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Sobre a contemporaneidade, Ibáñez (2001, p. 12), assim como Anderson (1999, p. 20), Bauman (1997, p. 5) e Giddens (2002, p. 11), coloca um processo de mudança cultural, que ainda estamos vivendo, o da Pós- Modernidade. A Pós-Modernidade ou Pós-Modernismo, apesar de ser um momento fluido, pode ser compreendido em contraponto à Modernidade. Enquanto esta ultima está preocupada com a verdade única, a Pós-Modernidade está preocupada com os efeitos do modo de produzir a verdade. O discurso crítico à universalidade dos conhecimentos desperta o direito à multiplicidade das razões, colocando em cheque a independência do mundo sem o homem.

O Construcionismo Social é uma das ideias contemporâneas que pode ser pensada como uma corrente filosófica que, em maior ou menor grau, apoia todas estas abordagens mais recentes, as quais oferecem alternativas radicais e críticas na psicologia e psicologia social, bem como em outras disciplinas, como as ciências sociais e humanas (GERGEN, 2009, p. 144).

Em sua origem, o Construcionismo Social é um termo que é usado quase exclusivamente por psicólogos. Como Schraiber (1997, p. 3) aponta, muitos de seus pressupostos básicos são, na verdade, fundamentados na disciplina de sociologia. Não existe uma única descrição, que seria adequado para todos os tipos de escritores que se referem como construcionista social. Mas, embora, diferentes escritores podem compartilhar alguma das suas características com os outros, não há realmente nada que todos eles têm em comum. O que liga todos juntos é uma espécie de "semelhança de família" (GERGEN, 2009, p. 155).

Construcionismo social insiste em assumir uma postura crítica em relação as nossas decisões, como certas formas de compreender o mundo, incluindo, nós mesmos. Ela nos convida a sermos críticos na idéia de que o nossa observação do mundo é neutra, desafiando a visão de que o conhecimento convencional é baseado em observação objetiva e imparcial do mundo. É, portanto, em oposição ao que são referidos como o positivismo e empirismo em ciência tradicional – os pressupostos de que a natureza do mundo pode ser revelada pela observação, e que o que existe é o que nós percebemos como existência

(GERGEN, 1985, p. 270). Advertindo-nos a cada vez mais suspeitar nossas suposições sobre como a verdade está dada.

Isto significa que as categorias com as quais nós, seres humanos, apreendemos do mundo não se referem necessariamente a divisões reais. Um exemplo contundente é o de gênero e sexo. Nossas observações do mundo sugerem-nos que existem duas categorias do ser humano, homens e mulheres. O construcionismo social convida-nos a questionar seriamente se a categoria homem e categoria mulher são simplesmente um reflexo natural, ocorrendo tipos distintos de ser humano (MAZE, 2001).

Deste modo, o nosso conhecimento do mundo, com as nossas explicações e entendimento sobre ele, não derivam da natureza do mundo como realmente é, até pelo fato de que o conceito de natureza é construído socialmente (questão que retornarei adiante). Shotter (1993) considera que o mundo vivido não se apresenta como um reflexo de processos inerentes à psique individual, mas sendo compartilhada na ação conjunta, caracterizada como uma arte social e linguística. É por meio das interações diárias entre as pessoas no curso da vida social que nossas versões do conhecimento se tornam reais. Portanto interação social de todos os tipos e, particularmente, do discurso, é de grande interesse para o desenvolvimento social construcionista (GERGEN, 1985, p. 266).

Estes entendimentos negociados podem oferecer uma grande variedade de formas diferentes, e podem, logo, falar de numerosas possibilidades de construções sociais do mundo. Mas cada construção diferente também traz consigo, e convida para um tipo diferente de ação de seres humanos. Por exemplo, antes do movimento de temperança, bêbados foram vistos como inteiramente responsáveis por seu comportamento e assim censurável. A exclusão com o aprisionamento seria a melhor medida de contenção. No entanto, tem havido um movimento de não ver o “alcoólatra” como um criminoso, mas sim de uma pessoa doente, uma espécie de vício. Assim, dependente alcoólico não é visto como totalmente responsável por seu comportamento, uma vez que eles são vítimas de uma espécie de dependência de drogas (STAM, 2001, p. 294). A ação social adequada à embriaguez compreende oferecimento de tratamento médico e psicológico, e não aprisionamento.

Descrições ou construções do mundo, portanto, sustentam alguns padrões de ação social e outras exclusões. Nossas construções do mundo são ligadas a relações de poder, porque elas têm implicações para o que é permitido, ou não, para o que as pessoas diferentes podem realizar, e de como elas podem se relacionar com os outros (STAM, 2001, p. 296).

Em termos das características do Construcionismo Social, descrito acima, seu foco é sobre a especificidade histórica e cultural do conhecimento e a relação entre esse conhecimento e as possibilidades para a ação social e poder. As variedades de abordagens que compartilham esta preocupação são amplas, embora a desconstrução como um método de análise seja frequentemente associada ao desenvolvimento histórico da psicologia discursiva (POTTER, 1996, p. 223). A sua pesquisa muitas vezes aparece sob a rubrica de "análise do discurso" e é freqüentemente associada com a preocupação de identificar os efeitos ideológicos e do poder do discurso (BERGER & LUCKMANN, 1973, p, 33).

Quando nos incorporamos a essas pautas de interação social semelhantes a jogos, nunca nos incorporamos a um só jogo. Em nossas vidas sempre jogamos muitos jogos ao mesmo tempo. O que nos faz perceber que um ato apropriado para um jogo não é, com freqüência, apropriado para outro. A estratégia vencedora em um contexto pode ser, em outro, uma receita destinada ao fracasso (SCHNITMAN, 1996, p. 177).

Foucault argumentou que a maneira como as pessoas falam e pensam sobre sexualidade, por exemplo, e doenças mentais, são amplamente representadas na sociedade e traz com elas implicações para a nossa forma de tratar as pessoas. Nossas representações implicam determinados tipos de relações de poder. Foucault se refere a representações como "Discursos", uma vez que ele percebeu como condutas operacionais são constituidas através da linguagem e de outros sistemas simbólicos (FOUCUALT, 1972, p. 133).

Nossos modos de falar sobre representar o mundo através de textos escritos e imagens constituem os discursos através da qual nós experimentamos o mundo. A análise do discurso de Foucault é um axiomático exemplo do construcionismo social, uma vez que é a estrutura da nossa linguagem, socialmente compartilhada, que produz fenômenos do cotidiano (BERGER & LUCKMANN, 1973, p. 56). A maneira que os discursos constrõem a nossa experiência pode ser examinada por "desconstruir" estes textos, desmontá-los e mostrar como eles trabalham para nos apresentar com uma visão particular do mundo e, assim, permitindo-nos desafiá-la. Exemplos do uso de desconstrução

crítica incluem