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O CONSUMO E TRÁFICO DE DROGAS: UM BREVE HISTÓRICO NA SOCIEDADE COM ÊNFASE NOS DIREITOS DA JUVENTUDE

3 A QUESTÃO DO CONSUMO E TRÁFICO DE DROGAS NA ATUAL SOCIABILIDADE DO CAPITAL COM ÊNFASE NA JUVENTUDE E A RESPOSTA DO ESTADO VIA

3.2 O CONSUMO E TRÁFICO DE DROGAS: UM BREVE HISTÓRICO NA SOCIEDADE COM ÊNFASE NOS DIREITOS DA JUVENTUDE

As desigualdades oriundas do capitalismo é a base para o caos que se vivencia no mundo e no Brasil atualmente, onde jovens essencialmente negros e pobres, moradores de periferia tem suas vidas aniquiladas ou entregues para o crime e a superlotação descontrolada das prisões. A forma como o Brasil enfrentou isso historicamente, caráter herdado do sistema de controle Nacional, tem sido repressor e criminalizando o indivíduo.

Historicamente o Brasil se configura como um país dependente e de desenvolvimento tardio, devido sua relação com os países internacionais e a dependência econômica. A conquista dos direitos da juventude não se fez diferente, se fez tardia, onde antes da década de 90, não havia direitos voltados especificamente para essa categoria, sendo apenas para crianças e adolescentes, ou medidas paliativas em casos pontuais. Com muita luta dos movimentos sociais pela juventude pressionando o Estado, o mesmo tem respostas como forma de enfraquecer essas organizações, colocando parte dos direitos que são reivindicados. Os movimentos sociais têm sido fundamentais historicamente na conquista de direitos, de todas as ordens, e quando falamos na juventude ela vem participando cada

vez mais das tomadas de decisão na política brasileira, sem um ator essencial. Em 1937, a União Nacional dos Estudantes foi a primeira organização de resistência em nível nacional.

Em 2002, as pré-eleições onde tinha como candidato o Luiz Inácio Lula da Silva, se configurou como um cenário de oportunidade de pauta política que daria grande visibilidade e abriria espaço para propostas de campanha, na qual os movimentos, organizações não governamentais e estudiosos da área colocaram a questão da juventude, compreendendo a necessidade da garantia de direitos para esse segmento. Já no governo Lula (2003-2011), algumas demandas da sociedade passam a serem atendidas, as políticas sociais são ampliadas, mas com uma configuração focalizada, não universal, apenas voltada somente para aqueles em extrema vulnerabilidade social5. As ações

voltadas à juventude passam a ganhar maior visibilidade e são implementadas ações mais sistematizadas. Entre os anos de 2003 e 2004 tem-se a implementação da Câmara Federal da Comissão Especial de Políticas Públicas de Juventude, onde ocorre o debate sobre o estatuto da juventude. No ano seguinte, é criado a Secretaria Nacional de Juventude – SNJ; o Conselho Nacional de Juventude – CONJUVE; o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – PROJOVEM e estabelecida a Política Nacional da Juventude – PNJ, que foram de fundamental importância na execução, gestão e criação de políticas e programas voltados à juventude. Segundo CAETANO. 2017. P.11)

Com a chegada do Partido do Trabalhadores – PT – ao poder, o país passou a viver um cenário no qual grande parcela da população brasileira se sentia representada. Diversas demandas das classes Nota sobre o que entende por vulnerabilidade social populares, como ainda de grupos geracionais vieram à tona, entre elas, as demandas da juventude – tradicionalmente invisibilizada.

Diante disso, o governo passa a realizar ações focadas na juventude, de forma sistematizada, implementando políticas, programas que atendessem ao que estavam em pauta na sociedade, essencialmente questões voltadas a violência cotidiana expressa pela criminalidade, pelo tráfico e consumo de drogas que tomam os jornais, programas de TV, associando essa realidade ao jovem. O marco da conquista de direitos foi a promulgação da Lei 12.852 de 05 de agosto de 2013,

5 Na compreensão do conceito de vulnerabilidade social, entende-se que ele vai muito além da pobreza, é

importante considerar diversos fatores como desemprego, violência, questões sociais que limitam o indivíduo a ter acesso a bens e serviços necessários e a oportunidades existentes na sociedade.

que institui o Estatuto da Juventude, estabelece princípios e diretrizes das políticas públicas da juventude, bem como coloca o Sistema Nacional de Juventude – SINAJUVE.

