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possibilitam evocar nos espectadores memórias relacionadas à imagens, paladares, sensações e/ou sons, fazendo com que o indivíduo seja atravessado por emoções provenientes da produções de sentidos

4 CONTANDO A EXPERIÊNCIA

O trabalho intitulado por “Conhecendo o Teatro na Cultura Popular de Felipe Camarão” foi desenvolvido na Escola Municipal Djalma Maranhão com alunos do 4º ano do Ensino Fundamental I do turno Vespertino. Neste turno, existiam quatro turmas de 4º ano, sendo estas: 4º ano “E”, 4º ano “F”, 4º ano “G” e 4º ano “H”. Dentre estas turmas, apenas o 4º ano “E” não era de correção de fluxo, as outras, sim. As turmas de correção de fluxo apresentam alunos de baixo rendimento, que não foram alfabetizados na idade certa e que não conseguem acompanhar atividades referentes ao seu ano. Devido a essa dificuldade, resolvemos desenvolver um trabalho por meio do teatro.

Na Rede Municipal de Natal, referente ao Ensino de Arte no Ensino Fundamental Anos Inicias, é dividido da seguinte maneira: no 1º e 2º ano, ensina-se Artes Visuais; no 3º ano, Música; no 4º ano, Teatro; e, no 5º ano, Dança, sendo duas aulas de artes por semana.

Nas aulas de arte para os 4º anos dessa Escola, em um momento inicial, os alunos obtiveram seu primeiro contato com os conhecimentos básicos em relação ao teatro, como por exemplo: o seu surgimento, os gêneros teatrais, os tipos de teatro e os elementos que dão suporte a esta linguagem artística, tais como: texto e dramaturgo, ator e personagem, figurino, cenário, iluminação e sonoplastia. Já na parte prática, a cada quinze dias no mês, experimentamos os jogos teatrais. Por meio deles, conseguimos exercitar a integração, a capacidade de percepção e a movimentação rítmica. Estes jogos teatrais foram baseados no sistema de jogos propostos por Viola Spolin (2007) e Augusto Boal (2009).

Paralelo a todo este trabalho, sempre no início de cada aula, era lida uma fábula presente no livro “Minhas fábulas de Esopo” de autoria de Michael Morpurgo e Emma Chichester Clark, para estimular o gosto pela leitura. Ao longo do ano, eram selecionados alguns alunos para lerem palavras, frases, parágrafos ou a metade da história, numa progressão conforme os alunos fossem sendo alfabetizados e ajudando-os dessa maneira, a superar a dificuldade de leitura. No segundo semestre, quando os alunos já tinham lido todas as fábulas presentes no livro, alguns estudantes do 4º ano “H”, sugeriram que lêssemos histórias de assombração. Então, foram propostas algumas e a história intitulada por “O Comprade da Morte” de João

31 Cidades do Rio Grande do Norte.

32 A Fundação patrocinou várias apresentações do mamulengueiro, inclusive as fora do Rio

Grande do Norte. Em 2002, Chico estava trabalhando na Capitania das Artes.

Monteiro teve grande repercussão.

Já em outra etapa do projeto, no segundo semestre, nos voltamos para uma pesquisa e apresentação de um tipo de teatro que se tornou destaque na comunidade pertencente à maioria dos alunos, sendo este: O João Redondo – O Teatro de Mamulengos do Mestre Chico Daniel. Durante as aulas, foi apresentada a biografia e as obras deste brincante.

Na parte prática, os alunos tiveram contato com os jogos teatrais de interpretação e aprenderam a manipular os bonecos, sendo dessa forma, uma preparação para nossa apresentação final. Para esta, de forma lúdica, os alunos do 4º ano “H” escolheram “O Compadre da Morte” para fazermos uma encenação desta história com teatro de bonecos. Então, a narrativa foi adaptada para uma peça teatral e como tipo de teatro escolhemos o de bonecos.

Nesta etapa, os alunos foram estimulados a participarem, aqueles que tinham habilidades motoras produziram os acessórios para a peça. Na encenação, participam dez alunos. Os ensaios aconteceram nas aulas de Artes, onde os alunos sempre traziam ideias novas para acrescentarem ao processo: seja em uma fala, ou na retira de uma, seja na voz de cada boneco, ou na cor dos acessórios; eles se encontravam constantemente criando. Assim como diz Rosa Dias “A doutrina da vontade criadora (...) intervém no presente, modifica o futuro e recria o passado. (DIAS, p. 131).” Com isso algumas ideias que apresentamos num primeiro momento foram modificadas pelos alunos e pela professora, foi dessa maneira que aconteceu o processo criativo. “Sem a destruição não há processo criador. É ele que mantém a vida, a sua força. (DIAS, p. 137).”

Todos os alunos foram estimulados a ler e a desenhar a história. Após a leitura coletiva, dividiu-se a turma em grupos: um grupo desenhou o início; outro o meio e outros, o final da nossa peça teatral.

A encenação foi preparada para ser apresentada na Feira do Livro, evento da Escola que reúne todos as práticas realizadas pelos alunos durante o ano, sendo dessa forma, a culminância dos projetos.

