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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

A QUESTÃO DO CONSUMO E TRÁFICO DE DROGAS E A

MORTALIDADE DA JUVENTUDE EM NATAL – RN: DESAFIOS E

ESTRATÉGIAS

DÉBORA BARRETO DO NASCIMENTO

NATAL – RN

2021

(2)

2

A QUESTÃO DO CONSUMO E TRÁFICO DE DROGAS E A

MORTALIDADE DA JUVENTUDE EM NATAL – RN: DESAFIOS E

ESTRATÉGIAS

Monografia de graduação apresentada ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do Grau de Bacharel em Serviço Social.

Palavras-Chave: Mortalidade de jovens; Tráfico de drogas; Política de Drogas.

Orientador (a): Profa. Dra. Maria Célia Correia Nicolau

NATAL – RN

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Nascimento, Débora Barreto.

A questão do consumo e tráfico de drogas e a mortalidade da juventude em Natal - RN: desafios e estratégias / Débora Barreto do Nascimento. - 2021.

61f.: il.

Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Serviço Social. Departamento de Serviço Social. Natal, RN, 2021.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Célia Correia Nicolau.

1. Mortalidade de jovens - Monografia. 2. Tráfico de drogas - Monografia. 3. Política sobre drogas - Monografia. I. Nicolau, Maria Célia Correia. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/CCSA CDU 343.2

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DÉBORA BARRETO DO NASCIMENTO

A QUESTÃO DA OFERTA DE DROGAS E A MORTALIDADE DA JUVENTUDE EM NATAL – RN: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS

Monografia de graduação apresentada ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do Grau de Bacharel em Serviço Social.

Aprovado em: 19 / 04 / 2021

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Maria Célia Correia Nicolau (UFRN) Orientadora

Prof. Esp. Fernando Gomes Teixeira (UFRN) Membro Titular Interno

As. Ms. Gleyca Thyês da Silva Romeiro Rocha Membro Externo

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus e a Nossa Sra. Aparecida pelo dom da vida e por terem me guiado e me fortalecido nessa trajetória. Agradeço a minha família, em especial agradeço a minha mãe que sempre me apoiou, me ajudou além do que poderia, para que hoje eu pudesse chegar aqui. A minha irmã Luiza, e ao meu marido Neto que sempre estiveram comigo e fizeram parte dessa trajetória. Grata a minha tia Luciana, assistente social que me apresentou o curso e esteve junto acreditando na minha trajetória.

Agradeço aos amigos e colegas que o curso de Serviço Social me proporcionou conhecer e enfrentar as dificuldades e alegrias durante esse trajeto juntos. Agradeço a todos os docentes e profissionais que lecionaram durante o curso e fortaleceram minha formação profissional e pessoal. Também, a minha orientadora Maria Célia Correia Nicolau que trouxe muito aprendizado e conhecimento.

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RESUMO

Aborda a questão da mortalidade de jovens no Estado do Rio Grande do Norte com ênfase na realidade da cidade de Natal, relacionado ao uso e tráfico de drogas. Objetiva compreender os determinantes que configuram o contexto da mortalidade de jovens e a sua relação com o uso e tráfico de drogas. Constitui uma pesquisa social realizada a partir de estudos bibliográficos e documentais, onde constata o perfil do jovem que tem sido atingido pela violência no RN e no Município de Natal, considerando dentre outros, sexo, raça, idade, escolaridade, estado civil e ocupação. Aborda, também, as questões da pobreza e influências das mídias sociais na vida do jovem. Apresenta o padrão das ocorrências em Natal destacando dados relacionados ao tipo de conduta letal e o instrumento utilizado nos homicídios. Delimita uma análise comparativa à luz dos dados estatísticos, entre os anos de 2017 a 2019 verificando a variação dessa mortalidade. Apresenta os determinantes dessa questão na cidade de Natal/RN e destaca as particularidades das zonas administrativas e bairros que concentram maiores índices de mortalidade e oferta de drogas. Constata que a problemática em Natal apresenta maiores índices nas zonas administrativas Norte (dividida em duas), especificamente no bairro de Nossa Senhora da Apresentação. Essa região é marcada pela desigualdade e ausência de políticas públicas eficazes moldadas por um contexto neoliberal, sendo políticas de caráter seletivo e paliativo. Diante disso, o estudo identifica os vazios assistenciais presentes e associa isso como um dos determinantes que levam à maior oferta de drogas na região. Percebe a associação da mortalidade de jovens no RN e em Natal ao uso, tráfico e organizações criminosas. Diante dos desafios postos, projeta as estratégias formuladas por parte do Estado e sociedade civil para enfrentá-los.

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ABSTRACT

It addresses the issue of youth mortality in the State of Rio Grande do Norte with an emphasis on the reality of the city of Natal, related to the use and trafficking of drugs. It aims to understand the determinants that shape the context of youth mortality and its relationship with drug use and trafficking. It constitutes a social research carried out based on bibliographic and documentary studies, which shows the profile of young people who have been affected by violence in RN and in the Municipality of Natal considering others, sex, race, age, education, marital status and occupation. It also addresses issues of poverty and the influence of social media on young people's lives. It presents the pattern of occurrences in Natal, highlighting data related to the type of lethal conduct and the instrument used in homicides. It delimits a comparative analysis in the light of statistical data, between the years 2017 to 2019 in order to verify the variation of this mortality. It presents the determinants of this issue in the city of Natal / RN and highlights the particularities of the administrative zones and neighborhoods that concentrate the highest mortality and drug supply rates. It finds that the problem in Natal has higher rates in the North administrative zones (divided into two), specifically in the neighborhood of Nossa Senhora da Presentation. This region is marked by inequality and the absence of public policies shaped by a neoliberal context, being selective and palliative. In view of this, the study identifies the care gaps present and associates this as one of the determinants that lead to the greatest supply of drugs in the region. Perceives the association of youth mortality in RN and in Natal with use, trafficking and criminal associations. Faced with the challenges challenges, it designs the strategies formulated by the State and civil society to cope. Key words: Youth mortality; Drug trafficking; Drug Policy.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – DESIGUALDADE NO BRASIL

FIGURA 2 - EFETIVO DE POLÍCIA CIVIL DO RN – 2018

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LISTA DE SIGLAS

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA

SVP – SERVIÇO VOLUNTÁRIO DE PESQUISA

SENAD – SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS

SUS – SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

SUAS – SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

SISNAD – SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS

ECA- ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

SNJ – SECRETARIA NACIONAL DE JUVENTUDE

CONJUVE – CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE

PROJOVEM – PROGRAMA NACIONAL DE INCLUSÃO DE JOVENS

PNJ - POLÍTICA NACIONAL DA JUVENTUDE

EAD – ENFERMARIA ÁLCOOL E DROGAS

SENAD – SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS

CF – CONSTITUIÇÃO FEDERAL RN – RIO GRANDE DO NORTE

CEDUC – CENTRO DE DETENÇÃO SEMIABERTO SESC - SERVIÇO SOCIAL DO

COMÉRCIO

SINPOL - RN – SINDICATO DOS POLICIAIS CIVIS DO RIO GRANDE DO NORTE

ADEPOL – RN - ASSOCIAÇÃO DOS DELEGADOS DA POLÍCIA CIVIL DO RIO

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1- ÓBITOS POR ETNIA (MORTES VIOLENTAS INTENCIONAIS EM NATAL – 2018

TABELA 2 - ÓBITOS POR SEXO EM NATAL – 2018

TABELA 3 - ÓBITOS POR IDADE NO RN TABELA 4 – INSTRUMENTOS

TABELA 5 – TIPO DE CONDUTA LETAL – MORTALIDADE DE JOVENS EM NATAL EM NÚMEROS ABSOLUTOS

TABELA 6 - BAIRROS E ZONAS ADMINISTRATIVAS DE NATAL

TABELA 7 – COBERTURA ASSISTENCIAL DA ZONA NORTE DE NATAL

SUMÁRIO

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2 A JUVENTUDE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E O CONSUMO DE DROGAS: A MÌDIA SOCIAL COMO INFLUENCIADORA NA FORMAÇÃO DO JOVEM

USUÁRIO DE

DROGAS ... 15 2.1 A JUVENTUDE NO CONTEXTO DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E O LUGAR COMUM DOS JOVENS POBRES NO ENVOLVIMENTO COM O CONSUMO E O TRÁFICO DE DROGAS ... 15

