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C APÍTULO III – O RGANIZAR A R EVANCHE: O E TAT M AJOR DE

1. CONTEXTO E LIMITES DA IMPLEMENTAÇÃO DE UM ESTADO-MAIOR EM FRANÇA, 1818-

No âmbito da análise realizada na presente tese, o segundo Estado-Maior a ser apresentado e que vai ser alvo de investigação é o Estado-Maior francês. De um ponto de vista exclusivamente cronológico, o Etat-major francês foi o segundo a ter sido instituído entre os quatro considerados na presente tese, pois foi implementado a partir de 1871, portanto 65 anos depois do Estado-Maior prussiano de Scharnhorst. Contudo, existem diversos elementos cuja análise contribui para uma melhor contextualização da criação deste órgão militar, elementos que recuam até à idade napoleónica e que permitem problematizar a questão relativa ao surgimento do Estado-Maior aqui considerado de forma mais profícua.

Em primeiro lugar, é necessário sublinhar um facto aparentemente paradoxal acerca da questão sobre qual foi o primeiro Estado-Maior moderno a surgir entre os analisados na presente tese. No capítulo anterior afirmou-se que o primeiro Estado-Maior militar surgiu na Prússia após a derrota sofrida pelo seu exército em Jena e Auerstädt em outubro de 1806; porém, como foi sublinhado supra, capítulo 2, o primeiro esboço de Estado-Maior moderno pode-se encontrar na figura do Marechal Louis-Alexandre Berthier e nas funções que Napoleão lhe atribuiu já durante as campanhas italianas de 1796-1797. Apesar de Berthier não desempenhar nenhuma função relativamente à planificação das operações de campanha – elemento que constitui o maior limite para definir Berthier e os seus colaboradores como “Estado-Maior moderno” –, deve-se realçar que as funções de gestão da logística militar e da correspondência entre o Comandante em Chefe e as unidades do Exército da Itália constituem elementos típicos dos Estados-Maiores modernos e que se podem facilmente encontrar na estrutura do Großer Generalstab alemão. Para além destas atribuições, que caraterizam Berthier por ser um Chefe de Estado-Maior pessoal do Comandante mas que outrossim projetam o Major-General francês na esfera do Estado-Maior moderno, é necessário sublinhar o que Michaël Bourlet defende no seu artigo L’îlot Saint-Germain au tournant des XIXe et XXe siècles, ou seja que Napoleão criou o posto de Major-General especialmente para Berthier, a fim de sublinhar o papel peculiar que este desempenhou dentro do Exército da Itália e, mais tarde, na Grande Armée, tendo a responsabilidade sobre o Grand Quartier Impérial, ou, em termos mais gerais, para caraterizar melhor o papel do Marechal Barthier enquanto Chefe de Estado-Maior; Bourlet refere também que o Estado-Maior liderado por Berthier era dividido em Bureaux, mas não define nem os nomes, nem as atribuições destes departamentos; finalmente, o autor francês afirma que o Estado-Maior de Napoleão não desempenhava nenhuma função relativa à planificação das operações, sendo esta reservada a

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Napoleão, mas que se limitava a gerir a comunicação entre o Comandante em Chefe e as unidades do exército1.

O caso aqui apresentado de Berthier e do Estado-Maior napoleónico pode ser considerado como caraterístico de uma fase de transição na história das chefias militares, pelo facto de, como sublinhado supra, inaugurar uma fase em que o Estado-Maior já não é somente um órgão de suporte em tempo de guerra ao Comandante supremo – como já era desde a antiguidade e como continuará a ser também depois da institucionalização dos Estados-Maiores modernos –. Nesta nova fase, o órgão militar aqui investigado tinha evoluído no sentido da permanência – e prova disso é a criação do posto de Major- General – e da articulação interna – determinada pelos bureaux nos quais esta Instituição militar se estruturava. Contudo, esta fase carateriza-se por ser um caso muito limitado, pois o apogeu e queda de Napoleão determinaram sensu stricto a existência e a fortuna deste órgão militar: pode-se supor que a fuga para a Bélgica de Berthier durante os Cent Jours e a ausência de um Estado-Maior liderado por uma personalidade competente como este último na campanha de Waterloo tenha afetado o êxito final da própria campanha; consequentemente, a queda de Napoleão determinou o desaparecimento da Instituição do Estado-Maior na França: na parte do seu artigo que diz respeito a Berthier, Bourlet acrescenta que até à instituição do Etat-Major de l’Armée depois da guerra contra a Prússia de 1870- 1871, nunca existiu em França uma Instituição parecida à prussiana ou à do Marechal Berthier2. Deste ponto de vista não é paradoxal o facto de que, não obstante os primeiros pródromos de um Estado- Maior moderno terem aparecido na França napoleónica, a origem deste órgão militar se encontrar na Prússia não só durante a idade napoleónica, mas também enquanto o Estado-Maior de Berthier ainda estava presente e ativo.

