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2 UNIVERSIDADE

2.2 A Universidade no Brasil

2.2.1 Contexto de Surgimento da Universidade no Brasil

Pela grandiosidade do tema, torna-se audacioso, senão perigoso, discorrer sobre o surgimento do ensino superior, preleciona Melo (2002), pois, quando reflete sobre sua complexa trajetória, suas variadas concepções e modelos de realização verificam que estas sucederam em diversos contextos histórico-sociais, diferentes tanto no tempo quanto no espaço. A despeito de tal dificuldade, quando se tenta delinear o seu processo evolutivo, as ações primitivas da comunidade acadêmica são percebidas e identificadas, na modernidade.

Nas Américas, em regiões de colônias inglesas, francesas e espanholas, o ensino superior foi contemporâneo aos alvores da colonização. Especificamente no Brasil, foi introduzido cerca de trezentos anos após sua descoberta, durante a estadia da Família Real (SOUZA, 2001; TOBIAS, 1972; TEIXEIRA, 1989).

Tobias (1972) elenca que o ensino superior brasileiro origina-se com as ordens religiosas, como a Companhia de Jesus, datada de 1808 por concessão de D.João VI, vindo atender aos interesses da corte, que chegara ao Brasil naquele ano, expulsos de Portugal por Napoleão Bonaparte, que havia tomado o território português.

O Quadro 1, compilado de Bello (2008), sintetiza a evolução da história da educação no Brasil, identificando os períodos Jesuítico, Pombalino, Joanino, Imperial, Primeira República, Segunda República, Estado Novo, Regime Militar e Abertura Política.

Na lavra de Souza (2001), encontra-se que as primeiras faculdades possuíam um caráter elitista no modelo de instituto isolado e de natureza profissionalizante para atender os filhos da aristocracia colonial que não tinham acesso às academias européias. A finalidade de formação neste período era, portanto, preparar estudantes para prestar serviços à corte, neste contexto, foram criadas as primeiras escolas na Bahia e no Rio de Janeiro.

A Real Academia de Marinha em 1808, com a oficialização dos cursos de Agricultura (1812) e de Química (1817), em Salvador; a escola Real de Ciências, Artes e Ofício (1816) transformada na Real Academia de Pintura (1920), no Rio de Janeiro; a Academia de Direito (1827) e as Academias de Medicina e Cirurgia da Bahia e do Rio de Janeiro transformadas em Faculdades de Medicina, em 1839. As demais, criadas ao longo do Brasil Império, continuavam sendo escolas superiores profissionais e não se falava em universidade (SCHWARTZMAN, 1981; REIS, 1990).

ANO PERÍODO JESUÍTICO (1549 · 1759)

1549 · Chega ao Brasil o primeiro grupo de seis padres jesuítas, chefiados por Manuel de Nóbrega, marcando o início da História da Educação no Brasil nos moldes europeus.

1554 · Fundada a escola de São Paulo de Piratininga, seu primeiro professor foi o padre José de Anchieta. 1699 · Fundada na Bahia a Escola de Artes e Edificações Militares.

1759

· 210 anos após a chegada e de serem os únicos responsáveis pela educação no Brasil, deixam a colônia cerca de quinhentos padres jesuítas, expulsos pelo Marquês de Pombal, paralisando 17 colégios e 36 missões. O Alvará de 28/07 determina a instituição de aulas de latim, grego e retórica.

ANO PERÍODO POMBALINO (1760 · 1807)

1770 · A Reforma Pombalina substitui o sistema jesuítico pelo ensino de vice·reis nomeados por Portugal.

ANO PERÍODO JOANINO (1808 · 1821)

1808 · Criada a Academia de Marinha, no Rio de Janeiro e o curso de cirurgia no Rio de Janeiro e na Bahia. 1816 · É criada a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, no Rio de Janeiro.