2.2 O QUE SÃO AS DROGAS EM SUA HISTORICIDADE, AS MÍDIAS SOCIAIS E SEUS MECANISMOS INFLUENCIADORES NA FORMAÇÃO DA JUVENTUDE NO CONSUMO E NO TRÁFICO DE DROGAS ... 24

3 A QUESTÃO DO CONSUMO E TRÁFICO DE DROGAS NA ATUAL SOCIABILIDADE DO CAPITAL COM ÊNFASE NA JUVENTUDE E A RESPOSTA DO ESTADO VIA POLÍTICA DE ATENÇÃO ÀS DROGAS...29

3.1 UM BREVE HISTÓRICO DO PROIBICIONISMO NO BRASIL E AS RESPOSTAS DO ESTADO FRENTE A QUESTÃO DAS DROGAS ... 29

3.2 O CONSUMO E TRÁFICO DE DROGAS: UM BREVE HISTÓRICO NA SOCIEDADE COM ÊNFASE NOS DIREITOS DA JUVENTUDE... 34

4 MORTALIDADE DA JUVENTUDE E O RANKING DA VIOLÊNCIA NO RN COM ÊNFASE EM NATAL E OS DESAFIOS E ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DA SEGURANÇA PÚBLICA ... 38

4.1 MORTES VIOLENTAS INTENCIONAIS DA JUVENTUDE NA CIDADE DE NATAL E O RANKING DA VIOLÊNCIA ... 38

4.2 COMBATE AO CONSUMO E AO TRÁFICO DE DROGAS PELA SEGURANÇA PÚBLICA EM NATAL ... 47

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1 INTRODUÇÃO

Com a globalização e modernização do sistema capitalista, a expectativa social era a melhoria da qualidade de vida e garantia de direitos da população. No entanto, o que ocorre é o avesso. Telles (2001) chama o fenômeno de “a comédia do progresso'', diante da realidade contemporânea onde a modernidade reflete o aumento do desemprego, da pobreza. A pobreza é vista como algo externo da sociedade, naturalizado, que torna essas pessoas invisíveis e esquecidas, mas que é visto como componente necessário da sociedade pelas elites para manter seu padrão de vida. Já não há mais a crença na justiça e igualdade pela população marginalizada.

Os pobres não têm lugar no mercado de trabalho do mundo globalizado, ele enfrenta dificuldade para se adequar devido à falta de capacitação que o atual mercado demanda com o progresso contemporâneo. Isso ocorre devido à sua própria situação de pobreza que não proporciona oportunidades. A juventude é atingida demasiadamente com as mudanças econômicas, sociais e políticas nas últimas décadas na sociedade brasileira. O desemprego entre os jovens é um dos principais fatores, que superou o dobro da média geral no 2º trimestre de 2019, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). No Rio Grande do Norte, encontram-se 237 mil pessoas desocupadas no primeiro trimestre de 2020, sendo 62 mil no Município de Natal. Segundo o estudo, em Natal os jovens representam a maior parte dos desocupados, sendo mais de 40% do total.

A contemporaneidade tem excluído uma grande massa e a tendência para o futuro é ainda maior segundo pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, onde 46% dos empregados irão desaparecer nos próximos 20 anos. Diante desse contexto, o mercado ilícito do tráfico de drogas acaba sendo a opção de inserção ilegal dos excluídos. Para Telles

[...] Ao mesmo tempo em que estamos sendo lançados no movimento vertiginoso das mudanças do mundo atual, tudo aparece, aqui abaixo da linha do equador, com um toque de familiaridade, apenas abalada, não pelo tamanho da tragédia social, mas por essa espécie de versão popular do neoliberalismo que é o tráfico de drogas e o crime organizado (aliás também

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organizado em escala global) que é a porta que restou para os excluídos forçarem a sua entrada no mercado. (TELLES, 2001, p. 142)

Comercializar drogas ilícitas, também é a maneira encontrada pelos jovens de manter o consumo pessoal, diante do abismo social do desemprego, da pobreza e da exclusão social, quando expostos às drogas diariamente, sendo usuário e/ou traficando drogas. Muitos jovens crescem em um contexto social herdado de seus familiares, os quais são permeados de perturbações, conflitos e laços instáveis, constituindo espaços de risco para a vida desses jovens. Eles almejam um estilo de vida específico influenciados a todo momento pela mídia e redes sociais que associa felicidade ao consumo e poder, onde a forma mais fácil de alcançar a ascensão social, diante da falta de oportunidade e expectativa para alcançá-la, se encontra no tráfico de drogas. Não raro, jovens deixam de frequentar a escola ou têm baixos rendimentos devido ao uso das drogas. Até a década de 90, do século XX, não houve iniciativas do Estado voltada à questão da juventude, eram apenas medidas paliativas diante dos casos ou ações para as crianças e adolescentes. Em 1997 ocorreu um avanço com o Estatuto da Juventude implementado pela Lei 12.852 de 05 de agosto de 2013.

No entanto, entendendo a juventude como uma categoria onde essa etapa é vivida de diferentes formas a depender da realidade social desse sujeito, entendemos a juventude como uma pluralidade. Essa característica não é vista no Estatuto da Juventude, uma vez que este coloca a juventude de forma generalista, sem considerar as particularidades das juventudes como, por exemplo, classes sociais; jovem negro, jovem dependente químico, entre outras. Apesar da promulgação do Estatuto que visa assegurar os direitos da juventude e atenuar a preocupante situação de violência e mortalidade da juventude, a atual realidade é ainda alarmante. Em 2018, cerca de 57.956 (cinquenta e sete mil novecentos e cinquenta e seis) jovens foram mortos no Brasil com idade de 15 a 29 anos, segundo o Atlas da Violência 2020. Esse estudo mostra ainda que desse total, 53,3% foram mortos por homicídio, o que representa a crescente violência determinada pelas desigualdades sociais, pelo consumo e tráfico de drogas, bem como organizações criminosas.

Por vezes esses jovens acabam traficando como forma de manter o próprio uso, o que pode acarretar caminhos complexos que podem levar a detenção ou a morte, por conta das dívidas com os traficantes, pelo conflito entre organizações criminosas ou confronto entre organização criminosa X força policial. Além dos jovens que tem desenvolvido algum tipo de transtorno mental

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decorrente do abuso dessas substâncias1. Inclusive a dependência química, decorrente do uso e abuso

de substâncias psicoativas, é considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo a Classificação do Código Internacional de Doenças (CID 10, F10-19). “Transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso de substâncias psicoativas, compreendida na III Conferência de Saúde Mental, uma questão de Saúde Pública pela magnitude que atinge a população nacional”.

Em Natal, por exemplo, o Hospital Colônia Dr. João Machado, referência da cidade, tem como uma de suas demandas a dependência química2. Diante dessa problemática das drogas que

envolve o consumo e o tráfico, que tem sido pauta principal cotidianamente nas mídias que expõem a violência, bem como, a difícil situação da juventude no contexto contemporâneo, o estudo buscou compreender os determinantes da mortalidade de jovens associado ao tráfico de drogas delimitando a pesquisa ao Rio Grande do Norte, com ênfase na cidade de Natal. Será considerado jovem as pessoas entre 15 a 29 anos de acordo com o Estatuto da juventude. A realização deste estudo tem como base o levantamento de dados estatísticos, bibliográficos e documentais. Foi feita uma análise comparativa a partir de dados estatísticos entre os anos 2017 a 2019, a fim de identificar a variação da mortalidade na região.

Diante dos desafios encontrados, constatou-se estratégias de enfrentamento formuladas pelo Estado e Sociedade civil, como as políticas voltadas à juventude. Em 2018 o Estado do Rio Grande do Norte apresentou a segunda maior mortalidade de jovens, sendo quase 60% das vítimas, segundo o Atlas da Violência divulgado em 2020. Natal está em primeiro lugar entre os municípios do RN que mais morrem jovens, onde as altas taxas de violência são associadas às facções criminosas que disputam o domínio do tráfico de drogas e de territórios. O objetivo foi compreender a associação entre a mortalidade de jovens em Natal e o tráfico de drogas, identificando o contexto de vida e o

1O consumo abusivo de drogas (seja álcool, tabaco, maconha, cocaína, LSD, crack, etc) leva à dependência química.

