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O povoamento da área compreendida pelo atual Município de Maringá iniciou-se por volta de 1938. A localidade conhecida mais tarde por Maringá Velho começou a erguer as primeiras edificações urbanas a partir da década de 1940. Em relação às edificações iniciais, eram poucas e bastante rústicas, destinadas a organizar na localidade um pólo mínimo para o assentamento dos numerosos migrantes que afluíam para essa nova terra, seduzidos sobretudo pela campanha publicitária da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná5 (CMNP).

Os desbravadores chegaram principalmente entre os anos de 1947 e 1949. Vinham em caravanas procedentes de vários estados do Brasil, organizadas pela CMNP, em sua maioria colonos paulistas, mineiros e nordestinos.

A partir do trabalho desses colonos, surgiam no pequeno núcleo urbano as atividades de compra e venda de terras, as negociações entre proprietários, a hospedagem de colonos recém-chegados e algumas práticas ínfimas de comércio varejista. O local funcionava também como pousada para aqueles que se embrenhavam mato adentro rumo ao desconhecido das barrancas do Rio Ivaí. A reocupação dos espaços era controlada pela CMNP, empresa que explorava essas terras. Responsabilizava-se pela venda das terras e lotes, além da construção de estradas e da implantação do núcleo urbano.

A princípio, o traçado urbanístico do pequeno núcleo urbano refletia os elementos de provisoriedade do assentamento. Eram logradouros irregulares, sem infra-estrutura e escoamento, iluminação ou água corrente, com um comércio ainda

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A CMNP- Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, originalmente Companhia de Terras Norte do Paraná (empresa de capital inglês que reorganizou o espaço social existente, alterando sua paisagem natural), encarregou-se do loteamento e da venda das terras por meio de forte campanha publicitária. As propagandas anunciavam a idéia de um local voltado para o progresso, belo e sem problemas, calcado na pujança e no trabalho de seus construtores. Desse movimento colonizador nasceria o projeto de urbanização caracterizado como cidade jardim, modelo de urbanização preconizado por Ebenezer Howard e transposto para o Brasil a partir das intervenções da Companhia City de São Paulo in SOUZA CAMPOS, Paulo Fernandes de. Os enfermos da razão:

insipiente, atendo apenas às necessidades dos colonos e moradores que ali se encontravam.

O pequeno povoado se ampliou grandemente. Projetada para atender “as mais avançadas normas de planejamento” 6, a cidade de Maringá passa a obter crescimento a partir da fase de consolidação do desenvolvimento da economia cafeeira no norte do Paraná, iniciada com a expansão da cafeicultura paulista a partir da década de 19207.

E assim aquele pequeno centro multiplicou suas funções conforme avançava a ocupação da região. O Maringá Velho deixava de ser apenas uma área central para desbravamento e tornava-se um local para onde os colonos convergiam a fim de receber notícias e correspondências, fazer compras e estabelecer a primitiva rede local de comunicações.

A cidade que conhecemos hoje como Maringá foi fundada em 10 de maio de 19478. De 1947 a 1951 era uma vila, depois distrito do próspero município de

Mandaguari. Em 14/11/l951 foi elevada a Município através da Lei nº. 790, e em 1954 a categoria de Comarca.

O crescimento da cidade obedece a um plano de desenvolvimento urbano. O traçado foi encomendado pela CMNP. A empresa contratou o arquiteto e urbanista Jorge Macedo Vieira (1894 -1978), um paulista que jamais esteve em Maringá, para que projetasse ainda em 1945 uma localidade de largas avenidas, muitas praças e espaços para árvores9.

