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CONSTRUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL

2 LIVRO DIDÁTICO: FERRAMENTA POLÍTICO-IDEOLÓGICA DA EDUCAÇÃO

2.3 CONSTRUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL

Com base na literatura especializada sobre o assunto, realizaremos um breve panorama histórico sobre o LD no Brasil, com destaque ao LDLP, objeto de nossa investigação, a fim de entendermos como esse tomou a forma que apresenta hoje.

As numerosas modificações que os LD já sofreram no Brasil foram delineadas pelas diversas políticas públicas que têm regulamentado a produção e o abastecimento desses materiais nas escolas do sistema público de educação, além da dependência que o mercado editorial brasileiro tem da venda desse material para o governo até os dias atuais. A exemplo do ensino de língua materna no Brasil, que, antes de utilizar um LD com a forma integrada de textos, análise linguística e exercícios, além de um manual para o professor com orientações diversas e respostas das atividades, como vemos a partir da década de 1960, já chegou a utilizar como material didático textos religiosos, cartas, documentos oriundos de cartórios, trechos da Constituição, coletânea de textos literários e manual de normas gramaticais, de acordo com Batista e Galvão (2002, p.28).

A publicação de livros didáticos no Brasil só passou a ser permitida com a implantação da imprensa, ocasionada pela vinda da Família Real Portuguesa para o país em 1808. Antes disso, os livros eram importados, geralmente da França, o que os tornava objetos caros, raros e exclusivos das famílias abastadas, geralmente as únicas capazes de pagarem por eles e de terem acesso à aprendizagem bilíngue. Em decorrência desse inconveniente, muitos professores se viam compelidos a

produzirem seu próprio material manuscrito (BAIRRO, 2009, p.7).

Toda essa dificuldade impulsionou o desenvolvimento de um mercado editorial voltado para a edição de cartilhas escolares, as quais, nesse primeiro momento, eram bastante semelhantes às obras estrangeiras. Esses manuais eram elaborados por intelectuais com influência política e respeitabilidade social, porém privados de formação pedagógica, como Olavo Bilac (autor de livro de leitura, mas cursou parcialmente Medicina e Direito) e Carlos Laet (coautor de Antologia para o Ensino de Português, era engenheiro-geógrafo e bacharel em ciências Físicas e Matemáticas), segundo Soares (1996, p. 60). O prestígio desses autores contribuía para que as obras fossem aprovadas pelos conselhos educacionais do Estado, os quais se preocupavam particularmente com o teor ideológico-moral desses materiais. Eram livros que permaneciam muito tempo no mercado, por meio de sucessivas reedições, chegando a serem utilizados por até cinquenta anos.

Já no fim do século XIX, professores que ensinavam em instituições renomadas passaram a fazer parte do seleto rol de autores de manuais escolares, embasados em suas aulas e em toda sua experiência pedagógica (BITTENCOURT, 2004b, p. 481). Nesse mesmo período, inicia-se o debate sobre temas como formação e salário de professores, além de métodos de ensino, como o ensino seriado (os indivíduos eram separados com base em seus níveis de aprendizagem e faixas-etárias) e método simultâneo (exercícios realizados em torno do mesmo material didático). Surgem os grupos escolares, espaços específicos para a instrução da população, que vinham substituir locais antes improvisados. Todo esse contexto exige materiais didáticos adequados à nova realidade (BATISTA; GALVÃO; KLINKE, 2002, p. 28).

Segundo Bairro (2009, p.8), até a Proclamação da República, a maioria da população brasileira era analfabeta, composta por agricultores, operários e negros recém-libertados, completamente excluída do sistema educacional brasileiro. A educação tinha como público-alvo as classes privilegiadas do país e visava à manutenção de seu poder e de suas ideologias, tendo como referência sempre a didática e a cultura europeias, conjuntura essa que se arrastou por longo período da história brasileira.

