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O conteúdo das fontes paroquiais

I. F ONTES PARA UMA DEMOGRAFIA DO PASSADO

1.4 O conteúdo das fontes paroquiais

Como foi aludido no início deste capítulo, as atas que registram os casamentos, utilizadas como exemplo neste texto, estão assentadas nos livros do acervo do Arquivo da Catedral Basílica de Nossa Senhora da Luz de Curitiba, agregando, entre outros, o mútuo consentimento para o matrimônio de Gregório Gonçalves e Anna Maria Lima e, anos mais tarde, da união do filho mais velho do casal, Felisberto, com Joanna Rodrigues de Andrade; da mesma forma, o matrimônio de Maria e Policarpo de Andrade, Roza e Antonio Oliveira, e o casamento de Bento com a viúva Maria Domingues Masiel.66

66 Documentos 4, 23, 45, 47 e 54.

67 De um Termo de Abertura [ver, no Anexo II, o documento 3].

As atas de casamento

Enfatizo que, para os objetivos da história demográfica, não importa tanto a forma tomada pela documentação. Assim, as duas atas são diferentes: a primeira, por exemplo, faz explícita menção a Trento e ao Ritual Romano. Porém, para o pesquisador preocupado em quantificar, tem importância principalmente a existência de dados constituídos em “séries”, como a data do casamento, lugar e hora, nome dos cônjuges, dos pais, nome das testemunhas e assinatura do vigário.

São necessários alguns comentários sobre a qualidade das atas de casamento, e talvez seja possível generalizá-los para a realidade da sociedade tradicional brasileira. Para começar, duas importantes omissões devem ser anotadas: não eram indicadas, nem a idade e nem a profissão dos noivos. Uma exceção, porém, pois é possível observar que, quando os pais dos cônjuges – ou o próprio noivo –, eram da milícia ou ocupavam posto nas companhias de

“Este Livro que ha de servir na Matriz de nossa Snrª. da Luz da Villa de Corytyba pª. assentos dos cazados

ordenança locais, tal situação era mencionada, signo de uma posição numa sociedade hierarquizada. Tanto nas milícias como nas ordenanças, os oficiais eram escolhidos na população civil, muito embora pudesse haver alguns militares profissionais destacados para organizá-las e instruí-las.68 Nesse sentido algumas

indicações assinalam uma lógica *homogamia social, seja porque estavam unindo filhos de “homens bons”, ou e unindo filhos de milicianos, ou um miliciano e a filha de outro militar.69

Como já foi referido, os nomes dos pais dos nubentes eram em geral registrados, e tal prática tem repercussão metodológica fundamental. Com efeito, tais referências tornam factíveis estudos genealógicos e, por conseguinte, permitem reconstituições de famílias, apesar da dificuldade apresentada pela transmissão dos nomes de família – veremos adiante a questão. Do ponto de vista de uma origem “ilegítima” de um ou dos dois noivos, as Constituições o exigiam, e a práxis dos vigários parece assinalar, que este estatuto era sempre explicitamente indicado e, da mesma forma, a condição de “enjeitados” de um ou dos dois jovens. Na mesma direção, observa-se que era anotada a situação de viúvo ou viúva, quando se tratava de segundas núpcias; neste caso, via de regra o nome do falecido era convenientemente citado.70

A origem dos contraentes não era mencionada, mas, da mesma maneira que a idade, tais dados podem ser obtidos num momento posterior da pesquisa, a partir da mencionada reconstituição familiar ou de outro tipo de cruzamento de informações. Esta técnica, cujos objetivos serão explicitados mais adiante, baseia- se em síntese na agregação de informações em fichas especiais, obtidas das atas de batismos, casamentos e óbitos referentes a uma mesma família, e controlados eventualmente pelos dados obtidos das listas nominativas de habitantes.

