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2.1 Notas sobre o Estágio Pedagógico

2.1.2 Planificação: organizar e desenvolver a ação pedagógica

A planificação da nossa ação em contexto de Estágio foi estruturada e organizada em sequências didáticas, elaboradas para orientar as intervenções. A planificação é um processo vital para o ensino-aprendizagem: incide na estruturação da ação e na fundamentação da tomada de decisões, que se pretendem adequadas e coerentes. Tal como refere Dias (2009),

para o docente, planificar e tomar decisões são funções imprescindíveis ao seu desempenho profissional e à eficácia na gestão do grupo de crianças/alunos. Planificar pode ser entendido como forma de organizar o trabalho e o tempo. O desenhar, desenvolver, projectar, delinear, traçar um plano, prever/imaginar acontecimentos/situações, arquitectar um plano/programa de acção serão etapas implícitas à actividade diária docente. (p. 29)

Na elaboração das sequências didáticas no decorrer dos dois estágios, equacionámos as competências a desenvolver, os conteúdos a abordar, as estratégias e atividades a implementar, a gestão do tempo, do espaço e dos materiais utilizados, tendo sempre como pano de fundo os contextos (escola, meio) e as crianças/alunos (interesses, necessidades, dificuldades, potencialidades, etc.) num processo que, segundo Zabalza (1994), implica a reflexão sobre os atos a realizar, a previsão dos seus efeitos e a organização funcional de todo o processo como um conjunto integrado.

A planificação da nossa ação nos contextos de estágio teve sempre como ponto de partida as observações e os dados recolhidos sobre a evolução das aprendizagens das crianças/alunos. Estes registos permitiram a análise e reflexão necessárias à estruturação da nossa ação e à tomada de decisões sobre o que ensinar e como ensinar, privilegiando a integração e a adequação de metodologias e estratégias, atividades e materiais pedagógicos. Tal como Cró (1998), entendemos que para o educador/professor importa sobretudo encontrar técnicas variadas e ajustadas que lhe permitam planificar o desenvolvimento das temáticas a ensinar, prever os resultados em termos de objetivos comportamentais, provocar as mudanças desejadas e controlar aquelas aprendizagens em curso. Convém não esquecer que a planificação acontece antes e no decurso da interação, ajustando-se em função da avaliação constante que o educador/professor faz da situação (Tochon, 1989, cit. por Damião, 1996). Nesta ótica, partilhamos de uma perspetiva mais abrangente da planificação, concebendo-a como um instrumento orientador da ação, mas versátil, a gerir de forma flexível em função dos contextos inerentes ao ensino-aprendizagem das crianças/alunos.

As sequências didáticas por nós elaboradas foram supervisionadas pelas professoras orientadoras da Universidade dos Açores e pela educadora e professora cooperantes. Ocorreram reuniões de acompanhamento/reflexão/avaliação, após cada uma das nossas intervenções, das quais se lavraram Atas onde ficaram registados os momentos-chave do nosso desempenho, explicitando-se os pontos fortes, bem como os aspetos a melhorar em intervenções seguintes. Complementarmente, elaborámos para cada intervenção um documento contemplando a análise dos processos de ensino-aprendizagem por nós desenvolvidos, no sentido da sua melhoria futura.

As temáticas/conteúdos a abordar foram definidos atendendo às orientações das docentes cooperantes, no contexto da evolução das aprendizagens, interesses, expetativas e necessidades das crianças/alunos. Esta última premissa assumiu uma grande importância, quer nos momentos de planificação como durante as intervenções, tal como podemos verificar pelos registos do nosso diário de bordo do Estágio na Educação Pré-Escolar (DB-EPE) e na ata de uma das reuniões de reflexão/avaliação:

Nesta sala tudo é diferente! Tudo o que as crianças dizem é aproveitado, tudo o que elas fazem é motivo de conversa e de interesse para a educadora. Tudo é decidido em conjunto… Tudo nesta sala pode dar um projeto e são elas que decidem o que fazer. (DB-EPE, 17 de setembro de 2015)

Neste sentido, no que respeitou ao primeiro dia de intervenção, segunda-feira, dia doze de outubro, os pontos mais positivos salientados pelos três elementos foram, nomeadamente, o aproveitamento da vontade/interesse das crianças em fazer o registo do fim-de-semana através do desenho. Embora o estagiário não o tivesse planificado, aproveitou este momento para ir ao encontro daquilo que eram os interesses das crianças. (Ata n.º 3, 14 de outubro de 2015)

Do mesmo modo, na planificação da nossa ação tivemos em conta os documentos curriculares norteadores da ação pedagógica, nomeadamente: o Referencial Curricular para a Educação Básica na Região Autónoma dos Açores (CREB, 2011), as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (OCEPE) (Ministério da Educação, 1997), para Estágio Pedagógico I, e os Programas e Metas Curriculares para o 1.º Ciclo do Ensino Básico, ao longo do Estágio Pedagógico II. Em ambos os contextos, recorremos também ao Projeto Educativo de Escola (PEE) e ao Plano Anual de Atividades (PAA). A partir destas referências foram identificadas as prioridades e competências a desenvolver e tomadas as decisões quanto

às estratégias, atividades e materiais a privilegiar, bem como à organização e gestão do espaço e do tempo. No que se refere à gestão do tempo é importante adiantar que nas primeiras intervenções, tanto na Educação Pré-Escolar como no 1.º Ciclo do Ensino Básico, foi necessário fazer reajustes, flexibilizando o tempo atribuído a algumas atividades, em função das necessidades detetadas.

Como já tivemos oportunidade de referir, a planificação assume-se como um documento orientador, não diretivo, passível de adaptações no decorrer das intervenções em função das dificuldades, necessidades e motivações do grupo/turma, tal como podemos depreender no excerto da reflexão da 1.ª intervenção no 1.º Ciclo do Ensino Básico:

Aquando da realização de exercícios e problemas com recurso à reta numérica, apontámos grandes dificuldades por parte da maioria dos alunos. Desta forma, sentimos a necessidade de abordar os mesmos exercícios recorrendo a objetos reais, ou seja, recorrendo a uma abordagem concreta, embora não estivesse previsto na planificação. (Reflexão/Avaliação da 1.ª Intervenção, dia 1, 2 e 3 de março)

No seguimento desta análise, importa ainda salientar que foi nesta fase de planificação que se projetaram e construíram os materiais pedagógicos utilizados nas nossas intervenções que são, simultaneamente, a temática em aprofundamento no presente Relatório. Remetendo- nos aos princípios apresentados no capítulo anterior acerca da construção dos materiais pedagógicos, a fase de planificação proporcionou o contacto com as etapas de produção do material pedagógico, definidas por Correia (1995), nomeadamente a escolha do tema, a definição dos objetivos, a escolha do suporte, as caraterísticas do público e a elaboração do projeto.