No período de Segunda República (1930 a 1937), o Brasil é influenciado pelos ideais da Nova Escola, dentre os quais estão a luta por uma escola laica, gratuita e obrigatória para todos (BAIRRO, 2009, p.11), concepção que ia de

encontro aos princípios elitistas e aos interesses ideológicos da Igreja, cenário propício, portanto, para a discussão sobre livros didáticos, que resultou nas primeiras ações políticas referentes a essa questão. É nesse período também que se inicia o Estado Novo, sendo estabelecidos vários mecanismos de censura, objetivando a manutenção da ditadura, tais como fechamento do congresso, destituição de partidos políticos, controle político-ideológico da imprensa e da sociedade.

Com a finalidade oficial de estabelecer “condições para produção, importação e utilização do livro didático” (BATISTA, 2003, p.65), já no fim da década de 30 foi criado o primeiro decreto-lei que legislava sobre os manuais escolares no Brasil, o nº 8.460, de 26/12/38, o qual instituía a Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD). De acordo com Cassiano (2013), os critérios que supostamente justificavam a escolha dos membros dessa comissão pelo Presidente da República, explicitados como “alto preparo pedagógico e notável valor moral”, não demonstravam transparência em relação aos meios pelos quais era possível atestar a presença desses atributos, sendo a função dessa comissão, na prática, controlar a carga político-ideológica dos LD.

Somando-se as imposições políticas nacionalistas do Governo Vargas com relação à produção didática nacional, com a crise econômica histórica do capitalismo, provocada principalmente pela queda da Bolsa de Nova York (o que encareceu exageradamente os custos da importação), foi impulsionada a produção autoral de livros didáticos no Brasil, passando, a partir de então, a serem produzidos em larga escala.

Durante toda a Era Vargas (1930-1945), o controle ideológico dos LD foi evidente, não só por meio da escolha dos membros das comissões, como através de mecanismos de “autorização para adoção, substituição, atualização e uso dos livros didáticos” (SILVA, 2008). Essa política de controle ideológico de manuais didáticos não só permaneceu, como se ampliou durante todo o período de ditadura militar (1964-1985), tendo sido instituídas, com esse fim, diferentes comissões que ficaram responsáveis pela coordenação/fiscalização da produção desses manuais. A exemplo disso, em 1966 foi criada a Comissão do Livro Técnico e Livro Didático (Colted), substituída pelo Programa do Livro Didático (PLID) em 1971, sendo necessária, a partir de então, a participação financeira dos Estados para o Fundo do Livro Didático.

É na década de 1960 que ocorre a democratização de ensino, consequência do processo de industrialização pelo qual o país passava, que impunha a existência de uma mão de obra minimamente qualificada, não sendo relevante a formação intelectual da população, mas sim um preparo apenas de ordem instrumental. Até então, a educação brasileira era feita pela elite para a elite, o que provocou uma evacuação em massa dos alunos pertencentes às classes economicamente privilegiadas das escolas públicas para as escolas privadas, bem como dos professores que atendiam a esse público. Mesmo com esse êxodo, a súbita e ampla expansão da rede escolar duplicou o número de alunos do Ensino Fundamental e chegou a quase triplicar, no caso do Ensino Médio. O currículo linguístico-normativo não cabia mais nessa conjuntura e essa nova e desafiadora realidade exigiu políticas de barateamento dos livros escolares, o que fez com que o governo brasileiro, em 1961, subsidiasse livros didáticos através do Banco do Brasil (MUNAKATA, 1997, p.55).

É nesse contexto também que a escassez de professores para atender o novo alunado fez com que o governo realizasse cursos de formação docente intensivos, aligeirados e com qualidade duvidosa para assumir essas vagas. O perfil desse novo professor era de origem popular, desprovido de embasamento teórico, sobrecarregado com o excesso de trabalho. A enorme demanda de educandos formou turmas superlotadas, níveis discrepantes de aprendizagem, salários baixos, desvalorização docente e péssimas condições de trabalho para os profissionais em questão, o que ampliava demasiadamente a relevância dos LD em sala de aula, como Geraldi afirma:

A um tempo o mestre e o aluno, reduzidos a máquinas de repetição material. [...] Assim, a solução para o despreparo do professor em dado momento parece simples: bastaria oferecer-lhe um livro que sozinho ensinasse aos alunos tudo que fosse preciso (GERALDI, 1997, p. 117).

