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113 contemplados cursinhos dos Estados do Rio de Janeiro, São

Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Mato Grosso do Sul. (Núcleo de Estudos da Vilência/USP, 2000, pág. 48-49).

Além disso, o relatório informa o apoio financeiro dado a alguns cursos pré- vestibulares cujos representantes compareceram na reunião de 17/09/1999. De fato, no mês de março de 2000, a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos ofereceu aos cursos um pequeno apoio financeiro para compra de material e ajuda de custo e, efetivamente, alguns cursos receberam este “apoio”.

Esses fatos são importantes para o entendimento dos motivos da aproximação do governo federal com os cursos pré-vestibulares populares (principalmente os cursos ligados à questão racial) e do contexto político pontual em que aconteceu tal aproximação: naquele momento, o governo brasileiro precisava apresentar em seus relatórios à comunidade internacional, ações concretas de combate à discriminação racial. Essa aproximação dos movimentos sociais não aconteceu apenas com os cursos pré-vestibulares populares, mas com o movimentos sociais negros, indígenas, de mulheres, de homossexuais, dos portadores de deficiência, da comunidade judaica e de outros grupos que, no entendimento do governo federal, tivessem haver a luta contra o racismo, a discriminação e a xenofobia. A Conferência Mundial de Combate ao Racismo se aproximava e o governo precisava “prestar contas” à comunidade internacional sobre suas ações concretas em face das convenções e protocolos em que é signatário.

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governo e a oferta de recursos financeiros) trouxeram alguns elementos positivos, no sentido de que novas questões se colocaram e novas propostas passaram a ser pensadas pelo movimento. Pela primeira vez cursos de estados diferentes se reuniram e puderam trocar conhecimentos. Além disso, explicitaram-se algumas diferenças e divergências, como as questões sobre os recursos financeiros oferecidos pelo governo (Quais os interesses do governo? Cooptação? Apoio? O movimento deve aceitar esses recursos?) e as formas que cada organização de cursos pré- vestibulares populares entende o seu próprio trabalho (movimento social, educação popular ou política pública?). Dependendo do lugar em que se coloca e dos seus interesses (éticos ou corporativos), cada organização de curso pré-vestibular popular explicita um posicionamento sobre essas questões.

É fundamental considerarmos que o movimento dos cursos pré-vestibulares populares, como já colocamos anteriormente, é uma multiplicidade. Os cursos que são projetos de organizações não-governamentais, por exemplo, pelas suas próprias características, são em geral muito sensíveis às ofertas de recursos financeiros. Já os cursos baseados em trabalho voluntário e militante têm um posicionamento mais crítico e desconfiado em relação aos apoios financeiro e propostas vindas de setores do Estado (Universidades, Governos, Poder Legislativo).

Entretanto, esses eventos não encerraram as relações entre governo e cursos pré-vestibulares populares. Ainda em função da III Conferência Mundial e dos debates sobre políticas de ação afirmativa ensejados pelo movimento negro e pelo

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próprio governo federal50, foram organizadas outras reuniões, seminários, documentos e propostas dos cursos pré-vestibulares populares para os governos e dos governos para os cursos pré-vestibulares.

Após a Conferência Mundial, as conversas do governo federal com o movimento negro ganharam mais espaços. O Movimento Negro passou a cobrar ações concretas com base nos compromissos assumidos pelo governo no Plano de Ação aprovado na Conferência.

Consolidou-se, então, o debate entre Movimento Negro e Governo sobre políticas de ação afirmativa passou a fazer parte da agenda política nacional. Seminários e reuniões foram realizados e propostas foram apresentadas. E os Cursos Pré-Vestibulares Populares, principalmente o PVNC e a EDUCAFRO, participaram ativamente na defesa das políticas de ação afirmativa, a começar pelos debates a partir da aprovação, pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, da Lei Estadual número 3708, de 09 de novembro de 2001, que pela primeira vez no Brasil estabeleceu cotas para negros no ensino superior, neste caso nas Universidades Estaduais do Estado do Rio de Janeiro.

Em face dessa Lei Estadual, as ações políticas do PVNC e da EDUCAFRO nas Universidades Estaduais se voltaram para efetivar da Lei e para instituir um programa de permanência para apoio aos estudantes beneficiários da nova

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O marcos governamentais da discussão sobre ação afirmativa foram a criação do Grupo Interministerial de Valorização da População Negra em 1995 e o Seminário “Multiculturalismo e

Racismo: o papel da ação afirmativa nos Estados Democráticos contemporâneos”, organizado pelo

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legislação, quando da criação na UERJ de uma comissão para propor um programa de apoio acadêmico e financeiro aos estudantes. Segundo o documento que sistematiza as propostas da comissão51, foram sugeridas “medidas de apoio efetivo à permanência do estudante carente na Universidade”, que “foram ditas e escritas pelos representantes do Movimento Pré-Vestibular para Negros e Carentes e da EDUCAFRO”52.

Outras participações importantes dos Cursos Pré-Vestibulares Populares em formulações de propostas para órgãos Estatais aconteceram no processo de discussão para a elaboração do Projeto do Programa Diversidade na Universidade53, em 2002; nos debates sobre o Programa Universidades para Todos – PROUNI e sobre a proposta de Reforma do Ensino Superior, em 2004; nas discussões, ainda não concluídas, do Projeto de Lei Federal que pretende instituir cotas para negros e indígenas nas Universidades Federais54, em audiências públicas e reuniões; e, em Comissões e Grupos de Trabalho do Governo Federal constituídos para formular propostas de políticas de ação afirmativa.

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UERJ. Programa de Apoio ao Estudante da UERJ. Rio de Janeiro, UERJ, 2002.

52

PVNC. Propostas para uma política de promoção da igualdade. Rio de Janeiro, mimeo, 2001.

53O Programa Diversidade na Universidade surgiu como proposta no final de 2001, após a Conferência

Mundial de Combate ao Racismo, realizada em Durban de 01 a 09 de setembro de 2001. No momento da sua criação, ainda na gestão do então ministro da Educação Paulo Renato de Souza, o programa foi apresentado como uma alternativa ao sistema de cotas. Várias reuniões foram feitas entre os formuladores do MEC e representantes dos cursos pré-vestibulares populares, sem, no entanto produzir um consenso em torno da proposta, pois alguns cursos pré-vestibulares, como o Movimento Pré-vestibular para Negros e Carentes (PVNC), se colocaram contrários ao programa, pois discordavam da institucionalização de pré-vestibulares populares como política pública. Mesmo discordando e não participando do programa como um “Projeto Inovador de Curso” (denominação dada aos cursos pré-vestibulares apoiados financeiramente pelo programa), o PVNC manteve-se na discussão por considerar o programa como um espaço estratégico de interlocução com o MEC e formulação de políticas de ação afirmativa.

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CAPÍTULO II

DESIGUALDADES RACIAIS E