Localizada na Região Norte do Estado do Paraná, os dirigentes da cidade sempre buscaram manter para a localidade o status de cidade próspera e empreendedora, pujante por “natureza”. Aqui seria possível realizar os mais belos sonhos, uma Eldorado do Carajás do norte paranaense. Essa característica, por

6 LUZ, France. O fenômeno urbano numa zona pioneira: Maringá. Maringá: Prefeitura, 1997. 7 GINI, Sergio. A Construção da Hegemonia Empresarial: o caso do Movimento Repensando Maringá (1994-2004). Maringá: Universidade Estadual de Maringá. Dissertação de Mestrado em História, 2007.

8 Maringá foi fundada em 10 de maio de 1947 e elevada a Município através da Lei nº. 790 de 14/11/l951

9 Nas palavras de Rodrigues “... as zonas residenciais do projeto de Maringá não se configuraram apenas enquanto espacialização de distintas funções, mas têm sua ocupação claramente definida por uma classificação socioeconômica: principal, popular e operária” In RODRIGUES, Ana Lúcia. A pobreza mora ao lado: segregação sócio espacial na região metropolitana de Maringá. Tese (doutorado em Ciências Sociais) – PUC – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2004.

sua vez, marcou os traços históricos da cidade, que se orgulha em ostentar o título de cidade (des) favelada.

Como estamos refletindo acerca da participação da sociedade maringaense na política local, nada mais justo do que revermos parte dos movimentos da população no que tange às participações na política da cidade.

Em 1956, Maringá ganhou seu primeiro Sindicato de Empregados Rurais. As reivindicações dos trabalhadores corriam por vias institucionais, cuja Lei em vigor à época orientava. Reginaldo Benedito Dias assinala que o movimento sindical era ligado ao setor público e dessa maneira prevalecia o sindicalismo profissional (assistencialista), sem muita incidência sobre as lutas corporativas10.

Sob os aspetos políticos, as primeiras formas de organização partidária se deram sob a orientação da União Democrática Nacional (UDN) e do Partido Social Democrático (PSD)11, dentre outras agremiações políticas12.

Atendendo à legislação do regime militar, o município de Maringá apresentava sua configuração política através de dois partidos: a ARENA (partido do governo) contra o MDB (partido desfavorável ao governo). A primeira eleição municipal nesse sistema aconteceu em 1968, vencendo o candidato Adriano Valente do MDB. O segundo pleito nessa categoria aconteceu no ano de 1972 em meio à desilusão em relação ao “Milagre Econômico” brasileiro. Naquele ano, o partido MDB mais uma vez ganhou as eleições para a prefeitura em Maringá. Com 62,5%, o candidato eleito foi o ex-petebista Silvio de Magalhães Barros. Já era 1976 quando as próximas eleições deram vitória a João Paulino Vieira Filho13,

candidato da ARENA, partido que dava sustentação ao governo militar14.

Ainda sobre os auspícios do período militar, em 1982 a prefeitura de Maringá vivia um período de transição, do bipartidarismo para o pluripartidarismo. Nesse momento de mudanças, vence as eleições para prefeito o médico Said Felício Ferreira. Em 1987 o então prefeito investiu em outras formas de

10 DIAS, Op. Cit. entrevista cedida o autor em 03.03.2006.

11 DIAS, Reginaldo Benedito, GONÇALVES, José Henrique Rollo. Maringá e o Norte do Paraná. Maringá: EDUEM, 1999, págs. 155-219

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Na primeira eleição municipal para prefeito, realizada em 195212, Inocente Vilanova Júnior do PTB – Partido Trabalhista Brasileiro, foi eleito prefeito In ANDRADE, Arthur. Maringá: ontem, hoje e amanhã. Maringá: [s.n], 1979.

13 O candidato já havia sido prefeito de Maringá entre 1961 a 1964. 14

organização social, vinculadas à prefeitura. Além disso, foi o mesmo prefeito quem fundou o Plano de Ação Comunitária com a criação de 41 Conselhos Comunitários de bairros.

No ano de 1988, em meio à corrupção e à existência dos chamados “marajás” o candidato Ricardo Barros (do PFL) vence as eleições para prefeito de Maringá, em torno da imagem do bom moço, incorruptível em relação aos políticos desonestos15.

