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Na primeira rodada das assembléias ocorria a prestação de contas da prefeitura à população. Nesses encontros também eram esclarecidos os critérios de funcionamento do OP. Nessas oportunidades, os dirigentes desse encontros solicitavam aos munícipes que as demandas a serem apresentadas deveriam ser correlatas às possibilidades financeiras do município. A palavra era aberta à população e em seguida o prefeito respondia aos questionamentos. Após esse momento, realizava-se a eleição para delegado com a presença de no mínimo 10 cidadãos, com idade acima de 16 anos. Dentre as regras que direcionavam as reuniões é importante salientar que a parte técnica da prefeitura presente nesses encontros poderia refutar ou aceitar a demanda social apresentada pela comunidade de acordo com os critérios geográfico, técnico ou ambiental da localidade em destaque. Em outros casos se discutia se as demandas localmente solicitadas também poderiam ser ampliadas para necessidades que abrangessem um número maior de pessoas de outros bairros.

4.2 Rodadas Intermediárias

Nesse momento das reuniões, a população elegia os seus delegados para que estes posteriormente viessem a defender os interesses de sua região. Nessa altura, boa parte da população votava suas prioridades visando a conquistar as obras que pleiteavam, visto que muitos secretários do governo municipal mantinham em suas pastas recursos próprios e independentes do OP. Era o momento que as pessoas tinham para manifestar as suas reivindicações em público e verificar a possibilidade de sua implantação. E era também a partir desse momento que acontecia a hierarquização das demandas eleitas pela população.

4.3 Segunda Rodada

Nesse momento, os delegados eleitos regionalmente elegiam os conselheiros que comporiam o Conselho do Orçamento Participativo e hierarquizariam as demandas. Quando a população presente escolhia demandas apenas localizadas que não abrangiam toda a cidade, o OP se mostrava reducionista e de pouco tempo de duração naquela localidade. Essa questão leva tempo para se modificar, haja vista os aspectos que circundam nossa cultura política paternalista e clientelista. Para ser eleito, o conselheiro do OP deveria estar presente nas assembléias e participar na assembléia geral da reunião em seu bairro. Além disso, deveria ser eleito pela comunidade, não ter cargo de confiança em quaisquer instâncias governamentais e concorrer em igualdade a uma das 4 vagas de conselheiros. As eleições eram anuais.

4.4 Participações nas Assembléias

Segundo opinião do entrevistado Luis Chioderolli31, boa parte dos participantes do OP pertencia à prefeitura. No entanto, conforme outro depoente, Devalcir Leonardo, muitos não participavam da vida pública e passaram, inclusive, a se voltar a ela a partir da aplicação no projeto. É claro que o fator carência material inicialmente motivava a participação nas discussões.

31 Entrevista cedida ao autor pelo senhor Luis Chioderolli, em 03 de julho de 2006, às 8h na Secretaria de Esporte e Lazer de Maringá, Paraná.

Quadro 03: Participação nas Assembléias Gerais do OP entre 2001 a 2004

Ano Assembléias Participantes Inscritos Média de Pessoas por Assembléias Delegados

2001 15 4.721 315 438

2002 18 4.042 225 361

2003 13 1.000 77 0

2004 14 1.092 78 194

Fonte: Prefeitura Municipal de Maringá (2005).

Dos 290 bairros no ano de 2001, 80 deles realizaram reuniões para o levantamento de demandas. Se levarmos em consideração a proporcionalidade demográfica do município de Maringá32, muitas pessoas participaram do OP, seja em assembléias gerais, rodadas intermediárias e formação de equipes de acompanhamento das obras ou de formação social e política.

Normalmente no primeiro ano de implantação do OP a participação nas plenárias não é tão intensa33. Mas em Maringá, justamente nos primeiros anos, empolgados por suas necessidades, foram os momentos em que a população mais participou. A partir de 2003 como não havia orçamento financeiro suficiente para cobrir as demandas, a população e os próprios delegados do OP desolados, passaram a freqüentar as reuniões reivindicativas em menor quantidade e freqüência.

A Secretaria de Educação foi uma pasta que realizou muitas obras, até por que contava com o apoio de 25% do orçamento municipal reservado pelo Fundo Nacional de desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF)34. Algumas obras solicitadas pela população não puderam

ser atendidas, visto que os orçamentos levantados anteriormente haviam mudado de preço, inviabilizando sua execução.

O objetivo do OP, em consonância com o decreto municipal, era a abertura da prefeitura à participação de todos os munícipes, garantindo a democratização

32 Segundo dados do IBGE, Maringá apresenta mais de 318 mil habitantes.

33 GENRO, Tarso. 1995. Estado Globalizado e Esfera Pública Civil. Folha de S. Paulo. 18/07/1995, p. 21.

34 Ao lado de Saúde, a educação tem verbas vinculadas por princípio constitucional. Isso é uma conquista popular. Para Reginaldo Dias, o Conselho do OP debatia formas de democratizar o investimento do “dinheiro carimbado” destas pastas.

das decisões do Orçamento Público Municipal35. Em geral, os entrevistados para

este estudo revelaram que o OP conquistou parte de seu objetivo. Obras foram realizadas e a prefeitura conseguiu chamar a população para esses encontros. Outros entrevistavam acreditam que o OP não atingiu seu objetivo maior pelos vícios políticos que povoam nossa cultura política e porque o montante destinado ao OP foi muito tênue.

Em alguns governos, a gestão pública democrática é transformada em instrumentos eleitoral, fazendo com que a população participe, mas são atendidas apenas as demandas que mais convém à administração pública. Pode ocorrer a cooptação e a tutela da população, e esta última, mesma acostumada às benesses do Estado, se entregue ao bel prazer dos políticos oportunistas.

Comumente pode ocorrer também de lideranças sociais envolvidas no OP eliminar em primeira instância as necessidades imediatas da população local para só então pensar estrategicamente em planejar a região e cidade onde se vive.