motivação, compromisso e satisfação no trabalho dos docentes, e é um fator importante para que se tornem bons professores.”.

Como já mencionado, o Pibid possibilita o contato do licenciando com a realidade escolar num prazo maior do que o estágio supervisionado, favorecendo a socialização profissional desses licenciandos e estabelecendo um vínculo com a sua futura profissão. Segundo Flores (2015), é na convivência e nas experiências em sala de aula que os futuros professores conhecem o oficio da profissão docente e aprendem a olhar com o ponto de vista de um profissional da educação. Desenvolvem, assim, a identidade docente a partir da articulação entre o sujeito e o contexto escolar.

Diante disso, o Programa proporciona uma interação dinâmica e efetiva entre a universidade e a escola por meio de seus participantes: licenciandos, professores supervisores, alunos da Educação Básica, professores coordenadores. Essa comunicação também facilita a construção da identidade docente de licenciandos bolsistas. Pode-se dizer que o Pibid forma uma rede de saberes e de conhecimentos docentes que se movimentam entre os sujeitos e seus ambientes de interação, permitindo a troca de experiências, a busca de novos conhecimentos científicos e pedagógicos. Assim como a aplicação das habilidades e competências aprendidas dentro da realidade escolar, pode-se considerar “[...] uma rede de relações, conhecimentos e aprendizagem, não com o objetivo de copiar, criticar apenas os modelos, mas no sentido de compreender a realidade para ultrapassá-la” (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 111).

Observa-se que o Pibid, juntamente com os cursos de formação, consegue minimizar a distância entre teoria e prática, garantindo uma formação de alta qualidade com uma profunda base na especialização dos saberes docentes.

Desse modo, o Pibid incentiva os licenciandos a continuarem se qualificando, com o objetivo de ampliar seus conhecimentos sobre o processo de ensino e aprendizagem e sobre os conhecimentos específicos da área de Química. Esses futuros professores encontram sua

vocação e desenvolvem competências especificas na docência em Química. Isso pode ser observado em um dos trabalhos analisados:5

[...] afirmou conhecer os problemas relacionados à profissão docente, entretanto, a partir da entrada no programa, “aumentou minha vontade de ser uma boa professora, tendo compromisso para enfrentar os problemas que eu percebo na escola”. Nesta narrativa, pode-se afirmar que a bolsista reflete sobre as implicações e também sobre as possibilidades de contribuições de sua prática para melhoria do ensino. (T.01.16).

A troca de conhecimento e a oportunidade de estar presente no cotidiano da escola e vivenciar a realidade escolar motivam os licenciandos a ingressarem no Programa e permanecerem nele, como se pode observar a seguir: “[...] motivos que levaram os bolsistas a se inscreverem no programa, percebe- se que a maioria atribuiu o desejo de conhecer melhor a profissão docente (67,5%) e conhecer melhor a escola (28,6%).” (T.01.27).

Os licenciandos têm curiosidade e necessidade de compreender a funcionalidade do ambiente escolar, e o Programa oferece a oportunidade de inserir o licenciando no contexto escolar, considerando sua complexidade. Assim, contribui para a construção da identidade profissional docente e dos saberes específicos dessa profissão ao longo da sua formação. Nesse sentido Lüdke e Boing (2004, p. 1164) afirmam:

Se boa parte da profissão docente já é conhecida pelo estudante, mesmo antes da entrada nos cursos de habilitação profissional, também é certo afirmar que a formação inicial não basta para revelar todo o resto da profissão, o qual não é possível conhecer sob o ponto de vista do aluno. A socialização profissional, dessa forma, continua no estabelecimento de ensino em que o professor vier a trabalhar. Somente a prática dará consistência ao repertório pedagógico que os professores foram assimilando ao longo de sua formação.

Contudo, com o auxílio e o incentivo do Programa, o licenciando aprende a ser professor, percebe a profissão docente e sua formação a partir das experiências vivenciadas nesse ambiente, aprendendo o exercício da profissão docente e adquirindo ferramentas culturais para atuar como professor, como referido na citação a seguir: “Com o auxílio e o incentivo do programa, o estudante aprende a ser professor, a pensar como um, a trabalhar e a conviver como docente, enquanto estudante de graduação.” (D.04.10).

Nesse sentido, o licenciando já inicia um processo de desenvolvimento da cultura do professor, sendo esta de suma importância, dado que “[...] determina a natureza das interações entre colegas, como também o sentido e a qualidade das interações com os estudantes.”

5

As citações originadas dos trabalhos analisados são grifadas em itálico para diferenciar das citações dos autores.

(GÓMEZ, 2001, p.165). A cultura docente, portanto, influencia o modo do docente se comunicar em suas aulas e entre seus colegas e, aos poucos, vai assimilando/ construindo a identidade do ser professor, possibilitando a compreensão das dimensões do trabalho docente. Isso pode ser evidenciado na citação: “[...] possibilidade do contato do futuro professor com a realidade escolar em diferentes etapas de sua formação inicial, tendo tempo suficiente para compreender as diferentes dimensões do trabalho docente.” (T.01.57).