A breve existência do Estado-Maior de Berthier constituiu uma exceção dentro da organização do aparelho militar francês; em termos mais gerais, todavia, pode-se afirmar que a organização das Instituições militares franceses durante a época revolucionária e a idade napoleónica não teve impactos profundos e duráveis pelo menos até 1871. A este propósito, afirma Monteilhet que durante a Restauração e ainda durante o Second Empire a organização militar francesa tinha mais pontos de continuidade com as estruturas militares do ancien régime do que com a modernidade moldada pela revolução industrial – inclusive as suas consequências sociais – e o progresso tecnológico, elementos que, como foi visto supra, determinaram importantes modificações no aparelho militar prussiano. As razões que induziram a chefia política francesa a regressar ao antigo sistema, abandonando perspetivas como a de nação em armas e a da abertura dos postos de Oficiais superiores para indivíduos sem

1 Bourlet, Michaël, L’îlot Saint-Germain au tournant des XIXe et XXe siècles, Revue Historique des armées, vol.

248, 2007, pg. 5. Veja-se também supra, capítulo 2, nota 8.

2 É referido no volume introdutivo ao Inventaire sommaire des archives de la guerre relativo aos documentos de

natureza militar presentes no arquivo de Vincennes que antes da guerra contra a Prússia não existiu um órgão puramente militar para a preparação das operações; contudo, existia um bureau que tratava das operações militares na primeira Direção do Ministério da Guerra, chamada de “correspondence générale – opérations”. O chefe deste bureau, todavia, era um civil. Veja-se Guinard, Pierre, Inventaire sommaire des archives de la

guerre: Introduction: organisation de l’armée française, guide des sources, bibliographie, Troyes, Ministère de

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títulos de nobreza, são resumidas por Monteilhet quando escreve que “la grande préoccupation fut le danger d’armer la nation”, pondo assim em estrita relação o conceito de nação em armas com o êxito dos motins de Paris de 1789 e, mais em geral, com a possibilidade de subversão da ordem constituída3. Sendo assim, torna-se clara a razão por que na França não houve nenhuma reforma maior do exército até à guerra contra a Confederação Germânica do Norte em 1871, sendo a única exceção neste quadro a introdução da reserva na ordem do exército francês em 18684.

Não obstante a Restauração haver limitado o processo de desenvolvimento do aparelho militar francês, este período foi importante porque criou algumas das bases contextuais para o futuro surgimento da Instituição militar considerada na presente tese.

Depois da queda definitiva de Napoleão e o regresso de Luís XVIII de Bourbon, instaurou-se em França uma monarquia na qual o governo e o parlamento desempenhavam um papel drasticamente maior em comparação com o passado monárquico absolutista. O Ministério da Guerra, instituído em 1791, não deixou de estar em atividade durante a Restauração e, pelo contrário, ganhou mais responsabilidades do que antes, pois devia-se justificar politicamente não só frente ao Rei, mas também face à Assembleia. No período 1815-1871 sucederam-se 38 Ministérios da Guerra e 35 Ministros, testemunhando o problema de estabilidade política da França do século XIX5. Afirma Carré que o Ministro da Guerra

devient en fait le réel titulaire du commandement militaire. Technicien choisi avant tout en raison de sa compétence, il supplée à l’incapacité du monarque. Le commandement suprême de l’armée appartenant en droit et en principe à ce dernier est, en fait, exercé par le ministre.