Portanto a formação docente deficiente, a precariedade nas condições de trabalho do professor e a sua desvalorização profissional foi diretamente proporcional ao excessivo crescimento do mercado editorial brasileiro, ou nas palavras de SILVA (1996, p.11) “à perda crescente da dignidade do professor brasileiro contrapõe-se o lucro indiscutível e estrondoso das editoras de livros didáticos”. Concordando com esse pensamento, Bunzen e Rojo (2008, p. 80)

acrescentam:

É pois, dirigindo-se a um professor apreciado como mal formado, sem tempo para preparação e correção de atividades escolares, devido a sua grande sobrecarga de trabalho, determinada pelo aviltamento da profissão, e que fica pouco tempo em cada escola, que o livro assume para si a tarefa de estruturar as aulas, até porque, muitas vezes, ele permanece mais tempo nas escolas que os próprios professores. Os autores de livro didático e os editores passam, portanto, a ser decisivos na didatização dos objetos de ensino e, logo, na construção dos conceitos e capacidades a serem ensinados.

Em 1976, a FENAME (Fundação Nacional do Material Escolar) passou a ser responsável pelos programas relacionados aos LD, utilizando, para tanto, recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). A falta de recursos suficientes para atender todo o sistema público de ensino fez com que a maioria das escolas municipais fosse excluída do programa. Foi nesse período também que foram abolidos os testes admissionais para o ingresso ao ginásio, tendo em vista que o Ensino Básico foi ampliado de quatro para oito anos, formando o chamado primeiro grau (PIETRI, 2010).

Em 1980, o governo manifesta a preocupação com crianças carentes nas diretrizes do Programa do Livro Didático, acreditando que esse tipo de política pública pode minimizar desigualdade sociais. Nessa mesma década, mais precisamente em 1983, foi criada a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), que substituiu a FENAME. Nessa ocasião, concluiu-se necessária a participação dos professores nas escolhas dos livros utilizados, além de também ser proposta a expansão do programa para todo o Ensino Fundamental, que até então era atendido parcialmente.

As condições sociopolíticas da educação brasileira impuseram a emergência do LD, o que o transformou, principalmente os LDLP, no centro das atenções. Na década de 80 e 90, inúmeras pesquisas denunciaram a baixa qualidade das coleções, que apresentavam veiculação de preconceitos e erros conceituais. Foi apenas em 1985 que foi instituído o PNLD – o Programa Nacional do Livro Didático, a partir do qual algumas mudanças significativas relacionadas à escolha e distribuição dos livros didáticos foram implementadas gradativamente, tais como: a oportunização da escolha dos LD pelos professores; a viabilização da reutilização de LD por um período de três anos, a universalização progressiva de distribuição para

todos os estudantes de escola pública, com exceção da educação infantil, a avaliação sistemática por equipes técnicas, agrupadas a partir das disciplinas em que são especialistas, fator determinante para a aprovação das obras e para aquisição dos livros pelo programa. Visto que o PNLD é o programa que permanece até os dias atuais, além de ser fundamental para o nosso objeto de pesquisa, dedicaremos a próxima seção ao aprofundamento desse tema.

A FAE se extingue em 1997 e sua função de executar o PNLD é transferida para o FNDE, que amplia a distribuição de livros de todas as disciplinas para todas as séries do Fundamental das escolas públicas. A partir da década de 2000, há uma intensa ampliação de distribuição de dicionários e LD.

Com relação propriamente ao LDLP, à medida que as perspectivas sobre o ensino da língua foram se transformando, as coleções didáticas do ensino de língua materna também sofreram mudanças ao longo do tempo, a fim de acompanhar os anseios dessas novas tendências pedagógicas. Como já foi mencionado, somente a partir da década de 1960, a gramática e a coletânea de textos são integradas, e gradativamente, vão abrindo espaço para o modelo de “aula pronta”, com sequências didáticas completas, conteúdos e textos condensados, atividades e as respostas dessas atividades, direcionando decisivamente no modo como se configuram essas aulas (MENDONÇA, 2005, p. 114).