ANO PERÍODO IMPERIAL (1822 · 1888)

1824 · A Constituição, artigo 179, descreve que a instrução primária era gratuita a todos os cidadãos. 1827 · São criados os cursos de Direito de São Paulo e Olinda. É criado o Observatório Astronômico.

1832 · Convertem·se em Faculdades de Medicina as Academias Médico-Cirúrgicas do Rio de Janeiro e da Bahia. 1835 · É criada uma escola normal em Niterói. A primeira do Brasil.

1852 · Gonçalves Dias, no relatório de inspeção: "Quero crer perigoso dar·se·lhes (aos aldeados) instrução". 1872 · O Brasil contava com uma população de 10 milhões de habitantes e apenas 150.000 alunos matriculados em

escolas primárias. O índice de analfabetismo era de 66,4%.

1879 · O Senador Oliveira Junqueira dizia: "certas matérias, talvez, não sejam convenientes para o pobre; o menino

pobre deve ter noções muito simples".

1889

· Ferreira Viana, Ministro do Império, dizia ser fundamental formar "professores com a necessária instrução

científica e profissional".

· Com a Proclamação da República, no Governo Provisório do Marechal Deodoro da Fonseca, torna-se Ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos Benjamin Constant Botelho de Magalhães. · Os alunos matriculados nas escolas correspondem a 12% da população em idade escolar.

ANO PERÍODO DA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889 · 1929)

1893 · Criado, em São Paulo, o Instituto Adolfo Lutz e a Escola Politécnica. 1895 · É fundada a Academia Brasileira de Letras por Machado de Assis. 1920 · O percentual de analfabetos no país referente a todas as idades é de 75%.

1925 · O educador Anísio Teixeira realiza uma reforma educacional no estado da Bahia, através da Lei 1.846.

ANO PERÍODO DA SEGUNDA REPÚBLICA (1830 · 1936)

1934

· A nova Constituição dispõe que a educação é direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos. · Passa a funcionar o Conselho Nacional de Educação (CNE). · Por iniciativa do governador Armando Salles Oliveira foi criada a Universidade de São Paulo. A primeira a ser criada e organizada segundo as normas do Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931.

ANO PERÍODO DO ESTADO NOVO (1937 · 1945)

1938 · Criados a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP). 1942 · É decretada a reforma do ensino relativa ao ensino secundário, conhecida como Reforma Capanema.

ANO PERÍODO DA NOVA REPÚBLICA (1946 · 1963)

1947 · É criado o Instituto Tecnológico da Aeronáutica - ITA. 1953 · Criado o Ministério da Educação e Cultura.

1955 · Anísio Teixeira funda os Centros de Pesquisas Educacionais de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre.

1962 · É criado o Conselho Federal de Educação, cumprindo o artigo 9o da Lei de Diretrizes e Bases.

ANO PERÍODO DO REGIME MILITAR (1964 · 1985)

1964

· A Universidade de Brasília é invadida por tropas militares, o reitor Anísio Teixeira é destituído do cargo. · A ditadura militar coloca na ilegalidade a UNE. O lema da ditadura é "estudante é para estudar; trabalhador

para trabalhar".

1965 · O Parecer no 977 define cursos de pós-graduação.

1966 · Decreto-Lei no 53 trata da reforma universitária, caracterizando-a como instituição de ensino e pesquisa. 1967 · Criado o MOBRAL. O índice de analfabetismo no Brasil é de 32,05%.

ANO PERÍODO DA ABERTURA POLÍTICA (1986 · 2003)

1988 · Segundo o INEP apenas 32,21% dos alunos completam o 1o grau. 1991 · O índice de analfabetismo no Brasil é de 18%.

1997 · Morrem Darcy Ribeiro, Paulo Freire e Hebert de Souza, o Betinho. · As escolas de 2o grau também são avaliadas pelo "Provão".

1998 · É instituído pelo INEP o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM). 2001

· O Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à educação - "Bolsa Escola" é criado pela Medida Provisória 2.140/2001, aprovado pelo Congresso Nacional sancionado pelo presidente da República pela Lei 10.219/2001.