O contato amplo com a realidade escolar facilita a compreensão das interações e das possíveis transformações que ocorrem no sistema educacional da Educação Básica, proporcionando, assim, uma formação mais ampla e significativa, como descrito a seguir:

[...] a entrada na escola e de um primeiro contato com os alunos do Ensino Médio, antes dos estágios curriculares. Tal possibilidade foi destacada pelos egressos como um momento importante do Pibid, pois teria proporcionado uma visão diferente da escola, mediante o reconhecimento de seu ambiente. (D.01.39).

Nesse sentido, os bolsistas ao longo do Programa têm a oportunidade de vivenciar situações alternativas, construindo suas próprias concepções sobre a profissão docente e

do ser professor. Sobre essa construção da concepção de licenciandos da profissão docente,

licenciandos valorizam ainda mais a profissão docente: “As experiências no ambiente escolar, possibilitam que os bolsistas, já nos primeiros anos da licenciatura, comecem a moldar sua identidade docente, fundamentando-se na percepção de que a profissão se constitui num ambiente complexo e singular.” (D03. 48).

Assim, o Pibid permite aos participantes (re)pensarem, (re)construírem e (re)formularem conceitos e/ou ideias prévias sobre o papel do professor na sala de aula e na sociedade, pois estes percebem a complexidade dessa profissão, considerando as dimensões do trabalho docente e as competências docentes necessárias para exercê-la:

[...] percebe-se que os bolsistas mudaram suas concepções sobre a carreira docente após o ingresso no programa, em função do acompanhamento das atividades dos professores supervisores. (T.01.50)

[...] mas que pode principalmente servir como fonte de uma mudança nas concepções dos alunos sobre a profissão docente, uma vez que eles demonstraram reconhecer a importância do professor para a sociedade. (A.R.4.15).

Muitas vezes, no decorrer das experiências vivenciadas ao longo do Programa, os licenciandos modificam seu modo de ver a profissão docente, superando os problemas e crises que desestabilizam a carreira docente e buscando soluções para minimizar tais problemas e compreender o que realmente a escola necessita para melhorar a qualidade de ensino. Além

disso, o Pibid forma professores de Química com um perfil reflexivo, ou seja, professores que refletem sobre suas ações docentes, reconstruindo sua identidade profissional:

[...] a prática pedagógica do principiante no contexto real de ensino auxilia na construção da identidade docente e contribui para formação de um professor reflexivo sobre suas práticas diárias. (D07.6).

[...] a formação de um profissional das salas de aula que consegue refletir na e sobre sua prática, e, por conseguinte, questiona sobre o que e para que ou quem está fazendo uma determinada ação, relacionada ao processo de ensino e aprendizagem. (D06.32).

O ato de refletir abre outros horizontes do ser professor, favorece o desenvolvimento de uma postura crítica, em que questiona sua maneira de aprender e ensinar Química. Segundo Zeichner (1993, p. 20), o ato de refletir “[...] é um processo que ocorre antes e depois da ação e, em certa medida, durante a ação”. Complementando com as ideias de Dewey (1997), professores reflexivos são aqueles que planejam e projetam sua prática de acordo com seus objetivos, reconhecendo suas fragilidades e competências. Portanto, no Pibid, licenciandos são instigados a adotarem posturas críticas com caráter reflexivo:

[...] pibidianos e as pibidianas são instigados a adotarem posturas críticas e autônomas. Sendo assim, os professores formadores autores do subprojeto lançam mão da chamada Pesquisa Participante, em que os sujeitos do programa depois de diagnosticarem, problematizam uma determinada situação e a partir dos questionamentos e reflexões feitos acerca da situação-problema a equipe Pibid/Química procura encontrar os meios mais viáveis e eficientes para a extinção desse determinado empecilho. (D06.33).

O Pibid proporciona novas descobertas e a reconstrução do conhecimento a partir das reflexões realizadas em grupo, junto com os professores formadores, sobre as situações vivenciadas no ambiente escolar. Corroborando alguns dos conceitos de Zeichner (1993, p. 17) sobre o professor prático reflexivo, trata-se de um professor “[...] que reconhece a riqueza da experiência que reside na prática dos bons professores.”. Nesse sentido, o conceito prático reflexivo é visto como uma das ações do Pibid para formação docente: “O convívio dos bolsistas nesse ambiente amparado por profissionais da universidade aptos a discutirem e problematizarem certas situações vivenciadas na escola acaba por proporcionar novas descobertas e uma serie de reflexões a partir da própria experiência destes”. (D03.10).

O Pibid induz os bolsistas a refletirem antes e depois de colocarem em prática quaisquer ações, promovendo, no bolsista, o exercício de refletir e permitindo que ele construa seus próprios conhecimentos. Favorece, assim, um ambiente de discussões e

reflexões entre professores e alunos licenciandos acerca de teorias, conceitos e concepções sobre como ensinar Química.

Nesse contexto, além de estimular um perfil docente reflexivo, licenciandos assumem, também, uma postura docente pesquisadora. São incentivados a pesquisar sobre o ser professor e sobre a realidade educacional da escola na qual participam como bolsistas. Ademais, estão sempre em busca de novos conhecimentos, participando de eventos e realizando investigações sobre o ensino de Química.