A partir da década de 1970, o ensino de Língua Portuguesa recebe o nome de Comunicação e Expressão, apresentando um viés instrumentalista da língua, por influência do regime militar ao qual o país era submetido. Os LDLP passam a trazer textos de diferentes gêneros, além dos literários que já apresentavam, como a inclusão de quadrinhos, textos jornalísticos, etc. A ênfase no enfoque gramatical passa a dar lugar a textos não verbais e atividades de compreensão textual.

Nas décadas de 1980 e 1990, verificamos o surgimento/desenvolvimento de diversos estudos linguísticos, dentre os mais relevantes, a virada pragmática e sua compreensão da língua como forma de ação social, a Sociolinguística, a qual defende a variação como fenômeno inerente às línguas, a Linguística Textual, a concepção sociointeracionista, que aponta a língua como lugar de interação (LÊDO, 2017, p. 138-139). Todas essas mudanças tiveram como efeito alterações nas concepções do ensino de língua materna em documentos oficiais brasileiros, como relata Fernandes:

ecoar nas políticas públicas de maneira bastante acentuada. Novas perspectivas e concepções de língua/linguagem e de ensino de língua foram levadas para os documentos oficiais de parametrização [do ensino]. Conceitos como letramento(s) e gêneros (discursivos/ textuais), além da emergência de outros tantos, estruturam as novas orientações curriculares oficiais e os programas de avaliação dos livros didáticos (FERNANDES, 2010).

Foi nesse contexto que a matéria de Comunicação e Expressão voltou a se chamar Português e que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) foram publicados, contemplando várias disciplinas. Os PCN de Língua Portuguesa influenciaram sobremaneira a elaboração dos LDLP no Brasil, a partir do momento em que apresentou o conceito de gênero textual como fundamental no ensino de língua, destacando a relevância das condições de produção e das intenções comunicativas no processo de estrutura textual, ambas determinadas pelo uso social.

De acordo com Rodrigues (2012), outras modificações do LDLP são evidenciadas ao longo da história do ensino de Língua Portuguesa no Brasil, tais como a pluralização na autoria das coleções didáticas; o espaço cada vez mais amplo reservado aos ilustradores/designers e aos recursos visuais, fruto do crescente progresso tecnológico e gráfico, o que revela também uma preocupação mercadológica maior do que a pedagógica; a efemeridade dos manuais escolares, que não são mais reeditados inúmeras vezes, passando no máximo seis anos sem atualização; a concepção dos autores dessas obras de que, depois da democratização de ensino, os professores se tornaram menos eruditos/autônomos e mais dependentes dos LD, o que contribuiu para diminuir os textos dos manuais e para contemplar domínios diferentes do literário, além de adquirir o formato de aulas prontas; integração dos conteúdos, fundindo gramática e antologia, em virtude dos avanços teóricos da linguística.

Tendo esclarecido alguns aspectos históricos relevantes a respeito dos LD no Brasil, abordaremos na próxima seção o PNLD, Programa Governamental de aquisição/distribuição de LD para as escolas públicas brasileiras em vigor nos dias atuais.

2.4 PNLD

segundo Cassiano (2013, p.53-54), foi estabelecido com a finalidade de dissociar a política governamental do LD do governo ditatorial anterior e dos escândalos de corrupção ocorridos nesse período, como estratégia política para que, por conta dele, a população tivesse uma imagem positiva do novo governo. Além disso, o governo democrático demonstrava uma preocupação com o aluno “carente”, vinculando ao programa objetivos assistencialistas de justiça social, extrapolando a função de melhoria na qualidade da educação (CASSIANO, 2013, p. 60). Assim, o Ministério da Educação e Desporto expõe os objetivos do PNLD:

a) contribuir para a socialização e a universalização do ensino, bem como para a melhoria de sua qualidade, por meio da seleção, aquisição e distribuição de livros didáticos para todos os alunos matriculados nas escolas das redes públicas do ensino fundamental de todo o País, cadastrados no censo Escolar; diminuir as desigualdades educacionais existentes, buscando estabelecer padrão mínimo de qualidade pedagógica para os livros didáticos utilizados nas diferentes regiões do País; possibilitar a participação ativa e democrática do professor no processo de seleção dos livros didáticos, fornecendo subsídios para uma crítica consciente dos títulos a serem adotados no Programa; promover a crescente melhoria física e pedagógica dos livros, garantindo a sua utilização/reutilização por três anos consecutivos (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2001).

