• Nenhum resultado encontrado

2.2 O Estágio Pedagógico

2.2.2 O Estágio Pedagógico na Educação Pré-Escolar

2.2.2.4 Construir e gerir materiais pedagógicos no ensino da Matemática: uma

A temática em aprofundamento neste Relatório de Estágio versa a construção, gestão, análise e reflexão sobre materiais pedagógicos, articulando os princípios do Método de Singapura para o ensino da Matemática com as Orientações Curriculares para a Educação Pré- Escolar (Ministério da Educação, 1997).

Tendo em conta os fundamentos científico-pedagógicos apresentados e discutidos anteriormente, destacamos alguns materiais construídos e utilizados/explorados durante as nossas intervenções no contexto da Educação Pré-Escolar, nomeadamente, os livros de histórias, o book builder, o big book, os jogos didáticos, os materiais manipuláveis, os materiais de laboratório, os materiais consultados via Internet, entre outros.

Neste ponto, destacamos o trabalho desenvolvido no âmbito da construção e gestão de materiais pedagógicos, inspirados nos princípios do Método de Singapura já apresentados e discutidos no capítulo anterior deste Relatório.

Neste enquadramento, a nossa ação iniciou-se com a implementação de algumas atividades referentes aos temas matemáticos a trabalhar na Educação Pré-Escolar, de forma a fazermos um pequeno diagnóstico sobre o grupo e sobre cada criança, acerca das aprendizagens e competências já adquiridas. Esta decisão justificou-se pelo facto de o ensino

da Matemática em Singapura ser contruído em espiral. Como já tivemos oportunidade de referir anteriormente, esta abordagem proporciona a introdução de novos conceitos matemáticos baseada em conceitos já anteriormente trabalhados, permitindo assim o aprofundamento e a consolidação dos conhecimentos adquiridos.

Com este propósito, implementámos alguns materiais previamente construídos no âmbito de uma unidade curricular do 1.º ano do curso de Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico, inspirados nos princípios orientadores do Método de Singapura para a Educação Pré-Escolar, que se traduzem em oito grandes temas: Propriedades e critérios; A primeira dezena e o zero; Forma; Espaço; Padrões e raciocínio lógico; Medida; Decomposições, adições e subtrações; e A ordem das dezenas (Santos & Teixeira, 2016). A implementação destes materiais, como já referimos anteriormente, decorreu durante os períodos de trabalho autónomo nas áreas de atividade, em pequeno grupo. A recolha de dados contemplou a observação direta semiestruturada, operacionalizada em registos em grelhas de avaliação (anexo 1) e em descrições feitas no nosso diário de bordo, bem como no registo fotográfico da realização das tarefas pelas crianças, como forma de documentar as aprendizagens evidenciadas na sequência da utilização destes materiais.

Iniciámos assim o nosso diagnóstico com uma atividade relativa ao tema Propriedades e critérios, denominada “Que roupa vestirei?” (guião da atividade no anexo 2). Nesta atividade, a criança deveria estabelecer critérios que lhe permitissem encontrar o intruso (figura 18).

Figura 18: Material pedagógico para a abordagem ao tema “Propriedades e critérios”.

Tendo como principal critério as estações do ano, as crianças foram estimuladas a identificar qual(quais) o(s) objeto(s) ou roupa(s) que desempenhavam em cada exemplo explorado o papel de intruso. Podemos constatar, através da grelha de observação (anexo 1),

que todas a crianças atingiram com facilidade o objetivo proposto, permitindo-nos avançar para o tema seguinte.

No segundo tema, A primeira dezena e o zero, implementámos um material pedagógico, intitulado “Quantos observas?” (guião da atividade no anexo 3). Nesta atividade a criança deveria contar objetos, realizando uma contagem estável e estabelecendo correspondências um para um. Além disso, seria importante que a criança reconhecesse os numerais, associando os símbolos às respetivas quantidades (figura 19).

Figura 19: Material pedagógico para a abordagem ao tema “A primeira dezena e o zero”.

De acordo com os dados recolhidos (anexo 1), podemos constatar que a maioria das crianças contou os objetos com facilidade, reconhecendo os respetivos numerais. No entanto, importa analisar as dificuldades apresentadas pelos restantes alunos. Assim, pudemos observar que os alunos G, M, N e R estavam em fase de aquisição de competências de contagem de objetos. Em muitas dessas situações, as contagens realizadas não respeitavam dois dos princípios da contagem, transparecendo dificuldades na contagem estável (por exemplo, “um, dois, quatro, cinco”) e nas correspondências um-para-um (deixando objetos por contar ou repetindo objetos no decorrer da contagem). Além disso, estes alunos apresentaram muitas dificuldades no reconhecimento dos numerais. Por exemplo, a aluna P,

embora tivesse adquiridas as competências de contagem dos objetos, não reconhecia a maioria dos numerais presentes na atividade. Podemos constatar este facto num excerto do nosso diário de bordo que transcrevemos:

A criança P faz as contagens das personagens do flanelógrafo com estabilidade. No entanto, não reconhece muitos numerais, tais como o 2, 5, 7, 8, 9 e 10 (DB-PE, 13 de outubro de 2015).