2003 · É Ministro da Educação, do Governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Cristovam Buarque.

Quadro 1: Síntese da História da Educação no Brasil Fonte: Adaptado de Bello (2008).

A universidade surgiu na Europa, no período medieval, no século XI. Originariamente vinculadas às organizações religiosas, que as controlavam rigidamente, foram conquistando autonomia, não apenas em forma de sua organização e gerenciamento, como também na orientação dos estudos nelas desenvolvidos. Na América Latina, os primeiros sistemas universitários surgidos foram trazidos pelos espanhóis ainda nos primórdios do século XVI (MANCE, 1999), conforme pode-se observar no Quadro 1, que demonstra, inclusive, os demais períodos evolutivos.

No Brasil, a origem da universidade tem no ano de 1934 um marco histórico com a criação da Universidade de São Paulo (SOUZA, 2001; SCHWARTZMAN, 1981). Todavia, à luz da preleção de Melo (2005), a primeira universidade criada no Brasil foi a Universidade de Manáos, em 1909. Levantamentos junto à Universia Brasil (2008) e à Universidade Federal do Amazonas – UFAM (2008) corroboram com Melo (2005). Sua trajetória tem início em 17 de janeiro de 1909 quando um grupo de homens idealistas, irmanados por um forte espírito de construção coletiva, fundou a primeira universidade brasileira - a Escola Universitária Livre de Manáos, no coração da Amazônia, mais tarde denominada Universidade de Manáos.

A Universidade Federal do Amazonas é considerada a primeira universidade brasileira, pois originou-se da Escola Universitária Livre de Manáos, criada em 1909. Mesmo com a extinção da Escola, permaneceu a Faculdade de Direito, que se tornou um "embrião" da atual UFAM. O fato foi registrado em 1995 no Guinness Book, o livro dos recordes (UFAM, 2008, p. 3).

Face às dificuldades pelas quais passou a Universidade de Manáos, houve a sua desintegração em cursos isolados. Foi novamente fundada em 12 de junho de 1962, por força da Lei Federal 4.069-A, de autoria do senador Arthur Virgílio Filho, e rebatizada como Universidade do Amazonas, sendo constituída pela reintegração das instituições de ensino superior. Com a Lei Federal 10.468, de junho de 2002, passou a ser denominada Universidade Federal do Amazonas (UFAM, 2008).

Em consonância com a clarificação de Romanelli (1978), a Universidade do Rio de Janeiro, criada em 7 de setembro de 1920, foi a primeira universidade reconhecida pelo governo federal. A Universidade do Paraná (1912) não teve o reconhecimento federal, pois a cidade de Curitiba não atendia o critério de possuir, na época, mais de 100.000 habitantes. Em 1927, surgiu a Universidade de Minas Gerais com a fusão das escolas de Direito, Engenharia e Medicina.

Até então, as universidades tinham se organizado pela incorporação de faculdades autônomas existentes, a Universidade de São Paulo, fundada em 25 de janeiro de 1934, foi a primeira que atendia as normas do Estatuto das Universidades em conformidade com o Decreto 19.851/31. Na ocasião, seu surgimento deu-se pelo início da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, posteriormente foram incorporadas as Escolas Estaduais de Medicina, Direito e Engenharia (SCHWARTZMAN, 1981; ROMANELLI, 1978).

O Brasil somava 16 universidades em 1954, sendo três nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco; duas no Rio Grande do Sul e uma nos estados do Paraná e na Bahia. Desse total, cinco eram confessionais, quatro católicas e uma protestante, as outras eram mantidas pelo Estado (CUNHA, 1983).

Em 2006, de acordo com o Censo da Educação Superior 2006 (INEP, 2008), o Brasil atingiu o número de 178 universidades: 53 federais; 34 estaduais; 5 municipais e 86 privadas.