Os vigários, conscientes de seus deveres, exigiam “certidões” dos noivos originados de outras paróquias. Em face das estritas exigências da Igreja, era necessário que se provasse que os pretendentes não estavam impedidos71 – na prática, que

fossem solteiros ou viúvos. Na falta de uma certidão, poderia valer como prova um testemunho ou a palavra dada, afiançada monetariamente.72 É possível que,

68 PRADO JR., 1961:310. 69 BURMESTER, 1981: 29 e segs. 70 CONSTITUIÇÕES..., 1853:111. 71 Idem.

para dar conta desses ditames, os nubentes fossem conhecidos do padre e ou entre os fregueses da paróquia. Embora questão em aberto, uma probabilidade dessas poderia explicar parte das uniões consensuais – prática mais ou menos generalizada na sociedade colonial brasileira –, constituída por homens e mulheres, entre os quais pelo menos um deles tinha imigrado recentemente na região.

Tudo isso nos remete, novamente, a Gregório e Anna Maria: se, por um lado, é possível imaginar que, sendo pobres, tivessem dificuldades em conseguir recursos para pagar os custos do casamento, por outro a conveniência social do casamento e o fato de que eram originados da região facilitaria a tramitação burocrática. Como vimos, Anna nasceu em São José,73 no termo da vila de

Curitiba; quanto a Gregório, já foi dito acima que nasceu em Antonina, no litoral “paranaense”, o que é confirmado também por listas nominativas do início do século XIX; entretanto, censos do século XVIII revelam que sua família de origem vivia já há algum tempo no planalto curitibano, em Curitiba e em Castro.

Ao que tudo indica, os casamentos de pessoas de nível social proeminente eram registrados com mais detalhes. Além das informações comuns a todos os assentamentos, eram incluídas outras sobre os avós dos noivos, geralmente oriundos de outras regiões brasileiras, sobretudo de São Paulo, e mesmo de Portugal.

Como já foi mencionado, a separação dos livros em função de categorias como “brancos” ou “gente branca” de um lado e, de outro, escravos, administrados e bastardos, incorporava a clivagem social e jurídica da América portuguesa, representada no eixo vertical polarizado pelos senhores e cativos. De modo que, mesmo livres, Gregório e Anna Maria estavam muito próximos, socialmente, dos indivíduos de baixa categoria da sociedade colonial, e a ata de casamento confirma este status, agregada como foi a outras, incluindo matrimônio de cativos.74 Na

escala social, estes estavam distantes da camada “branca” da sociedade colonial brasileira. Todavia, é necessário grifar que, como “branco” era muito mais uma categoria social do que “cor” da pele, o “branqueamento” do *pardo sempre era possível, dependendo de certas condições relacionadas, principalmente, a um eventual aumento da riqueza. O casal e seus filhos também recebe esta distinção, ao serem enquadrados na categoria “bastarda” dos livros de batismo e óbito.

73 Ver documento 02. 74 Documentos 03 e 04.

As atas de batismo

75 De um Termo de Abertura [ver documento 5]. 76 CONSTITUIÇÕES... 1853:30.

77 Arquivo da Catedral Basílica Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba [Ver, no Anexos IV, os

documentos 80 a 91, exemplos de atas de batismos de crianças ilegítimas].

Da mesma forma que os registros de casamentos, cumpre salientar os livros de batismos, passíveis do estabelecimento de séries, e que interessam particularmente ao historiador da população. Estes documentos contém dia, mês e ano do batismo, prenome (indicando o sexo) da criança, nomes e prenomes dos pais, condição da criança (legítima, ilegítima, exposta), residência dos pais, nomes e prenomes do padrinho e da madrinha, residência dos padrinhos, e assinatura do vigário. De maneira variável, as atas também indicam a paróquia de nascimento dos pais.

Como já foi observado, sempre existem assentamentos cujos conteúdos são mais ricos em informações, concernentes à parcela populacional mais abastada. Nesse caso, além dos dados comuns, constam o nome, lugar de origem e residência dos avós do batizando, e também dos padrinhos. Sabemos que essas pessoas, de um nível social mais elevado, fossem ricos proprietários, altos funcionários ou militares mais graduados, descendiam de famílias “paulistas” ou originárias do “Reino”.