Dependência química ou síndrome de dependência é a perda do controle sobre o uso da droga (seja álcool, tabaco, maconha, cocaína, etc), em razão da necessidade psicológica e/ou física da mesma. Doença natural, de instalação rápida, incurável, progressiva e, na maioria das vezes, leva à morte se não tratada a tempo. Para seu controle é primordial suspender o uso da droga. O importante não é a diminuição da quantidade ou frequência, mas a abstinência total. 2CrO Hospital Dr. João Machado, foi inaugurado em 15 de janeiro de 1957, funciona 24 horas com atendimento de

pronto-socorro em psiquiatria. Conta com cerca de 200 eitos no total, divididos por sexo (30 masculinos e 30 femininos), separados 10 leitos para paciente com comorbidades, dentre outros. Atende as demandas de dependência química, tendo um espaço destinado a desintoxicação, que devido à grande demanda referente a questão da dependência química, foi criado em 2010 a Enfermaria álcool e Drogas – EAD.

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perfil desses jovens a questão do uso e do envolvimento com o tráfico de drogas. Apontamos a região mais violenta, o bairro e sua realidade, incluindo a visão dos moradores. Identificamos os vazios assistenciais presentes e se podem representar a causa da maior oferta de drogas na região. Diante dos desafios postos, discutimos sobre a política de drogas e outras estratégias de enfrentamento à redução da oferta de drogas, por parte do Estado e Sociedade civil.

O trabalho aborda inicialmente a juventude inserida na sociedade observando a historicidade dessa categoria social, e analisa em seguida o envolvimento cada vez mais precoce do jovem com o tráfico de drogas. O trabalho é dividido em 4 capítulos que abordam a questão da juventude e seu envolvimento com o consumo e tráfico de drogas, bem como com as organizações criminosas, e a alta taxa de violência que tem sido refletida nos índices de mortalidade.

Inicialmente será abordado a questão das desigualdades sociais, da pobreza, e o seu impacto na vida da juventude, essencialmente negra, inserida em uma sociedade capitalista contemporânea. As mídias sociais aparecem como grande influenciador da juventude, que induzem pela busca de poder e de inserção em determinados grupos, com um estilo de vida específico. Apresenta, também, uma breve história das drogas, como foi usada durante a história, seu uso religioso, medicamentoso, recreativo e as questões atuais que identificam as drogas como uma grande problemática de saúde e segurança pública. Coloca um breve histórico sobre os direitos da juventude ao longo da história e o papel do jovem na sociedade.

Em seguida destaca como marco desses direitos a Lei nº 12.852 de 5 de agosto de 2013, o estatuto da juventude, conquistado com muita luta pelos movimentos sociais. Além disso, também aborda o viés das legislações sobre drogas, destacando a Lei Nº 11.343 de 23 de agosto de 2006, que institui o Sistema Nacional. Na última secção, é feita a apresentação dos dados estatísticos sobre a mortalidade da juventude no Rio Grande do Norte, com ênfase em Natal, sobre o perfil do jovem que morre e como são os padrões das ocorrências. Diante do que foi exposto, aborda as iniciativas da Segurança Pública de Natal para atenuar esse cenário.

Desejamos contribuir para o avanço do conteúdo já disponível sobre a temática e propiciar a continuidade de outros estudos, bem como subsidiar a formulação de políticas públicas. Esse estudo teve início a partir do vínculo e apoio com projeto Serviço Voluntário de Pesquisa (SVP), da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas – SENAD localizada em Brasília que teve como produto final um Artigo dentro dessa temática.

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2 A JUVENTUDE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E O CONSUMO DE DROGAS: A MÌDIA SOCIAL COMO INFLUENCIADORA NA FORMAÇÃO DO JOVEM

USUÁRIO DE DROGAS.

2.1 A JUVENTUDE NO CONTEXTO DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E O LUGAR COMUM DOS JOVENS POBRES NO ENVOLVIMENTO COM O CONSUMO E O TRÁFICO DE DROGAS

Com consenso mundial, estudiosos chegaram a uma classificação da juventude divididas a partir do período histórico, sendo elas a geração baby boomers, X, Y e Z a atual geração.3 Cada uma

delas representa configurações de diferentes formas do que é ser jovem. A categoria da juventude foi construída socialmente e moldada nas mudanças sociais, econômicas e políticas, e, essencialmente

As grandes organizações buscam induzir as grandes massas a consumir seus produtos, na qual diante da grande concorrência de mercado e da variedade de perfis de públicos em nossa sociedade, esse trabalho de marketing tem sido mais complexo. Existe várias formas de segmentar o mercado, segundo Kotler e Armstrong (1999) podem ser geográficas, demográficas, psicográficas e comportamentais. Quando optam pela

demográfica, uma possibilidade consiste em classificar grupos por gerações. Diante disso, uma estratégia foi criar grupos específicos, com consenso entre estudiosos, classificando-os a partir da idade, delimitados pelo ano de nascimento: Geração Baby Boomers (1946 -1964); Geração X (1965 - 1976); Geração y (1977 – 1988); Geração Z (1989 – 2010).

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nas necessidades do sistema capitalista, na qual são feitas mudanças sociais como manutenção de sua continuidade. Segundo GROPPO (2016, p. 399), uma mirada histórica sobre as sociedades modernas pode perceber os contornos da condição juvenil como dialética, ou seja, as juventudes se movem, contraditoriamente, entre processos de institucionalização e autonomia dos jovens. Com a modernização do mercado, implementação de tecnologias e consequentemente o aumento da competitividade por volta da década de 80, os jovens passaram a ter outra visão de futuro, onde na geração anterior buscavam casar e ter filhos, e nessa passaram a estudar e trabalhar cada vez mais cedo.

No Brasil contemporâneo, o jovem passa a ocupar lugares diferentes na sociedade, com novas relações sociais de trabalho, de visibilidade social e política, jovens passam a se articularem fortemente em movimentos sociais com reivindicações de diversos tipos, como o movimento dos caras pintadas em 1992, formado essencialmente por jovens e estudantes. Também, ganham espaço na participação política em conselhos, audiências públicas, conferências, nos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. As mudanças que ocorrem na concepção de família, também causa impacto na juventude que passa a ter outros papéis diferentes daqueles pré-estabelecidos socialmente, de que o jovem deve casar e ter filhos.

Deixando de se adaptar aos imperativos estruturais gerais do modo de controle estabelecido – conseguindo afirmar-se nos ubíquos “microcosmos” da sociedade, na validade e no poder de autorrealização dos intercâmbios humanos baseados na verdadeira igualdade –, a família estaria em direta contradição ao ethos e as exigências humanas e materiais necessárias para assegurar a estabilidade do sistema hierárquico de produção e de reprodução social do capital, prejudicando as condições de sua própria sobrevivência. (MÉSZÁROS, 2002, p. 271).

O papel da mulher, por exemplo, na sociedade consistia em cuidar dos filhos e do lar, devendo prover as necessidades do marido para que o mesmo estivesse em condições favoráveis de produzir e vender sua força de trabalho ao capitalista. No século XXI, as mulheres são em sua maioria estimuladas pela sociedade ao estudo e trabalho, objetivam o sucesso em sua carreira profissional, onde a maternidade está em um lugar distinto de antes, sendo decidida a escolha de ter um filho ou não é o momento em que deseja. São possibilidades que em outras gerações não tinham condições sociais para se configurar dessa forma. Apesar disso, a ideia de jovem é naturalizada na sociabilidade do capital, que precisa impor às classes subalternas que a sociedade é estática, difundindo a ideia de

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que “sempre foi assim”, com isso parece que esteve sempre pré-estabelecido o que é ser jovem e sua função social. Isso pois, como afirma (MÉSZÁROS, 2002, p. 271), A existência de um tipo de família que permitisse à geração mais jovem pensar em seu papel futuro na vida em termos de um sistema de valores alternativo – realmente igualitário –, cultivando o espírito de rebeldia potencial em relação às formas existentes de subordinação, seria uma completa infâmia do ponto de vista do capital (MÉSZÁROS, 2002, p. 271).