A primeira atividade desenvolvida por todos os licenciandos inseridos em um determinado subprojeto química do Pibid é o estudo sobre a realidade educacional vigente na região relativa a um subprojeto específico e, também uma investigação geral sobre a estrutura física e funcionamento das escolas em que os bolsistas do programa atuaram. (D06.29).

Logo, esses futuros professores desenvolvem um perfil docente pesquisador, da sua própria ação docente. Esse novo perfil docente contribuirá para a melhoria da qualidade do ensino de Química no seu futuro ambiente de trabalho, pois os bolsistas compartilharam dos resultados das pesquisas educacionais, promovendo a circulação das contribuições dessas pesquisas para dentro do ambiente escolar. Esse perfil docente pesquisador garante o “[...] compromisso do professor com o avanço do conhecimento pedagógico e com o seu aperfeiçoamento profissional” (MALDANER, 2013, p. 90). Nesse sentido, acredita-se que o Pibid supera desafios em relação às:

[...] investigações da própria atividade educativa, por parte dos professores, como forma de mudança da sala de aula, superando, principalmente, a prática corrente de professor repetidor de conteúdos escolares que não servem para nada porque não dão acesso real ao conhecimento e à cultura. (MALDANER, 2013, p. 91).

Claro que, todo esse movimento de formar um professor pesquisador e reflexivo não ocorreria sem a colaboração de outros professores mais experientes, neste caso, os professores supervisores. A construção da identidade docente também é impulsionada por meio dessas

relações entre os sujeitos desse contexto, como pode ser observado em alguns dos trabalhos

analisados:

O programa apresenta aspectos positivos referentes à interação entre alunos da graduação, professores em serviço e estudantes da educação básica que contribuem para definição da identidade docente [...]. (D07.8).

O Pibid é um programa que propõe estreitar a relação da formação inicial nas universidades, nos cursos de licenciatura, com a prática profissional dos professores nas escolas, incorporando elementos nos licenciandos que contribuirão para a formação de sua identidade profissional docente. (A.R.10.11).

As relações interpessoais estabelecidas no convívio dos bolsistas com professores supervisores e alunos da Educação Básica também forma profissionais com um perfil

docente mais compromissado com questões sociais. Dentro desse contexto, fica evidente a

preocupação, dos licenciandos, em trabalhar com responsabilidades, ética e cidadania, traçando um ensino de Química compromissado em atender as necessidades da nova sociedade. Tomando como fundamento as ideias de Santos e Schnetzler (2010, p.46), o termo cidadania refere-se “[...] à participação dos indivíduos na sociedade”, que “[...] para o cidadão efetivar a sua participação comunitária, é necessário que ele disponha de informações que estão diretamente vinculadas aos problemas sociais [...]” (SANTOS; SCHNETZLER, 2010, p. 46). Essas informações envolvem diversos conhecimentos, entre eles, o conhecimento químico. Portanto, o Pibid promove uma formação docente com responsabilidade social, contemplando alguns princípios presentes nas DCN’s para formação de professores da Educação Básica: “[...] licenciandos demonstram de forma contundente uma tomada de consciência sobre o papel do educador na sociedade e afirmam um compromisso com uma formação para a cidadania e com questões sociais”. (A.R.4.13).

Nessa perspectiva, conclui-se que as atividades desenvolvidas no âmbito do Pibid, pelos licenciandos, dentro do espaço escolar, possibilitam o desenvolvimento de competências docentes exigidas pelas transformações sociais, fomentadas pela busca constante de novos conhecimentos, assumindo, assim, um perfil docente reflexivo, pesquisador e comprometido com questões sociais. O conceito de competência aqui empregado refere-se à competência que é adquirida e desenvolvida por meio da educação e/ou das experiências vivenciadas no cotidiano profissional (GALVIS, 2007). Segundo esse autor, não se consegue explicar a palavra competência diretamente, mas pode-se observá-la por meio das ações e atitudes dos sujeitos, dado que estas se encontram internamente no individuo, ou seja, fazem parte do seu acervo intelectual. Contudo, os licenciandos aprendem a conhecer, a conviver, a fazer e a ser um profissional da educação, ampliando, desta maneira, sua formação cultural e o desenvolvimento do habitus professoral, sendo este último também referenciado como contribuição do Pibid para formação de professores de Química: “O Pibid, como um programa de iniciação à docência, pode favorecer o desenvolvimento e a incorporação do habitus professoral [...].” (A.R.10.10).

Segundo Silva (2005), habitus professoral é o conjunto de ações exercidas pelos professores em resposta às demandas de sala de aula. O habitus professoral é adquirido na e pela prática e, faz parte da personalidade do profissional e se manifesta a partir da prática profissional (TARDIF, 2014).

Além do que já foi exposto até o momento sobre as contribuições do Pibid para formação docente em Química, emergiram também contribuições referentes à prática docente dos licenciandos, que serão abordadas a seguir.