A condição de legitimidade do nascimento, em primeiro lugar, deve ser inferida ou não, conforme o padrão do registro, que variava em função da época e lugar (“filho de Gregório Gonçalves e de sua mulher Anna Maria de Lima”, ou filho legítimo de Fulano e de Beltrana...). Em relação aos filhos ilegítimos – ou seja, aqueles que não nasceram de um casamento legítimo – a Igreja mandava anotar o fato no assento do livro, registrando o nome dos pais “se for cousa notoria, e sabida, e não houver escandalo”;76 como o exemplo de 1790 (excepcional pelos

detalhes) que se segue, transcrito do livro 7 de Batismos:77

Aos trese dias do mes de março do anno de mil settecentos e noventa, nesta Igreja Matrix de Nossa Senhora da Lux da Villa de Corytyba, baptizei e pus os santos oleos a Duarte innocente filho de Maria Fernandez, solteira, e de Vitto Antonio, a quem derão por

“Este Livro que ha de servir na Matriz

de noSsa Snr.a da Luz da Villa de

Corityba pa. nelle Se fazerem os assentos dos bautizados escravos, e

pay; netto pela parte paterna de Jose Luis de Mattoz natural da Villa de Ytu desse bispado e de sua molher Antonia Lui Harins; e pela parte materna de Salvador Fernandez, defunto, e de Maria das Nevez. Forão padrinhos Duarte Vaz Torrez e Appollonia Rodrigues, solteira, filha do fallescido Jose Luis de Mattoz. Todos exceptuando o avô paterno, naturais e freguezes desta Parochia. Do que para constar faço esse assento.

Em caso contrário, seria consignado somente o nome da mãe ou, mesmo, somente do batizando. De modo que a forma de registrar a ilegitimidade do nascimento poderia variar bastante (fulano e fulana solteiros, filho natural, pater incógnitus...); o cuidado do pesquisador será sempre o de separar convenientemente livres e cativos na coleta das informações e, se possível, distinguindo categorias diferenciadas de ilegitimidade.78

Um outro tipo de registro refere-se às crianças abandonadas, expostas ou enjeitadas. Esta condição era declarada explicitamente na ata do batismo e, da mesma forma, a ordenação de que deveria ser informado o lugar, o dia e por quem foi achado,79 uma vez que a mãe era, pelo menos “oficialmente”,

desconhecida. Às vezes, o registro salientava que a criança tinha sido abandonada na porta do domicílio de “Fulano”, tendo sido recolhida por outra pessoa.80

A respeito dessa categoria, é consenso o argumento, já colocado por Ana Maria BURMESTER, de que as crianças abandonadas devem ser originadas de pessoas livres: a pesquisadora argumenta que seria bem difícil para os escravos dispor seus filhos, propriedade dos seus senhores. Livres, mas sem dúvida oriundas da miséria. Apesar de se constituir numa discussão ainda aberta, é provável que uma parte destas crianças tenham nascido de uma relação ilegítima, e abandonadas – com ou sem “aspas” – por sua mãe. 81

Além da data do batismo, às vezes era registrada a idade da criança, possibilitando recuperar a data aproximada do nascimento. Entretanto, na maioria dos casos, só a menção “inocente” permite-nos inferir que o assentamento concerne a uma criança com pouca idade – algumas vezes acontecia que eram

78 GALVÃO & NADALIN, 2000; 2003. 79 CONSTITUIÇÕES... 1853:30.

80 Ver Anexo V, documentos 92 a 95. Em Curitiba nunca foi criada uma instituição existente em outros

locais, como São Paulo e Salvador, a exemplo de vários países europeus. Refiro-me à *Roda dos Expostos, local especialmente adequado para o “depósito” de crianças enjeitadas.

81 Quando é possível cruzar os dados com informações obtidas de outros documentos – por exemplo,

inventários – comprova-se a hipótese sempre recorrente de que, muitas vezes, os enjeitados eram fruto, também em famílias da elite, de alguma relação pecaminosa [FARIA, 1998:68-80].

batizados escravos ou indígenas adultos. Para resolver o problema da idade do batizando, uma solução fácil é considerar a data do batismo como a data de nascimento. Entretanto, como foi antes mencionado, é difícil acreditar que os vigários pudessem ser muito rigorosos na exigência do prazo de oito dias para o batismo.82 De qualquer forma, tudo indica que a maioria das crianças era

batizada pelo menos antes de completar um mês, embora sempre reste uma parte, que poderia ser representativa, conforme o caso, de crianças batizadas mais tarde. Trata-se de uma questão difícil: resolvê-la seria fundamental para o desenvolvimento de certos estudos, como se verá adiante.

