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3 SOCIEDADE SUSTENTÁVEL

3.2 CONSUMO E CONSUMISMO

3.2.1 Consumo Sustentável nas Compras Públicas

Por ocasião de levantamentos virtuais e em documentos físicos, sobre as compras públicas de natureza sustentável, foram encontrados termos com significados aproximados para referenciar compras de produtos e serviços diferenciados da “tradicional”, nomeada sem adjetivação complementar. Semelhantemente, a palavra consumo recebe os adjetivos “verde”, “sustentável”, “ético”, “ecológico”, “solidário” para justificar comportamentos do consumidor a favor do meio ambiente.

Nesta Tese, foi feita a escolha do adjetivo “sustentável” para acompanhar os substantivos compra, consumo, desenvolvimento e sociedade, porque se entende que esta palavra abarca significados mais amplos como consciência, responsabilidade, consequências e compreensão abrangente. Esta preferência corrobora com aquela adotada pelo Ministério do Meio Ambiente que reza que o “Consumo consciente, consumo verde, consumo responsável são nuances do Consumo Sustentável” (O QUE É..., [20--?]).

As chamadas “compras sustentáveis” e Compras Públicas Sustentáveis, com abrangência institucional, empresarial, coletiva e individual estão relacionadas aos consumidores de produtos e serviços, privados e públicos. Através delas, há uma melhora das condições de trabalho e da qualidade de vida da população, tanto das áreas rurais quanto das urbanas, fomentando empregos verdes e descentes, que conservam ou reestabelecem a qualidade ambiental, com baixa emissão de CO2, economia de energia, otimização do uso da água, de matérias-primas, e

redução de poluentes (PNUMA, 2008).

São estratégias que podem contribuir para programas, projetos e planos de proteção e restabelecimento de ecossistemas e da biodiversidade. Uma compra é considerada sustentável quando o comprador avalia a necessidade real de efetuá- la, verifica as circunstâncias em que o produto visado foi gerado, considera os materiais e as condições de trabalho de quem o gerou, projeta e idealiza como o produto se comportará em sua vida útil e como se dará a sua disposição final.

A Administração Pública tem se esforçado no sentido de se tornar uma consumidora sustentável. Para isso, ela organizou um plano de ação específico para articular as políticas com enfoque participativo e de comunicação. Todos são agentes de transformação social do desenvolvimento “econômico” sustentável, da economia verde contextualizada nas suas realidades, e da sociedade “inclusiva” sustentável.

Todavia, segundo Canclini (2006), as relações entre o consumo e a cidadania não são mecânicas ou mesmo coerentes. Existem círculos ocultos na logística de mercado que estimulam os vícios de comprar. Contudo, é fundamental para a conjuntura ambiental do momento a ampliação das formas de capacitar as pessoas para internalizar os conceitos de sustentabilidade e o papel de cada um conforme as atitudes consumeristas diárias. Neste sentido, a Educação Ambiental é um processo de ensino e aprendizagem, e por isso seus conteúdos e práticas nunca estão prontos e definidos. Na verdade, o tempo faz a sua dinamicidade e introduz as transformações projetadas pelos agentes.

Estes processos educativos são mediados pela produção industrial de cultura e da comunicação tecnológica e interferem no consumo diferido e segmentado dos bens. As pessoas têm direito de escolhas e prioridades, ainda que haja distorções discutíveis das necessidades de cada um (CANCLINI, 2006).

O consumo não é um ato arbitrário. Na sua complexidade, ele pode ser compreendido como processos que não mais se prendem aos gostos e caprichos, explica o autor, porque ele está inserido na lógica racional de mercado, no ciclo de produção e na reprodução social de hábitos, comportamentos, e inserção nos grupos de relacionamento.

A interferência da ciência e da tecnologia permitiu aumentar a variabilidade de objetos e o crescimento das opções por produtos e serviços que tragam bem-estar para a população e para o Planeta. Quando há um excessivo gasto de energias e matérias-primas pelos setores da economia para produzir objetos ou alimentos de intenso consumo, por exemplo, a sobrecarga poluente aumenta, ainda mais quando são acondicionados em embalagens “imediatamente” descartáveis de alumínio, plástico, isopor e outros. Nessas situações, é preciso que o consumidor esteja ainda mais atento para a durabilidade do produto e seu ciclo de vida.

A “Análise do Ciclo de Vida” de um produto consiste no exame do seu período de vida – desde a sua concepção até a apropriada e derradeira rejeição – processo, sistema ou função, com a intenção de identificar seu impacto ambiental, no decorrer de sua “existência”, que inclui desde a extração do recurso natural, seu processamento para transformação em produto, transporte, consumo/uso, reutilização, reciclagem, até a disposição final. É comum utilizar-se a figura de linguagem “do berço ao túmulo”, para exemplificar o conceito.

Tudo depende de onde o consumidor se encontra, da sua posição social, da cultura, da família, da identidade com o território particular, dos princípios e noções já adquiridos, para se (re)definir reformulações, renovações de ideias, comportamentos e atitudes. “Hoje vemos os processos de consumo como algo mais complexo do que a relação entre meios manipuladores e dóceis audiências” (CANCLINI, 2006, p. 51

Logo, existe o “poder” das publicidades para atrair compradores. Nesse sentido, haveria um consenso do sucesso desta “técnica” para dar início às ações de convencimento e, consequentemente, poder-se-ia pensar que os atos de consumo sustentável demandariam essa “colaboração” das mídias. Todavia, vale ressaltar que o consumidor consciente pode dispensar este “gasto” e aderir aos produtos sustentáveis fazendo uso do seu livre arbítrio.

A consciência ambiental é o motor da discussão e concretização do estabelecimento de um mercado sustentável, que, ao ganhar escala, aumenta sua pujança econômica, os benefícios sociais e reduz os impactos ambientais. Embora o consumidor consciente e solidário já tenha superado a fase de convencimento da importância do consumo sustentável, é relevante explorar e reforçar o alcance das tecnologias e a “insaciabilidade” por informações.

Constantemente estimulada pelos “ecovendedores”, as ideias de mudança têm repercussões nas escolhas de compra de administradores públicos e privados. Esta interação envolve regulamentos e compromissos e depende de novos olhares que podem ser construídos com base em princípios e narrativas atinentes à almejada Sociedade Sustentável. “E como a relação exige confiança recíproca e se concentra nas soluções para o consumidor, não nos produtos do fornecedor, também eleva a níveis superiores o princípio de que ‘o freguês sempre tem razão’” (HAWKEN et al., 2007, p. 130).