A eleição de Ricardo Barros em 1988 apontava para a lógica de funcionamento da política local: alta rotatividade de elementos no poder, sem alternância de grupos ideologicamente constituídos. A postura dos candidatos até então não indicava um confronto com os interesses dos grupos que controlavam o poder na cidade. Aliás, a nosso ver tradicional também são as características dos políticos da cidade: alternância política no poder; percepção personalista da política e o recrutamento de políticos para ocuparem o poder que geralmente apresentam bom desempenho na vida profissional. Mas apesar da importância dessas características voltemos à cronologia. Após o governo de Said Ferreira (1993- 1996), o prefeito eleito em Maringá foi o candidato Jairo Gianoto (1996-2000) do PSDB.

Esse prefeito a partir de 1999 implantou no município o processo de participação popular na elaboração do orçamento publico da cidade de Maringá, que ficou conhecido pelo nome de Orçamento Popular. O prefeito enviou assessores e esteve ele próprio em Porto Alegre para também implantar na cidade o OP nos moldes gaúchos. Elias Canuto Brandão16 entende que boa parte da população, movimentos sociais e lideranças comunitárias acreditaram no projeto. Em sua cronologia de funcionamento, o Orçamento Popular de 1999 a 2000 estava configurado em 13 regiões17, com um coordenador de orçamento por

região18. Após as rodadas para formulação de calendários das reuniões nos bairros e prestação de contas do governo à população era eleito o Conselho do Orçamento Popular para votar as demandas elencadas pela população.

15

TONELLA, Celene in DIAS, Reginaldo Benedito, GONÇALVES, José Henrique Rollo. Maringá e o Norte do Paraná. Maringá: EDUEM, 1999, págs. 281-301.

16

Depoimento de Elias Canuto Brandão cedido ao autor em 14.05.2002. 17

Segundo Reginaldo Dias, no último ano do governo Gianoto foram incorporadas outras regiões do OP com a finalidade evidente de estreitar formas de contato com a população e ganhar votos. 18 Segundo o historiador Reginaldo Dias essa divisão se dava em função de interesses eleitorais., de forma que em cada bairro haveria um representante do prefeito.

No entanto, a população que participava do Orçamento Popular passou a tecer críticas ao governo, pois suas demandas não estavam sendo atendidas. Com isso, a população parecia estar desacreditada em relação a esse tipo de projeto político.

Em 2000 foi eleito o prefeito José Cláudio Pereira Neto (PT). Logo que assume a prefeitura, o governo buscou cumprir a promessa de campanha voltada ao incentivo à participação popular no processo que ficou conhecido como Orçamento Participativo. Assim como o projeto da administração anterior, o sistema também buscou seguir os moldes do processo desenvolvido na cidade de Porto Alegre. Uma comitiva da prefeitura esteve em Porto Alegre para também ali aprender como desenvolver esse tipo de política. A população, desacreditada desse tipo de processo político, sobretudo devido aos desvios de recursos públicos na gestão anterior, parecia legar ao partido das esquerdas o restabelecimento dos

bons costumes na política e o resgate da dívida social e de correções de muitas

distorções da política da cidade. Tanto que, sobretudo no ano de implantação do projeto do OP (2001), a população participou ativamente no processo.

Com a morte de José Cláudio, em 16 de setembro de 2003, assumiu a prefeitura o vice-prefeito João Ivo Caleffi (em 23 de setembro desse mesmo ano). O governo José Cláudio/João Ivo foi marcado, conforme dados de Osvaldo Reis19,

principalmente pela sua atuação na área de educação infantil. A construção de Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs - antigas creches) e a realização de obras voltadas à ascendência social, com a participação popular nas decisões, foram marcas desse governo, que se autodenominava popular, nas palavras de

3. A implantação, a organização e o funcionamento