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2. Estado de Arte

2.2. Desenvolvimento Sustentável

2.2.3. Contexto e Aplicação

O conceito de desenvolvimento sustentável tem a sua origem no conceito de desenvolvimento económico. A discussão em torno da conciliação do desenvolvimento económico e da preservação ambiental não é recente, tornando-se assim, um conceito largamente disseminado que sofreu diversas alterações ao longo do tempo [7].

Já no final dos anos 60, uma organização não governamental, o Clube de Roma, surge com o objectivo de discutir e promover um conjunto de temas relacionados com a realidade económica da época tendo em conta o seu crescimento e desenvolvimento sob o prisma ambiental. Até que em 1972 origina o relatório, “Os Limites do Crescimento”, que tem como príncipios a tomada necessária de acções tecnológicas e sociais profundas com o sentido de um estado global de equilíbrio demográfico,

tendo em conta os limites de crescimento populacional devido à sobreutilização dos recursos naturais e energéticos [8].

Ainda em 1972, realizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e desenvolvimento, em Estocolmo, onde os Estados-membro foram orientados para uma implementação da vertente ambiental como condicionadora dos modelos de negociações internacionais de crescimento económico e de uso dos recursos naturais [20].

A adopção formal do conceito de desenvolvimento sustentável surgiu no relatório da Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento da ONU designado por “Our Common future”, também conhecido como o relatório de Brundtland. Este relatório defende que “O Desenvolvimento Sustentável é o que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”. Este documento enfatizou claramente a necessidade de obtenção de um estado de equidade social e de crescimento económico em simultâneo com a preocupação, constante, de preservação dos recursos naturais e prevenção da degradação ambiental, o que iria corresponder a uma melhoria da qualidade de vida no presente e no futuro. O relatório de Brundtland embora não apresente medidas de acção concreta, aborda vários conceitos considerados fundamentais a serem tomadas pelos diversos estados-membro, entre eles: a limitação do crescimento demográfico, redução do consumo de energia, desenvolvimento de tecnologia que promova o uso de fontes energéticas renováveis, satisfação das necessidades básicas e o aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas [9].

Embora o conceito e concepção de desenvolvimento sustentável tenha sido até então, um tema abundantemente difundido, não existia transparência e clareza sobre os procedimentos de acção quer a nível de planeamento quer a nível administrativo.

É então após o Relatório de Brundtland que surgem um conjunto de conferências a nível mundial que seguem os conceitos e directivas mencionadas neste documento. Entre elas, está a Conferência Eco-92, também designada como “Cimeira Mundial da Terra” realizada em 1992 no Rio de Janeiro que estabeleceu o reforço de um desenvolvimento socioeconómico através de um planeamento da preservação dos recursos naturais. Desta Cimeira destaca-se a elaboração de dois documentos: a Declaração do Rio e Agenda 21. Enquanto a Declaração do Rio refere um conjunto de princípios pelos quais deve ser orientada a interacção do ser humano com o planeta, a Agenda 21 é um plano de acção estratégico que estabelece a importância do comprometimento de reflexão global, nacional e localmente, por organizações do sistema das Nações Unidas, governos e pela sociedade civil em todos os sectores em que a acção humana tenha impacte sobre o meio ambiente. Torna-se assim claro que o o esforço de planear o futuro tendo como base os princípio da Agenda 21 deve originar produtos concretos, exequíveis e mensuráveis que irão garantir a sustentabilidade do futuro. Foi então, durante esta Cimeira que foi definitivamente integrado como um princípio, o conceito de desenvolvimento sustentável [9].

Na sequência da Agenda 21, surge a Agenda Habitat II em 1996 na cidade de Istambul, na Segunda Conferência das Nações Unidas que pretende responder a temas de igual e global relevância como: "abrigo adequado para todos" e "desenvolvimento sustentável dos aglomerados humanos num mundo em urbanização", assumindo assim, que se torna peremptório melhorar a qualidade dos aglomerados humanos, uma vez que estes podem afectar a vida diária e bem-estar da sociedade [9].

Até que uma década após a Cimeira do Rio, se realiza a Conferência de Joanesburgo, em 2002, onde se reafirma a importância da envolvência dos princípios associados ao desenvolvimento sustentável nos diversos campos da politica internacional e de que esta cimeira teria de conceber um plano de actuação mais específico e global. Incentivou-se assim, as autoridades relevantes a envolver o desenvolvimento sustentável na tomada de decisões e a promover políticas de desenvolvimento que respeitem o meio ambiente [9].

Este conjunto alargado de conferências e cimeiras contribuiu assim para um desenvolvimento continuado de todas as actividades humanas atendendo ao ecologicamente suportável, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceite. Deste facto, pode-se afirmar que o modelo de desenvolvimento sustentável é alicerçado em três dimensões essenciais: dimensão ambiental, dimensão social e dimensão económica [10].

Figura 2.2 - Componentes do desenvolvimento sustentável [11].

O desenvolvimento sustentável só pode ser atingido se estas componentes evoluírem harmoniosamente e se articularem de forma sistémica entre si, pelo que é necessário equilibrá-lo, ao equacioná-los ao nível político.

A sustentabilidade no desenvolvimento global requer então, uma abordagem integrada das autoridades nacionais e regionais para uma eficaz realização a nível local, incluindo uma gestão estratégicas dos impactos ambientais a curto e longo prazo e ligações políticas de diferentes níveis administrativos com o sentido de um processo de maior coerência. Deste modo, está implícito um

compromisso de solidariedade com as gerações do futuro, no sentido de assegurar a transmissão do património capaz de satisfazer as suas necessidades através de uma integração equilibrada de todos os sistemas e seus componentes [12].

Ficou assim claro, num processo gradual ao longo do tempo através das diversas conferências realizadas, que os objectivos do desenvolvimento sustentável passam por [9]:

• Apresentar e consciecializar a população para modelos de preservação do ambiente;

• Garantir a satisfação das necessidades básicas, o que inclui aspectos como a saúde, alimentação, habitação, emprego, entre outras;

• Salvaguardar os recursos naturais através de uma utilização de recursos de energia renováveis; • Desenvolver e proteger a biodiversidade;

• Limitar o crescimento demográfico;

• Melhorar a qualidade de vida da população;