Numa situação em que os revezamentos dentro do Ministério da Guerra eram muito frequentes, a continuidade dos trabalhos era garantida pela comum origem dos Ministros, como salientado por Carré, todos militares menos um, Dominique Arago, que exerceu as funções de Ministro da Guerra durante a Deuxième République; entre os Ministros da Guerra militares, 6 foram Maréchaux de France, como Gouvion Saint-Cyr e Soult6.

3 A correlação entre a nação em armas e o perigo revolucionário é, na opinião de quem escreve, pouco

sustentável de um ponto de vista historiográfico se colocada em referência direta aos acontecimento de 1789, pois, como foi sublinhado no capítulo precedente, nota 8, o conceito de nação em armas foi introduzido – ao início parcialmente – somente a partir da levée en masse prevista pela lei Carnot de 1793 e – de forma mais completa – com a implementação da lei Jourdan-Delbrel de 1798, portanto dez anos depois da deflagração da Revolução. Contudo, se se puser a preocupação referida por Monteilhet no contexto político-cultural da Restauração e à luz dos acontecimentos de 1848, o receio da chefia política francesa para com um perigo revolucionário suportado por uma nação em armas torna-se muito mais tangível. A este respeito, veja-se Hippler, Thomas, Conscription in the French Restoration, War in History, vol. 13, III, 2006, pgs. 281-298.

4 Monteilhet, Joseph, Les Institutions Militaires de la France, La Vauzelle, 1926, pgs. 1-53.

5 Carré, Claude, Histoire du Ministère de la Défense et des Départements ministériels militaires, Paris, Centre

d’étude d’histoire de la Défense, Lavauzelle, 2001, pgs. 139-146.

6 É importante sublinhar as palavras de Carré relativamente ao papel desempenhado pelos Ministros da Guerra,

papel que se estendia para além do âmbito governativo pelo facto de, em caso de guerra, estes Ministros abandonarem o cargo para ir conduzir as tropas em campanha, como no caso de Bournemont na campanha de

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Neste contexto político-militar dominado pelo conservadorismo face às inovações organizativas relativas ao mundo militar, a única alteração de relevo introduzida em França depois dos Cent Jours foi a instituição de um Corps d’Etat-Major.

O principal patrocinador desta modificação a nível institucional do exército foi uma personagem fundamental do mundo militar francês durante a Restauração, ou seja, Laurent Gouvion de Saint-Cyr. Gouvion de Saint-Cyr, militar que teve uma carreira fulgurante durante a época revolucionária e a idade napoleónica, chegando a obter já durante a campanha de Rússia o bastonete de Marechal, recebeu o cargo de Ministro da Guerra em junho de 1815, logo após a entronização de Luís XVIII. Apesar de o seu cargo se ter concluído em setembro do mesmo ano, já naquela altura Gouvion estava a trabalhar para reformar radicalmente o aparelho militar francês em dois sentidos: por um lado, tratava- se de ultrapassar o sistema de recrutamento em vigor depois da queda de Napoleão, sistema fundado exclusivamente na leva voluntária; por outro lado, tratava-se de resolver um problema que o Marechal experienciou durante as campanhas de Napoleão, ou seja, fornecer às unidades do exército Oficiais de Estado-Maior em maior número e mais competentes, pois a seleção destes Oficiais era anteriormente realizada através de critérios de cooptação por parte dos Comandos das diversas unidades. Estes Oficiais de Estado-Maior fariam parte de um corpo especial chamado Corps spécial d’Etat-Major; os seus membros, nas palavras de Eugène Alphonse Riff,

auraient l’instruction, les connaissances nécessaires pour faire un bon service, soit comme aides de camp des généraux, soit comme officiers attachés aux états-majors des armées, des corps d’armée, des divisions, aussi bien en campagne que pendant la paix.7

A brevidade do período durante o qual Gouvion foi Ministro da Guerra não lhe permitiu implementar as reformas que estava a planear; contudo, o seu regresso ao Ministério da Guerra no dia 12 de novembro de 1817 deu-lhe a possibilidade de apresentar o seu plano de reforma do aparelho militar que visava introduzir o Corpo de Estado-Maior e reformar o sistema de recrutamento do exército, para além de projetar um sistema de fortificações para defender a fronteira oriental francesa8. Argel de 1830, ou de Vaillant, que se tornou Chefe de Estado-Maior de Napoleão III durante a Segunda Guerra de Independência Italiana em 1859. Idem, pg. 147-148.