As juventudes têm experiências diferenciadas em sua construção pessoal, a partir do lugar onde está inserido socialmente, e momento histórico, cenário que tem sofrido alterações de acordo com as mudanças históricas que vêm ocorrendo. Na sociedade contemporânea, a juventude está inserida em um universo que existe com ritmo acelerado, frenético, na qual tudo acontece com velocidade, devido às redes sociais, a globalização, onde o homem superou o desafio da distância e pode se comunicar e se desconectar em segundos. Além disso, temos uma sociedade que permite novas configurações de relações sociais, de formatos de famílias e de relações amorosas. O jovem contemporâneo está sempre conectado nas redes sociais, postando um estilo de vida e de ostentação que por vezes não condiz com a realidade.

Então o jovem do século passado tinha outras funções sociais das que são impostas ao jovem contemporâneo. Com o advento da globalização e modernização tecnológica, ocorre uma maior exigência de capacitação do homem devido à grande concorrência no mercado de trabalho. Além disso, o trabalho vivo (a força de trabalho da classe trabalhadora) tem sido substituído pelo trabalho morto (as máquinas), o que está associado ao aumento do exército industrial de reserva. A classe trabalhadora detém como única propriedade e forma de subsistência a venda de sua força de trabalho, e buscam por um capitalista que compra sua “mercadoria”, tendo que se submeter às mais precárias condições de trabalho, devido sua necessidade e condição de que existe essa grande fila de espera por trabalho, tornando mais concorrente e individualista. Essas mudanças modificaram o papel e o cotidiano dos jovens que buscam se adaptar às novas demandas do mercado que exige cada vez mais capacitação. Mas para cada jovem, as experiências são plurais, variando de acordo com o gênero, classe social, idade. Na compreensão de Bonone:

A definição do que é ser jovem não é estática. Ela depende de que região do mundo se está falando, do momento histórico vivido, da cultura de cada sociedade e da condição social, que pode dar mais ou menos acesso

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a recursos e até definir a condição de vulnerabilidade do jovem. (BONONE, 2015. P. 11.)

Nesse sentido, a juventude não é uma categoria universal, mas moldada a partir do contexto socioeconômico, histórico, cultural, de classe social, gênero e idade. No Brasil, essa diversidade está mais visível se comparado aos países europeus, e aparece com um verdadeiro abismo entre aqueles que são ricos e pobres. A educação no Brasil faz parte dessa desigualdade, na qual existe a necessidade de o jovem das classes subalternas trabalhar e estudar, como forma de manter suas necessidades básicas, e contribuir com a renda familiar. Por vezes, esses jovens são a única fonte de renda de uma família. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, ficando em sétimo lugar segundo o relatório de desenvolvimento humano do Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento – PNUD, publicado em 2019. O estudo considerou indicadores de zero a cem, sendo o primeiro equivalente a igualdade absoluta e o segundo desigualdade absoluta. O Brasil apresenta 53,3%, mesmo índice do Botsuana localizado na África. Ainda segundo o estudo, o Brasil concentra 41,9% da renda total do país nas mãos de 10% da população.

As relações sociais de um jovem pobre e como ele está envolvido com a escola, família, e em outros âmbitos da vida não são comuns às dos jovens de classe média ou alta. Os filhos de quem detém capital têm a liberdade de escolha para dispêndio de energia apenas nos estudos sem a preocupação de trabalhar para manter suas necessidades básicas, e sua permanência na faculdade, podendo esperar a conquista do emprego que deseja. Afirma Cassab (2001. p. 66) A juventude é, por outro lado, um privilégio de certos segmentos em relação aos outros deles excluídos, e por outro lado, ao mesmo tempo, significa uma exclusão do mundo adulto e de seus poderes, já que se caracteriza como uma fase subordinação, obediência e incapacidade.

Mas ainda é forte a ideia da meritocracia, ou seja, que depende apenas de o indivíduo conquistar seus objetivos, desconsiderando as desigualdades oriundas do sistema capitalista. A mídia, por exemplo, tem divulgado a ideia de que o jovem deve trabalhar na área desejada, que lhe traz prazer e bem-estar; independentemente do valor de seu salário ele é guiado a adentrar na atividade que gosta, mas a realidade do jovem brasileiro não permite isso para grande massa. Esse olhar sobre a juventude que estuda e trabalha visando melhorar o mundo, é ofuscada por uma outra visão, aquela que criminaliza a juventude. Essencialmente, a juventude negra de classe baixa, tem sido ligada à imagem de ameaça social, de criminosos e associados à violência cotidiana. A sociedade projeta a

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imagem dos jovens nesses dois vieses, aquele que representa esperança e um futuro melhor, bem como o que criminaliza e culpa o jovem. É importante indagar quais as condições que estão sendo ofertadas pelo Estado e Sociedade Civil para que ela (a juventude em condição de vulnerabilidade social) receba oportunidades e expectativa de ascensão social.

De modo geral, a juventude já é uma categoria invisível diante da sociedade, onde no Brasil os direitos da juventude foram tardios. Até a década de 90 não havia iniciativas voltadas à juventude, apenas para as crianças ou medidas paliativas diante de casos específicos. Desde de 1927 já se tinha instrumentos legais sobre o direito da criança, com a promulgação do código de menores, estabelecido em um período autoritário, tinha caráter conservador e de punição dos “menores” pobre e excluídos do sistema, que se encontravam perambulando ou cometendo crimes. Estabeleceu a maioridade penal aos 18 anos que continua vigorando até os dias atuais. No entanto, em 1990, é promulgado o Estatuto da Criança e do adolescente, que traz uma perspectiva diferente, considera as condições sociais da criança e do adolescente, bem como coloca o viés pedagógico para aqueles que cometem alguma infração. Só em 2013 o Estatuto da Juventude foi promulgado com a Lei 12.852 de 5 de agosto. No entanto, está se caracteriza por ser generalista, desconsiderando a pluralidade da juventude e focalizando no viés criminalizado.

É fato que o Estatuto veio para somar com as legislações já existentes que asseguravam o direito da juventude, sendo elas a Constituição Federal de 1988 e a Lei 8.069 de 13 de julho de 1990, (que abrange parte dos jovens). Para efetivação do Estatuto da Juventude, é necessário tirar do papel e colocar em prática esses direitos, visto que as diversas expressões da questão social da juventude são alarmantes. Muitos jovens não têm acesso às políticas públicas de saúde, de educação, do trabalho, dentre outras, onde muitos vivem em famílias que não têm condições de manter a própria subsistência. Nesse sentido, os que são atingidos por essas questões sociais, econômicas, culturais, políticas, acabam encontrando outras formas de se inserir na sociedade, forçando sua entrada no mercado de trabalho; a exemplo disso o mercado ilegal do tráfico de drogas. Muitos jovens acabam adentrando nesse mercado diante da facilidade para conseguir o que desejam; o que a mídia mostra na TV, nas redes sociais, nas músicas; e diante disso alguns jovens acabam se inserindo no mercado ilegal, visto que é o que está próximo do seu cotidiano, onde ele vê os traficantes de sua comunidade exibirem poder e dinheiro. Nesse sentido, segundo MELLO

Se o modo de vida urbano é denominado pela ideia de quantidade e de abundância, a pobreza na cidade é uma contradição. Seus habitantes estão expostos aos

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mais variados e intensos estímulos, que invadem todos os sentidos. A contínua chamada dos objetos, oferecidos de mil maneiras ao desejo, não chega só aos que podem compra- los. Chega igualmente aos pobres, quiçá com mais forte poder de atração. Os objetos de desejo, sejam bens materiais, poder ou prestígio, não estão ao alcance de todos, embora sejam universalmente exibidos. (MELLO, 2001. P. 134)

Na sociedade brasileira, o contexto social na qual o jovem está inserido e o acesso a cidadania determina os horizontes de oportunidades que ele poderá seguir. Cada vez mais cedo as crianças em situação de pobreza estão sendo recrutadas para o mundo das drogas e do tráfico, pois elas crescem expostas a diversas violações de direitos que são estabelecidos pelo ECA e pela Constituição Federal cidadã. Crianças que vivem em um cenário onde as drogas e o tráfico estão presentes de forma explícita, associado a baixa qualidade de vida, laços familiares fragilizados, sem perspectiva de outro modelo de vida, o exemplo de poder que se tem presente nesse âmbito está ligado à imagem do traficante. A criança é moldada socialmente a partir da totalidade que está inserida. A essas crianças e adolescentes lhes são negados os direitos básicos como saúde, educação, alimentação, lazer, moradia com qualidade, entre outras demandas importantes no atendimento aos seus direitos. O ECA como referência cidadã em seus 30 anos de existência não atingiu suas diretrizes e objetivos, sendo preocupante a situação das crianças e adolescentes violadas em seus direitos sociais. O risco social está presente em todos os ambientes na qual ela vivencia, na escola, nas famílias, na vizinhança, em sua comunidade.