Em geral, o sacerdote designava a cor dos pais do batizado, e é com certa regularidade que encontramos a referência “mulato”, “negro”, “forro”, “administrado”. Por outro lado, a condição “branco” não era registrada nas atas. A cor da pele era muito mais um indicativo social, e é possível pensar que muitos padres teriam omitido a menção para um ou outro indivíduo originalmente pardo já “assimilado” ao mundo dos brancos. Daí porque um estudo sobre a composição da população brasileira em função desta variável mostrar-se-ia bastante subjetiva, dada a dificuldade em deduzir o número de brancos a partir de uma “não-indicação” - – sem mencionar as diferenças regionais, que qualificam, por exemplo, o *pardo, de maneira diferente.83

Todo o pesquisador deve estar atento à ordem cronológica obedecida pelos registros, que podem traduzir a existência de *sub-registros ou “sub- enumerações”. Assim, para o caso de Curitiba, quando se tratava de crianças nascidas na própria vila, a ordem cronológica era respeitada, o que não ocorria normalmente para as origens mais distantes. Era normal, no entanto, o vigário transcrever no final de cada ano atas relativas a batismos realizados por capelães, sob sua licença.84 É também fácil imaginar, dependendo do lugar, a necessidade

de certos deslocamentos realizados pelos padres para celebrar batismos, dificultando o encaminhamento mensal das informações à sede da Paróquia,

82 Não eram comuns, por exemplo, processos de exorcismos e/ou multas para atrasos no batismo. 83 De qualquer forma, deve ser registrado que o termo “branco” era bastante utilizado em termos de

abertura, em Curitiba, para qualificar uma das categorias a quem se destinava os livros de batismos, casamentos e óbitos [Ver, nos anexos, os quadros 1, 2 e 3].

84 E porque neste Arcebispado pela grande extenção das Freguezias (pois em algumas distão os moradores da sua Parochia

quinze, vinte, e mais legoas) se edificarão Capellas, ás quaes se applicaráõ alguns freguezes, e nellas se administrarão os Santos Sacremantos, pela difficuldade que ha em os irem receber á própria Parochia [...] [CONSTITUIÇÕES..., pg. 14].

como teoricamente deveria ser realizado.85 Tudo isso poderia, eventualmente,

levar à perda de alguns registros, ou de algumas informações.

Finalmente, o tema dos *sub-registros se completa pela necessária menção às crianças que eram batizadas in extremis, anotado no livro de óbitos. Muitos desses fatos também se perdiam, uma vez que, é fácil imaginar, nem sempre eram transmitidos ao vigário, para registro da ocorrência.86

85 Apesar das anotações anuais, como verificado, as Constituições exigiam o encaminhamento mensal

das informações, para que o Vigário lavrasse a competente ata [pg. 15].

86 A Igreja previa todas estas situações, inclusive a hierarquia de quem poderia realizar, em caso de risco

de óbito do recém-nascido, o batismo: [...] que estando presente o parocho, que for Sacedote, que prefira a todos, e logo o Sacerdote simples, e em sua falta o Diácono prefira ao Subdiacono, o Clérigo ao leigo, o homem á mulher, o fiel ao infiel [CONSTITUIÇÕES..., pg 18].

