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C APÍTULO III – O RGANIZAR A R EVANCHE: O E TAT M AJOR DE

84 SHD/AV – 7N23 85 Ibidem.

86 Ibidem.

87 SHD/AV – 7N33.

88 Note relative à la designation des attributions du 2ème Bureau de l’Etat-Major de l’Armée, 6 de dezembro de

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informações e sintetiza-las em documentos para o CEMGA ou os outros bureaux, para o Ministro da Guerra ou para todas as autoridades que tivessem precisado de informações sobre exércitos estrangeiros. A este respeito, o B2 pode-se considerar um órgão essencialmente executivo, pois as margens de iniciativa reservadas a este bureau eram muito limitadas; contudo, como emerge dos documentos encontrados e como aqui referido, os agentes do B2 não se limitavam a procurar informações específicas relativas a questões provenientes de Paris, mas podiam comunicar todas as informações que reputavam relevantes acerca dos aparelhos militares estrangeiros. Sendo assim, pode- se dizer que o trabalho do B2 se estruturava desta forma: as autoridades político-militares francesas pediam informações sobre os aparelhos militares estrangeiros ao Chefe de Estado-Maior; ele ordenava ao B2 a recolha destas informações e o Chefe do B2 ordenava aos agentes e adidos militares interessados que encontrassem as informações pretendidas. Recebidas as informações, o Chefe do B2 sintetizava-as e entregava-as às autoridades que as tinham pedido. Fora este processo, os agentes ou adidos militares podiam obter informações específicas sobre assuntos militares relativos aos exércitos estrangeiros e enviá-las para o B2 em Paris; estas informações eram avaliadas, sintetizadas e distribuídas para todas as autoridades que podiam estar interessadas naquelas informações.

O primeiro documento relativo ao B2 é um conjunto de três notas referentes à instituição e ao papel desempenhado pelos adidos militares. Referem os documentos que os adidos militares acreditados juntos dos governos estrangeiros existiram bem antes de 1871 em França; a acreditação dos adidos dependia de pactos bilaterais entre os estados e sobretudo não era vinculada ao princípio de reciprocidade. As funções dos adidos militares, é sublinhado no primeiro documento, não se limitavam a representar a França no estrangeiro, mas

Constater de visu le développement des armées étrangères, suivre, sur place, le fonctionnement de leurs divers organes, la marche de leur instruction… Apprécier les résultats pratiques des modifications effectuées, recueillir les jugements, les commentaires… Voir à l’œuvre le commandement ; se rendre compte de la valeur du corps d’officiers, de l’esprit qui le guide… Etudier, de prêt, le moral des troupes, celui de la nation toute entière… Se tenir au courant des progrès dans toutes les branches de l’art militaire, prévoir à temps les changements importants apportés à l’armement ; mettre au points les bruits, les nouvelles qui circulent ; signaler les écrits intéressants, en dégager les tendances.

A este respeito, os adidos não deviam manter o posto somente por pouco tempo, mas deviam estar muito tempo juntos do mesmo governo. Ademais, o B2 insiste na importância de organizar missões especiais para visionar as manobras no estrangeiro pois, quando o documento foi redigido, somente os adidos acreditados podiam participar nas manobras, e nem sempre. Concluindo, os documentos

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realçam o importante papel desempenhado pelos adidos, sublinhando que uma eventual renúncia ao envio de adidos militares no estrangeiro constituiria un désavantage évident89.

Outros aspetos das figuras dos adidos militares são esclarecidos numa instrução sobre o serviço dos adidos militares. Nesta instrução é especificado que um adido militar é o representante da autoridade militar francesa no estrangeiro e que está subordinado ao embaixador francês: em vista disto, o adido militar nunca poderá tomar iniciativa sem ter informado o embaixador em todos os casos em que a iniciativa possa ter consequências políticas. Uma parte importante da instrução esclarece onde devem ser recuperadas as informações sobre o aparelho militar do país onde o adido se encontra: em primeiro lugar, na imprensa em geral e nas revistas e publicações militares em particular; em segundo lugar, nas publicações oficiais, como os regulamentos militares e os debates parlamentares; em terceiro lugar, a instrução aconselha os adidos a pedir a colaboração do corpo consular francês através da intermediação da embaixada, para ampliar as fontes de informações militares à disposição; em quarto lugar, uma fonte preciosa de informações é constituída pelos adidos militares de outros países; finalmente, a instrução sugere aos adidos para construírem uma rede de conhecimentos no mundo civil e dos negócios que possam proporcionar mais informações de natureza militar úteis. A instrução prossegue especificando que é de máxima importância que os adidos participem em todos os exercícios militares e manobras do exército do país no qual prestam serviço. Em conclusão, é assinalado de forma clara que os adidos militares deverão ser considerados parte integrante do B2 e deverão cumprir todas as tarefas que o Chefe de Estado-Maior e o Chefe do B2 lhes destinarem90.

Voltando ao trabalho realizado pelo B2, a quantidade e os tipos de informações recolhidas por este departamento são realmente inúmeros. Aqui tentar-se-á apresentar alguns documentos exemplificativos que se destacam dentro do conjunto de documentos produzidos pelo B2, para esclarecer de forma melhor o tipo de trabalho realizado por este bureau.

Um primeiro conjunto de documentos exemplificativos das atividades do B2 é constituído pelas informações sobre o aparelho militar alemão. Utilizou-se aqui o termo “aparelho militar” pois as informações elaboradas pelo deuxième Bureau não se limitavam à descrição do exército alemão e das perspetivas táticas e operacionais, mas sim tinham em conta a organização geral de todo o dispositivo político-militar de Berlim. Relativamente à organização alemã, assinala-se o documento que apresenta um quadro sintético da organização do Ministério da Guerra alemão durante a Grande Guerra que os

89 Veja-se Note sur l’institution et le rôle des attachés militaires, 1 de dezembro de 1898, SHD/AV 7N666. 90 Veja-se Instruction sur le service des Attachés militaires à l’étranger, novembro de 1899, SHD/AV – 7N667.

É interessante notar como o número de adidos militares franceses durante a Primeira Guerra Mundial não fosse particularmente elevado: no total operavam 15 adidos, seis dos quais auxiliados por um colaborador militar e que desempenhavam as suas funções nos países aliados, id est, Reino Unido, Estados Unidos, Grécia, Itália, Rússia e China. Veja-se Liste des attachés militaires et attachés militaires adjoints, SHD/AV – 7N854.