De fato, esse período é marcado por avanços no âmbito legal no que diz respeito aos direitos das juventudes, aborda a questão dos direitos à participação política, educação, ao trabalho, à saúde, à cultura, citando inclusive alguns pontos sobre a educação voltada a jovens indígenas, negros. No entanto, isso não significa que o Estatuto considera as particularidades e a pluralidade da juventude. O documento aborda essa categoria social como “juventude”, desconsiderando que esse grupo tem grande diversidade, questões de classe social, cultural, regional, que coloca a necessidade de entender esse segmento como “juventudes”, onde a idade não é o critério essencial para basear os direitos dessa população. Como afirma Batista e Araújo (2015, p. 3758)

Como consequência, o Estatuto, baseado na tese singular daquilo que define como juventude unicamente a partir da faixa etária, parece querer moldar a definição do que é juventude (s) eliminando a importância da compreensão do processo social contraditório do qual emerge as juventudes.

Nesse sentido, de acordo com os autores, o estatuto não abarca o jovem em sua totalidade, não considerando particularidades dos jovens brasileiros. No que diz respeito a participação da juventude na política brasileira, o estatuto busca modificar a forma de fazer política das ruas para dentro dos espaços de decisão do Estado, o que pode configurar uma política que se caracteriza como “troca de interesses” buscando frear os movimentos sociais e suas diversas formas de reivindicação. Ao mesmo tempo, carregam um potencial de manutenção do sistema capitalista, os jovens têm grande poder de transformação social, em uma fase de desenvolvimento e tomada de decisão e questionamento do que é imposto socialmente. Quando o Estado instituiu uma Lei e estabelece legalmente direitos, acaba atendendo a parte dos que são reivindicados pela sociedade e movimentos sociais, e ao mesmo tempo enfraquece as reivindicações e participação social, na prática não modifica a realidade, devido às próprias configurações do sistema capitalista, desigual por natureza. Ao adentrar o âmbito do desemprego da juventude, por exemplo, a categoria social mais afetada coloca em questão a efetividade do que é previsto na Lei. O acesso ao ensino superior e modalidades de ensino que permitem jovens terminarem o ensino fundamental e médio independentemente da idade,

coloca oportunidade de acesso e ascensão social, ao mesmo tempo que o capitalismo precariza cada vez mais as formas de trabalho, até para aqueles que se encontram com boa escolarização.

Muitos jovens têm ficado fora do acesso aos direitos sociais básico, sem oportunidade de emprego e renda onde, por vezes, acabam adentrando no mercado ilegal como forma de inserção forçada socialmente. Questões sociais são determinantes para o caminho que será percorrido. As prisões que se encontram superlotadas, insalubres, sem condições nenhuma de que ocorra uma reeducação do indivíduo privado de liberdade. Os centros para crianças e adolescentes serem ressocializados e as prisões para os jovens que alcançam a maioridade penal no Brasil, oferecem condições desumanas, insalubres, repressoras, não oferecem condições de ressocialização.

Isso é abordado pelo cantor, rapper brasileiro e historiador Gustavo Pereira Marques, conhecido como Djonga, em uma de suas composições Favela Vive 3, ele relata a realidade do jovem negro e pobre, morador de favela que sofre com o preconceito e a violência cotidiana. Em seu texto ele aborda a questão da realidade do sistema prisional brasileiro, onde indivíduos que são privados de liberdade por questões mais brandas, acabam mergulhando na criminalidade ao conhecê-la dentro das cadeias, como forma até mesmo de sobrevivência.

Hm mano meu foi preso roubando manteiga, é Saiu da tranca, quis assaltar um banco Daquele tipo de ladrão, pernas pra quem tem Bala alojada no joelho, hoje te chamam manco. Meu pai me disse "cuidado com essa pochete e esse cabelo loiro Meu filho, 'cê num é branco" Geral vestido igual, mas os canas te olharam diferente, eu só lamento.

(MARQUES “Djonga”, 2018)

O Centro de Detenção Semiaberto CEDUC, localizado no Pitimbu na região metropolitana de Natal é exemplo dessa realidade. FROTA (2006), analisa o cotidiano dos meninos privados de liberdade e como são tratados pelos educadores sociais e a equipe que compõe o CEDUC. Reflete um espaço de repressão e encarceramento sem existência do viés educador, com oficinas suspensas, inseridos em um ambiente sem higiene, recebendo comida azeda. O cotidiano da instituição é permeado pela violência, pelo desrespeito à vida, pela humilhação, e atos simbólicos que acabam gerando cada vez mais violência. Do outro lado um educador, relata que o Estado não fornece

condições, nem recursos para que o trabalho de reeducação seja desenvolvido, e afirma a impossibilidade de 4 ou 5 educadores sociais conseguirem realizar atividades educativas com cerca de 60 meninos. O cenário é complexo, apesar da Lei 12.594 de 18 de janeiro de 2012 instituir o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE, com uma perspectiva pedagógica, o que ocorre na prática está longe disso.

4 MORTALIDADE DA JUVENTUDE E O RANKING DA VIOLÊNCIA NO RN COM