A felicidade, na infância, ocorreria na medida em que a criança pudesse brincar criativamente, livre das responsabilidades e perigos que caracterizam a vida adulta. O que implica dizer que a criança deve ser protegida do trabalho adulto, da sexualidade, dos jogos de azar, da violência, da guerra, da bebida alcoólica, das drogas, enfim, de todos aqueles elementos da cultura que implicam um grau elevado de riscos físicos ou sociais. (VIANA, 2018. P.50)

A forma como a criança, o adolescente, o jovem se envolvem e consome, bem como, a motivação pela qual eles adentram esse estilo de vida se diferenciam dos demais jovens em razão do cenário socioeconômico e cultural em que estão inseridos. O padrão de consumo de um jovem de classe média tem finalidade recreativa, usada esporadicamente e/ou de forma compulsiva quando já instalada a dependência química, e essa droga tem um valor aquisitivo maior. Já os que possuem condições precárias de vida utilizam como fuga da realidade, onde consomem drogas mais baratas e danosas à saúde de forma mais recorrente e parece estar mais propício à dependência química.

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Ao longo de muitas décadas, cientistas realizaram experimentos para compreender o uso e os efeitos das drogas, onde uma das questões em pauta era sobre a droga causar dependência por si mesma, independente de outros fatores. Os experimentos geralmente consistiam em isolar o(s) rato(s) em uma gaiola sendo fornecido dois recipientes, um com alimento ou água natural e outro com droga. O resultado era o alto consumo da droga e até overdose. O psicólogo Bruce Alexander resolveu fazer um experimento diferente, que chamou de Rat Park, onde ele ofertou essas duas opções, mas adicionou ratos(as) à gaiola e coisas que eles adoram, como rodas para se exercitar, formas de entretenimento e socialização. Alexander ainda esclarece

[...] enchendo-a com coisas que os ratos gostam, como plataformas para escalar, latas para se esconder, lascas de madeira para espalhar e rodinhas para se exercitar. Naturalmente, incluímos muitos ratos de ambos os sexos e, naturalmente, o lugar logo ficou repleto de bebês. Os ratos adoraram e nós também adoramos, então o chamamos de “Parque dos Ratos” (ALEXANDER, 2010, p. 01)

Dessa forma, Alexander (2010) busca identificar determinantes externos que levam ao alto consumo de drogas e a dependência química, colocando em questionamento a afirmação de que as drogas são viciantes por si mesmas. O resultado foi surpreendente, os ratos raramente consumiam do recipiente na qual estava com drogas. Na perspectiva do consumo das drogas pelo homem, compreende-se que a dependência química é causada pela ausência de condições básicas de vida, pela violação de direitos, e pela pressão do modo de produção capitalista, sob o homem que explora, oprime, individualiza, cria necessidades incessantes e desumaniza. O sistema cria um cenário de medo e instabilidade financeira e emocional, onde tudo se torna frágil, os laços de afeto, a vida financeira, onde o homem sente-se “preso em uma gaiola” sem alternativas.

A juventude pobre e negra, moradores da periferia nesse caso seria por isso mais propícia a dependência e o vício, e acabam adentrando ao tráfico de drogas muitas vezes para conseguir manter o consumo próprio. Considerar o fator social é imprescindível para compreender o envolvimento do jovem cada vez mais cedo no mundo das drogas. Outros casos históricos que os estudiosos passaram a perceber e compreender a totalidade social do indivíduo como determinante, diz respeito aos soldados que iam à guerra e usavam drogas, podendo citar o ocorrido na guerra do Vietnã, onde era consumida drogas como heroína, um estimulante que foi amplamente consumido como forma de

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sobreviver ao medo e pressão da guerra. O jornalista Anton, na matéria “O grande barato da guerra” apresentou alguns exemplos de grupos que usaram substâncias durante suas provações, por exemplo,

os guerreiros gregos hoplitas faziam uso do ópio e vinho; os guerreiros vikings utilizavam fungos alucinógenos; os zulus, povo africano, consumiam extratos de diversas plantas. Pensando nos tempos atuais, podemos citar os kamikazes japoneses, que usavam uma substância chamada tokkou-jo, conhecida por nós como metanfetaminas, e também os pilotos de caça norte-americanos com uso das anfetaminas. Essas drogas psicoativas acabavam melhorando o rendimento, além de ajudarem os guerreiros a vencer o medo de lutar contra inimigos ou armas mortíferas, e também os ajudava a passar pelo trauma de matar ou morrer, que significa um verdadeiro desafio o para a natureza humana. (CAPTANDO, 2020. p.23)

Um fator interessante é que grande parte dos soldados quando voltaram para suas casas, com conforto, sua família, alimento adequado, e condições de bem-estar, simplesmente pararam de consumir a drogas, sem sequer passar por algum tipo de processo de desintoxicação. Diante disso, percebe-se ao longo da história a importância de considerar a totalidade social dos indivíduos no consumo de substâncias psicoativas. Assim, o estudo de Alexander (2010) modificou as linhas de pesquisa da época e trouxe uma nova visão para os estudiosos do que seria o vício em drogas. Na sociedade capitalista é fundamental considerar a questão social e suas expressões, que resultam das contradições inerentes ao sistema. Não somente, a mortalidade de jovens que têm sido escravos das drogas, também representa o produto dessa sociedade.

A questão Social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão. (IAMAMOTO, 2006. P. 77)

A sociedade capitalista tem em sua natureza uma relação de desigualdade em razão da concentração da riqueza na mão das classes economicamente dominantes. Tem como lei geral do capital a acumulação, onde na mesma medida que ela produz riquezas, produz a pobreza. Por fim, quanto maior forem as camadas lazarentas da classe trabalhadora e o exército industrial de reserva, maior será o pauperismo oficial. Essa é a lei geral, absoluta, da acumulação capitalista. (MARX, P. 875). Segundo dados do IBGE de 2018, medido pelo índice Gini, percebe-se que no Brasil ocorre

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grande concentração de renda, onde 1% mais rico da população tem rendimentos quase 34 vezes maiores do que o da metade mais pobre. Em 2019, O Nordeste tem crescimento dos índices de desigualdade, segundo dados do IBGE, na tabela seguir:

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FIGURA 1 – DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL

Nessa estrutura de sociedade, a desigualdade no uso de drogas e como cada jovem se relaciona com elas, não seria diferente, ocorre permeado por desigualdades. Nesse sentido, segundo Tamara Neder Collier, assistente social, em participação de evento digital promovido pelo Sesc São Paulo, em 2020 com o tema a questão social das drogas, relata que não tem como ser superada essa problemática se não for pensada uma superação do sistema capitalista, visto que a droga na sociedade capitalista é tida como mercadoria, tanto para o traficante, quanto pelas políticas públicas, e para os jovens negros, periféricos, que estão a margens de seus direitos. Nesse sentido, ela considera a visão da mercadoria como capital, permeado de valor de troca, que controla as relações sociais e coisifica o homem. No Livro I de O capital, Karl Marx analisa a mercadoria e afirma que ela parece ter energia própria. Marx, também afirma:

O caráter misterioso da forma-mercadoria consiste, portanto, simplesmente no fato de que ela reflete aos homens os caracteres sociais de seu próprio trabalho como caracteres objetivos dos próprios produtos do trabalho, como propriedades sociais que são naturais a essas coisas e, por isso, reflete também a relação social dos produtores com o trabalho total como uma relação

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social entre os objetos, existente à margem dos produtores e, nessas relações o homem torna-se coisificado, desumanizado e super explorado (MARX, 2013, p. 206).

Nesse sentido, o autor mostra o caráter econômico da mercadoria, não mais dotada de valor de uso, mas de valor de troca, lucrativo para quem detém. Enquanto de outro lado, quem não detém capital sobrevive em condições de superexploração e ausência de direitos. Diante disso, Jovem negro, pobre, morador de periferia, tem sua realidade delineada pelo capital, influência como ele se envolve com a droga. A mídia intrínseca ao capitalismo, representa esse jovem como algo nocivo à sociedade e a ele mesmo. Considerar os fatores de raça é essencial quando abordamos o assunto das drogas, e nesse caso com ênfase na problemática da mortalidade de jovens envolvidos. Diante do exposto, será abordado a influência que as mídias têm sob a juventude no consumo e tráfico de drogas.