Decorrente desta realidade, introduzimos em tempo oportuno, nas atividades autónomas da área da Matemática o caderno “Os meus primeiros números” (figura 20).

Figura 20: As primeiras páginas do caderno de reconhecimento e escrita dos numerais.

Elaborámos este caderno como forma de colmatar as dificuldades inerentes à aquisição das aprendizagens relativas à primeira dezena, com enfoque no reconhecimento e na escrita dos numerais, uma aprendizagem fundamental na Educação Pré-Escolar. O caderno foi construído tendo em conta os princípios do Método de Singapura, havendo um extremo cuidado com a abordagem CPA, articulando-se o concreto, o pictórico e o abstrato com a escrita dos numerais. Embora no Capítulo I tenhamos feito referência a este caderno com exemplos concretos da dinâmica das suas páginas, importa reforçar a necessidade que as crianças têm de, antes de serem capazes de escrever os numerais, reconhecer e designar os numerais, estabelecendo as devidas associações.

Passando ao tema seguinte, Forma, foi implementado mais um material: “Passeando pelas formas” (guião da atividade no anexo 4) (figura 21).

Figura 21: Material pedagógico para a abordagem ao tema “Forma”.

Nesta atividade, esperava-se que a criança reconhecesse as formas nos objetos do dia a dia, identificando as quatro formas básicas do plano: triângulos, quadrados, retângulos não quadrados e círculos. Na primeira implementação deste material, várias crianças revelaram dificuldades na identificação das formas planas (anexo 1), especificamente, as crianças E, G, I, L, M, N, P, R e T. Decorrente desta realidade, surgiu a necessidade de fazer uma segunda abordagem com a implementação do mesmo material pedagógico. Nesta segunda abordagem, notou-se uma clara evolução em mais de metade destas crianças, sendo que as crianças G, L, M e T continuaram ainda a apresentar algumas lacunas neste tema.

Como quarto tema, Espaço, implementámos a atividade “A Caixa dos Sólidos” (guião da atividade no anexo 5) (figura 22).

Nesta atividade, a criança deveria identificar alguns sólidos: cubos, “caixas” (paralelepípedos retângulos) que não eram cubos, cilindros, cones e esferas. Deveria ainda reconhecer alguns desses sólidos nos objetos do dia a dia, conhecer e usar termos de localização espacial (como, por exemplo, “dentro-fora”) e reconhecer a dualidade espaço/plano. Os registos (anexo 1) referentes à implementação desta atividade permitiram verificar a existência de dificuldades apenas na identificação dos sólidos geométricos (crianças E, G, I, L, M, N, P, R e T).

Neste processo não nos foi possível avançar no diagnóstico para os restantes temas devido à escassez de tempo. Contudo, em concordância com a educadora cooperante, com a orientadora de Estágio e com os orientadores científicos deste Relatório, decidiu-se avançar nos processos de construção e validação dos materiais pedagógicos que no próximo capítulo serão apresentados, descritos e alvo de análise e reflexão no respeitante ao seu potencial científico e pedagógico.

Assim, e tendo em conta as necessidades apresentadas pelas crianças, selecionámos os temas A primeira dezena e o zero e Padrões e pensamento lógico a fim de dar continuidade ao trabalho iniciado na etapa de diagnóstico. Numa segunda fase, criámos ainda um material relativo ao tema Medida, destinado às crianças que completaram o tema anterior, o tema Padrões e pensamento lógico. Entretanto, não avançaremos neste momento com a apresentação e análise destes três materiais, pois os processos inerentes à sua construção, gestão e validação cientifico-pedagógica serão alvo de aprofundamento no terceiro ponto deste capítulo do nosso relatório. Apenas reforçamos que as escolhas dos temas a abordar, ao bom estilo do Método de Singapura, seguiram escrupulosamente o respeito pela ordem de aprendizagem dos conceitos: se a aprendizagem do conceito B se baseia no conceito A, o conceito A deve estar consolidado antes de se avançar para as primeiras explorações do conceito B (Santos & Teixeira, 2016).

2.2.3 O Estágio Pedagógico no 1.º Ciclo do Ensino Básico