A apresentação ocorreu no final de Novembro, com algumas dificuldades de execução. A cena foi apresentada em uma das salas da Escola, nessa estavam reunidos os trabalhos dos componentes curriculares de Arte e Educação Física. Enquanto outras atividades estavam ocorrendo em outros ambientes, a cena era apresentada. Os alunos-espectadores das outras turmas do turno Vespertino, juntamente com seus respectivos professores se revezaram para assistirem a cena. Ao todo, a cena foi executada quatro vezes.

Os alunos-atores em um primeiro momento estavam um pouco confusos quanto a disposição de objetos que seriam manipulados pelos próprios e a dinâmica de posição do palco na sala. Porém essa dificuldade foi sanada, logo após a primeira apresentação. Nas seguintes, eles já estavam mais abertos para experimentarem aquela composição. Aconteceram alguns erros, mas os alunos conseguiram executar improvisações. Ao final das apresentações, ficaram realizados por terem conseguido ultrapassar alguns limites que os cercavam desde o início do ano, além de refletirem acerca das suas evoluções.

5 CONCLUSÃO

Durante a execução do projeto “Conhecendo o Teatro na Cultura Popular de Felipe Camarão”, os resultados foram analisados e avaliados. A principal característica dos alunos das turmas do 4º ano era a dificuldade em relação à leitura. Então, pensou-se em começar cada aula de Artes com a leitura de uma história, tanto para aguçar a escuta quanto para estimulá-los a ler. Ao longo do ano, observamos que os alunos ficavam esperando por este momento, prestavam atenção para escutar as histórias e ao final de ouvi-las, aos

poucos, eles foram conseguindo interpretá-las. Algumas dificuldades foram sendo sanadas na questão da leitura dessas histórias por parte dos alunos, alguns deles progrediram em ler uma pequena palavra para ler frases; e aqueles que liam frases, começaram a ler parágrafos.

Quanto ao teatro, existia na maioria dos alunos uma baixa autoestima e também timidez, além de pouco conhecimento e interesse em participar ou assistir uma cena ou peça. No decorrer da preparação com os jogos teatrais, esses alunos conseguiram se expor mais, melhorando o foco nas atividades, tanto teatrais quanto nas outras matérias do currículo; além disso, conseguimos estimular o trabalho em grupo, fazendo com que meninas e meninos se integrassem.

A questão da leitura também foi exercitada com o teatro; para a preparação da história “O Compadre da Morte” foi trabalhada a leitura, levando em consideração a pontuação e mais ainda a interpretação para cada personagem. Já nas habilidades manuais foram praticados desenhos e a fabricação de alguns acessórios para a peça. Além disso, a troca de experiência foi um ponto bem presente nos ensaios desta peça, alunos puderam intervir nas nossas propostas e de certa forma criaram.

Ao final do ano letivo podemos realizar a análise dos projetos. O Ensino de Teatro na Escola Municipal Djalma Maranhão juntamente com os outros componentes curriculares pôde diminuir as questões preocupantes com os alunos do 4º ano; questões como violência, dificuldade de leitura e escrita e baixa autoestima foram diminuídas por meio do trabalho de professores polivalentes e específicos integrados com a coordenação da referida Escola e também do esforço por parte dos educandos.

Por meio dessa análise, pudemos perceber a troca de experiência e de conhecimentos que conseguimos adquirir e construir durante a prática do Ensino de Teatro. Assim como diz Barros e Kastrup “[...] Há transformação de experiência em conhecimento e de conhecimento em experiência, numa circularidade aberta ao tempo que passa. (BARROS E KASTRUP, p. 70)”.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Angela; CASTRO, Marize; SÉRGIO, Giovanni. Chico Daniel: a arte de brincar com bonecos. Natal: NAC, 2002.

BARROS, Laura Pozzana e KASTRUP, Virgínia. Cartografar é acompanhar processos. In: Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção da subjetividade. Eduardo Passos, Virgínia Kastrup e Liliana da Escóssia (Orgs.). Porto Alegre: Sulina, 2009.

BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. DIAS, Rosa. A vida como vontade criadora: por uma visão trágica da existência. In: Corpo, Arte e Clínica. Tânia Maria Galli Fonseca e Selda Engelman (Orgs.). Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. p. 131 - 146. JASIELLO, Franco Maria. Mamulengo: o teatro mais antigo do mundo. Natal: A. S. Editores, 2003.

17ª Ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

NATAL. PREFEITURA MUNICIPAL. (SEMURB). Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. Conheça melhor o seu bairro: Felipe Camarão. Natal. 2008.

_____. Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. Natal: meu bairro, minha cidade. Natal. 2009. _____. (SME) Secretaria Municipal de Educação. Escola Municipal Djalma Maranhão. Projeto Político Pedagógico. Projeto de transformação e preservação dos fatores atuantes na qualidade de vida: relação sujeito-meio-sujeito. Natal. 2012.

SPOLIN, Viola. Jogos teatrais para sala de aula: manual do professor. São Paulo: Perspectiva, 2007.

ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA “A COMICIDADE DO PALHAÇO:

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