7 Riff, Eugène A., Histoire de l’ex-Corps d’Etat-Major, publicação do periódico Spectateur Militaire, 1881, pg.

6.

8 Uma das razões pelas quais a implementação da reforma de Gouvion foi aceite reside na existência de órgãos

parecidos nos aparelhos militares prussiano e austríaco: constituindo estes corpos uma vantagem militar nas mãos de possíveis inimigos, o caminho para a implementação desta modificação a nível orgânico do aparelho militar francês foi facilitado. Idem, pgs. 7-13. A reforma do sistema do recrutamento do exército francês reificou-se com a Loi sur le Recrutement de l’Armée de 10 de março de 1818, melhor conhecida como lei Gouvion-Saint-Cyr, que definia um sistema de recrutamento alicerçado por uma conscrição espúria: uma vez que vinha a ser definido o número de recrutas a enquadrar nas unidades ativas por ano (inicialmente em número de 40.000 por ano para efetuarem um serviço de 6 anos, sendo a tropa ativa total composta por 240.000 homens), eram enquadrados os recrutas voluntários e, finalmente, preenchiam-se os quadros com conscritos alistados por sorteio entre os recrutáveis divididos por classes de idade. Este sistema não sofrerá modificações até 1872. Veja- se Loi sur le Recrutement de l’Armée, Bulletin des lois, 1818, série 7, nº 200, lei nº 3695, pgs 121-133; texto da

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Com a ordenança de 6 de maio de 1818 foi instituído o Corps spécial d’Etat-major, órgão que enquadrava 30 coronéis, 30 tenentes-coronéis, 90 chefes de Batalhão, 270 capitães e 125 tenentes, por um total de 545 Oficiais; a este total estavam integrados 100 aides-majors com posto de tenente ou subtenente, que podiam ser empregues nos Estados-Maiores das unidades à mobilização, e finalmente 8 tenentes-generais e 16 marechaux de camp, que em caso de mobilização podiam tornar-se chefes ou subchefes das grandes unidades à l’interieur. Em prol da instrução dos Oficiais deste corpo, a mesma ordenança instituía uma Ecole d’application d’Etat-Major em Paris, escola que tinha o explícito propósito de ser uma escola militar de élite9. Sendo assim, o Corpo de Estado-Maior francês carateriza-se por ser simplesmente um conjunto de Oficiais cuja atribuição e tarefa é suportar a atividade dos Comandos das unidades militares em pé de paz e – sobretudo – em pé de guerra, constituindo os Estados-Maiores das unidades mobilizadas10.

A organização do Corpo de Estado-Maior francês foi modificada em 1831 com a integração dentro do corpo dos engenheiros-geógrafos do Depôt de la Guerre11 e, por conseguinte, com a assunção das responsabilidades sobre os trabalhos geográficos12. Em 1833, uma nova instrução estabelecia que, a cada ano, podia ser aceite no corpo um número de novos Oficiais de no máximo 25 unidades, consoante as necessidades do próprio corpo13; destes 25 Oficiais, era previsto que três viessem da lei disponível em http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k6521587x?rk=343349;2. Em torno do projeto de fortificações em Lorena, veja-se Carré, Claude, Histoire du Ministère de la Défense et des Départements

ministériels militaires, obra citada, pgs. 148-150.

9 Idem, pgs. 13-17.

10 A este respeito, o Corpo de Estado-Maior francês pode resultar bem descrito pela quinta definição de Estado-

Maior proposta por Dallas Irvine, definição que reza que um Estado-Maior pode ser a special corps or

establishment of officers which provides staffs to assist various commanders of combined arms in exercising the functions of command and administrative control, as distinct from the functions of administrative management within established administrative departments. Veja-se supra, capítulo 1.