2.2 O QUE SÃO AS DROGAS EM SUA HISTORICIDADE, AS MÍDIAS SOCIAIS E SEUS MECANISMOS INFLUENCIADORES NA FORMAÇÃO DA JUVENTUDE NO CONSUMO E NO TRÁFICO DE DROGAS

Em cada período histórico as drogas tiveram uma função social distinta, algumas aprovadas socialmente e outras não, podendo ser vista como um medicamento ou algo perigoso que pode causar dependência química. Nesse sentido, ela pode ser usada com várias finalidades, como recreativa, religiosa e cultural, medicinal. Há registros de que desde a pré-história o homem faz uso de drogas, nesse caso utilizados pelos povos hominídeos como forma de rituais religiosos, cerimoniais. Nas sociedades primitivas era uma forma de alcançar o nível de deuses, a partir do uso de plantas psicotrópicas, bem como para rituais de sacrifícios de corpos para os deuses, em troca do perdão dos seus pecados. Estudiosos passaram a se interessar pelo viés medicamentoso das drogas, onde a partir do século XVII, passam a sistematizar conhecimentos e compreender cientificamente os efeitos sobre o corpo humano. Antes disso, o uso medicinal, terapêutico se baseava no conhecimento comum das sociedades. A título de reflexão

Por volta do século III a.C., há um grande incremento do interesse do homem por plantas psicoativas diversas, ainda usadas em contextos míticos, terapêuticos e recreativos. Sem embargo, o manejo “empírico” das drogas, com a observação de sua ação sobre o organismo, ganha maior relevância, principalmente a partir da utilização do ópio como calmante. A maciça manipulação do ópio, aliada às experiências desenvolvidas pela investigação clínica, favoreceram o surgimento, neste período, dos

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primeiros tratados ocidentais sobre toxicologia (ESCOHOTADO, 2007 apud MORAES, et al. 2014 p. 12).

Se inicia uma fase onde a imagem das drogas à sociedade começa a ser mais científica. As drogas tiveram sua expansão em massa pela sociedade, para seus diversos fins, com as mudanças comerciais, como a expansão comercial que proporciona maior oferta, troca de mercadorias entre regiões e maior acesso. Deve-se a este período a inserção do chá, do tabaco e do ópio na comunidade europeia, com grande aceitação por parte dos novos consumidores e rápida difusão para os territórios colonizados (POIARES, 1999 apud, MORAES, et al. 2014. P. 13). Era comum o uso dessas drogas entre as elites, mas as drogas passaram a representar perigo sob seu comando, devido às alterações no comportamento e alterações de ânimo quando consumida. Com o capitalismo e o fenômeno da globalização, o livre mercado foi impulsionado pelas trocas de mercadorias, trazendo grande acesso ao seu uso, criando oferta e demanda, que por sua vez impulsionaram as produções. Diante disso, se tornou complexo o controle sobre o homem, o consumo e o transporte de drogas.

Mas, foi no final do século XVIII, com o advento do capitalismo liberal e da sociedade proletária consumidora, que se nota um expressivo aumento da preocupação do Estado em regular o uso individual de drogas. Principalmente, em razão do interesse em disciplinar a vida dos indivíduos mesmo nas esferas mais íntimas, sendo está a origem da política contemporânea sobre drogas (SEDDON, 2010, apud, MORAES, et al. 2014 p. 13.).

Esse cenário de falta de controle e ordem social no que diz respeito ao consumo e transporte foi o ponto de partida para a criminalização de alguma delas. Outro fator que contribuiu para a criminalização das drogas no Estados Unidos e em outros países como o Brasil, foi a igreja, com seu papel na sociedade capitalista de fortalecer o sistema e seus princípios, colaborando com a continuidade da ordem vigente pregando valores, que condenavam o uso de drogas, permeando essa ideia na sociedade. Relacionam o consumo de drogas a rituais religiosos, ao prazer e violência. Foi criada uma visão de anormalidade sob usuários e seus comportamentos. Começa a ter grande relevância e pesquisadores passam a observar os comportamentos, as respostas do corpo as drogas e a dependência química4. Mas o que de

4 Segundo (PRATTA, E.M.M. SANTOS, M.A. (2009) apud RIBEIRO (2004), a dependência química é algo atual para

se discutir, uma vez que somente a partir da segunda metade do século passado o conceito de dependência deixou de ser enfocado como um desvio de caráter, ou apenas como um conjunto de sintomas, para ganhar contornos de transtorno

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fato gerou um alerta ao mundo sobre a questão das drogas foi a chamada crise do ópio na China. Já era comum o uso de ópio essencialmente pela elite, no entanto, nunca havia sido sinônimo de problemas. Isso decorreu de uma crise política, econômica e social que fez a drogas adentrar todas as camadas sociais.

Com base no CAPTANDO (2020), capacitação promovida pela Secretaria Nacional de Políticas Públicas Sobre Drogas – SENAD, Hong Lu, em 1949 os números de usuários do ópio eram alarmantes, cerca de 22 milhões de chineses. De fato, a maior crise epidemiológica da história relacionada às drogas, tomou uma grande proporção e ganhou mobilização internacional. Diante disso, muitos países passaram a criar medidas de proibição e tratamento, o que representa um marco no processo de criminalização das drogas. Foram percebidos os problemas sociais, de saúde pública que podem ser trazidos com o uso de drogas, tornando cada vez mais forte essa ideia ao senso comum.

Diante disso, a palavra droga passou a ser associada diretamente ao uso negativo e psicotrópico. Esse é o viés naturalizado e enraizado na sociedade, e o Estado passa a condenar e criar uma verdadeira guerra às drogas, o que está associado à falta de controle sob todas as áreas da vida do homem. Passou a ser difícil de controlar, quando utilizada algumas drogas, afetando o estado de ânimo e ações que o homem exterioriza sobre sua superexploração, o que acaba sendo ligado fortemente aos movimentos sociais de trabalhadores. Moraes afirma: Não é, pois, difícil imaginar que a prática logo seria alvo de sanções difusas e, posteriormente, institucionalizadas, manejadas pelos estratos sociais detentores de poder no objetivo de eliminar o risco de que a massa insurgente lhes retirasse a estatura social que ostentavam. (MORAES, et al. 2014 p. 15.)

O álcool passou a representar um incômodo social para alguns estratos a partir da sua ligação com a baderna e vadiagem e aos bares onde se encontravam as camadas mais pobres. Com a evolução da Medicina e Farmacologia, passou-se a definir o que seria tido como remédio e o que seria comercializado pelo tráfico ilegal. De modo geral, são diversos fatores que levaram a um aparato jurídico e institucional à proibição de determinadas drogas e, em seguida, a criação de instrumentos de repressão. Pode-se destacar a necessidade do Estado de manter o controle social e evitar que as massas se rebelassem,

mental com características específicas (Ribeiro, 2004). O tratamento da dependência química passou do modelo de assistência psiquiátrica, tratando esses pacientes com os mesmos cuidados que os demais pacientes de um hospital. Consistia, também no modelo biomédico. Atualmente, no Brasil a perspectiva mudou, passando a considerar os fatores sociais dos usuários, dispondo de tratamentos como os psicossociais, que envolve terapia e considera a importância da família no tratamento, passa a incluir a prevenção, tratamento, recuperação e reinserção social do usuário.

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visto que o uso de drogas desviaria o foco do homem do trabalho e de suas obrigações sociais, associado aos movimentos de luta.

Na sociedade atual, de fato a questão das drogas é um problema de saúde pública. Mas a guerra está essencialmente ligada a questões políticas e econômicas, devido à alta lucratividade desse comércio ilegal e da violência que está ligada a ela, sendo por isso considerado, também um problema de segurança pública. No entanto, o cenário desse mercado é muito mais complexo. Os usuários de drogas e dependentes químicos em sua massa não consomem o produto pelo simples ato de usar, sendo algo ligado à sua totalidade na qual está inserido, sendo fundamental considerar os determinantes e condicionantes sociais que levam o indivíduo a fazer esse uso. Nesse sentido, a entrada no mercado ilegal está associada a necessidade que o usuário tem de manter o uso. Nesse sentido, compreende-se o lugar comum do jovem pobre no envolvimento com as drogas, permeado por desigualdades e violência.