Produzido como se fosse novo, o PNLD veio na verdade substituir um programa anterior chamado PLIDEF (Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental), que, por sua vez, já tinha substituído outras políticas públicas com o mesmo propósito, de avaliar, indicar, comprar e distribuir livros didáticos para as escolas públicas. De acordo com o site oficial do programa, o PNLD foi oficialmente implementado por meio do decreto nº 91.542, de 19 de agosto de 1985, no entanto, apesar das mudanças de denominações, filosofia e direcionamento político, pela ideia de continuidade teria sido concebido desde o Decreto-Lei nº 93, de 21 de dezembro de 1937, o qual deu início ao Instituto Nacional do Livro, tendo, portanto, 80 anos.

O PNLD está entre os maiores do mundo em quantidade de investimento e distribuição de obras e apesar do PNLD absorver um programa já existente, apresentava um aumento no orçamento e na aquisição/distribuição de LD, além de nova roupagem institucional, de acordo com Cassiano (2013, p.53-54), embasada em Höfling. Ainda que o PNLD tenha dado seguimento a Programas tão antigos, trouxe modificações significativas para seu funcionamento, tais como: indicação do

livro didático pelos professores; aperfeiçoamento das especificações técnicas para sua produção, visando maior durabilidade e possibilitando a reutilização do livro, implicando a abolição do livro descartável; extensão da oferta a todos os alunos de Ensino Fundamental, na época denominado primeiro grau, de escolas públicas e comunitárias, embora que nem todas essas conquistas foram realizadas imediatamente5. Além disso, algumas das mudanças nos paradigmas desse programa são causadas também pela publicação de leis e documentos relativos à educação brasileira, tais como a LDB, as Diretrizes Curriculares Nacionais e os Parâmetros Curriculares Nacionais, os quais levavam em consideração as discussões teórico-metodológicas em vigência nesse período.

Para Cassiano (2013), o PNLD pode ser dividido em duas fases, sendo a primeira de 1985 até 1995, momento em que se estabelece uma equipe de pareceristas para fazer uma análise pedagógica dos LD que a ela são submetidos pelas editoras; a segunda fase, de 1996 até o momento presente. Essa avaliação oficial foi ocasionada principalmente pela abundância de denúncias presentes em pesquisas científicas, de que muitas das coleções compradas pelo programa e distribuídas para as escolas públicas continham falhas conceituais e mensagens discriminatórias. Um LD mal produzido não causaria um resultado tão negativo se fosse usado com discernimento, mas aliado a fatores como formação deficiente do profissional de educação e condições precárias de trabalho, como já mencionamos antes, temos um cenário muito mais preocupante, como afirma Lajolo (1996, p.8):

A história sugere que a precariedade das condições de exercício do magistério, para boa parte do professorado, é responsável direta por vários dos desacertos que circundam questões relativas ao livro didático na escola brasileira. Um magistério despreparado e mal remunerado não tem as condições mínimas essenciais para escolha e uso críticos do livro didático, o que acaba fazendo circular, nas mãos e cabeças de professores e de alunos, livros que informam mal, que veiculam comportamentos, valores e conteúdos inadequados.

Sendo assim, é instaurado o processo de avaliação pedagógica das coleções didáticas inscritas no PNLD, em 1996, dando início à segunda fase do programa, passando a excluir obras que apresentavam “erros conceituais, indução a erros,

5 Disponível em h ttp://www.fnde.gov.br/programas/programas-do-livro/livro-didatico/historico Acesso: 23

desatualização, preconceito ou discriminação de qualquer tipo”6, procedimento que é adotado até hoje, com alguns aprimoramentos. Somente aí é que “a simples inscrição de livros no PNLD deixou de significar que estes seriam, automaticamente, oferecidos às escolas para escolha” (BATISTA, 2003, p. 38). Atualmente, os critérios de aprovação das coleções dos programas levam em conta que a obra, segundo Rangel (2005), esteja isenta de erros conceituais graves; além de abster-se de

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