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2 A SOCIEDADE DO CRÉDITO AO CONSUMO E O DESAFIO GLOBAL DO

2.4 O consumo consciente e sustentável

O consumo é realmente uma atividade que faz parte da rotina de toda população, é algo constante e contínuo, porém necessário para a sobrevivência do ser humano, isso já ficou clarividente por meio de disposições mencionadas anteriormente. No entanto, a sociedade de consumo é praticamente baseada nos valores do verbo “ter”, que acaba por caracterizar pessoas irresponsáveis, impulsivas e que não compreendem a importância de um consumo consciente, para que assim as consequências negativas não venham a ocorrer, seja na esfera ambiental ou social, mas especialmente no âmbito pessoal, em função das consequências nefastas que o endividamento pode provocar para o indivíduo e sua família.

Na atualidade, infelizmente, vivemos em uma sociedade em que a posição do “ter” é muito mais importante do que “ser”. O ser significa a posse de objetos pertencentes a nós mesmos, já o ter significa a posse de objetos materiais que nos traz sentimentos egocêntricos. Deste modo, sendo o ter a posição de uma sociedade de consumo, vivemos em uma realidade onde as relações sociais são pouco valorizadas e os produtos oferecidos no mercado de consumo acabam por ser uma das principais prioridades.

As pessoas estão sendo levadas a pensar que o fato de consumir é algo que irá satisfaze-las por completo e que o único sentido de viver está na situação de apenas possuir bens materiais e imateriais para que possamos ter uma vida repleta de realizações, esquecendo-se das relações interpessoais. É nesse sentido que a autora Ana Beatriz Barbosa Silva (2014, p. 18) tem a finalidade de contribuir sobre a principal finalidade de uma sociedade de consumo:

Nesse contexto social, é necessário possuir tudo que seja capaz de gerar prazer de forma intensa e imediata. Outra característica que pode tornar um produto bem mais valorizado no mercado é o seu grau de exclusividade. Quanto menos compartilhado for um objeto (e/ou uma experiência), mais valor ele terá e mais status dará a quem o possuir.

A partir do conceito do que é consumir, as pessoas devem ter em mente que essa atividade é para suprir as necessidades básicas de um indivíduo para que possa viver com dignidade. No entanto, algumas pessoas acabam por confundir que o ato de consumo é uma

prática de obter tudo aquilo que for conveniente para satisfazer um desejo ou minimizar uma ansiedade, de forma quase desnecessária.

Nas palavras de Bauman (2008, p. 28), estamos vivendo:

[...] num mundo em que uma novidade tentadora corre atrás da outra a uma velocidade de tirar o fôlego, num mundo de incessantes novos começos, viajar esperançoso parece mais seguro e muito mais encantador do que a perspectiva da chegada: a alegria está toda nas compras, enquanto a aquisição em si, com a perspectiva de ficar sobrecarregado com seus efeitos diretos e colaterais possivelmente incômodos e inconvenientes, apresenta uma alta probabilidade de frustração, dor e remorso. E como as lojas da internet permanecem abertas o tempo todo, pode-se esticar à vontade o tempo de satisfação não contaminada por qualquer preocupação com frustrações futuras. Uma escapada para fazer compras não precisa ser uma excursão muito planejada – pode ser fragmentada numa série de agradáveis momentos de excitação, profusamente borrifados sobre todas as outras atividades existenciais, acrescentando cores brilhantes aos recantos mais sombrios ou monótonos.

O consumismo, como observamos, é uma prática que vem atingindo milhares de pessoas em todo o mundo, é uma realidade, que em primeiro momento, pode ser difícil de solucionar. No entanto, para reverter essa situação, é necessário que a sociedade faça uma reflexão diante de tudo àquilo que consome, partindo dos pressupostos de como determinado produto vai lhe beneficiar, se ele realmente lhe trará benefícios enquanto ser humano, e se realmente é importante investir em certos bens, sendo que a sua necessidade, enquanto consumidor, já está suprida. As pessoas precisam voltar a pensar, racionalizar, ponderar e, consequentemente, sopesar todos os fatores, positivos e negativos, advindos do ato de consumir, de forma que seja exigido de toda a população o investimento em conscientização. Neste sentido, Ana Beatriz Barbosa Silva (2014, p. 183) acrescenta que:

[...] o consumo excessivo e descontrolado se constitui no retrato fidedigno de uma sociedade onde quase tudo já está à venda. E, se continuarmos cegos, indiferentes ou envoltos nos delírios consumistas, viveremos em um mundo ainda mais inóspito, marcado pela desigualdade abissal entre seus semelhantes e pela corrupção que tenderá a estabelecer preços para as coisas que o dinheiro não pode comprar.

As relações interpessoais devem ser uma prioridade perante a sociedade, pois é somente assim que as pessoas irão se desenvolver como indivíduos e espécie. O ser humano é uma espécie que está no topo de qualquer outro ser biológico, uma vez que é detentor de

inúmeras habilidades sociais, ligadas ao senso ético e moral e por praticar atos solidários. Assim sendo, nenhum ser humano tem a habilidade de realizar qualquer atividade de forma isolada ou solitária (SILVA, 2014, p. 21).

A sociedade de consumidores está sempre em processo de produção de estímulos de carência e desejos que desejam despertar nas pessoas, uma vez que os membros dessa sociedade são julgados por tudo aquilo que estão consumindo. Essas pessoas consomem apenas com olhares e emoções voltados para eles mesmos, de forma individual e egoísta, não se preocupando com as consequências que podem vir à tona em decorrer do consumo exagerado. O consumo refere-se a um conjunto de decisões políticas e morais e, é uma atividade que está sempre afetando de forma direta o meio ambiente, uma vez que é a própria natureza que fornece a matéria para que os bens sejam produzidos.

A população está em um processo de consumo que vai além da capacidade que a natureza pode oferecer de recursos naturais. Se a situação continuar descontrolada, mantendo o índice de consumo e produção no mesmo nível, o planeta pode não conseguir atender a demanda das necessidades mais básicas que um ser humano necessita.

O ser humano, por meio de suas habilidades psíquicas, físicas e sociais, é capaz de consumir de forma consciente, partindo do comprometimento da responsabilidade e o respectivo controle sobre os seus atos no momento em que for consumir. O consumidor consciente precisa estar apto para escolher produtos ou serviços que de alguma foram venham a contribuir para uma condição de vida ambientalmente sustentável e socialmente justa. Essa forma de consumo significa dizer que os indivíduos precisam escolher produtos que, durante a fase de produção, muito pouco foram utilizados de recursos naturais e, consequentemente, poderão ser reaproveitados ou reciclados.

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