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CAPÍTULO 3 OS SUPERVISORES E A FORMAÇÃO DOS BOLSISTAS DE INICIAÇÃO

3.3 O contexto de atuação dos supervisores

A partir das informações do QEdu100, tecemos algumas breves considerações sobre as

escolas onde os supervisores atuam. Apresentamos dados sobre o número de estudantes e o

100 O QEdu é um portal que disponibiliza informações obtidas de fontes oficiais do governo brasileiro, como a Prova Brasil, o Censo Escolar e indicadores específicos do Inep. Todos os dados estão disponíveis na página de cada escola, município, estado e para o Brasil. As informações são referentes ao aprendizado do alunado, perfil dos alunos, taxas de rendimento, distorção idade série, infraestrutura das escolas, IDEB, NSE, entre outros. Link de acesso ao portal QEdu: <http://www.qedu.org.br/>. Acesso em: 25 set. 2016.

nível socioeconômico (NSE101) do alunado das escolas, a infraestrutura, a localização102 e o IDEB103 (anos finais) das seis escolas participantes do PIBID/UFV de Ciências Biológicas e Química – Edital 2013. Para complementar as nossas informações, quando necessário, interrogamos ainda os sujeitos da nossa pesquisa, por meio da entrevista104, a respeito das condições estruturais dos estabelecimentos.

Julgamos a necessidade de considerar o contexto de atuação dos supervisores pelo fato de, apesar de as escolas estarem integradas a um contexto cultural mais amplo, cada uma possui uma cultura interna que lhes é própria e que exprime os valores e as crenças que os membros da organização partilham, como assinalado por Nóvoa (1995). Acreditamos, desse modo, que essa cultura interna das escolas, capaz de diferenciar umas das outras, por meio das relações estabelecidas entre os atores e o espaço escolar, vai conferir propriedades específicas na atuação dos supervisores no âmbito do Programa.

Nesse sentido, trazemos, a seguir, as características concernentes a cada escola. Cabe reafirmar que o nome das instituições foi modificado, visando assegurar o anonimato das escolas pesquisadas.

Escola Alvorada

A Escola Alvorada oferece os anos iniciais (1º ao 5º ano) e anos finais (6º ao 9º ano) do ensino fundamental e o ensino médio. Em 2015, foram matriculados na escola 558 alunos.

101 O nível socioeconômico (NSE) é um indicador que ilustra as características do conjunto de alunos atendidos por cada escola em relação à sua renda, ocupação e escolaridade. Convertido em uma escala de 0 até 10, o NSE é separado em sete níveis qualitativos: “Mais Baixo”; “Baixo”; “Médio-baixo”; “Médio”; “Médio Alto”; “Alto” e

“Mais Alto”. Ele é calculado a partir dos dados dos alunos revelados nas avaliações educacionais conduzidas pelo

Inep. A medida de NSE dos estudantes, apresentada aqui neste trabalho, teve como base os dados da Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), da Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc, também denominada Prova Brasil) e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), referentes aos anos de 2011 e 2013. Mais informações sobre os NSE das escolas do município de Viçosa/MG podem ser encontradas no link, a seguir: <http://www.qedu.org.br/cidade/2134vicosa/explorar?grade=9&discipline=1&dependence=0&zoom=2&sort=ns e&sortDirection=asc&visualization=isotope>. Acesso em: 25 set. 2016.

102 Em relação às informações sobre a localização das escolas, estas foram explicitadas tanto com base nas observações simples da pesquisadora nos dias em que visitou cada um dos estabelecimentos, com intuito de apresentar a pesquisa aos supervisores, assim como por meio das informações proferidas pelos próprios participantes do estudo no momento da entrevista.

103 O IDEB é o principal indicador da qualidade da educação básica no Brasil. Em uma escala de 0 a 10, sintetiza dois conceitos: a aprovação escolar; e o aprendizado em português e matemática. O aprendizado é definido por meio do resultado dos alunos no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), aferido pela Prova Brasil – avaliação censitária envolvendo os estudantes da 4ª série/5ºano e 8ªsérie/9ºano do Ensino Fundamental das escolas públicas das redes municipais, estaduais e federal – e pela Aneb – avaliação amostral do Saeb que abrange alunos das redes públicas e privadas do país, matriculados na 4ª série/5ºano e 8ªsérie/9ºano do Ensino Fundamental e no 3º ano do Ensino Médio.

104 Dedicamos no roteiro da entrevista uma questão (nº 1.6) que abordou quais são as condições mínimas (infraestrutura, por exemplo) para o funcionamento do PIBID na escola em que os supervisores atuam.

Conta com 57 funcionários. Em relação às dependências, não possui sala de leitura, quadra de esportes e sala de atendimento especial. Nas palavras de Leandro, a escola é “precária”, não possuindo condições mínimas para o funcionamento do PIBID, com por exemplo, espaço para a realização das atividades teóricas e práticas e espaço para reuniões com os bolsistas.

Esse estabelecimento de ensino está situado em uma região mais afastada do centro urbano do município. O nível socioeconômico (NSE) dos estudantes desta instituição é de 4,7, valor caracterizado como médio. Com relação ao IDEB em 2015, o seu índice foi de 4,6, o que indica que a escola atingiu a meta e cresceu o IDEB, o qual obteve o valor de 4,1 em 2013.