11 Carré traça as linhas principais do surgimento e desenvolvimento desta Instituição: o surgimento deste órgão

remonta a Luís XIV e Louvois, apesar de não haver ordenanças sobre o seu surgimento; sem entrar nos detalhes da evolução deste órgão consagrado aos trabalhos geográficos e históricos, é necessário evidenciar como o

Depôt em 1846 foi integrado no Ministério da Guerra e assume uma estrutura por secções, na qual a primeira era

chamada de “Section d’état-major” e ocupava-se do novo mapeamento da França, a segunda era dedicada aos trabalhos históricos, a terceira era de estatísticas militares e tratava da recolha e estudo das informações sobre os exércitos estrangeiros – secção que de facto se tornará o deuxième bureau do Estado-Maior francês – e, finalmente, um bureau que tratava das operações e que era associado à terceira secção de forma descontínua (“par intermittence”); o arquivo e a biblioteca militar são também postos sob a responsabilidade deste órgão. Carré sustenta, finalmente, que a secção das estatísticas militares e o bureau das operações constituem verdadeiramente o órgão de preparação das operações militares. Veja-se Carré, Claude, Histoire du Ministère de

la Défense et des Départements ministériels militaires, obra citada, pgs. 161, 164-165. Riff também relata

informações interessantes sobre a estrutura interna do Depôt de la Guerre; contudo, estas informações diferem ligeiramente das referidas por Carré: afirma o ex-Oficial do Corpo de Estado-Maior que o Depôt era estruturado em 4 secções, sendo a primeira relativa aos trabalhos para a criação da carte d’Etat-Major, ou seja o mapa oficial da França em escala 1:40.000, a segunda relativa aos travaux intérieurs e à produção de outros mapas e desenhos, a terceira a section historique e a quarta a section de statistique, secção que se ocupava da recolha e catalogação dos documentos relativos aos aparelhos militares francês e estrangeiros. Veja-se Riff, Eugène A.,

Histoire de l’ex-Corps d’Etat-Major, obra citada, pgs. 75-77.

12 Idem, pgs. 66-67.

13 Relata Riff que entre 1860 e 1878 (mas não é apresentado o dado de 1863) foram promovidos ao Corpo de

Estado-Maior 405 Oficiais provenientes da Ecole de Etat-Major, com média de 22,5 Oficiais por ano e tendo como extremos numéricos os 17 Oficiais promovidos em 1866 e 1877 e os 33 Oficiais promovidos em 1871.

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Academia Militar de Saint-Cyr, sendo os outros 22 selecionados entre os Subtenentes de todas as Armas e os outros melhores Oficiais brevetados em Saint-Cyr; finalmente, foi previsto um sistema de estágios para melhor integrar os jovens Oficiais dentro do Corpo de Estado-Maior14.

A centralidade do Corps d’Etat-Major dentro do aparelho militar e também dentro do âmbito político franceses é amplamente testemunhada por Riff quando apresenta uma breve lista de Oficiais deste corpo que desempenharam cargos políticos em França: de todos os Oficiais que fizeram parte do Corpo de Estado-Maior, dois foram Chefes de Estado (que Riff chama de Chefs de Gouvernement) – Trochu e MacMahon – e quatro foram Ministros da Guerra – Cissey, Berthaut, Borel e Gresley; o autor francês não refere dados em torno dos Oficiais do Corpo de Estado-Maior que foram deputados no Parlamento francês, mas tudo deixa pensar que houve vários; para além dos cargos políticos ocupados pelos Oficiais do Corps, Riff sublinha que 47 destes Oficiais alcançaram o posto de Général de Division sendo que cinco deles participaram ativamente em campanhas militares; finalmente, mais 61 Oficiais do Corps obtiveram a patente de Général de Brigade, posto imediatamente inferior ao de General de Divisão15.

Por um lado, apesar do autor francês ex-Oficial do Corpo de Estado-Maior afirmar que este corpo constituiu um avanço importante no que diz respeito à organização e instrução dos Oficiais franceses, por outro lado há a explícita admissão que o número limitado dos Oficiais deste corpo afetou muito o desempenho das tropas francesas durante a guerra franco-prussiana16.

A derrota na guerra franco-prussiana provocou um terramoto político-institucional em França e a subsequente instituição da Troisième Republique. De um ponto de vista militar, o debate sobre a reorganização do exército francês depois da derrota apontou para a sua modernização para preparar a Revanche17 contra o Império alemão e recuperar o gap que se tinha criado com o aparelho militar do vizinho oriental. Contudo, o Corps d’Etat-Major não foi suprimido e manteve as suas funções até pelo menos 1880, quando foi reorganizado e reinstituído como Service d’Etat-Major. A lei de 20 de março