87 De um Termo de Abertura, documento 27.

As atas relativas aos falecimentos

Lembremos, ainda, dos óbitos e dos conseqüentes registros de sepultamentos. Das séries paroquiais, estes registros são os que mais apresentam problemas, variando o conteúdo das atas, a correção das informações, as possibilidades de identificação do falecido etc., em função da época, do lugar, do sacerdote que fez o registro, e assim por diante. De fato, temos o sentimento de que, apesar das disposições da Igreja, o estado dos registros e a sua representatividade sempre dependeram muito da boa vontade e do capricho do vigário que havia elaborado a ata. Sem dúvida, também, da importância que a sociedade dava a tais informações, pois dela resultava o encaminhamento ou não das comunicações dos óbitos à Igreja. Na realidade, essas constatações, feitas para a sociedade tradicional colonial brasileira, podem ser grosso modo ajustadas para a maioria das sociedades do passado, como já foi constatado por inúmeros historiadores.

Conseqüentemente, é importante assinalar a existência representativa de sub-registros para a sociedade brasileira do passado. Longe da sede da paróquia,

“Este livro ha de servir para nelle se lançarem os aSsentos de obitos dos brancos bastardos e escravos que falleceram nesta Villa de NoSsa Senhora da Luz de Curitiba, e seu

em lugar de difícil acesso, morto e enterrado o membro da família – mormente uma criança ou talvez mesmo uma pessoa de certa idade –, qual a possibilidade de que tal óbito tivesse sido registrado? Essa é a questão, finalmente, que incomoda o investigador.

Mais uma vez, o exemplo da Paróquia Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba autoriza aventar algumas generalizações a propósito desse tipo de registro. Nele encontramos a data do óbito, nome (e sexo) do falecido, e a idade – geralmente aproximativa. O exemplo de Gregório e Anna Maria é flagrante: falecido em 29 de abril de 1844, a ata do seu sepultamento participava que era viuvo de idade de cem anos.88 De fato, sua mulher havia falecido em 1825, no dia 15

de setembro, e o vigário nos deu conta de sua idade: 80 anos.89 Idades

arredondadas, e isso era comum: as informações permitidas pelos dados da tabela 1, mostrada acima, enfocando-se em especial a lista de 1792, aparentemente a melhor delas, nos dizem que Gregório faleceu com 97 anos, um pouco mais, um pouco menos. Temos mais certeza da idade de sua mulher, 73 anos.

Além desses, os documentos informam, de maneira variada, sobre o nome dos pais (quando o falecido era solteiro), o nome do cônjuge (quando casado ou viúvo), a residência – algumas vezes com local de origem –, o estado matrimonial, o local do sepultamento e o nome do sacerdote que redigiu a ata. A respeito do óbito, alguns comentários ainda são necessários. Apesar da documentação que utilizamos como exemplo ser muito clara no que concerne à identificação dos falecidos, esta muitas vezes está comprometida, quando se trata de crianças que morreram antes do primeiro aniversário; nesse caso, em geral o padre contentava-se em nomear o nome do pai. Estes problemas de identificação apresentam-se igualmente no caso de óbitos de pessoas idosas; da mesma forma, quando em qualquer registro for difícil a determinação do estado civil, ou mesmo do nome do falecido.

Normalmente, a causa-mortis não era registrada. Em certas atas, o vigário observava: “faleceu subitamente”, ou “faleceu em seguida a ferimentos por arma de fogo” ou mesmo “faleceu em seguida à luta contra os índios”. Certamente, tais informações dão sabor à leitura da documentação, mas não acrescentam muito aos pesquisadores que querem se aprofundar no tema da *morbidade no passado colonial e,

88 Ver o documentos 21. 89 Idem, documento 20.

muito menos, que queiram sistematizar qualquer investigação a respeito da mortalidade da época. Muito embora se possa imaginar que fosse significativa a mortalidade feminina em conseqüência de problemas no *puerpério, encontramos sobre isso informações muito eventuais: esporadicamente, nos deparamos com uma menção de que determinada pessoa morreu de parto, ou em seguida a uma hemorragia. Quando se inicia o século XIX, dependendo sempre do vigário, as informações a respeito da causa da morte melhoram, com referência às doenças que teriam levado à morte o indivíduo. Conseqüentemente, é cada vez mais comum, à medida que deixamos o século XVIII para trás, encontrarmos menções como as que seguem, nos registros de sepultamento: morreu de *maligna, *tísica, *estupor, *lombriga, *lepra, *bexiga, ...