Escola Artêmia

A Escola Artêmia está localizada em uma região mais distante do centro urbano da cidade. É um estabelecimento relativamente pequeno e conta atualmente com 203 alunos, distribuídos nas seguintes etapas de ensino: creche, pré-escola, anos iniciais e finais do ensino fundamental. Não possui laboratório de ciências, sala de leitura, quadra de esportes e sala de atendimento especial. Seus equipamentos também são escassos, não possuindo impressora, copiadora e retroprojetor. Possui 37 funcionários. O nível socioeconômico (NSE) dos alunos deste estabelecimento de ensino é de 4,7. Não encontramos informações atuais105 referentes ao IDEB desta escola.

No entanto, mesmo diante da falta de estrutura física, Laura evidencia que a escola possui espaços para os bolsistas de iniciação à docência desenvolverem as suas atividades com os alunos.

Escola Engenho de Sá

A Escola Engenho de Sá está situada próxima à região do município tida como “perigosa”. Possui 1.201 alunos, cursando dos anos finais do ensino fundamental ao ensino médio. Destes, 821 estão matriculados nesta última etapa de ensino. Considerada, por Ana, uma escola ampla e com boas condições estruturais, possui 85 funcionários. Para Ana, este estabelecimento possui um espaço favorável para a realização das ações do PIBID.

105 De acordo com as informações fornecidas pelo INEP (2016), a Escola Artêmia não possui o resultado do IDEB pelo fato da escola não ter participado ou não ter atendido os requisitos necessários para ter o seu desempenho calculado. O único valor que encontramos referente ao IDEB dos anos finais desta instituição se refere ao ano de 2007, no qual o seu resultado foi 3,6. Cabe, ainda, revelar que a meta projetada para o ano de 2015 foi 4,6.

O seu nível socioeconômico (NSE) é de 5,3. O índice do IDEB em 2015 nesta escola foi de 4,7, valor caracterizado em estado de alerta, pois a escola não alcançou a meta 5,0 esperada neste ano e não cresceu o IDEB, ao se comparar ao valor alcançado em 2013 (5,5).

Escola Juca Procópio

A Escola Juca Procópio é considerada de pequeno porte. Está localizada em um distrito do município e atende a alunos dos anos iniciais e finais do ensino fundamental e o ensino médio, totalizando 398 estudantes. Em relação as suas dependências, não possui sala de leitura, quadra de esportes, sala para a diretoria e sala de atendimento especial. Conta com 48 funcionários, considerado por Cássia como uma quantidade baixa.

O nível socioeconômico (NSE) dos alunos é considerado médio-baixo (4,5), o menor índice entre as escolas participantes do nosso estudo. Em 2015, o IDEB dessa instituição foi de 4,2, situação que coloca a escola em estado de atenção, tendo em vista que, apesar de ter tido uma relativa melhora no seu índice, o estabelecimento não atingiu a meta 5,2 prevista para este ano.

Escola Estácia

A Escola Estácia está localizada na região central do município. O nível socioeconômico do alunado desse estabelecimento é de 5,7, índice caracterizado como médio-alto, maior nível entre todas as escolas participantes da nossa pesquisa. Oferece atualmente o ensino fundamental de nove anos e o ensino médio. Há matriculados 1.045 alunos e conta com 96 funcionários. Sobre o IDEB 2015 dessa instituição, o seu nível foi de 5,7, o que revela que a escola não alcançou a meta prevista pelo governo (5,8). Contudo, apesar de não alcançar a meta, esta instituição obteve o maior valor do IDEB comparado às escolas participantes da nossa pesquisa. Apesar da escola possuir uma estrutura física adequada para o funcionamento do PIBID, como salientado por Silvya, Débora revela que o espaço ainda é “muito precário”, pois não conta com técnicos para organizar o laboratório e nem instrumentos de trabalho (vidrarias; reagentes, por exemplo).

Escola Violeta

A Escola Violeta, localizada em uma região afastada do centro urbano do município, possui 717 alunos cursando os anos iniciais e finais do ensino fundamental e o ensino médio. Segundo Luciene, a escola não possui todos os espaços necessários para a realização das atividades do PIBID, como por exemplo, laboratório de ciências, sala de leitura e sala de atendimento especial.

O IDEB 2015 da rede foi de 3,7, considerado em estado de alerta, pois, se comparado a 2013 (4,3), o seu valor teve queda, não atingindo, portanto, a meta 5,1 esperada. Este foi o menor índice do IDEB 2015 entre os estabelecimentos de ensino participantes do nosso estudo. O nível socioeconômico (NSE) dos alunos desse estabelecimento é de 4,8, valor considerado médio.

Com base nesta caracterização das escolas atendidas pelo PIBID/UFV de Ciências Biológicas e Química, podemos perceber que a estrutura física e material das escolas, são, em sua maioria, precárias e restritas. Muitas são pequenas e afastadas da região central do município; com exceção da escola Estácia e Engenho de Sá, que são grandes, com uma boa estrutura física e localizadas na região central (Estácia) ou próxima dela (Engenho de Sá). Identificamos, ainda, que algumas escolas não contam com espaços estruturais necessários para a realização das atividades do Programa. Acreditamos, portanto, que essas condições físicas influenciam na maneira como o supervisor conduz as suas ações com os bolsistas de iniciação à docência no interior das escolas. Veremos, desse modo, que os fatores que determinam a entrada dos supervisores no PIBID estão atrelados, muitas vezes, às próprias condições estruturais (físicas ou sociais106) dos estabelecimentos escolares, como se expõe a seguir.