No mundo contemporâneo vivemos a fase mais avançada do capitalismo na sua modernização tecnológica, globalizada e desenvolvida. As pessoas têm como interesse central de suas ações o consumo das mercadorias. Karl Marx, filósofo, sociólogo, economista, dedicou seus estudos à sociedade capitalista, e compreende que o homem se tornou escravo da sua própria criação, a mercadoria. Ela perde seu valor de uso (aquele que atende às reais necessidades do homem) quando se transforma em valor de troca, que é agregado ao produto inicial devido ao trabalho despendido em sua produção, pelo trabalhador e passa a ordenar as relações sociais, fenômeno chamado de fetichismo da mercadoria. Da classe trabalhadora se extrai a mais-valia, valor que não é recebido pelo trabalhador e é apropriado pelo capitalista, assim acumulando capital. O homem tem como sua única propriedade, que se transforma em mercadoria, a sua força de trabalho. São criadas necessidades que nunca são supridas, que faz com que o homem consuma cada vez mais e esse é o objetivo de vida, consumir em quantidades maiores como forma de satisfação que nunca é plena. Marx chama esse fenômeno de alienação, onde o homem não compreender

sua condição de explorado e “coisificado”, sendo as relações guiadas pela mercadoria. Neste sentido,

O processo de alienação econômica, segundo Branco (2008) tem duplo caráter, que obedece às ideias sociais da ordem capitalista, onde o homem é tratado como coisa, e visto como produto, ora na posição de trabalhar em prol da reprodução do sistema, ora como consumidor do mesmo. (BRANCO, 2008 apud, CUNHA, et al. 2014. P. 4)

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As mídias sociais têm forte poder econômico e ideológico diante da influência do consumo dos jovens e de toda sociedade. Abordar a questão das mídias sociais com ênfase na questão da juventude, acerca-se os dois lados do que é disseminado por ela: aquele que incentiva o consumo do jovem, aborda o mesmo como fonte de esperança de uma sociedade e o outro que criminaliza cotidianamente o jovem associando a violência à sua imagem explicitamente nas mídias. Como dito anteriormente, existe uma juventude excluída econômica e socialmente; moradores de comunidades e aglomerados subnormais veem e convivem com a violência diariamente, em todos os âmbitos, na escola, por vezes na família, na vizinhança A grande massa não tem acesso à educação, políticas de emprego e renda, realidade social que acaba anulando o sonho do estudo e da ascensão social.

Nesse sentido, as mídias sociais têm papel fundamental na sociedade contemporânea capitalista, influenciando condutas, estilos de vida, necessidades e consumo. Até a década de 50, do século XX, os jovens não eram considerados consumidores em potencial para o capitalismo, até o advento do Rock and Roll e o movimento de contracultura que deram características específicas a esse grupo social, onde questionavam e se colocavam em posição contrária às regras do sistema vigente, a cultura, e padrões. A partir disso, foram sendo criados conteúdos voltados exclusivamente ao público jovem que movimentou o mercado e que vem crescendo cada vez mais. O Capitalismo cria na sociedade necessidades insupríveis, que impõe ao indivíduo que consuma cada vez mais como fonte da felicidade, objetivo e centralidade da vida. Na sociedade atual, os jovens são influenciados pelas redes sociais como o Instagram e Facebook, a seguirem determinados padrões de consumo rumo à felicidade e aprovação em determinado grupo.

A música é um forte disseminador e influenciador da juventude. Os segmentos do Funk ostentação, por exemplo, incentivam o consumo em sua música, caracterizada pela batida animada, com letras que colocam marcas e lugares, e forma de se vestir, estilo de vida, associado a produtos consumidos pela burguesia. As riquezas são exibidas nas redes sociais, despertando o desejo de outros jovens. A mídia tem uma forte influência, também, no consumo de drogas pela juventude, que coloca como ato de autoafirmação, criando a imagem do jovem legal e descolado.

O funk ostentação é um exemplo de como a música pode determinar a preferência por marcas, comportamento do consumidor e desejos latentes de um certo segmento da população. Principalmente no Brasil, as letras que constituem esse gênero musical e o seu devido sucesso são atribuídos pela aceitação do público, não apenas pela música em si, mas também, pela adesão ao estilo de vida anunciado na mesma. (DANTAS, et al. 2018. P. 193)

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Essas juventudes de baixa renda, que almejam conquistar o alto padrão de vida, poder e sucesso, expostos a essas pressões sociais, esses jovens acabam buscando outras alternativas que possam dar resultado imediato. Isto ocorre, em razão da falta de expectativa de ascensão social, pela ausência de acesso à educação e de condições necessárias para permanência nas instituições, bem como a falta de políticas de emprego para juventude e do mercado cada vez mais concorrido e exigente. Nesse cenário, o mercado ilegal do tráfico de drogas, acaba sendo uma forma forçada de inclusão no mercado. Da mesma forma, muitos jovens têm adentrado ao consumo de drogas, devido a sua realidade social.

Os meios de comunicação que colocam o jovem na posição de esperança de um futuro melhor, é o mesmo que impõe comportamentos, assim como quem dissemina a criminalização da juventude. Os jovens são criminalizados nos jornais, na TV, na rádio e nas redes sociais, onde sua imagem aparece fortemente associada aos casos de violência ocorridos e expostos nos noticiários. Mostra a associação da imagem dos crimes, essencialmente ligados ao tráfico de drogas e homicídios à imagem dos jovens. Diante do exposto, entendendo a complexidade do consumo e tráfico de drogas, o estudo visa abordar na próxima secção brevemente a historicidade do uso das drogas e adentrar na problemática atual da realidade brasileira, compreendendo a resposta do Estado frente a questão das drogas no Brasil.

3 A QUESTÃO DO CONSUMO E TRÁFICO DE DROGAS NA ATUAL SOCIABILIDADE DO CAPITAL COM ÊNFASE NA JUVENTUDE E A RESPOSTA DO ESTADO VIA POLÍTICA DE ATENÇÃO ÀS DROGAS

3.1 UM BREVE HISTÓRICO DO PROIBICIONISMO NO BRASIL E AS RESPOSTAS DO ESTADO FRENTE A QUESTÃO DAS DROGAS.

Para compreender na atualidade a problemática das drogas e o seu proibicionismo é imprescindível buscar no passado o que levou às atuais configurações. Em cada sociedade a problemática das drogas e as respostas do Estado e sociedade civil foram distintas. Para chegar até o atual modelo de sociedade capitalista, e compreender a problemática social das drogas atualmente, houve todo um processo de mudanças de todas as ordens, ocorrendo o desenvolvimento e a globalização. Antes de estudar esse formato contemporâneo, é necessário compreender as outras fases do capital, e o caminho que foi percorrido para que a problemática das drogas chegasse ao viés proibicionista e criminalizado. A princípio tivemos a sociedade pré-capitalista, ou capitalismo

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comercial, que ocorreu entre os séculos XV ao XVIII, marcado pela expansão marítima e as grandes navegações. Nesse período ocorreu maior acesso aos vários tipos de drogas, troca de mercadorias entre regiões, passou-se a chamar atenção do Estado a falta de controle que estava ocorrendo sob o consumo e a vida dessas pessoas. De outro lado, para as nações imperialistas, principalmente para a Inglaterra, chamava-se atenção a sua capacidade e potencial econômico, tendo como alvo central de mercado a China, devido sua numerosa população.

Com o passar do tempo, à medida que as comunidades e sociedades desenvolviam-se e migravam, elas tinham acesso a outros povos, bem como às substâncias que estes consumiam. Iniciou-se, portanto, intensa troca de substâncias entre diferentes povos e comunidades, normalmente próximas umas das outras e, com o desenvolvimento dos meios de transporte, entre povos e comunidades bem distantes. (CAPTANDO, 2020, P. 22)

Em sua segunda fase, chamada de capitalismo industrial, que ocorre por volta do século XVIII, marcado pela revolução industrial, é um período onde a droga passa a ser convertida de fato em mercadoria. O ópio (é uma substância extraída da papoula, onde em seus elementos naturais têm- se os opiáceos como exemplo a morfina, que possui efeito analgésico, narcótico e hipnótico, e também se tem os semissintéticos, como é o caso da heroína). Essa substância (ópio), passou a ser um comércio muito lucrativo, principalmente na China, que vinha sendo comercializado há cerca de um milênio, pela elite, mas passou a ser um problema quando o consumo se tornou descontrolado, no final do século XVII até o século XX. Quando usado pela elite, já se conhecia seus efeitos danosos, no entanto, não tinha tomado tamanha proporção, e só passou a ser considerado um problema quando as classes baixas passaram a ter acesso a esse produto, bem como a forma como era usada. Esta passou a ser inalada usando da técnica inglesa através do cachimbo que proporciona maior efeito psicotrópico, onde antes era usada mascando a própria planta.

Esse período conhecido pela epidemia da dependência do ópio na China, se tornou algo fora de controle, o que antes era um consumo restrito às elites, passou a se expandir para os demais estratos sociais. Segundo Jansen

O uso generalizado de drogas apenas é possível quando está se converte em mercadoria de alta rentabilidade. A produção massiva de drogas ocorrerá apenas a partir da Revolução Industrial. A agricultura industrial voltada à

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produção para mercados externos dá lugar à produção massiva de drogas. (JANSEN. 2007. P. 3.).

A comercialização dessa droga era tão lucrativa que resultou na guerra do ópio. Em 1813, o governo da China proibiu o consumo de ópio, e já havia sido pouco antes proibido a exportação e a produção. Então a Inglaterra passou a comercializar para a China de forma ilegal. Diante desse mercado, os ingleses declararam guerra aos chineses, sendo caracterizada como a primeira guerra do ópio. A segunda guerra, também estava voltada a busca pela legalização do tráfico dessa substância pelos ingleses, onde a China perdeu ambas as guerras. A dependência à droga era degradante, segundo o curso CAPTANDO (2020), Hong Lu em 1949 a média de chineses dependentes correspondia a cerca de 22 milhões.

Esse fato marcou como a sociedade enxergava as drogas mundialmente, sendo um marco histórico na ideologia do proibicionismo das drogas. As drogas passaram a representar algo degradante e que precisava ser limitado, essencialmente pelo Estado para manter a ordem social e de controle da vida dos indivíduos. Por volta do século XIX até a década de 1960 do século XX, tivemos a fase do capitalismo financeiro monopolista, marcado pela forte implementação das multinacionais e transnacionais, essencialmente em países com mão-de-obra mais barata. Essas empresas produziam em grande escala com grandes investimentos, o que acabou acarretando o fechamento de empresas menores. Nessa época o comércio de exportação e importação era massivo. Com relação às drogas, nessa sociedade já se tinha a visão de criminalização das drogas, onde ocorreu em 1912, a convenção internacional sobre o ópio que representa a primeira iniciativa de proibição internacional das drogas. Isso com apoio dos Estados Unidos, com base em discursos autoritários disseminou fortemente e deu impulso à proibição internacional.

No Brasil, o primeiro marco da proibição diz respeito às ordenações Filipinas que coloca limite no uso e porte de drogas das chamadas `` venenosas''. Além disso, o Brasil entra no sistema internacional de proibição com as convenções, essencialmente a de 1961. É importante compreender a 03(três) convenções das Nações Unidas que mudaram o rumo das drogas em nível internacional, sendo elas: 1961 - Convenção única sobre Entorpecentes, coloca um aparato internacional de controle às drogas, onde aponta as medidas para os países que assinaram a serem tomadas, e prevê as prioridades de quais drogas deveriam ser eliminadas. Cerca de 100 países ratificaram as medidas.

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Em seu preâmbulo, diz que a razão do incremento do controle seria “a preocupação com a saúde física e mental das pessoas”. O meio para alcançar tal objetivo, no entanto, era somente a absoluta proibição do uso e do comércio de tais substâncias por meio da repressão penal aos violadores da norma, perdurando uma visão reducionista sobre o uso de drogas fortemente divulgada até o final do século XIX. (PERFEITO, 2018. P. 40.)

As configurações que são estabelecidas para o controle e a eliminação das drogas vêm dar espaço para que não somente os Estados Unidos, mas todos os países que ratificaram, colocassem um viés repressivo e que não considera nenhuma questão social e cultural. No Brasil, isso ocorre em um período marcado pela repressão e opressão conhecido como ditadura militar e implementa a guerra às drogas com o lema de que o que é bom para os EUA, é bom para o Brasil. O modelo de proibicionismo adotado no Brasil segue a linha repressora do modelo disseminado pelos Estados Unidos, focando na guerra às drogas e ao traficante que representava o causador do aumento do uso de drogas pelos jovens brancos. Apesar disso, os usuários também eram tratados com repressão e estavam sendo equiparados aos traficantes. Neste sentido, Perfeito (2018, p. 44.) afirma:

Outra modificação legislativa na questão das drogas introduzida pelo regime militar foi o Decreto-lei 385, de 26.12.1968, que alterou o art. 281 do Código Penal, indo contra a orientação internacional de diferenciação ao equiparar a conduta do usuário à do traficante, além de outros aspectos agravantes.

Outro marco que influencia diretamente nas ações do Brasil diz respeito à Convenção das Nações Unidas sobre substâncias psicotrópicas, que ocorreu em 1971 e coloca normas de controle internacional dessas substâncias, e inclui a necessidade de tratamento aos dependentes, o que se projeta de forma pouco mais flexível. Em 1988 ocorre a terceira iniciativa, sendo ela a Convenção contra o tráfico ilícito de Drogas Narcóticas e substâncias psicotrópicas que vem para firmar e estabilizar o sistema internacional de controle às drogas. O Brasil assinou o documento, que estabelece medidas voltadas à criminalização, proibição, punição do indivíduo enfatizando o erro das outras duas convenções anteriores que deixava brechas aos países e precisava ser mais punitivo. Observem o texto abaixo nesta perspectiva:

A Convenção de 1988 foi aprovada pelo Congresso brasileiro com o Decreto n.º 154 de 26 de junho de 1991 e o discurso adotado pelas autoridades, nessa

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época, ajudou a manter a característica principal do sistema penal brasileiro até hoje: a superlotação das prisões, habitadas pelos estratos sociais mais desfavorecidos da sociedade, o que foi reforçado pela política criminal de drogas nas décadas seguintes (RODRIGUES, 2006, apud PERFEITO, 2018, P. 55.)

Desse modo, esse cenário guiou as ações e a legislação brasileira determinando o proibicionismo e a guerra às drogas no Brasil. Essa guerra, é essencialmente voltada ao aos traficantes jovens, negros e pobres, bem como os usuários com o mesmo perfil que acabam sendo presos como traficantes mesmo quando é apreendida pouquíssima quantidade. No Brasil essa diferenciação só foi feita a partir de 1971 com a Lei Nº 5.726 (revogada pela lei nº 6.368, 1976) distinguindo traficante do usuário. No entanto, o sistema brasileiro não utiliza o sistema de quantificação legal, e sim o de quantificação judicial que coloca ao poder do juiz o dever de decidir se o indivíduo é usuário ou traficante.

O sistema internacional deu origem ao formato de política que temos no país e as legislações no geral que dispões sobre a questão das drogas, e da base para que não haja modificações desse viés proibicionista e criminalizado. Atualmente o Sistema Nacional de Políticas Públicas Sobre Drogas (SISNAD) é instituído pela Lei 11.343 de 23 de agosto de 2006 e traz alguns avanços com relação a legislações anteriores, colocando a perspectiva de atenção à saúde, prevenção, tratamento, reinserção e inclusão social dos usuários dependentes químicos. Além disso, diferente da Lei 6368 de 21 de outubro de 1976, não coloca a detenção como pena para quem transita com a droga (usuário) sendo adotada as medidas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Com a Lei 13.840/2019, houve algumas modificações, como a inclusão no Art. 3, parágrafo segundo, de que o SISNAD atuará em articulação com o sistema Único de Saúde - SUS e com o Sistema Único de Assistência Social – SUAS. De modo geral, a Lei em vigor 11.343/2006 trouxe avanços com relação à lei anterior, no que diz respeito a atender a questão das drogas com um olhar social e multiprofissional de prevenção, atenção e reinserção social. Segundo o Art. 1º da Lei 11.343/2006:

Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes. (BRASIL, 2006. Art.1º)

Referências

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